HISTÓRIAS DA BÍBLIA




Por Lacerda


A Bíblia conta histórias que até mesmo Deus duvida.
Fugindo da fome, Abraão foi para o Egito com sua linda mulher Sara. Com medo de que os egípcios o matassem para ficar com ela, Abraão pediu-lhe: “Ouve, sei que és uma mulher bela. Quando os egípcios te virem, dirão “é a mulher dele”. E matar-me-ão, e a ti conservarão a vida. Dize, pois, que és minha irmã, peço-te, a fim de que eu seja bem tratado por causa de ti, e salve a minha vida graças a ti” (Gênesis 12, 13-14).
Como Abraão previra, os egípcios notaram a beleza de Sara e foram elogiá-la na presença do Faraó. Acreditando que Sara fosse irmã de Abraão, o Faraó exigiu que ela fosse ao palácio.
“Mercê dela, Abraão foi muito bem tratado, e recebeu ovelhas, bois, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos” (Gênesis 12, 16).
Para o Faraó dar tudo isso em troca de Sara, imaginem como ela era linda. Nem Rebeca – a mulher de Isaac, filho de Abraão – era tão bela quanto Sara. Mas, isto é outra história que conto no final.
Deus infligiu tremendos castigos ao Faraó e a sua casa por ter tomado a mulher de Abraão.
O Faraó, então, repreendeu Abraão: “Por que disseste que era tua irmã, fazendo com que eu a tomasse como mulher? Agora, aqui tens a tua mulher, toma-a e vai-te embora” (Gênesis 12, 19).
Abraão se mandou com tudo o que ganhou na troca. E ainda recebeu a proteção dos homens do Faraó até a sua saída do Egito.
Quanto tempo Sara ficou com o Faraó? Não sabemos. Mas, Abraão, que chegou duro e com fome no Egito, saiu de lá feliz da vida pelo que ganhou com o aluguel da mulher.
A estória se repetiu em Gerar (Gênesis 20, 1-17) com o rei Abimalec. Abraão aplicou o mesmo golpe e ganhou mais ovelhas, bois, escravos e escravas, ficou com Sara e mais mil moedas de prata.
Como Abraão – o patriarca das três grandes religiões monoteístas – poderia mentir assim tão descaradamente? 
Ele não mentiu, foi apenas uma meia-verdade, Sara era sua irmã por parte de pai.
Passa o tempo, um tempo bíblico. Abraão já tinha cem anos e Sara noventa quando Deus disse que eles teriam um filho ao qual dariam o nome de Isaac (Gênesis 17, 17-19).
Até aí, Sara era estéril e, por isso, tinha oferecido uma de suas escravas para o marido engravidar. Foi assim que nasceu Ismael, o primeiro filho de Abraão. Este foi expulso de casa por Sara, junto com a mãe, depois que Isaac nasceu.
Isaac foi o filho que Abraão quase degolou e queimou amarrado numa fogueira em holocausto a Deus Que o salvou no último segundo da prorrogação. Depois disso, não sei como a criança conseguiu superar tamanho trauma psicológico. Quase virou churrasco, mas cresceu e chegou a hora de casar.
Abraão mandou seu servo mais competente procurar uma noiva para Isaac (Gênesis 24). Ele partiu e voltou com Rebeca, uma sobrinha-neta de Abraão. “Isaac conduziu Rebeca para a tenda de Sara, sua mãe, recebeu-a por esposa e amou-a” (Gênesis 24, 67).
Sobreveio novamente a fome e Isaac partiu com Rebeca. Como seu pai, Isaac sempre levava um papo firme com o Todo-Poderoso Que lhe disse para não ir ao Egito. Ficaram, então, em Gerar com a finalidade de falar com Abimalec, rei dos filisteus.
Quando os homens do lugar comentavam sobre Rebeca, Isaac dizia: “É minha irmã”. Se dissesse: “É minha mulher”, eles poderiam matá-lo, pois Rebeca era realmente bela (Gênesis 26, 7). Talvez, Isaac pretendesse aplicar em Abimalec o mesmo golpe aplicado por seu pai e sua mãe.
Abimalec logo estava de olho em Rebeca, mas, como gato escaldado tem medo de água fria, ficou observando os dois através da janela. Um dia, viu Isaac a acariciar Rebeca.
Abimalec chamou Isaac e disse: “Com certeza ela é tua mulher! E por que te atreveste a dizer que é tua irmã? Pouco faltou para que qualquer homem do povo deitasse com a tua mulher e terias, assim, atraído um pecado sobre nós”.
Abimalec, então, editou uma proclamação a todo o povo: “Quem tocar neste homem ou na sua mulher, será morto” (Gênesis 26, 9-11).
Isaac não podia imaginar que tantos anos depois – digamos uns cinquenta anos – Abimalec ainda se lembrasse do golpe dado por seu pai.


OBS: O texto acima foi recebido para publicação aqui na C.P.F.G. via email enviado a mim pelo seu autor, o qual também atua na blogosfera administrando a página Mangaratiba. Quanto à ilustração, trata-se do quadro Conselho de Abraão a Sara do artista francês James Tissot (1836-1902), conforme extraí do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tissot_Abram%27s_Counsel_to_Sarai.jpg

Comentários

Olá, amigos.

Interessante que, na visão judaica, as atitudes de Abraão não são vistas como pecaminosas, mas diz o Talmude que o patriarca teria se saído vitorioso dessa e das outras provas às quais foi submetido, demonstrando ter sido grande o seu amor pelo Eterno.

