Como acabaremos com o DNA cultural da corrupção brasileira?




Não gosto quando ouço alguém me dizer que o Brasil é "um país corrupto" devido ao fato de "Portugal ter enviado para cá ladrões, assassinos e outros tipos de criminosos" durante o processo de colonização. Afirmações assim, além de serem flagrantemente preconceituosas (pois significaria termos herdado o caráter pela genética), configuram um tremendo erro em relação à História. Isto porque, embora a terra oficialmente "descoberta" por Pedro Álvares Cabral tenha recebido pessoas degredadas, jamais chegamos a ser, em essência, uma colônia penal, a exemplo do que foi Austrália em relação ao Império Britânico, hoje uma nação desenvolvida e considerada de primeiro mundo.

Entretanto, há que se levar em conta a mentalidade cultural motivadora da ocupação do território brasileiro em seus principais casos até 1808, ano da chegada da família real. De fato, enquanto os Estados Unidos foram uma colônia de povoamento para aliviar as tensões religiosas na Inglaterra, o Brasil caracterizou-se mais por ser um infeliz lugar de exploração econômica. Assim foi desde o início da extração da quase extinta Caesalpinia echinata, passando pela monocultura da cana-de-açúcar, depois pelo ciclo do ouro, até chegar no comecinho do plantio do café, quando D. Pedro I proclamou a Independência em 1822.

Sem dúvidas não podemos negar que, na nossa colonização, quando o estrangeiro aportava aqui, o seu objetivo costumava ser o de enriquecimento rápido com alguma atividade para então retornar à Europa. Mesmo os que adquiriam terras e outros bens no Brasil (da mesma maneira que seus descendentes nascidos aqui) sentiam-se mais portugueses do que brasileiros desejando desfrutar de uma futura vida luxuosa na metrópole de origem. Aliás, eram todos súditos do rei e muitos pretendiam obter favores e promoções junto à Corôa portuguesa, como muito bem explicou a historiadora Denise Moura numa matéria publicada pela BBC Brasil de 04/11/2012:

"Quando Portugal começou a colonização, a coroa não queria abrir mão do Brasil, mas também não estava disposta a viver aqui. Então, delegou a outras pessoas a função de ocupar a terra e de organizar as instituições aqui (...) Só que como convencer um fidalgo português a vir para cá sem lhe oferecer vantagens? A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância. Se não, ninguém viria"

Apesar dos quase dois séculos de emancipação política brasileira, verifica-se até hoje que o pensamento de exploração não se modificou entre os ladrões do dinheiro público. A grande maioria desses corruptos sonha em comprar uma mansão em Miami, abrir conta na Suíça, dirigir carro importado de última linha e ostentar lá fora o que se apropriou ilicitamente aqui. Inclusive, o próprio D.  João VI teria deixado o seu belo exemplo quando depenou o Banco do Brasil, instituição que ele mesmo fundara, e se mandou com os nossos recursos para Portugal.

Ora, essa é a mentalidade cancerosa que precisa mudar no Brasil e aí lamento o fato da Igreja não ter conseguido implantar uma cultura de base bíblica que valorizasse a integridade do indivíduo e o seu amor pela terra. Pois como se percebe da leitura das Escrituras Sagradas, principalmente dos livros do Antigo Testamento, os israelitas do passado foram muito bem ensinados pelos profetas a amarem o massacrado país deles, tantas vezes devastado por sangrentas guerras. São diversas as passagens que, metaforicamente, chamam Israel de "vinha" ou "figueira" e valorizam os símbolos nacionais judaicos como o Monte Sião (lugar onde ficava o Templo de Jerusalém), o sacerdócio religioso, as festas típicas do calendário deles e o primeiro diploma ético-jurídico que tiveram - a Lei de Moisés. O desejo de retorno à Terra Prometida, gerado com as invasões assírias e mais ainda com o exílio babilônico (século VI a.C.), certamente serviu de fonte inspiradora nos 2000 anos da diáspora judaica imposta pelos romanos a ponto de terem construído, já desde o século XIX, uma sólida base ideológica do vitorioso movimento sionista até 14 de maio de 1948, data da criação do Estado de Israel.

