É preciso cautela diante das pesquisas eleitorais!





Curioso como as pesquisas eleitorais andam falhando ultimamente?!

O fato é que, no primeiro turno de 2010, Dilma venceu o Serra com 43,1%. Já este ano, ela caiu para 37,7%, o que significa uma perda de 5,4 pontos percentuais. Isso é fato comprovado! Não é fruto de pesquisas e nem de projeções.

É certo que Aécio e Marina cresceram pouco em relação às eleições presidenciais passadas, comparando-se o PSDB com seu candidato anterior José Serra e a Marina Silva consigo mesma quando ela veio pelo PV. Só que os nulos e brancos dessa vez somaram 10,44%. Já a abstenção que, em 2010, fora de 18,12%, subiu em 2014 para 19,39%.

Pois bem. Vamos tomar o Datafolha como exemplo. Em 08/10/2010, nas pesquisas de segundo turno, esse instituto mostrou Dilma com 48%, Serra com 41% enquanto os brancos, nulos e indecisos somavam ao todo 11%. Este mês, logo após o primeiro turno de 2014, mostraram Aécio com 46%, o que seria um crescimento de 5 pontos sobre Serra, enquanto a Dilma só teria 44%, importando numa suposta queda de 4 pontos sobre os dados de 2010.

Realmente é curioso como que, em tão pouco tempo, Aécio teria crescido 15,7 pontos sobre o primeiro turno enquanto Dilma apenas subiu 6,3 pontos! Isso significa que o tucano teria aumentado uns 70% sobre os 21,6% que Marina e os demais candidatos tiveram no primeiro turno enquanto somente 30% foram para Dilma. Surpreendente, não? Entretanto, como a metade dos eleitores inscritos não votou em nenhum dos dois no primeiro turno, tem-se aí um sugestivo campo para ficções estatísticas.

Inegavelmente uma pesquisa precisa ser analisada por gênero, instrução, renda, faixa etária, religião, região, etc. Na verdade, o que os institutos podem fazer agora é avaliar os potenciais de migração de votos, nunca retratar a realidade.

Não dá para o Datafolha ir a um bairro de classe A de SP e entrevistar os eleitores do lugar como sendo eles representativos do país todo!

Ora, não estaria o Nordeste em sua maioria com Dilma?!

E o que esperar dos mineiros que acabaram de eleger um governador petista e que, certamente, não vão querer contar com a hostilidade de um governo federal tucano no repasse de verbas para o estado deles?!

Assim, é quanto aos potenciais de votos que os institutos precisam fazer suas respectivas avaliações, coisa que não pode ser concluída em tão pouco tempo. Por exemplo, aquele eleitor evangélico que, no 1º turno, votou no Pastor Everaldo ou na Marina tende a identificar no Aécio alguém representativo de seus anseios políticos. Mas nada impede que Dilma venha a fazer o mesmo na conquista desse voto sendo certo que temos aí quem sabe cerca de 1 milhão de eleitores considerando que nem todo crente necessariamente vai votar em quem o pastor mandou. E este é um terreno que, por experiência, posso dizer que é bem diversificado sendo um erro alguém falar generalizadamente "os evangélicos" (confiram o artigo Afinal, quem são "os evangélicos"? de autoria do Ricardo Alexandre e que foi publicado aqui dia 08/09).

De qualquer maneira, estamos diante de um quadro bem recente de modo que não podemos afirmar agora se será Dilma ou Aécio quem irá ser eleito(a). Se o candidato do PSDB possui uma curva ascendente e, supostamente, maior intenção de votos no momento, é preciso que a tendência se cristalize até dia 26. E, como bem escreveu o cientista político César Maia em seu informativo eletrônico, "a campanha eleitoral na TV e no boca a boca que provoca é que vai ajustando ou sedimentando esta reação inicial".

Por outro lado, temos hoje na sociedade brasileira um forte sentimento de mudança que é notadamente maior que em 2010. Neste cenário, pode-se considerar que essa tendência seria capaz de tirar muitos votos de Dilma, caso o eleitor venha a identificar Aécio com a renovação que o país necessita, mesmo tendo o PSDB já governado de 1994 a 2002. Só que, como as pessoas não votam em partidos, mas sim em candidatos, existe alguma chance para o Aécio assim como Dilma também pode vencer. E, neste sentido, pouco importa se o PSB, Eduardo Jorge, Pastor Everaldo, Eymael e até a própria Marina Silva declararem algum apoio político ao tucano porque não existe uma transferência automática de votos. Quando o cidadão entra na urna eletrônica da seção eleitoral e fica de frente para aquela maquinha, são as suas próprias razões/convicções que irão determinar o voto.

Que Deus ilumine a consciência do eleitor brasileiro!


OBS: Ilustração acima extraída da página oficial do Casseta & Planeta no Facebook.

Comentários

Confesso não ver lá tantas diferenças entre Dilma e Aécio, mas reconheço algo muito positivo e salutar numa alternância de poder. Ainda não me decidi sobre em quem votar neste segundo turno seja para presidente ou governador do meu estado. Quero aguardar como será o posicionamento da Marina Silva aguardado para hoje. Não que eu seja um "Maria vai com as outras" pois não seria pelo fato da cúpula do PSB, do Eduardo Jorge, do Pastor Everaldo e do Eymael estarem com o Aécio que, necessariamente, irei apoiar o tucano. Tão pouco pelas pesquisas. Sei muito bem que para os políticos interessa muito escolher um candidato com menor rejeição e que vá de encontro ao sentimento de mudança do povo. Assim, estou levando em conta os prós e contras em cada candidatura para fazer uma escolha madura já que, em segundo turno, muitas vezes temos que definir quem é o menos pior.

