O Novo centro do mundo









Li uma interessante entrevista com o jornalista canadense Douglas Saunders e achei muito interessante a leitura que ele faz da “periferia”. Ele veio ao Brasil e visitou algumas favelas e disse que “Eu esperava ver todos aqueles clichês. E realmente vi garotos de 14 anos armados com rifles e pessoas usando drogas no meio da rua, mas também encontrei comunidades preocupadas em melhorar a vida de suas crianças, migrantes que continuam a enviar dinheiro a seus familiares 50 anos depois de saírem da terra natal e dinâmicos microempreendedores”.

Essa é uma das contradições das periferias e Douglas trata do assunto em seu recém-publicado Arrival city: the final migration and our next world (Periferia: a migração final e nosso novo mundo, numa tradução livre sem previsão ainda de lançamento por aqui). O livro é fruto de um trabalho de 3 anos, realizado nas periferias de quatro países – Brasil, China, Turquia e Egito. O livro afirma que esses espaços e a classe média que emerge deles são o novo centro do mundo.


A seguir, trechos da entrevista.


O que faz das periferias o novo centro do mundo?

Até a Segunda Guerra Mundial, 75% do mundo era rural. Anos depois, ele já era metade urbano, metade rural. Ao longo deste século, quase o mundo todo vai atingir o grau de urbanidade dos países da Europa e da América do Norte. Essa transição é difícil e marcada por conflitos. No centro dessa transformação está a periferia. Precisamos entender como fazer com que as periferias funcionem como um instrumento de mobilidade social e como evitar que as barreiras entre periferia e centro prejudiquem as ambições de seus moradores, levando-os a uma espiral de fracasso e violência.
Eu sabia desde o início que o Brasil teria de ser central no livro. Primeiramente, porque era um dos primeiros países do mundo emergente a ter uma maciça urbanização e forte migração do campo para a cidade. Isso fez com que o Brasil provasse todas as consequências, tanto as boas quanto as más. Além disso, o Brasil e a Turquia são também os dois países que foram governados, na maior parte da década passada, por líderes(Lula e Recep Tayyip Erdogan) cuja história está marcada pela migração do campo para a cidade. As experiências desses dois países oferecem ao mundo a lição mais importante de como lidar com os desafios da urbanização, evitar erros, transformar comunidades de sucesso e fazer das ondas de migração do campo para a cidade histórias de mobilidade social e sucesso.

Por que os empresários deveriam investir nas periferias?

Um pequeno investimento feito agora, para transformar a favela e integrá-la à cidade e à economia formal, pode significar uma grande economia no futuro. Essa economia se refere a gastos sócias e ao combate ao crime que seriam necessários caso essas comunidades continuassem isoladas e se voltassem para a violência como única alternativa. (...)

Por que o senhor diz que o Jardim Ângela, bairro da periferia de São Paulo, é um exemplo de comunidade bem-sucedida?

O Jardim Ângela foi criado nos arredores de São Paulo por migrantes nordestinos na década de 70. Com o colapso da economia nos anos 80, ficou isolado, sem nenhuma forma de assistência do Estado. E as gangues dominaram aquele espaço. Quando a situação melhorou – e eu credito isso especialmente ao governo de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo por causa de seus investimentos em transporte e educação -, muitos moradores estavam aptos a se valer das novas oportunidades e começar a empreender, abrir pequenos negócios. O Jardim Ângela ainda é um lugar pobre, com alto índice de desemprego entre os jovens, nível de educação ruim e problemas graves com álcool e drogas. Hoje, porém, é mais próximo de um lugar onde as pessoas têm esperança e batalham para vencer na vida do que um lugar perdido e esquecido.

(...)

No Rio de Janeiro, temos as UPPs(Unidades de Polícia Pacificadora), um exemplo importante de reabilitação de uma comunidade. A revolução das UPPs é o entendimento de que não basta fazer uma coisa por vez, mas que o todo deve ser tratado e que devem ser proporcionadas para as favelas condições de segurança e higiene, capacidade de autogestão e conexão à cidade.

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Matéria publicada na revista Época
de 18 de abril de 2011






Comentários

Eduardo Medeiros disse…
Em primeiro lugar, MIRANDINHA, deixei um último comentário para você no teu texto anterior, ok?


A primeira vez que entrei de fato em uma favela eu já estava com meus 35 anos. Favela para mim era uma realidade bem distante, que não fazia parte do meu mundo.

Por obras do destino(ou de Deus como ela prefere), minha esposa, antes de nos casarmos, morava em uma favela aqui do Rio. Sempre a ouvia contando suas aventuras para se esquivar de confrontos frequentes entre polícia e traficantes; ainda era a época em que a polícia já entrava nas favelas atirando e chutando portão de morador. Isso ainda acontece, mas já não é uma orientação do governo estadual.

Quando começamos a namorar, eu insistia que eu não a levasse em casa, por temer pela minha segurança, o que me deixava constrangido, já que nunca foi do meu feitio deixar minhas namoradas irem embora sozinhas.

