Reflexões do pós-Copa: um outro tipo de turismo




Mesmo com o término da Copa, vários torcedores ainda permaneceram viajando pelo país, o que considero algo muito proveitoso para a nossa economia. Excelente!

No entanto, tenho observado que grande parte dos visitantes estrangeiros vieram da América Latina. Não chegaram de avião, mas vieram em grupos enfrentando nossas complicadas rodovias. Também não se hospedaram nos caros hotéis de frente para o mar, mas preferiram ficar em albergues mais simples, casas de famílias, áreas de camping e até mesmo em estacionamentos para automóveis, vivendo com a mesma simplicidade que a maioria do nosso povo.

Refletindo acerca disso, fico a pensar se não seria esse o momento de revermos os nossos conceitos acerca do turismo?

Afinal, como atrairemos todos os anos dezenas de milhões de pessoas para conhecer as belezas do Brasil se as contas com hospedagem, alimentação e passeios ainda continuam altas?

A cada verão, diversos países europeus recebem muito mais gente do que nós que dispomos uma área infinitamente maior do que qualquer um deles, assim como possuímos atrativos naturais com potenciais enormes para serem explorados e um clima super favorável quase todos os meses. Só que umas das coisas que os estrangeiros mais reclamam daqui é o preço das coisas. Salgado demais!

Ora, pensando nisso tenho observado que não custaria tanto nos prepararmos para receber no decorrer do tempo uma quantidade cada vez maior de sul-americanos em nosso vasto território. Trata-se de uma proposta que pode gerar emprego e renda para a população mais humilde incentivando juntamente o turismo interno já que a nossa condição econômica não seria tão diferente dos habitantes dos países vizinhos. Eu sugeriria, por exemplo, a inclusão das periferias das cidades nos roteiros onde pequenas pensões nas residências passariam a atender esse crescente público. Assim, se uma família não puder pagar por um hotel em Ipanema, no Rio de Janeiro, teria na Tijuca, na Pavuna, na Penha ou no Morro do Alemão opções mais acessíveis onde os imóveis custam bem menos que na Zona Sul da Cidade Maravilhosa.

Certamente que um país que pretende ser turístico precisa oferecer opções para todos os bolsos e preferências. Por isso, mais do que nunca os governos devem formular projetos de capacitação nos municípios e executá-los o quanto antes para não perdermos o impulso dado pelos eventos esportivos desta década. Assim, quem quiser e puder dormir numa luxuosa suíte na Avenida Atlântica, em Copacabana, contará esta opção. Já os que não possuírem condições para isso teriam também a oportunidade de ficar em ambientes mais simples, embora não desprovidos de um mínimo de qualidade no atendimento prestado.


OBS: A imagem acima refere-se à chegada dos turistas argentinos e chilenos no Rio de Janeiro, os quais dirigiram até o Brasil para ver a Copa, acampando em carros e trailers estacionados na Praia do Leme, próximo à Fifa Fan Fest, em Copacabana. A autoria da foto é atribuída a Fernando Frazão / Agência Brasil, conforme consta em http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-06/turistas-acampam-ao-lado-da-fifa-fan-fest-no-rio

Comentários

Nas duas semanas que se passaram, estive no Rio de Janeiro e observei que, se o Metrô não andasse lá tão lotado, os humildes bairros da "linha 2", situados na Zona Norte, bem que poderiam oferecer serviços mais acessíveis para a hospedagem dos viajantes. As Olimpíadas estão chegando e o governo poderia incentivar algo neste sentido. Basta capacitar a população como já tem ocorrido em comunidades da Zona Sul a exemplo do Morro do Vidigal onde o aluguel de uma laje anda bem valorizado.