A nação brasileira precisa de uma nova disciplina!

“Escuta, filho meu, a disciplina de teu pai,
não desprezes a instrução de tua mãe”
(Provérbios 1.8; BJ)

Em abril do corrente ano, publiquei o texto Refletindo sobre o futuro da 7ª geração após a independência, abordando a questão educacional em nosso país em que propus, dentre outras coisas, o ensino em horário integral.

Algumas semanas atrás, porém, ao refletir sobre a nossa dificuldade em mudar hábitos, cheguei à conclusão de que a maior necessidade da nação brasileira seria a adoção de uma disciplina capaz de levar a sociedade a um verdadeiro sucesso.

Etimologicamente, disciplina vem da palavra discípulo (aquele que segue). Significa instruir, educar, treinar, transmitir a ideia de modelagem de caráter e imprimir regras de comportamento. Trata-se de algo que é aplicado, por exemplo, nos meios militar (princípios basilares da hierarquia e disciplina), escolar, empresarial, penitenciário, esportivo e até eclesiástico.

Historicamente, as civilizações que mais se destacaram desenvolveram suas respectivas disciplinas sociais. Graças a isto, os monarcas antigos conseguiram imprimir hábitos saudáveis nos seus súditos, facilitando o indivíduo a cumprir sua obrigação, levando a pessoa a um autodomínio e capacitando-a no uso de sua liberdade na superação dos condicionantes que se apresentam na vida cotidiana.

É certo que nem todas as disciplinas foram benéficas para o desenvolvimento de uma nação. Durante o colonialismo, os povos dominados receberam uma educação servil afim de sujeitar os indivíduos ao interesse da metrópole. E, nas sociedades desiguais, o mesmo se verifica na submissão das classes ou grupos sociais mais pobres formando um trabalhador manso para ser explorado pelos patrões.

Todavia, a disciplina social não se presta somente para o domínio político e cultural sobre as massas. Ela pode ser também libertária e capaz de conduzir uma nação a um nível de desenvolvimento desejado. E a experiência tem mostrado que pessoas bem sucedidas, além de serem criativas, também cultivam a disciplina. Ou melhor, dominam a si próprias.

A autodisciplina define-se como a capacidade de motivar a si próprio através da força de vontade, do trabalho duro e persistência. Cuida-se de uma atitude em que o indivíduo direciona a sua energia apesar de um estado emocional negativo e lidando com a exaustiva rotina. Dia após dia, a pessoa busca manter-se firme em seu propósito evitando os desvios e corrigindo rotas equivocadas sem se abater pelo desânimo.

Na nossa sociedade de consumo e de comportamento imediatista, as pessoas logo rejeitam a disciplina. Junto com a acomodação, as últimas gerações experimentaram o descrédito dos valores tradicionais de seus pais e avós. Houve uma destrutiva quebra de princípios, o questionamento vazio de praticamente todos os conceitos e a dissolução de costumes fundamentais. Devido a isso, a droga passou a destruir as famílias do Ocidente começando pelos ricos até chegar nos grupos sociais mais humildes.

É certo que o processo de desconstrução dessas últimas cinco décadas trouxe alguns benefícios. Porém, a sociedade tornou-se um barco à deriva e precisa traçar um rumo para não naufragar sob o céu sem estrelas na qual se meteu. Sendo assim, temos aí o dever de definir qual a nova disciplina a ser adotada elegendo os melhores valores de referência.

A meu sentir, precisamos disciplinar vários aspectos das nossas vidas. E, se na atualidade, os pais tornaram-se incapazes de educar seus filhos, diferente da época dos provérbios bíblicos do rei Salomão, deve-se então instruir as crianças através das instituições públicas de ensino. Neste sentido, entendo ser indispensável a escola trabalhar o uso do tempo, da disciplina do corpo, do trabalho, dos estudos, da alimentação saudável, das ações, do pensamento, da administração do dinheiro, do sono, do lazer, das festas, da internet, da espera em filas, das posturas, do apetite, do trânsito, das conversações, da higiene, dos cuidados ambientais, etc.

Certamente que impor limites passa a ser fundamental para que a pessoa reconheça o seu papel no meio social. Para tanto, não basta que se proíba determinadas condutas. É necessário que o educando receba instruções para fazer coisas boas desenvolvendo virtudes. Aì, entusiasmar a prática de atos positivos (amorosos) torna-se uma contribuição decisiva para a construção do caráter do menor.

Acredito que, através de uma educação em horário integral e que seja essencialmente disciplinadora, temos alguma chance de gerar uma sociedade melhor futuramente e evitarmos um futuro de barbárie. Paralelo a essa iniciativa, seria oportuna a ministração de cursos de orientação para adultos e também a criação de um serviço civil obrigatório em instituições idôneas já que as nossas forças armadas não têm condições de absorver todos os jovens em idade de alistamento. Então, tal como no serviço militar, os bombeiros e as guardas municipais tornariam rapazes e moças cidadãos realmente aptos para seguir uma conduta desejável para a promoção do bem comum coletivo. Do contrário, os adultos de amanhã poderão ser pessoas intolerantes, cheias de dengo, incapazes de conviver com obrigações rotineiras e se sentindo frustrados quando não são mais o centro das atenções.

