Compreendendo o suicida



"Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida" (Augusto Cury)

Compreender não significa concordar, mas é o primeiro passo para que possamos ajudar e até mesmo perdoar uma pessoa.

Em sua conhecida frase acima citada, o psiquiatra e escritor Augusto Jorge Cury foi bem certeiro em reconhecer que o suicida, ao fugir da dor imediata, procura de alguma maneira a vida. Tal pessoa faz isso de um modo errado, mas, no fundo, o seu desejo é se sentir bem.

Não nego que o suicídio seja uma fraqueza do ser humano diante dos desafios e que tal indivíduo perde a oportunidade de superar os obstáculos e de ter novos aprendizados em sua existência terrestre. Porém, como havia respondido certa vez a um amigo, durante um debate em grupos do Facebook, "boa parte de todas as religiões apregoam o suicídio como sofrimento" e que, de acordo com a sua interpretação da Bíblia, citando ele o catastrófico Apocalipse, "ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira". 

No entanto, como cristão, preferi optar pela superioridade da graça divina contra qualquer ato humano falho supondo que Deus nos veria de maneira diferente com uma compreensão sem igual. Há tempos que descartei as concepções teológicas segregadoras, segundo as quais uns seriam eternamente punidos enquanto outros se salvariam (ou se elevariam), quer seja por razões de boa conduta ou de proselitismo religioso. Por isso, tanto o "inferno" ainda considerado pela ortodoxia cristã quanto os "castigos" previstos para o suicida no kardecismo seriam para mim descartados pelos traços de ignorância humana que trazem consigo.

Assim, reitero o pensamento de que a melhor atitude a ser feita é buscarmos compreender um suicida. Não cabe a mim (ou a nenhum ser humano) julgar o seu próximo porque se matou. Mesmo quem nunca tentou suicídio certamente já procurou se evadir de diversas situações conflitantes da vida que precisava resolver, quer seja evitando-as ou simplesmente adiando de maneira até inconsciente.

Além do mais, quem é que jamais não fez mal a si próprio?! Quando alguém fuma, bebe até cair ou come coisas proibidas por seu médica, tal pessoa não estaria cometendo um ato comparável ao suicídio ainda que lenta e controladamente?

Ao homem, como aprendiz peregrino nesta Terra, só resta amar e acolher incondicionalmente (como teria ensinado Jesus em seus dias de ministério quando comeu com os pecadores). De acordo com os evangelhos, o Mestre a ninguém condenou. Antes estendeu a mão, reconciliou, orientou e ensinou. Logo, com inspiração em seu digníssimo exemplo arquetípico, cabe a nós fazermos o mesmo.


OBS: Ilustração acima (Jesus ajudando um suicida) extraída do Blog do QUEMEL.

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