De acordo com sábio medievalista Maimônides (1135-1204), ao comentar sobre as dez provas de Abraão, este teria vivido em reinos onde os direitos humanos eram violados e daí precisou ser habilidoso para conseguir sobreviver nos tempos de dificuldades já que, quando as chuvas tornavam-se escassas, havia prejuízos para as colheitas e os habitantes de Canaã precisam migrar para o Egito onde havia estabilidade climática devido ao Nilo. Logo, foi para proteger-se de terríveis atrocidades que Abrão (Deus ainda não havia mudado seu nome) precisou ocultar certos detalhes de sua vida conjugal diante dos homens perversos com os quais conviveu.

Entre os filisteus a história se repetiu não sendo declarado no texto bíblico o motivo pelo qual Abraão apresentou Sara como sua esposa. Talvez ele também temesse algo semelhante como no Egito e, no caso, o rapto da mulher ocorreu de maneira não desrespeitosa para os valores da época, daí Deus ter reconhecido no sonho de Abimeleque a sinceridade do coração deste (Gn 20:6), mandando-o devolver Sara ao marido. O rei dos filisteus, no entanto, devia intencionar tornar-se um cunhado de Abraão porque, provavelmente, desejava ampliar os negócios com um homem próspero.

Agora há quem veja as aventuras dos patriarcas por um lado talvez negativo. O cabalista Nachmânides entendia que a descida de Abraão ao Egito teria pressagiado a escravidão de quatro séculos dos hebreus neste país enquanto que a peregrinação de Isaque entre os filisteus corresponderia aos setenta anos de exílio na Babilônia. E, segundo este outro pensador judeu da Idade Média, haveria uma identificação com a situação de seus compatriotas nas sucessivas diásporas. Ou seja, entre os babilônicos, embora os exiados do povo fossem bem tratados por um tempo até alcançarem proeminência social e econômica (da mesma maneira que os patriarcas), foram depois obrigados a abandonar aquela terra devido a arrogância e o ciúme das gentes.

Assim, se bem refletirmos, Abraão, Isaque e Jacó tornam-se arquétipos nos quais os judeus de todas as eras se espelharam buscando uma identificação comportamental com esses personagens. Daí o motivo pelo qual as atitudes de Abraão e depois de Isaque não chegam a ser entendidas como coisas pecaminosas ou atos maliciosos de mentira. Todos eles parecem ter sido motivados pela necessidade de sobrevivência no meio de estrangeiros que a qualquer omento poderiam se tornar hostis.
LACERDA disse…
Fiquei muito honrado com a publicação. Agradeço.
Aprofundando na leitura desapaixonada da bíblia e sem temer o castigo do escárnio, pode-se afirmar que a bíblia, por ser o livro das leis, é um compêndio que faz apologia e incentiva e infidelidade, prostituição, roubo assassinato, relações incestuosas e outras atitudes dignas dos elementos da mais baixa categoria.Para uma criança se exemplar em Abraão, basta morar num prostíbulo. Será que a Bíblia tinha razão? Para quem?
Seja bem vindo, Lacerda!

Sinta-se à vontade para participar dos nossos debates cotnribuindo com comentários.

Abraços.
Caro Altamirando,

Pelo que posso observar lendo os seus comentários, parece que não fez uma correta e atenta leitura das Escrituras Sagradas. Você simplesmente afirma que a Bíblia "faz apologia e incentiva e infidelidade, prostituição, roubo assassinato, relações incestuosas e outras atitudes dignas dos elementos da mais baixa categoria", porém não faz nenhuma prova fundamentada citando as passagens que entende instigar tais condutas.

Por acaso é isso que o Decálogo e o restante da Torá pregam?

Mas as narrativas retratam os personagens em sua humanidade sem esconder os erros por eles praticados. Se, por exemplo, o pecado de Davi não foi ocultado seria para exemplo da posteridade sobre as consequências que o adultério conjugal trás para uma família. Pois embora os valores da época permitissem ao homem possuir várias esposas, ele devia respeitar a mulher de seu próximo, mesmo se ela estiver apenas prometida em casamento.

Mas quando falamos da vida dos antigos patriarcas hebreus, eis que no tempo deles a lei mosaica ainda não existia. Abraão, Isaque e Jacó seguiram aquilo suas consciências na prática do bem e as poucas coisas que o Eterno havia lhes ordenado a exemplo do brit milá, isto é, da aliança da circuncisão. Tanto é que os sacrifícios podiam ser oferecidos em qualquer lugar onde estavam e não num local específico como passou a ser futuramente. Daí se explica que, nos tempos de Abraão, não havia ainda restrições quanto ao casamento entre irmãos. Senão vejamos esse esclarecedor comentário bíblico do rabino Meir Matzliah Malamed acerca do versículo 12 do capítulo 20 de Gênesis, sendo meus os destaques:

"Abrahão casou-se com Sara, da qual disse ser irmão do mesmo pai, mas não da mesma mãe, porque até a revelação das leis da Torá, as uniões matrimoniais entre meio-irmãos e outros parentes parecem ser naturais. Iochébed, a mãe de Moisés, tinha se casado com seu sobrinho Amram, filho de seu irmão Kehat. Porém, a consciência moral foi apurando-se com o tempo, e considerou chocantes estas uniões e outras semelhantes, proibindo-as, tal como foi estipulado na Torá (Levítico 18 e Deuteronômio 27, etc). Na realidade, Sara era sobrinha de Abrahão, dado que ela era filha de Charan, irmão de Abrahão (Vide Rashi, vers. 18)."

