A FILOSOFIA NO BANCO DOS RÉUS



Por Dib Cury*

Não tenho dúvidas de que a Vida que as pessoas vivem é o espelho de suas mentes. Os indivíduos só transitam pela Vida que são capazes de visualizar mentalmente e são atraídos pelos horizontes que valorizam em suas ideias. É uma questão daquilo que compreendemos e daquilo que nos tornamos capazes de ver. São as chamadas crenças pessoais que nos determinam.

Historicamente, é sabido que, para controlar as pessoas, é preciso determinar suas crenças e limitar suas ideias, pois mentes amplas abrem perspectivas maiores do que determina a rotina comezinha, prosaica e interesseira dos mercados e governos.

A Filosofia sempre teve a vocação primeira de expansão das mentalidades, de dissolução de crenças limitantes e de denúncia das tolices massificantes. Para controlar as pessoas, é preciso banir a Filosofia. Sempre foi assim. Filósofos como Sócrates e Giordano Bruno foram mortos por discordarem do pensamento vigente. A filósofa Hipácia foi esquartejada em praça pública como castigo às mulheres que ousaram se meter com a Sabedoria. Outro filósofo, Espinosa, foi excomungado e toda comunidade proibida de conversar com ele. Outras dezenas de pensadores foram perseguidos e caluniados.

Para os poderes se constituírem e se fortalecerem é preciso anular a discordância, restringir as possibilidades da mente e calar a Filosofia. A diversidade não importa para quem deseja a uniformidade do pensamento e a submissão à uma realidade ou ideologia imposta. Rebanhos são mais fáceis de direcionar. A Filosofia sempre foi a grande resistência contra a tolice.

O fato é que no início de abril de 2019, o governo brasileiro anunciou um profundo corte nos recursos do CAPES para a pesquisa científica. Como um país pode se desenvolver sem investimento em Ciência? E agora - mais recentemente - ouvimos também sobre a poda da Filosofia na Educação.

Seguramente, a Filosofia é a que mais incomoda. Pois trata-se de uma manifestação cultural legítima da humanidade, uma anciã que já conta com 2.600 anos de idade e mais de uma centenas de sábios, homens e mulheres brilhantes, que ainda tem muito a nos dizer sobre a Vida, mesmo mortos. Junto com a Arte e a Ciência, são as três pérolas sublimes da cultura humana.

No caso da Filosofia, trata-se do exercício da Razão de uma maneira rica, criativa e multi-diversa. A Filosofia é o Amor à Sabedoria através da Razão. Os antigos gregos chamavam a Razão de Logos, a capacidade humana de jogar luz sobre as coisas, iluminando-as e discernindo melhor sobre elas. O Logos originou a Lógica.

No correr das Eras, foi a Filosofia quem apontou a Razão por traz dos fenômenos do Universo. Foi a Filosofia que nos libertou dos aspectos noturnos do período Medieval; foi a Filosofia que consolidou o Renascimento cultural e artístico no Séc XV; foi a Filosofia que nos libertou do autoritarismo dos reis nas grandes revoluções da História; foi a Filosofia que instaurou a Era das Luzes nos séculos XVII e XVIII; foi a Filosofia que criou e aprofundou os conceitos de Democracia e de República, conceitos que ainda compreendemos tão mal. Finalmente, entre tantas outras contribuições históricas, foi a Filosofia que deu a luz às Ciências e as alimentou como filhas.

Pois a Filosofia, junto com sua irmã - a Arte - e sua filha - a Ciência - continuam sendo a garantia de renovação da humanidade para além das crenças limitantes e dos poderes que querem reduzir e alienar a mente humana no autoritarismo, na tolice, no preconceito e na subserviência. Por que será que o governo atual, que cortou as verbas para a pesquisa científica, quer podar a Filosofia e, ao mesmo tempo, tem visões e sensibilidade tão tacanhas para a Arte e a Cultura?

A Filosofia é uma das nossas melhores consciências. É a convicção de que somos muito mais do que apenas formigas atarefadas , à serviço dos poderes mundanos, nos túneis escuros da realidade. Por isto se mantém atual, universal e eterno o mito da Caverna de Platão. Dentro da caverna, estamos presos pelos poderes do mundo querendo nos iludir com suas sombras fakes da verdade. Fora da caverna, está o mundo da Luz e da Liberdade, atualmente, o mundo das dezenas de grandes filósofos mortos, muitos deles sacrificados pela estupidez e que - ao seu tempo - lutaram para libertar-nos da servidão, da tolice e da ignorância. Para aqueles que desejam sacrificar sua própria liberdade, os filósofos serão sempre fantasmas em suas consciências. Para os outros, são anjos de sabedoria, nos apontando os possíveis caminhos da Liberdade. Quem poderá ser contra eles?

(*) Dib Curi é filósofo e professor de Filosofia.

OBS: Texto extraído de uma publicação no perfil do autor no Facebook

Comentários

Clipping Path disse…

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