As causas dos gays e as necessidades do povo brasileiro




O psicólogo norte-americano Abraham Maslow (1908 - 1970) até hoje é muito citado nas universidades e nos trabalhos de pesquisas (inclusive das empresas e governos) pela sua proposta sobre a hierarquia das necessidades. Segundo ele, as necessidades de nível mais inferior devem ser satisfeitas antes das necessidades de um patamar superior. Cada indivíduo tem de "escalar" uma hierarquia de necessidades para atingir a sua auto-realização, como expôs formatando uma pirâmide.

Em resumo, seriam cinco os conjuntos de necessidades sugeridos por Maslow: 

1) Necessidades fisiológicas (básicas), tais como a fome, a sede, o sono, o sexo, a excreção, o abrigo;

2) Necessidades de segurança, que vão da simples necessidade de sentir-se seguro dentro de uma casa a formas mais elaboradas de segurança como um emprego estável, um plano de saúde ou um seguro de vida;

3) Necessidades sociais ou de amor, afeto, afeição e sentimentos tais como os de pertencer a um grupo ou fazer parte de um clube;

4) Necessidades de estima, que passam por duas vertentes, o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros face à nossa capacidade de adequação às funções que desempenhamos;
5) Necessidades de auto-realização, em que o indivíduo procura tornar-se aquilo que ele pode ser: "What humans can be, they must be: they must be true to their own nature!" (Tradução: "O que os humanos podem ser, eles devem ser: Eles devem ser verdadeiros com a sua própria natureza).

Seria neste último nível da pirâmide que Maslow considerou que a pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade. "Temos de ser tudo o que somos capazes de ser, desenvolver os nossos potenciais", ensinava o psicólogo.

Embora essa teoria de Maslow recebeu críticas desde a época em que ele a teria formulado (há quem entenda ser possível uma pessoa estar auto-realizada e não conseguir, contudo, uma total satisfação de suas necessidade fisiológicas), penso tratar-se de uma importante ferramenta a fim de que podermos entender melhor as aspirações da nossa sociedade. Algo que os políticos precisam refletir sempre, quer sejam oposicionistas ou governistas, progressistas ou conservadores. E aí, quando falo dos políticos, não me refiro apenas aos ocupantes de cargos eletivos ou pretensos candidatos aos mesmos, mas incluo também as ONGs e os movimentos sociais em geral como os ambientalistas, as feministas, os ativistas gays, os sindicalistas das mais diversas categoria, os líderes estudantis, os defensores de animais, etc.

Pois bem. Quando olho para a sociedade brasileira de hoje, percebo que estamos passando do nível "fisiologia" para "segurança". Acabamos de sair nesta década do vergonhoso "Mapa da Fome", de acordo com o relatório global da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), divulgado em Roma no dia 16/09/2014 (ver documento sobre insegurança alimentar no mundo aqui). E mesmo assim ainda estamos experimentando um considerável retrocesso em 2015 devido à crise econômica, a qual espero ser passageira durando uns dois ou três anos no máximo.

Ora, neste momento que estamos vivendo, o que o nosso povo mais quer é manter suas conquistas, ter o seu direito à saúde respeitado (muita gente ainda sofre aguardando atendimento nas unidades do SUS), conseguir uma escola de qualidade para seus filhos, comprar a tão sonhada casa própria, andar num transporte público decente e comer um pouco melhor. E aí fico a pensar como um trabalhador pai de família, que ainda tem que acordar às quatro da madrugada para viajar naquele ônibus lotado (e ainda levar bronca do patrão por ter chegado com atraso no emprego), poderá simpatizar com as bandeiras defendidas pelo movimento LGBT?!

Oras, não seria esse um dos erros cometidos pela esquerda brasileira que parece estar se esquecendo de suas origens no movimento sindical?!

É certo que temos também gays pobres no Brasil e no mundo. Porém, quem mais luta pelos direitos de ter a sua intimidade sexual respeitada geralmente são os homossexuais ricos, ou os que pertencem a uma classe média mais ou menos endinheirada. Isto é, pessoas que já têm algum conforto básico em seu cotidiano ainda que possa ter falta de algumas coisas em casa e não conseguir comprar um automóvel 0 km.

