Quando Darwin visitou o Rio...



O cientista britânico Charles Darwin chegou às terras cariocas em 1832, quando, durante três meses, percorreu as nossas matas, observou nossas montanhas e se deparou com a riqueza das espécies da fauna e flora, havendo registrado a seguinte anotação:
Deleite [sublinhou o autor] é uma palavra fraca para expressar os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, esteve perambulando sozinho numa floresta brasileira. Em meio à profusão de objetos notáveis, a exuberância geral da vegetação ganha longe. A elegância das gramas, a novidade das plantas parasitas, a beleza das flores, o verde lustroso da folhagem, tudo leva a isso

Contudo, os contatos da expedição do naturalista com a Mata Atlântica teriam sido mais intensos onde hoje seriam os municípios de Niterói e Maricá, sendo que o Jardim Botânico parece não tê-lo encantado:

Deixando, no dia 8 de abril de 1832, a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, o naturalista e seu grupo de sete pessoas rumaram na direção de Niterói. Quando "cruzavam as montanhas atrás da Praia Grande", nome da cidade de Niterói na época, Darwin escreveu: "A paisagem que se descortinava [...] era belíssima, pela intensidade das cores em que predominava o tom azul escuro; o céu e as águas calmas da baía rivalizavam entre si em esplendor."Depois de passarem por "alguns campos cultivados", Darwin avistou "uma floresta cuja magnificência", em sua opinião, "não podia ser superada [...]" Por volta do meio-dia chegaram a "Itacaia, um vilarejo" (mais próximo de uma sede de fazenda) numa "planície", onde, "em volta da casa central", estavam as "choupanas dos negros".Se acompanharmos a descrição de Darwin em um mapa da região de meados do século XIX (ver Mapa 2), é possível a identificação dos campos cultivados, certamente açúcar e café, por trás das lagoas de Piratininga e Itaipu. O único trajeto possível para tal visão da magnífica floresta está assinalado no mapa por um círculo. Na legenda do mapa, significa estrada, que margeia a exuberante cobertura vegetal da serra que já era conhecida como "Serra da Tiririca". A "Tiririca" é a última referência natural de tal envergadura antes de se chegar a "Itacaia" e, posteriormente, a Maricá e ao rio Macaé. Um razoável trecho da estrada que acompanha a Serra ainda hoje recebe o nome de Engenho do Mato, nome de um engenho que já se encontrava ali presente em meados do século XIX.Itaocaia é registrado no referido mapa como um morro, onde ao lado se podem identificar algumas plantações, provavelmente o "vilarejo" descrito por Darwin. O seu especial formato não deixou de ser percebido pelo naturalista viajante, que o descreveu como "um dos enormes morros de granito, íngremes e nus, tão comuns neste país".A partir de Itaocaia, as descrições dos marcos geográficos e naturais seguem o trajeto em direção à Lagoa de Maricá, marcado por "pântanos e lagunas". A estrada, segundo Darwin, "atravessava uma planície estreita e arenosa, entre o mar e as lagunas salgadas". No contorno da Lagoa de Maricá, Darwin teria feito um "almoço delicioso", em uma venda situada em um local onde se podia apreciar "bonita vista dos morros cobertos de vegetação, refletidos na águas absolutamente calmas de uma extensa laguna". Dali o grupo seguiu para o norte, uma região um pouco mais montanhosa ("100 pés de altura", nos cálculos do naturalista), em direção ao rio Macaé.Por esse rio, no dia 13 de abril, chegaram à fazenda Sossego, propriedade de Manuel Figuireda, parente de um dos membros da comitiva. Nessa região, onde ainda visitou outra fazenda, as descrições de Darwin indicam que se iniciava desbravamento das matas através da cultura do café. Além de o proprietário ter declarado que não tinha certeza das dimensões da fazenda, mostrando ser a área de ocupação recente, ainda podiam ser admirados, nas próprias palavras do naturalista, "belos objetos na floresta; entre eles, as samambaias que, embora não muito grandes, eram dignas de admiração por sua folhagem de um verde vivo".

De qualquer modo, a capital do Império teve uma importância relevante nas pesquisas de Darwin, o qual percorreu os arredores da cidade.

Regressando da viagem, os registros de Darwin voltam-se para o Rio de Janeiro e para os passeios que fazia nas cercanias da cidade a partir de sua residência, um chalé na baía de Botafogo, bem embaixo do que denominou "célebre morro do Corcovado". Em suas próprias palavras, "nada pode ser mais surpreendente do que o efeito dessas imensas massas arredondadas de rocha nua emergindo de dentro da vegetação mais luxuriante".

Uma pena que, no tempo dessa fantástica viagem, o compatriota contemporâneo de Darwin, William Henry Fox Talbot, ainda não tinha inventado a fotografia...

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