Não dá para sermos incoerentes!




O Brasil inteiro aguarda a votação de amanhã na Câmara dos Deputados sobre o processo de impeachment da presidente Dilma. Para o PT, partido que governa o país, trata-se de um "golpe".

Sinceramente, não consigo engolir esse discurso incoerente da situação. Pois, tendo o Partido dos Trabalhadores apoiado o impeachment de Fernando Collor, de certo modo pode-se considerar que, em 1992, houve o rompimento de um mandato e isto não foi considerado na época como golpismo.

O fato é que o impeachment é procedimento constitucionalmente previsto, podendo ser aplicado na hipótese de crime de responsabilidade fiscal a exemplo das "pedaladas", sendo o seu julgamento de caráter político e não jurídico. Em outras palavras, além da caracterização da conduta ilícita, devem os parlamentares avaliarem a extensão do ato praticado contextualizando-o conforme a realidade do país e o interesse da sociedade.

Outrossim, apesar de um presidente ser eleito pela maioria dos eleitores brasileiros, o impeachment é decidido pela instituição que, em tese, representa o povo - o Congresso Nacional. Logo, não é nenhum grupo de militares revoltosos que está derrubando um governo, mas, sim, parlamentares que foram colocados por nós com esse poder previsto pela Carta Magna.

Bem sabemos que os senadores e deputados defensores do impeachment, em sua maioria, querem a saída de Dilma para ficarem com o poder. Só que não é essa questão que vai condicionar o posicionamento de um cidadão comum que luta pela ética na política. Por isso, mesmo não nutrindo simpatia alguma pelo Temer e seu PMDB, posso concordar com o impedimento da presidente.

Igualmente, posso defender novas eleições e mais ainda uma reforma política para o Brasil e, neste momento, ser a favor do impeachment. É como a REDE da Marina Silva deve votar amanhã. Só que, sem cair nessa equivocada polarização entre ser contra ou a favor. Neste sentido, vale citar aqui um trecho do artigo de Montserrat Martins:

"Neste domingo não teremos debates reveladores, todos já têm opinião formada. Será um dia de jogos de cena, onde deputados indiciados por corrupção encherão a boca para criticar a corrupção do outro lado. Não será um dia de politização embora se trate de política, não se preveem discursos ricos em conteúdos, mas em apelos emocionais, “patrióticos”, mirando os seus minutos de fama na TV. A provável saída desse governo e do clima que se instalou pró e contra ele não garante que o debate político supere a fase do maniqueísmo. A política, cada vez mais, é um espetáculo de mídia, de marketing viral, de “memes”, de boatos e de guerra suja generalizada nas redes sociais, de construção e desconstrução de imagens. Muitas pessoas que participam pela primeira vez estarão aprendendo a fazer política de um modo mais passional que racional, torcendo por um dos “times”, com a mesma passionalidade do futebol. Filma eu, Galvão!" (extraído de https://redesustentabilidade.org.br/filma-eu-galvao/ sendo o original com prágrafos)

Como um pássaro fora da gaiola que sou, quero poder defender minhas posições sem ser rotulado de "coxinha" ou de "mortadela", bem como ser a favor do impeachment e não precisar participar do espetáculo de amanhã. E isto não significa omissão! Apenas prefiro agir com coerência quanto ao que de fato acredito.

Um ótimo domingo, amigos!


OBS: Ilustração acima extraída de https://cmunhoz.com/2015/12/10/golpe-nao-impeachment-sim/

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