Para concluir, compartilho que foi justamente na minha indisciplina que passei a sentir falta da ação disciplinadora. Quando criança, fui educado pelo meu saudoso avô paterno cel. Sylvio Ancora da Luz (1917-2005) que, na época, já era militar da reserva. Vovô impunha-me uma conduta que muito me contrariava tipo acordar cedo e fazer a cama. Com ele, passei a ter horário para dormir à noite, o que, normalmente, era após à novela das oito (hoje das nove). Só que, quando fui morar sozinho, sendo ainda aluno de faculdade, senti-me enganosamente feliz pela possibilidade de abandono dessas regras e passei a deitar e levantar na hora que bem queria, largando a cama de qualquer jeito.

Passado o tempo e tomando consciência da falta de disciplina, comecei a reconhecer a importância dos bons ensinamentos de meu velho. Hoje sei que, se imponho um horário para o sono, estou educando o meu organismo e tornando-o apto para outras atividades diárias, sejam estas laborais ou estudantis. Também o próprio exercício matinal de arrumar a roupa de cama, dobrando lençóis e cobertores, bem como colocando uma colcha em cima, ajuda o corpo a despertar e não cultivar o mau hábito de voltar a dormir de manhã. Com isto, quem segue este simples ensino de vida entra logo em movimento nas primeiras horas do dia evitando que a preguiça tome conta de si.

Comentários

Levi B. Santos disse…
Rodrigo

O famoso jeitinho brasileiro tem contaminado toda a sociedade.

Joaquim Nabuco já falava que a sedução do favor ou o “é dando que se recebe” faz da pessoa um novo escravo.
O arbítrio (outro nome dado para a impunidade) permanece mais vivo do que nunca, e seus efeitos maléficos podem ser vistos na educação escolar.

A escola não tem interesse em estimular o estudante a pensar e a questionar, porque isso vai de encontro à política governamental que tem como parâmetro principal a domesticação da criança, para manter o "status quo".

E o brasileiro, como um bom selvagem, se adapta facilmente, uma vez que culturalmente e psicologicamente já está programado, desde os tempos imemoriais de nosso corrupto processo civilizacional.
Excelente texto Rodrigo, um dos falsos sentidos da palavra liberdade tem a ver com a idéia que ela tem haver com o direito ou faculdade para se fazer tudo aquilo que se quer...pra se ter liberdade efetiva é preciso ter disciplina....e muita disciplina....
Caro Levi,

Eu diria que nem "domesticar" a escola faz mais. Hoje em dia, isto é, de umas décadas para cá, o sistema educacional virou uma bagunça. Professores fingem que ensinam e alunos fingem que aprendem. O aluno nem sempre pode contar com a presença de professores por causa das faltas dos mesmos e das constantes greves. E ainda assim, quando encontra um profissional do ensino na sala de aula, depara-se muitas das vezes com alguém desmotivado, reclamando do baixo salário e descrente de um futuro melhor. Mas é claro que há exceções. Existem aqueles mestres que não só ensinam o estudante a pensar e a estudar como também contribuem para a preparação do educando para a vida.

Todavia, a preocupação do governo, desde a degenerativa década de 90, tem sido com os números. Tanto o PSDB quanto o PT, bem como a maioria dos seus partidos aliados, fizeram a opção lamentável pela provação automática e facilitada afim de mostrarem à ONU e ao mundo que o Brasil reduziu a repetência escolar. Com isto, temos muitos analfabetos sendo formados nas instituições de ensino. Jo vens que saem preparados mais para encarar um curso técnico e se tornarem mão-de-obra estúpida para as empresas sem desenvolverem o pensar crítico e também sem se sujeitarem a uma disciplina que os tornem cidadãos socialmente ativos ou construtores de uma nação melhor.

No regime militar e em outros momentos exploratórios do nosso passado que foram bem piores (coronelismo, época da escravidão e Brasil colônia), poucos tiveram acesso à educação. Hoje em dia, o ensino se universalizou, mas sabemos que é pela necessidade de mão-de-obra mais qualificada porque o analfabeto puro já não tem mais lugar no mercado de trabalho. Só que ganância dos governantes tem sido tanta que as deficiências da escola acabam contribuindo para o caos. Afinal de contas, diante do imediatismo eleitoral e a necessidade de roubarem paraq o caixa 2 das campanhas, por que os inescrupulosos políticos brasileiros vão querer gastar dinheiro com ensino em horário integral, pagando mais professores, merendas, construindo novas salas de aula e oferecendo mais disciplinas do que as matérias já existentes?
Prezado Fernando,

Você sintetizou bem a ideia! Gostei!

Como disse o saudoso compositor Renato Russo, em sua canção Há tempos,


"Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza"


Abraços.
Eduardo Medeiros disse…
Disciplina é importante, eu como militar, sei disso. Mas a disciplina só funciona quando ela é pensada e querida conscientemente. Impor uma disciplina a quem não quer ser disciplinado de nada adianta. Então primeiro, a de que se convencer que as pessoas precisam dela.

valeu, Rodrigo.
Concordo contigo, Edu, sobre a disciplina consciente. Do contrário, não se tem uma obediência voluntária, exceto por motivo de coação dentro do envelhecido sistema de recompensas e punições.

O ideal evolutivo deve ser mesmo o do aperfeiçoamento consciencial e entendo que a bondade imerecida praticada pelo educador opera de maneira indispensável. Aliás, eu creio na disciplina do amor que é conforme a graça.

Abraços.
Unknown disse…
Somos sábios para querermos sempre sair ganhando, mais que na realidade sempre perdemos, com nossa ignorância de taparmos os olhos e não enxergarmos o futuro diante de nossos olhos e mudar esse país, onde todos que ali abitam no covil do lobo tem que sair.Brasília a cidade do roubo...