Não preciso dizer mais coisas. Porém, pelas acusações que levianamente levantou contra aquele que é considerado um pai espiritual para as três religiões monoteístas no mundo, acrescento que Abraão foi um grande exemplo de fidelidade. Saiba que ele só tocou em Hagar porque Sara a ofereceu para que gerasse um descendente em seu ventre.Em momento algum, enquanto sua esposa vivia, ele teve outra mulher. Com a morte de Sara, ele desposou Quetura e teve outros filhos com ela, o que não vejo nada de absurdo. Aliás, é plenamente recomendável que um homem em sua viuvez, gozando ainda de boa saúde sexual, contraia novas núpcias afim de evitar os vícios e transtornos emocionais causados pela abstinência de cópulas. Algo que a Bíblia Hebraica jamais encorajou. Só algumas passagens do Novo Testamento enobrecem o solteirismo de maneira explícita porque Jesus mesmo jamais disse nada a respeito.

Deixa Deus iluminar seu coração!
Caro Rodrigo, minha avó dizia que para entender a bíblia tem-se que lê-la com inspiração divina. Eu leio a bíblia como leio um livro escrito por Dan Brown. O que não tem evidência é lenda, eu não fantasio credulidade onde não suporta credulidade. Para mim vale o que está escrito, não devo interpretar ao meu belo prazer. Se na bíblia está escrito que Deus deu início à sua criação humana com Adão e Eva, entendo que eles foram os primeiros primatas existentes na face da terra. Procriaram dois filhos onde um matou o outro. Até aí a história tem lógica, mas quando diz que o assassino fugiu para outras terras, casou e teve muitos descendentes a historinha passa a ser uma lenda chimfrim. Não adianta eu inventar outras historinhas paralelas para amenizar a mentira. Isto é o prefácio do livro, no desenrolar de sua edição, outros episódios incompreensíveis como verdades se amiúdam. Nunca lí o Torá nem outra lenda primitiva similar. Para eu, um já basta. Assim como existem autores que não me encorajaram a ler sua segunda publicação.


Eu não durmo com luz acesa.... He, he, he...

Agradeço e um abraço.
Altamirando,

A Bíblia tem que ser usada como um instrumento para você desenvolver a sua espiritualidade. Querer achar coerência lógica em suas narrativas ou esperar que haverá uma correspondência exata com a historicidade seria chover no molhado.

Insisto em dizer que as narrativas encontradas em Gênesis que é o primeiro livro da Torá de Moisés ou do Pentateuco bíblico, precisam ser interpretadas na forma mítica. Assim sendo, não há que se perder tempo com os contos paralelos tipo especulações sobre quem foi a esposa de Caim, se ela era sua irmã ou até gêmea como ensinava o exegeta Rashi. Deve o leitor, a meu ver, meditar no que consta no verso 16 do cap. 4:

"Retirou-se Caim da presença do SENHOR e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden." (ARA)

Mais uma vez volto aos clássicos comentários do rebbe Melamed acima citado acerca desta passagem das Escrituras Sagradas:

"Em toda parte onde ele estava, parecia que todos o olhavam com inimizade; acreditava ouvir, a cada momento, a voz do castigo: "Que fizeste?" (vide poesia L'oeil de Caïn, de Victor Hugo). "Para onde irei afim de ficar longe de Teu espírito? E para onde fugirei de Tua presença? Se subo ao céu Tu lá estás e, se me prostro no inferno, nele também Te encontras presente; se eu tomar as asas da aurora e habitar nas extremidades do mar, ainda lá me alcançará a Tua mão, e me susterá a Tua destra!" (Salmos 139:7-10)"

Ora, o que pode ser esse afastamento de Caim senão uma vã tentativa de fuga de si próprio? Não seria o que muitos homens tentam fazer querendo viver num mundo sem Deus? Pois eu digo que, mesmo numa época secularizada como a nossa, as pessoas continuam a se deparar com o vazio existente nelas mesmas e o sentimento de depressão pela separação que fazem do nosso Criador.
Eduardo Medeiros disse…
Bom tema para debate. Muitas vezes nas narrativas bíblicas, Deus duvida até mesmo de Deus...

vou entrar no papo daqui a pouco.
Nobre Amigo Rodrigo e Nobre Amigo Lacerda,

Deve ser este o arquétipo que ilustra o fato dos "crentes" não conseguirem manter uma história em seu formato original rsrsrsrs

Tipo aquela velha história do Joaquim que encontrou o João desolado no caminho por ter ido comprar uma dúzia de ovos e ter quebrado três deles. Joaquim corre para contar a noticia, chega em casa e diz, "encontrei o Joãozinho no caminho, ele quebrou todos os ovos" kkkkkkkkkkkkkk

Até que ponto estas mentiras ou não mentiras influenciam no comportamento dos "crentes" hoje? E Sansão, que enquanto ocultou a verdade sobre sua força era abençoado? Será que Deus curte um "esconde-esconde"? E ainda o livro apócrifo de Tobias que nos apresenta um anjo mentiroso? Porque ele não é aceito, haja visto que temos tantas outras mentiras aceitas como sendo "divinas" e "inspiradas"?

Seria tudo isso motivo de reivindicarmos a inspiração de Tobias, afinal, "mentiroso que mente para mentiroso, também tem 100 anos de perdão" (parafraseando um outro ditado popular sobre os ladrões, que talvez também seja muito comum entre os "crentes")!

