Agenda política do século XXI e a depressão





Por Fabio Feldmann

A morte do ator Robbin Williams expõe o grave problema da depressão que nos aflige. A Organização Mundial de Saúde, já faz tempo, tem alertado sobre a necessidade de colocarmos na agenda política este tema tão relevante.

Infelizmente muita gente encara a depressão com preconceito, como se ela revelasse uma fragilidade da pessoa que vive intensamente o problema. Hoje já se reconhece que nem as crianças estão isentas desse mal. Recentemente o tema foi abordado em Paraty na FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty por Andrew Solomon, reconhecido escritor americano.

Certamente, a depender das circunstâncias, todos estão sujeitos aos altos e baixos da roda gigante que é a vida. Mas temos que pensar se de fato estamos enfrentando adequadamente a questão.

Como a depressão nos afeta? Como a desigualdade social torna mais vulnerável pessoas com menos possibilidades de um correto diagnóstico e de escolhas para o seu enfrentamento? Existe uma pré disposição genética à depressão?

Todas essas perguntas deveriam estar na agenda do debate político do Brasil, com o objetivo de se estabelecer uma política pública eficaz para podermos lidar com a depressão.

Como é sabido, estou coordenando a temática de sustentabilidade e meio ambiente da campanha de Aécio Neves. Quando tomei conhecimento sobre o suicídio de Robbin Williams me perguntei se este tema deveria ou não ser contemplado neste campo. Ou eventualmente no que tange à saúde. Pesquisei também os outros programas das outras candidaturas e me convenci de que há uma omissão clara em relação à matéria. A agenda de século XXI tem que tratar a depressão na complexidade que ela exige.

A exemplo de outros temas complexos e contemporâneos, estou convicto de que o assunto merece uma atenção da Presidência da República. Por que? Em primeiro lugar, por exigir uma abordagem holística, assegurando com isso que não se torne matéria de domínio exclusivo de um ou dois ministérios. Além disso, é importante que se colete o mais amplo conjunto de informações sobre como o tema tem sido tratado pela ciência no mundo e no Brasil. E quais políticas públicas são mais eficazes para o diagnóstico, prevenção e tratamento da doença nas várias esferas da vida das pessoas.

A idéia é que em temas complicados como depressão, resistência a antibióticos, obesidade, entre outros, a Presidência da República crie um painel específico com objetivos bem definidos e processo de consulta pública amplo, de modo que com isso se possa oferecer à sociedade brasileira estratégias claras para o enfrentamento desses problemas.

O fato do Presidente colocá-los como uma prioridade sua, claramente indica a importância dos temas, gerando, de um lado, a repercussão necessária na mídia de maneira geral e do outro, mobilizando a sociedade em busca das melhores estratégias e soluções.

Com isso, o Brasil moderniza a sua agenda política e dá importância às temáticas que afligem efetivamente os nossos cidadãos. Depressão e obesidade, cada vez mais, estão presentes em nossas vidas. Por sua vez, na medida em que os antibióticos se tornam mais ineficazes em função da resistência das bactérias, os riscos de morrermos de certas doenças se tornam cada dia mais provável.


OBS: Artigo publicado em 26/08/2014 no Fabio Feldmann Blog, sendo os créditos autorais da imagem acima do ator Robbin Williams atribuídos a literatortura.com

Comentários

Embora não pense que o Aécio vá mesmo abraçar a causa como deveria (como muitos sabem estou apoiando a Marina), seu coordenador político lembrou de um detalhe importantíssimo. Cada vez mais as pessoas têm adoecido com depressão, um problema que pode afetar gravemente a economia de diversos países. Há que se prevenir e tratar logo desta relevante questão de saúde mental.
Eduardo Medeiros disse…
a depressão é a doença da modernidade. Pessoas aparentemente com tudo, com todas as possibilidades de viverem bem, são pegos pela depressão. não sei bem o que causa a depressão, mas desconfio que um vazio existencial esteja na raiz do problema.
Pois é, Edu. Às vezes tenho ideias semelhantes a esta que expôs sobre qual a causa desse mal do século, mas quando pergunto a um paciente crônico ele não sabe me responder o que teria lhe acontecido. Complicado...