quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Guerra no Rio

 




EU QUERIA ESCREVER UMA HISTORINHA ENGRAÇADA, DIVERTIDA, LEVE, mas diante do que aconteceu ontem aqui no meu Rio de Janeiro, a graça foi embora, o riso trancou-se e quedou-se sem saber do que rir, pois só havia motivos para prantear, lamentar, duvidar, ponderar. O que aconteceu ontem aqui foi uma guerra. Não que os mais de 3 milhões de cariocas que moram em áreas dominadas por facções do tráfico de drogas não estejam acostumados com esses confrontos - mas o que assustou foi a grandeza dessa operação: Mais de cem mortos!

Em vários pontos da cidade criminosos fecharam vias, fecharam o comércio e centenas de pessoas não puderam voltar para casa diante da escassez de ônibus, visto que vários foram queimados.

Até ontem, o governo do Estado apontava ter havido 64 mortes sendo 4 policias na operação que buscava prender traficantes e impedir a expansão da facção Comando Vermelho.  Depois que o olho do furacão passou, os próprios moradores do complexo de favelas da Penha e do Alemão entraram na região de mata para procurar corpos e  o que encontraram foi chocante como mostra a foto acima. Numa cena bizarra de guerra, os moradores foram enfileirando os corpos no chão um ao lado do outro.

Um dos moradores que esteve nas buscas pelos corpos declarou:

Encontramos um deles com uma granada na mão e outra sem pino, aparentemente. Então deixamos lá (na mata), não sabemos o que fazer. A angústia é grande, uma tristeza. Conhecia muitos de infância, mas mudaram de vida (para o crime) depois — relata. — a forma como foram encontrados é de execução: tinha gente amarrada com tiro na testa. 

O que mais choca a nós, moradores desta cidade linda do Rio de Janeiro, centro cultural do Brasil, é que essa operação não vai frear o avanço da facção em nem um centímetro. O narcoterrorismo está tomando conta do Brasil. A continuar essa progressão, logo seremos como Colômbia e Venezuela. O conceito de “narco‑estado” (ou narco-state) designa um país em que o tráfico de drogas ou redes de narcotráfico têm influência decisiva nas instituições estatais — governo, polícia, judiciário — ou ainda, o Estado está tão enfraquecido que grupos criminosos comandam de facto grandes partes do território. 

O Brasil está repleto de regiões que são dominadas pelas facções criminosas. Lá a polícia não entra a não ser com conflitos que sempre geram a morte de bandidos, policiais e inocentes. As facções já entraram na política conseguindo financiar e eleger seus candidatos e expandindo seus negócios na economia legal com farmácias, postos de gasolinas, etc.

E tudo fica mais surreal quando a poucos dias o presidente Lula cometeu uma das suas piores gafes ao dizer que o traficante também é vítima do viciado! Caiu tão mal no próprio escopo governamental que ele foi às redes se retratar.

Quando o país terá uma política de enfrentamentos ao crime organizado e ao crime do dia a dia que seja inteligente e eficiente? Os governos de esquerda são sempre acusados de defender criminosos como se fossem apenas "vítimas da sociedade" e até certo ponto isso é verdadeiro. O próprio presidente Lula em outra ocasião declarou que quem rouba celular quer apenas "tomar uma cervejinha" ou porque não tem "o tênis da moda". Por outro lado, políticos da direita radical só veem o confronto, a morte, como tática de enfrentar o problema.

Essa é uma guerra que segundo vários especialistas, só será vencida com políticas públicas onde Estados e União estejam articulados conjuntamente e não somente com o uso da força mas principalmente com o uso da inteligência para cortar as artérias financeiras que alimentam as facções. O aumento de penas também pode ajudar a não passar a ideia de impunidade à população. 

Apesar das atuais propostas engendradas pelo Ministério da Justiça, ninguém realmente acredita que a coisa vai melhorar, ainda mais diante de posicionamentos  do  ministro da justiça Ricardo Lewandowski, que vê como algo positivo que 40% dos presos em flagrantes são soltos durante as audiências de custódia. Segundo ele, "a polícia prende mal". Por "prender mal" pode estar uma situação em que um policial dá um tapão na cara de um bandido pego em flagrante e na audiência de custódia o juiz vai perguntar se o preso foi "bem tratado" e ele vai dizer, "não, seu juiz, eu levei um tapa na cara" - pronto, o policial foi contra os direitos humanos do bandido e ele sairá livre, leve e solto pela porta da frente dando uma bela banana para a polícia e para a sociedade.



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Foto e informações do jornal O Globo.

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