A meu ver, hoje os gays não estão mais na mesma situação de uns 25 anos atrás. Inúmeras conquistas eles já obtiveram entre as quais a de adotar crianças, receber pensão do INSS em caso de morte do companheiro(a) falecido(a), concorrer à herança com os demais parentes do mesmo, viver em união estável e até se casarem no civil. Se algum deles for de fato ofendido em razão da orientação sexual podem, conforme o caso, processar o agressor por crime de injúria e, independentemente, pedir uma indenização por danos morais dentro da esfera cível. Sendo empregado de uma empresa, ou funcionário público, deve ser respeitado igual aos outros colegas de trabalho assim como, num estabelecimento comercial, tem o direito de ser atendido como os demais consumidores heterossexuais. E, quanto à saúde, podem fazer pelo SUS aquela cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo) mesmo que em vários hospitais faltem remédios, gazes, esparadrapos, leitos para internação emergencial, equipamentos de raio-x, etc.

Nada contra os direitos da minoria gay. São seres humanos iguais a mim e que apenas sentem e percebem o mundo de maneira diferente sentindo atração por quem é do mesmo sexo que eles. Só que aí faço a minha ponderação sobre a importância estratégica do movimento LGBT "pegar mais leve" nas suas reivindicações e manifestações depois de terem obtido diversas conquistas perante o Estado. Ainda mais agora que estamos passando por uma crise na economia e o brasileiro não quer perder os benefícios que conseguiu após a Constituição de 1988 com FHC, Lula e Dilma. Por isso, entendam, meus leitores, que de modo algum pretendo incitar o restante da sociedade contra os gays, mas quero chamar todos ao bom senso.

Para finalizar, vale lembrar aqui das palavras do grande líder da revolução bolchevique (1917), Vladimir Ilitch Lenine (1870 - 1924), o qual pregava ser preciso voltar "um passo atrás para dar dois à frente". Em sua visão política e filosófica, tratava-se de um recuo tático, o que permitiria avanços posteriores e, certamente, tem tudo a ver com a marcha dialética de uma sociedade. Logo, para que seja possível influenciar a condução do processo histórico, faz-se necessário reconhecer esse movimento de idas e vindas, deixando que certos eventos possam acontecer a seu tempo (ou criando condições para que elas ocorram).

Portanto, para que a sociedade brasileira alcance o seu desejado ponto de equilíbrio e haja paz, não é bom que se intensifique essas polarizações entre gays e conservadores, conflito este que só oportuniza a popularização dos malafaias, felicianos e bolsonaros da vida. Por isso sugiro aos ativistas homossexuais que deixem de lado a ideia da desnecessária aprovação do casamento igualitário no Congresso, algo que o STF já reconheceu, bem como adiem as mudanças que desejam discutir no Plano Nacional de Educação (PNE), procurando agora consolidar as conquistas já alcançadas. Afinal de contas, o Estado hoje oferece o suficiente para que cada qual viva a sua orientação sexual dignamente, cabendo apenas à sociedade respeitar o direito individual alheio. E acredito que chegaremos lá!

Um ótimo final de semana a todos!



OBS: Imagem acima extraída do acervo virtual da Wikipédia.

Comentários

Eduardo Medeiros disse…
Concordo com sua análise, Rodrigo. A militância LGBT não querem apenas conquistar direitos (e já conquistaram muitos como você diz); eles querem destruir a base da sociedade sustentada na heteronormatividade. Não bastam ter o direito a herança, a se unir em casamento; eles querem que termos como "pai" e "mãe", sejam abolidos. Querem que crianças sejam doutrinadas a não terem uma vivência de acordo com seu gênero. A pergunta é: isso é desejável
Olá, Edu. Com toda sinceridade, não desejo a destruição desses valores familiares. Podemos considerar até possível o alargamento dos conceitos sobre família, pai e mãe, bem como contribuirmos para uma educação escolar que promova o respeito ao diferente combatendo assim qualquer forma de discriminação, inclusive a homofobia. Todavia, respeito o direito de opinião e não me nego a debater com a mente aberta as ideias defendidas pela militância gay ou LGBT. Só acho que não cabe, de acordo com o bom senso, a ocorrência de novas mudanças radicais pois as que já ocorreram têm sido bem impactantes para a uma sociedade que mal teve condições de se situar.