Que isso Altamirando,

Desse jeito Yah te pesa a mão kkkkkkkkkkkkkkk
Levi B. Santos disse…
Rodrigo

O texto de Lacerda fez-me lembrar do livro “A Alma Imoral” de Nilton Bonder (presidente da congregação judaica do Brasil). O autor diz que a alma é profundamente transgressora. E na evolução transgressora do homem vale tudo: mentiras, desonestidades, engodos, traições, etc.

Abraão trai seu pai e sua cultura. Jacó engana o Pai com o auxílio da mãe. As filhas de Lot têm relações incestuosas com ele. E por aí vai. (rsrs).

Em suma, os ancestrais do messias foram transgressores, traidores da moral e dos “bons” costumes.

Nilton Bonder, num capitulo de seu livro, diz algo freudiano:

“querer exorcizar o traidor (ou transgressor) dentro de si apontando o outro é a condição não-messiânica de nossa civilização” (rsrs)
Meu caro Edu,

Nada surpreende o Onisciente! Ou vc acha que ao colocar Adão e Eva no jardim o Eterno não sabia que ambos iriam falhar quanto à proibição de comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal? Ou não teria Ele permitido que tal coisa acontecesse pensando no bem da evolução de nossa consciência ao provarmos do veneno da auto-suficiência humana?

Sobre o Eterno duvidar de Si, considero algo impossível. ão sei o que o amigo pretendeu dizer com isso. Aguardo suas explicações.
Olá, Matheus.

Diz o reverendo Caio Fábio que a pior mentira não é a que se diz, mas sim aquela com a qual se vive.

Bem, o que seriam das campanhas militares de um exército se a movimentação das tropas e as informações não fossem ocultadas do adversário?!

Por acaso podemos confiar naquele que é ímpio e se encontra pronto a nos devorar? Não seria a prudência a atitude mais adequada?

A Torá amaldiçoa aquele faz errar um cego no seu caminho (Dt 27:18), um preceito que não apenas tem a ver com o cuidado para com os incapazes como também nos exorta sobre a conduta de alguém induzir o outro em erro. Ou seja, quando uma pessoa, estando ela insegura sobre qual decisão tomar, vem nos pedir confiantemente uma orientação e acaba recebendo uma informação propositalmente incorreta.

Ora, não seria este o caso de Abraão que, por habitar no meio de gente perigosa, resolveu encobrir o seu estado civil ao apresentar sara como sua parenta e não como esposa. Pois considere, amigo, que, no contexto da época, estuprar uma mulher descomprometida, bem como raptá-la para fins de matrimônio, não configuraria um pecado insanável em que fossem dignos de morte os que cometessem condutas do tipo. Pois estamos falado de um mundo de mais de 3000 mil anos, de sociedades extremamente patriarcais, em que as mulheres não tinham os mesmos direitos da atualidade. Logo, como o adultério podia acarretar o apedrejamento do adúltero e da adúltera (caso a mulher comprometida consentisse), um sujeito astuto poderia armar ciladas para matar Abraão antes e então ficar com Sara. Pergunto ao irmão:

Se um estrangeiro fosse assassinado naquela época, ficaria o homicida ou o mandante do crime devidamente punido? É certo que a polícia da época não iria tomar as providências necessárias e ogo alguém possuiria a esposa, os bois, as ovelhas e os escravos de Abraão.

Em seus comentários vc colocou oura questão que versa sobre o livro de Tobias, uma obra considerada não inspirada para o protestantismo e também para o judaísmo, mas que se encontra presente na Bíblia dos católicos. Eu, porém, apesar de minha formação religiosa no meio batista, não vejo hoje problema algum em reconhecer a inspiração divina em outros textos além dos que estão canonizados pelas religiões. Eu daria o status de Escritura Sagrada até para as obras que não fazem parte da Bíblia Etíope que é a maior que existe e aceitaria autores de diversos idiomas, pensamentos e épocas diferentes. Por exemplo, por que não lermos nas nossas congregações o Evangelho de Tomé, filósofos modernos e até o artigo de algum blogueiro se a mensagem se mostrar boa para promover edificação? Só que, mesmo lendo de tudo, não abro mão de preservar a Bíblia como o meu livro de orientação. E faço isso sem fundamentalismo religioso, mas dialogando o tempo inteiro com o que está ali escrito.

Bem, espero tê-lo esclarecido sobre as "mentiras" e faço aqui referência à festejada passagem bíblica que se encontram em Eclesiastes 7:16 sobre não sermos "demasiadamente"/"exageradamente" justos ou sábios.

A paz!
Prezado Levi,

Concordo que "mentiras, desonestidades, engodos, traições, etc" compõem a nossa dialética evolução humana, mas nunca que tais condutas devam ser o alvo de quem procura elevar sua alma rumo à Consciência do Messias, o arquétipo perfeito.

Para os sábios do Talmude, Abraão foi vitorioso nas dez provas a que foi submetido, nas quais demonstrou o seu amor verdadeiro por Deus. Tanto é que o patriarca não negou ao Eterno seu único filho legítimo quando levou o menino para ser sacrificado no Monte Moriá, ligar onde ficou esclarecido a transcendência daquele seu ato prefigurando ali para as gerações vindouras o sacrifício messiânico que o Senhor Jesus muito bem soube desempenhar quando entregou a si mesmo para morrer numa cruz por causa dos nossos pecados.

