domingo, 17 de agosto de 2025

O PROTECIONISMO BRASILEIRO

 


Protecionismo no Brasil estrangula produtividade e renda da população

Falta de abertura da economia mantém país preso em 'armadilha do baixo crescimento'




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O Brasil impõe há décadas barreiras intransponíveis para o seu desenvolvimento e aumento do bem-estar da população por ser uma das economias mais fechadas do mundo.

De fora das grandes cadeias produtivas globais e com participação irrisória pouco superior a 1% no comércio mundial, o isolacionismo brasileiro freia o crescimento e estrangula a produtividade e a renda.

Desde a década de 1980, o Brasil vive na chamada "armadilha do baixo crescimento". O aumento médio do PIB, que beirou 7,5% entre 1950 e 1980, despencou para cerca de 2,5% a partir de 1981. O fator crucial para a estagnação é a baixa produtividade.


Em termos de tarifa média de importação, o Brasil está acima da média mundial.

Tarifa média brasileira (2023): em torno de 8–9% sobre bens industriais (OMC).

Tarifa média dos EUA: 2,3%.

Tarifa média da União Europeia: 5%.

Ou seja, comparado a EUA e Europa, o Brasil realmente aplica tarifas mais altas. (GPT)


Por hora trabalhada, a produtividade cresceu em média apenas 0,5% ao ano entre 1981 e 2023. Enquanto a agropecuária registrou avanço robusto de 6% ao ano, a indústria teve desempenho negativo, com queda média de 0,3% ao ano (-0,9% na indústria de transformação).

O setor de serviços, que representa 70% das horas trabalhadas, ficou praticamente estagnado. Sem uma aceleração da produtividade, a melhoria do padrão de vida da população brasileira não ocorrerá, afirmam especialistas.

No setor de máquinas e equipamentos, em que as importações poderiam elevar a produtividade das empresas, o Brasil tem as maiores tarifas do mundo, de até 11,5%.

"Isso barra a compra de máquinas avançadas e a eficiência, inclusive para aumentar as exportações", afirma Fernando Veloso, autor com outros economistas de livro do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), que destaca a urgência de uma nova agenda de integração comercial internacional.

A tese central do trabalho ("Integração Comercial Internacional do Brasil") é que, após ter desempenhado papel relevante na industrialização do país, a manutenção de uma economia fechada ao comércio exterior tornou-se obstáculo à produtividade e ao desenvolvimento.

Isso leva o Brasil a se distanciar cada vez mais dos níveis dos EUA. Se nos anos 1980 um trabalhador brasileiro alcançava 46% da produtividade de um norte-americano, hoje ele produz um quarto (25,6%). É o mesmo nível de sete décadas atrás, segundo dados do Conference Board. Significa que o um brasileiro leva uma hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um americano realiza em 15 minutos.

Para os autores, o tarifaço de Donald Trump contra o Brasil mostrou a necessidade de o país diversificar e aumentar seu comércio internacional.

Apesar de uma breve liberalização na primeira metade da década de 1990, iniciada no governo Fernando Collor (1990-1992) — quando as tarifas caíram de uma média de 30,5% para 12,8% —, o país voltou a persistir na utilização da política de substituição de importações e em práticas que o afastaram do movimento internacional de liberalização.

"Enquanto a maioria dos emergentes continuou reduzindo tarifas e se inserindo em cadeias globais de valor, o Brasil ficou parado, distanciando-se novamente de seus pares", afirma Veloso.

Os autores propõem uma reforma ambiciosa, mas gradual, para a política comercial brasileira. A principal meta é a redução e simplificação das tarifas de importação, visando uma média de 6% em um prazo de quatro anos, alinhando-se a países como África do Sul, Colômbia e México.

Outras medidas incluem reavaliação do Mercosul, redução de tributos sobre importações, adesão a acordos e inserção nas cadeias produtivas globais.



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Publicado no jornal Folha de SP em 17/08/25 (Aqui)


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