SIMULAÇÕES SOBRE A CRISE POLÍTICA! LEVY: BOA OU MÁ ESCOLHA? E CUNHA PRESIDENTE CONSENSUAL? E A SAÍDA DO PT? E AS SOLUÇÕES?

Por César Maia (*)


1. Forma-se um consenso entre parlamentares, analistas, empresários, economistas, etc., que a crise mais grave hoje é a crise política. O apoio parlamentar ao governo esfarelou, a linguagem econômica do governo é uma e a do parlamento é outra, o apoio de opinião pública de Dilma inexiste e por aí vai. Vão surgindo propostas de todos os tipos e de todas as latitudes e longitudes. Uma babel.
         
2. Dessa forma, é inevitável perguntar: e se Dilma tivesse um amplo apoio parlamentar, mudaria alguma coisa? A primeira simulação seria imaginar se o governo e o PT na eleição do presidente da Câmara apoiassem Eduardo Cunha. Com isso, a oposição orgânica seria empurrada para sua efetiva proporção parlamentar naquele momento, ou uns 20%. O acordo envolveria –naturalmente- as pautas a votar, o comando da reforma política, as questões econômicas e fiscais, etc.  A própria votação de Cunha mostrou que havia riscos de não vencer no primeiro turno. O apoio seria bem-vindo.
         
3. Mas para garantir efetivamente essa sua ampla base política, Levy não poderia ter sido escolhido ministro plenipotenciário da Fazenda. Essa escolha estilhaçou a esquerda do governo, a esquerda acadêmica e a esquerda social. Para manter a base de 80%, Levy não poderia ter sido escolhido. A escolha para acalmar os mercados ignorou a repercussão política na base orgânica do governo. Numa outra simulação se poderia imaginar a fórmula dos últimos 3 governos: FHC, Lula e Lula. FHC, após 1998, teve Malan como seu ministro de economia de relações exteriores. Armínio Fraga –no Banco Central- conduzia a política econômica.
         
4. Lula teve Palocci como seu vocalizador econômico num governo, e Mantega –vocalizador socioeconômico-; e Henrique Meireles –no Banco Central- conduzindo a politica econômica nos dois governos Lula. Dilma, par constante de Mantega, mudou essa equação e minimizou o Banco Central e passou a cogerir o Ministério da Fazenda. Dilma poderia ter tentado a mesma formula: um forte presidente do Banco Central e um vocalizador acalmando os mercados para dentro e para fora. Não o fez, pois pensa que entende de economia.
       
5. Ao escolher Levy para salvar o segundo governo, respondendo a pressão dos mercados, perdeu unidade até na sua base direta e, com isso, perdeu autoridade na sua base aliada. A decisão de dar uma guinada tecnoliberal no governo inevitavelmente abriria uma crise política. Fragilizou o seu apoio orgânico e seu apoio clientelar. Não adianta distribuir cargos sem poder e sem orçamento, na lógica da dita base aliada.
         
6. Se a crise política é o eixo das crises atuais, só há duas soluções para a permanência de Levy. A primeira seria o PT decidir não ocupar nenhum ministério, nenhuma empresa estatal, nenhuma posição governamental relevante e empurrar Dilma para um governo de personalidades. A segunda seria Dilma renunciar. Nesse momento, Levy sair seria uma enorme turbulência. Dilma se esqueceu da máxima politica: Nunca nomeie quem você não pode demitir.
         
7. A inflação beijando os 9% atuais é, desde 1999, uma rotina nos governos. O que não é rotina é a estagflação dos últimos anos e projetada para o futuro. Não há saída política por pacto ou consenso. Só com outro governo, seja de personalidades, com Dilma presidente descolada do chão, ou sem Dilma. Não dá mais para voltar atrás e reconstruir as decisões pós-eleitorais.

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(*) César Maia é economista, político e ex-prefeito da cidade do Rio de Janeiro.


OBS: Texto extraído da edição de hoje (10/08/2015) do informativo Ex-Blog do César Maia.

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