A primeira grande prova de Abraão foi deixar a casa paterna e peregrinar como um estrangeiro na terra que lhe seria mostrada. Ali ele não traiu seu pai, mas abandonou uma cultura idólatra para tornar-se um verdadeiro profeta e intercessor do Altíssimo em Canaã, como foi revelado no sonho do rei dos filisteus (Gn 20:7). Logo, era necessário que houvesse essa ruptura cultural no tocante às questões de idolatria, o que também precisa acontecer quando alguém decide se converter ao Deus vivo, abstendo-se a partir daí de tomar serviço em outros cultos. Obviamente que, na atualidade do Ocidente, o fato de uma pessoa mudar de religião não significa rompimento com a família, mas há que se lembrar que, nos tempos bíblicos, o relacionamento de Abraão com Deus poderia se prejudicar caso o patriarca continuasse a conviver com o pai e o irmão Naor. Afinal de contas, deve-se primeiramente obedecer a Deus e depois aos homens.

Quanto às filhas de Ló, elas agiram por uma motivação nobre quando resolveram conceber do próprio pai. Informa o texto bíblico que não havia homem na terra para onde a família tinha se refugiado após a destruição de Sodoma (Gn 19:31), de modo que a região ou seria desabitada ou os homens tinham os mesmos costumes homossexuais das cidades destruídas de modo que se recusariam a copular com elas. Então, agindo pelo princípio da perpetuação da espécie, decidiram gerar filhos do único homem que elas acreditaram ter sobrado na face da terra, isto é, o próprio pai, conforme também diz o Talmude. E considere, amigo, que elas não fizeram isso repetidas vezes como se sentissem algum prazer em transarem com o genitor. Cada qual teve um único filho. Logo, não podemos caracterizar como incesto uma ação desprovida da intenção de praticar relações libidinosas com o parente. Com toda sinceridade, não me eve a mal se eu disser que achei um tanto leviano o que o irmão colocou pelo que peço que reveja sua visão à luz do que acabei de expor.

A respeito de sua citação do rabino Nilton Bonder, mesmo sem estar com o livro dele em mãos, parece ser uma boa e adequada constatação da nossa triste e trágica realidade humana. E antes de ser algo freudiano, as palavras do rebbe não estariam baseadas no ensino de Jesus quando o Mestre, no célebre Sermão da Montanha , teria dito que, quando olhamos para o argueiro no olho do irmão estamos deixando de reparar a trave existente no nosso (Mt 7:3-5). Pois, na verdade, quando olhamos de nossas casas a suposta roupa suja do vizinho, pode muito bem ser os vidros de nossas janelas que estão necessitando de alguma limpeza.

Abraços.
Legal Rodrigo!

Embora não tenha me dado por convencido desta legalidade um pouco forçada em relação ao ato de mentir, e a relação disto com a tal divindade poderosa e que exige perfeição de Abrãao, lhe agradeço por sua resposta.

O tempo esta meio corrido hoje, e associado ao meu desinteresse por este tema (veja bem, 'meu desinteresse"... isso não quer dizer que seja desinteressante), vou me retirar deste momento 'verso e prosa", mas em breve retornarei.

Abraços e um ótimo final de semana a todos!
Obrigado de qualquer forma pela participação, Matheus.

Aproveito seus comentários para dizer que sinto grande orgulho em ter Abraão como o meu pai espiritual através de Cristo Jesus, meu Senhor e Mestre. Abraão pode não ter sido perfeito no sentido de jamais ter falhado. Contudo, eis que pela graça do Eterno, ele se torna um modelo para as gerações que o sucederam devido à fé que manteve nos padrões humanos. Sua ida para o Egito, a ocultação do matrimônio com Sara, a paternidade de Ismael por meio da escrava Hagar, dentre outras situações, mostram que ele foi submetido a provas. Contudo, nenhum desses testes fizeram com que ele retrocedesse. Cada vez mais o seu amor e a sua fidelidade pelo Eterno só cresceram.

Ora, será que nós crentes de hoje não podemos nos ver caminhando de igual modo?

Quantas vezes não somos tentados nesta vida e tropeçamos? Só que, se nos recordarmos de Abraão, lembraremos que em momento algum ele quebrou a sua aliança com Deus, mostrando-se valente por jamais desistir.

Mais uma vez retribuo seus abraços desejando aos confrades um descanso semanal com muita shalom. A paz do Senhor!
Eduardo Medeiros disse…
Rodrigo, na verdade não tenho nenhuma crítica à moralidade dos patriarcas. A Bíblia é o livro mais humano que existe, não escondendo nem escamoteando as falhas morais dos seus heróis.
Nossa única divergência é como nós lemos a história de Abrãao. Eu a leio como lenda, como uma construção necessária das origens do povo de Israel, escrito bem depois (lá pelo século V aC) dos eventos narrados.