Ela só deixou eu ir lá quando o namoro ficou sério, isso depois de quase um ano. Ela me orientou: "você vai ver coisas que não está acostumado, passa normalmente e não fica olhando muito..."

achei exagero. Eu não tinha realmente nenhuma noção prática do que era entrar numa favela dominada pelo tráfico de drogas.

A boca de fumo ficava a poucos metros do portão da sua casa. Vi jovens segurando fuzis e uma fila enorme de gente esperando para comprar drogas. Reparei gente de todo tipo: uns engravatados, uns sem camisa, mulheres de shorts...

Foi um choque para mim. Foi a primeira vez que eu vi frente a frente aquela realidade que eu só via na TV. Demorei para me acostumar com o ambiente. A palavra é essa mesmo: acostumar.

Mas vi outra coisa na favela que me surpreendeu, agora, pelo lado positivo. A favela tem uma energia diferente; O povo da favela é um povo diferente; as ruas sempre estavam lotadas; crianças brincando nas ruas, velhos conversando nas calçadas, caixa de som em alto volume, inúmeros botecos, pequenos comércios...

enfim, a vida fluia na favela de um modo que eu nunca tinha experimentado. Fiquei fascinado. Agora, já "acostumado", ia à casa da namorada "tranquilo".

Vi muitas vezes jovens correndo ao meu lado armados, sem camisa, magros, olhos fundos...vi duas vezes bem perto, traficantes da favela roubando carro na estrada que passa fora da favela.

Nunca nenhum se dirigiu a mim e nunca fiquei no meio de tiroteio. (graças a Deus...)

antes, ficava abismado quando estava na casa da minha esposa, ela se arrumando para ir à igreja, tranquilamente e o tiroteio correndo solto lá fora:

bang, bang, timmm, bang...!!!!!!

eu, ainda não "acostumado", suava frio e perguntava perplexo: "Você pretende sair assim? Tá louca?? eu que não vou..." ela ria de mim e dizia "daqui a pouco passa e fica tranquilinho..." e era assim mesmo. da mesma forma que o tiroteio começava, ele terminava.

Existe muita potencialidade no povo da favela. Muita gente com talentos, gente alegre(apesar dos pesares), gente unida na dificuldade.

Por isso eu concordo com o canadense. Basta um empurrãozinho para a potencialidade latente das favelas aflorar. E tem aflorado em vários lugares.

De fato, o centro do mundo será a periferia. Mas sem o teor pejorativo que a palavra "periferia" carrega.

abraços a todos. Vou estar ausente amanhã durante o dia, volto à noite.
Olá Eduardo,

Depois de um tempo sem um computador eis-me aqui novamente ^^

A favela é uma terra de constrastes, há violencia, há alegria, a irresponsabilidade(drogas), há proteção(nenhum morador, mesmo os bandidos, deixam que seus vizinhos sejam assaltados).
Trabalhos sociais se fazem nescessarios, afinal por muitas vezes, usar drogas e ficar horas panguando(termo usado nestas comunidades, referente a não ter noção do que faz) é o unico passatempo, o unico momento que se sente feliz.
A influencia de amigos e pessoas 'superiores' também agrava a situação, quando um jovem vê outro usando drogas, nasce um desejo inconsciente de fazer o mesmo (eu sei do que estou falando, já passei por isso), ainda que se saiba os problemas que usa-la dará.
Mas o povo da favela é um povo que sempre procura se divertir, ser feliz, para o bem ou para o mal os bailes funk estão ai para provar.
também é comum ver os moradores reunidos em um barzinho para conversar, neste meio se vê gente de todo tipo, negros, brancos, jogadores de futbol, traficantes, pastores(de igreja mesmo!!!), fundadores das organizações de Paz.
O senso de justiça em uma favela é grande, nenhum bandido rouba seus moradores, e se alguem o tentar... bom, ele não irá tentar mais... (daí algumas mortes de jovens que não tinham nenhum inimigo mas apareceram mortos, eles tentaram roubar um morador, algum lider do trafico descobriu e... bem, o resultado é a morte em alguns casos)

Olhando para as UPPs, na minha opnião o governo foi muito seletivo, e como criterio de seleção eles usaram as favelas que estão no rumo das olimpiadas e a copa, só. Nas favelas que nescessitam MESMO não há UPPs

Abraços.
Carlos MJ,

Bom texto, e em tempo.
Você está falando do efeito, mas em momento algum deu ênfase â causa.
O povo brasileiro nasceu abandonado e tem como berço o saco plástico por falta de oportunidades e educação. Principalmente EDUCAÇÃO. A favela é fruto disto e só se torna manchete por incomodar a elite culta e rica que mora nas grandes cidades.
O governo oferece "bolsa esmola" para a polpulação carente de tudo no interior dos estados com a intenção de coibir o êxodo rural. Imagina que com esta esmola evita a formação de favelas e ainda tem o voto de cabrêsto (ou citurão, pela barriga). Nas favelas o governo oferece a polícia para coibir a violência. UPCs em lugar de ensino de qualidade. As pessoas faveladas só tem de diferente das que moram no centro das cidades, a oportunidade e cultura. Ofereçam-lhes isto que as favelas não existirão.
Edu, meu caro.

