Uma declaração infeliz mas que reflete o pensar da grande maioria...




Não poderia eu deixar de comentar sobre a infeliz declaração feita sexta-feira (06/01) pelo então secretário nacional de Juventude Bruno Júlio, filiado ao PMDB, quando comentou sobre a barbárie nos presídios de Manaus e de Boa Vista na coluna do jornalista Ilimar Franco do jornal O Globo na internet. Na ocasião, assim havia dito o rapaz que, horas depois, tratou de entregar o cargo que tinha dentro do governo Temer: 

"Eu sou meio coxinha sobre isso. Sou filho de polícia, né? Sou meio coxinha. Tinha é que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana." (destaquei)

Fato é que as suas palavras refletem o pensar da maioria dos brasileiros acerca do assunto no país. Pois, pelo que observo nas redes sociais, sobretudo no sítio de relacionamentos Facebook, muitos andam comemorando a morte desses quase noventa presos nos dois massacres ocorridos na primeira semana de 2017. 

Sinceramente, não tenho dúvida de que, caso houvesse uma consulta popular no Brasil quanto à adoção da pena de morte (e para isso seria necessário promulgar uma nova Constituição), a maioria seria a favor tal como foi na questão do porte de armas. E não duvido que ainda haveria gente disposta a defender o uso da tortura, castigos físicos, prisão perpétua, trabalhos forçados, castração para estupradores, e outras penas degradantes para os criminosos.

Devido à grande repercussão de suas palavras e da possibilidade de colocar o turbulento governo Temer em mais uma crise política, Bruno ainda tentou emendar-se. Porém, ocorreu que já era tarde e ele acabou tendo que se demitir do cargo por livre e espontânea pressão, dizendo posteriormente que: 

"O que eu quis dizer foi que, embora o presidiário também mereça respeito e consideração, temos que valorizar mais o combate à violência com mecanismos que o Estado não tem conseguido colocar a disposição da população plenamente"

Evidenciado está que Bruno não conseguiu desfazer esse imbróglio que, por pouco, não teria prejudicado mais uma vez a imagem do governo (nem Temer e nem Eliseu Padilha que o indicou têm a ver com as opiniões boçais desse ex-secretário). Porém, há uma situação ainda mais difícil que precisa ser resolvida. Trata-se do fato de nossa sociedade hoje estar pouco se importando com os direitos humanos por se sentir vitimada pela violência e pela corrupção quase sempre impunes.

É certo, meus amigos, que, se abrirmos mão dos direitos humanos, a nossa situação se tornará ainda muito pior. Se, por exemplo, o Brasil pudesse adotar a pena de morte, quanta gente inocente não iria pagar com a vida, sendo a grande maioria dos condenados pessoas pobres e negras que mal teriam condições de se defender num processo?!

Ora, será que não somos capazes de nos colocar no lugar do pai ou de uma mãe cujo filho encontra-se recluso numa penitenciária, a qual, devido às más condições de espaço, de gestão e de recursos, em nada ressocializa o indivíduo condenado pela Justiça?!

De modo algum quero eu crucificar o jovem Bruno Júlio pelas suas más colocações na mídia. Entendo o quanto ele e várias outras pessoas acabam se tornando reféns emocionais dos problemas relacionados à violência sendo que vivemos num ambiente social que pouco promove uma reflexão madura. E isto, inegavelmente, tem tornado o povo brasileiro refém dos discursos oportunistas dos políticos fanfarrões que incitam ódio oferecendo falsas soluções.

Mais do que nunca é hora da nação colocar os dois pés no chão e, com o uso salutar da racionalidade, buscar as medidas necessárias para prevenir e combater a violência. E isso só será alcançado quando de fato as causas da criminalidade forem enfrentadas e deixarmos de mascarar a realidade com um punitivismo excessivo, o qual tem contribuído para inchar ainda mais as cadeias.

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