Por isso que o "Deus" dos evangélicos moralistas, duvidam da paciência e do convivío do Deus de Abrãao com o que eles acham ser atos imorais...rss
O verbo ocultar nunca foi sinônimo do verbo mentir, nem há 6000 anos, nem ontem e nem será amanhã. Um livro escrito por parábolas oferecendo como exemplos a aniquilação de vidas, prejuízos materiais e enfermidades.
Caro Rodrigo, eu não sinto nenhum vazio devido a inexistência de Deus, seria um despautério. Se eu não acredito em sua existência e acho que seu livro de ensinamentos é um folhetim de cordel, obviamente não necessito de seu acompanhamento. O que me causa ojeriza é ter sido tratado durante minha infância e parte de minha juventude como um idiota. Neste período fui "obrigado a frequentar igrejas. Respeito quem não conseguiu se livrar do grilhão.
Um meteorologista quando afirma que "vai chover amanhã, à tarde, na sua cidade", é por que ele tem estudos e medições meteorológicas de temperatura e umidade relativa do ar, pressão barométrica, direção e velocidade do vento. Os estudos atmosféricos efetuados com estes dados em conjunto mostram em 90 % dos casos que há precipitação pluviométrica. Os meteorologistas trabalham com evidências. Pode até não chover, mas eu acredito em suas previsões.
Quando um médico afirma para um paciente que ele corre um sério risco de sofrer um infarto, o médico já tem um diagnóstico através de exames que neste quadro, alterado de enfermidades, normalmente o paciente sofre o colápso. Pode até não ocorrer o AVC, mas não, por milagre.
Alguém me mostre alguma evidência para as promessas bíblicas, para as afirmações, para os prêmios. Eu quero evidências que satisfaçam minha inteligência e não a minha fé.Existem algumas evidências na física, na biologia, na história e até na economia que eu não entendo por sua complexidade. Apesar de não ter conhecimento suficiente para entende-las, não posso dizer que são balelas. Me falta conhecimento para entender.
Uma das histórias bíblicas é a da Arca de Noé. A maior arca descrita mede 157m de comprimento, 26,2m de largura e 15,7m de altura com o volume de 64.580m³. Choveu por 40 dias e 40 noites mas Noé só saiu da arca após 90 dias. Tendo noção da quantidade, tamanho, alimentação e dejetos destes animais, fica difícil acreditar sem afrontar minha inteligência. Pela fé, também não dá. Minha mente não está debilitada.
Caro Edu,

Acho que não temos lá tantas diferenças em termos de concepção, mas sim na maneira como trabalhamos as histórias da Bíblia em termos práticos. Concordo que ela seja essa construção necessária e acrescento que alcançou significação também para nós. Basta que o leitor se abra.

Quanto ao fato de vc chamar Gênesis de "lenda", prefiro o termo "mito" que o Levi costuma utilizar. E prefiro mais ainda o status de Sagrada Escritura já que a Bíblia inteira compõe a formação cultural do Ocidente e não deve deixar de ser reverenciada. Tanto como tradição e principalmente como um veículo para se trabalhar a ética das pessoas.

Atualmente, tanto a moral dos cristãos evangélicos como dos católicos e até dos judeus do século XXI não coincidem mais com a do patriarca. Ainda assim todas as três religiões monoteístas da humanidade têm em Abraão uma paternidade espiritual como o cara que nos tirou da idolatria do paganismo trazendo-nos para a fé e para o culto ao Deus Único.
Em tempo!

Quanto à data em que Gênesis teria sido escrito, discordo que tenha sido lá pelo século V a.C., mas não descarto que, no pós-exílio, possa ter sido reescrita a Torá de Moisés assim como tivessem existido versões mais antigas. Porém, isto seria fato até hoje não comprovado pela Arqueologia.

De qualquer modo, o próprio texto da Torá que conhecemos mostra que houve uma religião diferente da que foi estabelecida por Esdras e Neemias, daí eu rejeitar aquelas teses obscuras de que jamais teria existido uma história judaica anterior aos séculos V e VI a.C.

Mas estariam as narrativas pré-exílicas repletas de fatos da imaginação criativa de seus autores? Isto já não descarto e acredito que até as modificações eventualmente ocorridas não foram desprovidas de propósito.
Uma pena que tenha essa visão ou sentimento acerca da Bíblia. Mas não posso crer em seu lugar, nem mesmo o Criador te obriga a aceitá-Lo como o seu Deus e Salvador.

Sobre um pai obrigar seus filhos a frequentar a religião da família acho correto desde obviamente que a religião respeite determinados limites (por isso não apoio o batismo infantil como fazem os católicos e outras denominações protestantes mais tradicionais). Já o adolescente deve ter assegurado o seu direito de escolher a crença que pretende seguir. É por volta dos 12 ou 13 anos que tanto o menino quanto a menina devem ter a oportunidade de confirmar se querem ter a fé de seus pais. Entre nossos irmãos judeus, seria em tal faixa etária que eles se tornam "filhos ou filhas do mandamento" pela cerimônia do Bar Mitzvah e Bat Mitzvah.
Quando um profeta bíblico avisava o povo sobre o julgamento divino, ele se baseava em evidências espirituais que o Espírito do Eterno lhe revelava. Uma delas se manifestava na decadência ética da sociedade pela quebra de princípios de vida basilares. Assim foi nos tempos de Jeremias quando previu a destruição da Jerusalém antiga pelas tropas de Nabucodonosor (séc. VI a.C).

Ora, será que as profecias de Jeremias satisfaziam a inteligência dos perversos monarcas Joaquim e Zedequias? Certamente que não. Eles preferiam acreditar em seus analistas políticos e, por desprezarem a Torá, acabaram atraindo a destruição do país quando optaram pelas alianças militares com os faraós egípcios.

Ora, o homem natural não entende as coisas de Deus por considerá-las loucura. Mas quando alguém passa a experimentar a instrução espiritual, passa a ver sentido e a ver com clareza. É quando ocorre a iluminação interior, algo que só podemos obter quando procuramos a Luz.

