Pico della Mirandola e a dignidade humana







A Renascença caracterizou-se por uma nova atitude diante do mundo. Um movimento que fazia "nascer de novo" toda a cultura clássica grega e latina que ficara esquecida durante a Idade Média. Uma das principais características da Renascença foi o Humanismo - atitude filosófica de que o homem possui uma dignidade própria, não mais vendo-o subordinado e dominado pela religião. O ser humano do Humanismo é um ser autônomo que possui liberdade. Assim como podemos definir o pensamento medieval como "teocêntrico", na Renascença é o pensamento antropocêntrico-naturalista que se estabelece, perspectiva esta que será a tônica da Modernidade. 

Dentre os vários pensadores que podemos citar nesse período, destaca-se Pico della Mirandola. Ele foi considerado a "fênix dos gênios" pela elevada cultura e erudição alcançada em sua breve vida de 31 anos. Sua obra principal foi Conclusões (ou Teses) onde em 900 teses abarcava várias áreas do saber, desde magia, cabala e filosofia. O ponto que se destaca nos escritos de Pico é a DIGNIDADE DO HOMEM. Em seu "DISCURSO SOBRE A DIGNIDADE DO HOMEM", que é considerado o "manifesto da Renascença" e serve de introdução às 900 teses, o humano é exaltado; ele possui algo que os outros animais não possui. Em Mirandola vemos clara essa noção de exaltação, veneração e dignidade que o ser humano possui. 


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Cada um tem em si próprio dez punições: a ignorância, a tristeza, a inconstância, a avareza, a injustiça, a luxúria, inveja, traição a raiva e a malícia. "


Em que se fundamenta a dignidade humana? Em que o homem pode "construir a si mesmo" enquanto ser livre. Não existe no humano a rigidez predeterminada de ações de outros seres. O ser humano edifica a si próprio - o que pode ser visto como verdadeiro milagre. Nas palavras de Pico: 

Tenho lido, respeitabilíssimos senhores, nos livros antigos dos árabes, que Abdala, o Sarraceno, questionado a respeito de que coisa se lhe oferecia à vista como mais notável sobre o cenário deste mundo, respondeu nada haver de mais admirável do que o próprio homem. Com essa sentença concorda aquela exclamação de Hermes: Ó Asclépio, que portento de milagre é o homem.

 Em outro trecho, pode-se perceber qual a posição do homem em relação aos outros seres:

A mim que excogitava o significado de tais afirmativas, não me haviam persuadido as tantas razões aduzidas por muitos sobre a excelência da natureza humana, a saber, que o homem é o mensageiro da criação, o parente dos seres superiores, o rei das criaturas inferiores, o intérprete da natureza inteira pela agudeza dos sentidos, pela inquirição da mente e pela luz do intelecto; que é ainda o traço da ligação entre a eternidade imóvel e o tempo transitório; ou então, no dizer dos persas, a cúpula; ou melhor, o himeneu de todo o universo; enfim um pouco menor que os anjos...

A razão da admiração de Pico pelo homem: 

Isso acontece (admiração) em virtude da condição que lhe coube em meio a todo o universo, de sorte a tornar-se alvo de inveja não só para os seres inferiores como até para os astros e mesmo para as inteligências ultraterrestres. Esse fato incrível e estupendo (...). O homem, na verdade, é reconhecido e consagrado, com plenitude de direitos, por ser, efetivamente, um portentoso milagre. 





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Renascimento: movimento de renovação cultural que ocorreu desde a segunda metade do século XIV até o início do XVII, na Europa, em vários campos dos conhecimento humano, que vão desde as artes, a literatura, a pintura, a escultura, a arquitetura até a seara filosófica. 

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Obras de Pico:

- Discurso sobre a dignidade do homem (Oratio de hominis dignitate) - 1480
- Conclusões filosóficas cabalísticas e teológicas (Conclusiones philosophicae cabalisticae et theologicae) - 1486
- De ente et uno - 1480


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obra de referência: História da filosofia
moderna. Fábio L. Ferreira, ed  Intersaberes



Texto publicado originalmente no blog   https://lectioquestio.blogspot.com.br/ 

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