O Que Mais Se Deseja em Época Pré-eleitoral

                                                                                                                               Dois jovens pugilistas de Santorini (1550 a.C)



Em tempos pré-eleitorais o que mais se deseja (consciente ou inconscientemente) não é unir, não é buscar no outro, seu próprio sintoma esquecido ou guardado a sete chaves. O que mais se deseja, entre os grupos, é rotular o outro de direita ou de esquerda, como se a identidade negativa e burra estivesse sempre presente no outro e não no seu próprio Eu. O que talvez não compreendam é que os afetos que identificam tanto o “republicano” quanto o “democrata” fazem parte de nossa alma dúbia. Alma que ora pende para um lado, ora para outro, tal qual um equilibrista a caminhar perigosamente em uma corda bamba. Essa realidade psíquica desqualifica qualquer um a ser árbitro para julgar os afetos de natureza subjetiva do outro.

Parece que em tempos de acirramento político há uma regressão ou involução humana, uma espécie de retorno ao tempo em que éramos bárbaros ou selvagens, retorno ao tempo dos clãs. Tempo em que éramos cegos para o mal que existia em nós mesmos: só tínhamos a capacidade de percebê-lo na tribo que considerávamos inferior à nossa.

De certa forma, o embate ideológico dos tempos atuais, nada mais faz que trazer à tona os monstros que estavam adormecidos na psique humana, desde tempos imemoriais. Como fez ver o psicanalista Christian Dunker, quando no jornal NEXO, em janeiro de 2018, discorreu sobre “os efeitos da crise política para os brasileiros”:

“A massa tem esse funcionamento polar, de precisar sempre segregar os inimigos para reforçar os laços de identificação [entre iguais]. É como se o funcionamento de massa exigisse a produção de grandes ídolos, que são sucedâneos do Pai, um Pai muito autoritário”.

A História sempre mostrou que é em época de descontrole e vazio de poder, que a figura paterna (arquétipo patriarcal) ressurge das profundezas da psique humana com força total. O veneno dessa força instintiva descomunal ao aflorar nas almas humilhadas, desamparadas e desesperadas, insinuam, em suas mentes infantilizadas, o desejo ou anseio de proteção. Proteção, que em ambos polos ideológicos extremistas (direita e esquerda), se remontam a figura paterna onipotente (super-ego). Nietzsche, naquilo que ficou cunhado de "eterno retorno", já fazia menção a uma tendência inata de se repetir fatos indigestos no desenrolar da história humana, desde as mais remotas eras.

O que Freud, com a descoberta da área sombria de nossa psique a que denominou de “Inconsciente” conseguiu deixar tão claro, senão a de que, em tempos de paz, instintos altamente agressivos representados por paixões ideológicas antagônicas dormem de forma latente em cada ser humano? 

Procurando entender o que levava os homens a essa forma cruel e extravagante de conflito, Albert Einstein, em uma de suas muitas cartas enviadas a Freud, fez a fatídica pergunta: “Por Que a Guerra?”. O fundador da psicanálise, sendo judeu, ainda mais numa época conturbada de violento antissemitismo, não quis se estender no tema, revelando, apenas, que os dois polos representativos da ambivalência humana, quando em atrito, davam lugar a “pulsões destrutivas” (Tanathos).

Só não vê quem não quer, a “indomável psicose coletiva” que grassa em nossas glebas.

Por Levi B. Santos
Guarabira, 16 de setembro de 2018

OBS: O Trecho acima foi retirado do ensaio publicado originariamente no Blog "Ensaios & Prosas" - em 16 de setembro de 2018 - sob o título: "Abordagem Psicanalítica de Nossa Postura Político-Ideológica"

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