A narrativa da Arca de Noé pode parecer fantasiosa a seus olhos, mas ela é cheia de significados espirituais. Por isso um crente não pode desprezá-la por ela simplesmente se mostrar incoerente conforme a visão científica. Daí uma lição que tiro daqueles capítulos de Gênesis é que o mundo de hoje caminha da mesma maneira enquanto a natureza é destruída e injustiças sociais são praticadas por todos os lados. Pois existe o sério risco de termos um século apocalíptico no decorrer das próximas décadas com secas, enchentes, fome, epidemias, violência e badernas. Mas eu creio que desse caos virá algo novo e a Consciência do Messias prevalecerá pondo ordem nas coisas. Em outras palavras, seria então a tão esperada volta de Jesus Cristo. Aleluia!
" Pois existe o sério risco de termos um século apocalíptico no decorrer das próximas décadas com secas, enchentes, fome, epidemias, violência e badernas. Mas eu creio que desse caos virá algo novo e a Consciência do Messias prevalecerá pondo ordem nas coisas."
Então Rodrigo, o colapso no qual está adentrando nossa civilização neste século por culpa da incompetência humana de conviver em harmonia com a natureza tem origem divina. Respeito seu ponto de vista apesar de ser diametralmente oposto ao meu. A toda ação existe uma reação e a natureza não perdoa, independente se você ora, reza, ou faz despachos. Para você inserir Deus na ajuda tem que culpá-lo pelo infortúnio. Se ele inexiste para a incompetência do mal, também é inexistente para o alento.
No meu conceito o Deus criador perdeu o domínio de sua obra e não sabe como dirigir o fracasso.Por a culpa no Diabo é assinar o atestado de incompetência. Então ficaremos sem água, alimentos, com frio e doentes por culpa de nossa própria estupidez e o seu Deus, de camarote, assistindo a iniquidade. Vai mandar o filho, (de novo?), participar da formação de uma nova religião? Tem dó rodrigo!...
Para assegurar o direito, dos jovens, de escolher a crença que pretende seguir, e não, confirmar a fé dos seus pais, é necessário que lhes dê oportunidade de conhecer outras religiões. Nunca vi um pai protestante levar seu filho a uma igreja católica para assistir uma missa.Nunca vi um pai católico levar seu filho a um terreiro de candomblé para assistir um despacho. Também nunca vi um crente levar seu filho a Meca ou qualquer cristão indicar, a título de conhecimento, o Alcorão ao seu filho. Na minha concepção quando isto ocorrer não haverá mais conflitos religiosos. Todos os deuses são iguais com o mesmo poder. O poder da mente de quem acredita nele.
"A muleta, a cadeira de rodas ou os óculos são de vital importância para quem necessita deles."
Mas por que um pai levaria o seu filho para assistir culto de religião diversa da sua se ele não concorda com a visão e com os valores pregados pelo outro grupo? Se eu fosse pai, gostaria que meu filho seguisse os mesmos caminhos que eu. Se futuramente ele resolver virar outra coisa, inclusive partir pra canoa furada do ateísmo, será direito dele. Cada qual que, na idade adulta, tenha suas próprias experiências. Já eu, se fosse pai, desejaria dar uma formação de base bíblica bem sólida para minhas crianças bem como noções de respeito quanto as religiões diferentes mesmo que não concorde com elas. Há que se considerar que para muitos o culto da outra religião pode ser considerado algo até pecaminoso.
Amigo, o problema ambiental é também de ordem ética. Deus entregou esse planeta ao homem para que ele cuidasse da natureza, mas o que temos feito é a mais pura responsabilidade coletiva. O Eterno já enviou seus profetas ao mundo e continuar a mandar novos missionários para denunciarem a corrupção. E até hoje continuam perseguindo, ameaçando e até matando os neo-profetas da atualidade. Temos o clamor do sangue de Chico Mendes na Amazônia brasileira que não nos deixa mentir. Mas eu creio que o Rei do Universo pode intervir e mudar tudo isso na hora que Ele bem entender.
Rodrigo, Chico Mendes foi um boi de boiada, um cidadão de segunda categoria que foi aproveitado como mártir de uma causa que ele nunca foi defensor. Temos aqui outras figuras desprezíveis como pessoa humana que foi útil como representante de um idealismo do qual não fazia parte como a "Irmã Doroth", que traficava armas e drogas para invasores. Chico Mendes era um extrativista que brigava contra o domínio dos madeireiros. Não era diferente de milhares que sobreviveram. O mérito dele foi morrer em circunstâncias favoráveis aos ecologistas. De resto, era um inútil como qualquer outro à margem da economia. Colocar Chico mendes na galeria de neo-profetas é o mesmo que santificar o macaco tião.
Quer dizer que a freira era traficante, Altamirando? Conta outra! A mulher foi covardemente assassinada por latifundiários só porque defendia os sem terras do Pará assim como Chico Mendes lutou pelos seringueiros e denunciou o absurdo desmatamento da Amazônia. Lembro direitinho da vez em que andei 524 km pela Transamazônia indo de Marabá até Altamira, no Xingu, cidade onde está sendo construída mais uma dessas enormes hidrelétricas impactantes. Recordo que vi caminhões transportando toras enormes de madeira da mata nativa sem fiscalização alguma. Na volta, trafegando pela bacia hidrográfica do Amazonas, no trajeto de Vitória do Xingu até Belém e passando por Gurupá, também vi muitas outras toras no próprio rio. Num desses barcos onde pessoas viajam amontoadas em redes junto com as cargas, a polícia recebeu descaradamente suborno pelo tráfico de jabutis feito descaradamente na embarcação. Enfim, este é o Brasil das injustiças, terra onde o bebê chora e a mamãe não ouve, sendo cada vez mais preocupante a situação da Amazônia que acabou sendo de certo modo esquecida pelos líderes internacionais nas duas cimeiras que sucederam a Eco-92. Nesta, pelo menos alguns estadistas tiveram a coragem de dizer em pleno Rio de Janeiro que o Brasil deveria aceitar uma "soberania relativa sobre a Amazônia". E será que não estão certos? Afinal, mesmo não sendo o "pulmão do mundo" porque a maior parte do oxigênio vem mesmo das algas marinhas, eis que a maior floresta tropical do planeta funciona como um regulador climático. Até os agricultores do centro-oeste já verificaram que, se o desmatamento prosseguir como está, em breve o Cerrado vai acabar se tornando semi-árido e este ano temos penado muito aqui no Sudeste com a redução das chuvas, sendo que, quando as tempestades chegam, provocam enchentes e alagamentos nas cidades, mas não restabelece o nível de água dos mananciais. Enfim, por nossa causa, como havia dito Deus a Adão, estamos vivendo o Apocalipse.
Eduardo Medeiros disse…
Olha, caros amigos, a conversa de vocês dois entrou num nível interessante: política e ecologia. Se deixarmos de lado um pouco se Deus vai ou não intervir no nosso apocalipse particular, a conversa pode até ficar mais interessante.
Estou querendo postar o tema para debate sobre o Brasil de 64, mas estou vendo que este papo pode ainda render coisa boa.
Eduardo Medeiros disse…
Mirandinha, pelo menos acho o pensamento teológico do Rodrigo bem superior à média dos evangélicos. Ele tem um modo engajado de pensar a teologia a partir da nossa realidade histórica, política e social. Isso é bom em alguém que crê no Eterno. Particularmente, só não sigo mais também essa linha por não ter mais certeza de quem é o Eterno e por não crer que ele, se existir, seja o deus de qualquer religião humana.
CAro Edu,