Um povo que não possui identidade e nem preserva o respeito em relação à sua terra corre o sério risco de ser assimilado/dominado por outras culturas estrangeiras. Por isso, mais do que nunca precisamos aprender a amar o Brasil e a cultivar valores corretos. Através das escolas, dos ambientes religiosos saudáveis, das instituições sociais sérias e da boa convivência familiar, devemos manter a esperança de formar uma nova geração com princípios éticos mais elevados, o que, por sua vez, poderá se refletir na condução da política, na aplicação da justiça, na elaboração e no cumprimento das leis, bem como na gestão da coisa pública.

Lutemos por um país assim, meus amigos! E viva o Brasil!


OBS: A ilustração usada acima refere-se à cerimônia do beija-mão na corte carioca de D. João VI, em que os súditos faziam os seus pedidos ao rei, um típico costume da monarquia portuguesa que entrou para o nosso folclore.

Comentários

Ok...Rodrigo. também acho que a desonestidade não é uma característica genética assim como a inteligência também não é. Eu gostaria que você me explicasse cientificamente por que possuirmos estas duas "virtudes". Votamos em analfabetos desonestos e enaltecemos cidadãos de segunda categoria buscando o quê?
Nós somos inteligentes, honestos e trabalhadores por que herdamos isto dos portugueses, africanos e índios que formara nossa miscigenação. Será. Rodrigo?
Bom dia, Altamirando.

Tem horas que não dá para entender como que a inteligência ainda permite que políticos desonestos e ignorantes continuem no comando do país.

Por que a intelectualidade não conspira contra esses parasitas da nação?!

O fato é que, quando chegam as eleições, só temos aquelas opções de sempre. E tal situação ocorre porque não temos influência sobre o processo de escolha dos candidatos que ocorre dentro de seus respectivos partidos, além de que faltam instituições partidárias sérias controladas democraticamente pelos pensadores de bem. A corrupção começa pelas convenções e interferências feitas de cima sobre os diretórios municipais que não seguem as determinações da respectiva Executiva Estadual do partido...

Aí, quando chega o dia das eleições, simplesmente temos que escolher entre os menos piores sendo certo que não são os poucos pensadores que decidem a disputa, mas, sim, a enorme maioria semi-analfabeta e manipulada. Porém, da mesma maneira que os corruptos fazem uso do marketing eleitoral sobre a grande massa, a inteligência do bem poderia fazer o mesmo e aí responsabilizo coletivamente a nós mesmos pela inércia, no sentido de não estarmos conspirando...

A meu ver, essa problemática em nada teria a ver com formação étnica ou miscigenação. Com a péssima herança cultural transmitida, aí sim. Porém, cabe à inteligência saber repensar a cultura, conduzindo as suas tendências evolutivas sendo certo que educar o povo e os nossos sucessores constitui tarefa fundamental num processo de mudança progressista. E, em relação passado, podemos dar novo significado.
Caro Rodrigo, se possuíssemos a tal virtude chamada inteligência, a nossa essência demonstraria isto. Somos uma escória social de terceiro mundo causada pela nossa origem. Não podemos reclamar da desonestidade de nossos dirigentes, fomos nós, em maioria, que os elegemos. Se não fossem estes seriam outros tão honestos quanto, ou seja; somos um bando de imbecís desonestos e analfabetos. Acabei de assistir a uma reportagem sobre uma jovem cientista inserida num projeto com a Alemanha no descobrimento da cura do câncer usando o veneno de marimbondos. Com certeza poucos darão valor pois ela, a jovem cientista é uma aberração coxinha num país em que numa reunião do Congresso Nacional, Vanessa popozuda é citada. Pasme!... mas dias piores virão.