Sobre o RJ, não esqueço o quanto o governo Cabral me descontentou e também não considero que, por si só, ocupar algumas áreas carentes do Rio e fazer UPPs resolverá o problema da criminalidade. Se for assim, será preciso fazerem UPPs no estado inteiro sendo que parte da bandidagem tem vindo pra cá no interior. Mas também sei que custaria caro perdermos as áreas já "pacificadas". Bem, o que precisa ser feito é melhorar consideravelmente a política de segurança sem jogar fora o que a duras penas conquistamos. Fica no ar a questão: Como Crivella dará continuidade ao que já tem sido feito? Penso que ele precisará explicar em detalhes e muitas vezes o que podemos ver num candidato são as pessoas que com ele estão. Falo não de jogadores de futebol, artistas e gente famosa, mas de políticos e de empresas por trás de sua candidatura. E, se Pezão seria um boneco do Cabral, Crivella não poderia estar representando os interesses do Edir Macedo, bispo da IURD e um dos donos da TV Record?! Reflitamos!
Será que, no atual momento de "frieza" quanto às eleições no país, as pesquisas de opinião terão alguma certeza? Vejam esta interessante explicação de um cientista político baseada em dois autores: Paul Lazersfeld, o fundador das pesquisas de opinião política na Universidade de Columbia, e Gabriel Tarde:

"Os críticos da montagem de um sistema de pesquisas como estava sendo feito, que refletisse a opinião pública, afirmavam que o eleitor, sendo um em milhões, achava que era inútil votar ou opinar. Dessa forma, as amostras usadas nas pesquisas não conseguiriam identificar os vetores de opinião pública.

Lazarsfeld trabalhou com o Jogo de Coordenação. Ou seja, as pessoas e seus contatos, em casa, na família, no trabalho, nas ruas, nas escolas, nos clubes, etc., vão trocando opiniões e construindo a ideia que não estão sós, que fazem parte de um grupo de pessoas que pensam como eles e que o alcance de sua intenção de voto é muito maior que sua opinião pessoal. Com isso, a amostragem aparentemente pequena -não apenas pelos fatores censitários gênero, idade, instrução, renda, como de localização...-, impulsionada pelo Jogo de Coordenação, tem um alcance muito maior que os críticos imaginavam. E precisão.

Continuando...

Gabriel Tarde, francês, pai da microssociologia, no final do século XIX, em seu clássico “As Leis da Imitação” (não traduzido para o português), dizia que a opinião pública é formada pela troca de opiniões entre as pessoas e outras pessoas cujas opiniões respeitam. A partir daí se formam fluxos de opinamento. Quando as informações difundidas são amplas, como pelos meios de comunicação, aquela troca de opiniões se dá milhares/milhões de vezes. São esses fluxos que formam a opinião pública.

Gabriel Tarde fala de três atores nesse processo: os que iniciam processos de opinamento (“loucos”), os que repassam os fluxos de opinamento (“sonâmbulos”) e os que não estão nem aí e não dão importância a esses fluxos e não repassam (“idiotas”). Quanto maior a proporção desses últimos, menor a velocidade na formação de opinião pública e mais difícil identificá-la.

Tanto o Jogo de Coordenação quanto as Leis da Imitação explicam que quando certo assunto não desperta interesse nas pessoas, que elas não conversam, não interagem a respeito, e quanto maior a proporção dos que não repassam fluxos de opinamento, maior dificuldade das pesquisas terem precisão na proporção dos vetores de opinião pública.

Foi o que ocorreu nesta eleição. As ruas frias, as ruas neutras sem polêmica, a rejeição aos políticos, alta proporção dos que não se interessam pela eleição (vide Ibope também no segundo turno), processo esse intensificado no segundo turno, explicam por que as oscilações das pesquisas tendem a ser, e foram, mais altas. E mais. As pesquisas, durante a campanha, com baixa taxa de interesse, tendem a ter resultados diferentes quando a proximidade da eleição aumenta o interesse, ou mesmo na urna, quando o eleitor está lá e terá que votar.

Para os que veem a TV e os programas ou os comerciais eleitorais, ouvem as rádios ou leem os jornais, ou estão nas redes sociais, parece que a campanha eleitoral está quente. Ilusão de ótica, de audição e de leitura. A campanha eleitoral estava, está e estará fria, aumentando consideravelmente os riscos de oscilações. Lembre-se: isso não interfere na margem de erro de uma pesquisa específica divulgada. Mas interfere muito na probabilidade de outra pesquisa na frente dizer coisa muito diferente.

Com isso, as séries continuadas de pesquisas que são um elemento corretivo das margens de erro perdem também sua efetividade. Aos que disputam as eleições, nesse sentido, sempre há esperança. Comparando as pesquisas –mesmo as últimas às vésperas das urnas do primeiro turno, com o resultado da eleição presidencial- se poderia exemplificar dizendo que é provável que estados como Rio Grande do Sul, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, sejam exemplos maiores da baixa temperatura eleitoral e dos riscos de oscilação das pesquisas e das urnas em 2014."

Fonte: http://emkt.frontcrm.com.br/display.php?M=4458259&C=f55055c006c82ea2f27dbd46f2190801&S=9594&L=514&N=3735