Por que Deus não interviria?

Será que o Eterno vai deixar o homem destruir completamente o planeta que Ele criou?

Mas quem sou eu, mero mortal, para dizer que conheço os planos divinos?

Acredito, todavia, que devemos tomar uma ATITUDE para salvar o planeta e daí ONGs e ativistas têm agido há décadas mas sem alcançarem os resultados eficazes por mais que tenham elevados ideiais. Muitos são pessoas até mais engajadas do que inúmeros crentes de igrejas e acho que ba parte das religiões, sobretudo no cristianismo, tem feito muito pouco pelo ambiente.

Ora, não seria o momento da Igreja de Cristo abraçar a causa?

Glória a Deus pela vida do contemporâneo profeta Leonardo Boff! Ouçamos a Sua Palavra pelas penas desse valoroso homem...
Certamente, Edu, o Eterno não é de nenhuma religião, bem como de nenhum povo em particular (a aliança com os israelitas pode-se dizer que foi uma experiência e nunca uma exclusividade). Afinal, quem é o homem para querer ser dono de Deus?!

"Se diligentemente aprenderem os caminhos do meu povo, jurando pelo meu nome: Tão certo como vive o SENHOR, como ensinaram o meu povo a jurar por Baal, então, serão edificados no meio do meu povo." (Jr 12:16; ARA)

Quanto a não ter certeza mais de quem é o Eterno, admiro a sua humidade e sinceridade. Penso que seja por aí que nos elevamos no conhecimento de Deus, isto é, quando nos colocamos na condição de permanentes aprendizes. Importa, porém, que preservemos em todo o tempo a abertura para buscar e conhecer o Altíssimo, não permitindo que sentimentos de descrença nos tornem indiferentes.

Abraços.
Sobre a nova postagem, Edu, já que o debate aqui estaria então esquentando, penso que seria oportuno colocar algo novo na sexta e esperarmos novos comentários durante o final de semana. E deixei uma mensagem lá na última postagem do blogue do autor, o qual escreveu em sua página sobre Spinoza. Vai que ele ainda aparece novamente aqui...

Valeu!

A PALAVRA DE DEUS

http://muriqui-lacerda.blogspot.com.br/2014/03/a-palavra-de-deus.html
LACERDA disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
LACERDA disse…
Sinto não poder participar deste debate de alto nível. Não tenho o conhecimento profundo de vocês.
Sou apenas um cristão espírita e quase ateu, graças a Deus.
Algum incauto perguntará como alguém pode se declarar cristão, espírita e quase ateu, graças a Deus. Eu explico: sou espírita, sou grande fã de Jesus e não acredito no deus que os homens criaram.
Acredito, sim, apenas no Deus que criou os homens - e, principalmente, as mulheres - o Todo-Poderoso Que Se amarra em mim como já declarei por diversas vezes em meu blog.
Caro Lacerda,

Sinta-se à vontade para participar quando desejar. Creio que nesta vida estamos a aprender uns com os outros. Logo, acho que as pessoas podem contribuir para o debate independente da medida de conhecimento teológico ou filosófico que elas têm. Inclusive aqui, como se pode verificar pelas outras postagens, não debatemos sobre religião somente. Ultimamente acho que tem-se escrito mais sobre política nesta confraria do que outra coisa, o que é natural pelo aquecido momento que o Brasil vive desde junho do ano passado.

Embora não siga a doutrina espírita, considero-me de algum modo um cristão heterodoxo e acho os conceitos das religiões sobre a Divindade limitados. Até mesmo o termo "deus" pois o Eterno é muito mais do que um Ser Radiante, cuja "glória brilha mais que o sol", como diz a letra daquele cântico de louvor Teu nome é exaltado, obviamente inspirado nos Salmos da Bíblia. Compreendo sua descrença no "deus que os homens criaram" pois este realmente se trata de uma imagem mental. Já o nosso Criador bendito é a busca de todo aquele que crê querer conhecê-Lo mais.

Abraços.