Li e respondi seu comentário. Só tenho uma ressalva:
Temos que colocar nosso lixo debaixo do tapete antes da copa. Temos que provar para os outros que favela é um estilo de vida bem-sucedido. Temos que provar que os policiais das UPCs na verdade são professores da melhor qualidade. E não será difícil nos convencermos disto.
Edu, oferecer música clássica para analfabetos é como oferecer caviar para porcos. Eles comem, mesmo não sabendo do que se trata. mal, não faz!
Errata:

meu comentario anterior é para o Carlos MJ e não para o eduardo.


Altamirando,
Concordo com vc quando diz que devemos nos preculpar com o ensino ao invez de unidades pacificadoras. Mas isto deveria ter sido feito a muito tempo, agora a prioridade deve ser a segurança e a 'libertação' dos jovens da maldição das drogas, a escola até seria uma boa opção para fazer isso, mas deve-se avaliar o dinheiro gasto com o beneficio, há que se observar também que, não é porque há uma escola que os jovens irão se interressar...
Hoje estou, realmente, precisando de escola. "população e cinturão".

Tiago,
A escola pode não interessar para esta geração que sofreu fome de útero e já foi dominada pela droga. O problema em oferecer educação de qualidade não será resolvido só construindo escolas. O prédio vazio servirá de esconderijo para traficantes. A solução é bem mais complexa.
Se não há chances de melhorar esta geração, ao menos tente, através da educação, encaminhar a próxima.
Eduardo Medeiros disse…
Desculpem os erros e frases mal feitas, mas escrevi esse texto e o primeiro comentário ontem já passando da meia-noite e eu estava meio grogue de sono...rsss
Eduardo Medeiros disse…
Gente, o CarlosMJ sou eu mesmo, o Edu. É que eu sou tão ambíguo que possuo agora duas contas no blogeer... heee


Tiago, estávamos sentindo sua falta, que bom que voltou!!!

Mirandinha, vocè tem um pessimismo mórbido em relação aos "porcos" que comeram caviar sem saberem o que estavam comendo. Na verdade, não existe solução alguma para esse povo na sua opinião, não é? o que seria melhor? câmara de gás? Elimando esta geração quem sabe, a próxima será melhor formada?

Por que você escreveu "UPC" ao invés de "UPP"?

Um fato: as UPPs é de longe a melhor abordagem em relação ao poderio do tráfico de drogas aqui no Rio. Durante anos, começando talvez com o saudoso Brizola, a política de segurança era não pertubar os traficantes para não atingir inocentes ou o outro extremo, o confronto franco e direto sem se importar com os inocentes moradores das áreas de tráfico.

As duas abordagem nunca resolveram nada. A primeira deixava os traicantes livres, sem repressão, e eles se fortaleceram muito; com a segunda, a polícia atirava primeiro e perguntava depois, e os confrontos diários transformavam os morros cariocas em cenários de guerra com muitas mortes.

As UPPs fizeram o que já há anos deveriam ter feito: invadir o território do tráfico, prender traficantes e continuar na favela para que o tráfico não volte. Isso foi feito, está funcionando, o tráfico ostensivo não existe mais nas áreas pacificadas.

Concomitantemente, o Estado está entrando com ações sociais, mas é verdade, num ritmo muito lento, que inclusive é motivo de preocupação do secretário de segurança Beltrame que tem cobrado do governo mais rapidez nas ações sociais.

Verdade também que a maioria dos morros pacificados estão em volta do Maracanã e na zona sul da cidade; mas uma das UPPs foi implantada em Realengo, bairro da zona oeste, bem distante do maracanã e da zona sul.

Não existe outro caminho para pacificar as favelas dominadas pelo tráfico. As UPPs são uma unanimidade.

Existem problemas? evidente, nada é perfeito. Mas é só ver a alegria da população do morro do alemão com a debandada dos traficantes; no final das contas, o poderio do tráfico não era assim tão poderoso. O exército botou todo mundo para correr num só dia.
Eduardo Medeiros disse…
Os mais pessimistas criticam todas as obras que estão acontecendo no Rio; gritam que tudo é por causa da copa e da olimpíada. Sabe de uma cosia? dane-se! se foi preciso uma copa e uma olimpiada para que o governo começasse a trabalhar, bendita copa e olimpíada.

Tá rolando superfaturamento? alguém achou que não ia rolar? cabe aos órgãos de fiscalização apontar os erros e principalmente, a imprensa ficar emcima. Pelo menos até quando o PT conseguir amordaçá-la...
Edu, meu caro.

UPC- Unidade de polícia, o C fica a meu critério.

Eduardo Medeiros, aos poucos você cai na real. Com suas próprias palavras acaba concordando.
Só existe um meio para melhorar o povo brasileiro. Voltar no tempo e matar Napoleão Bonaparte (que só era bom, na parte de trás).
Levi B. Santos disse…
Antes de fazer algum comentário sobre a entrevista que o Eduardo publicou, vou me dirigir ao Miranda para fazer algumas perguntas, que não deixa de ter relação com o tema aqui abordado.


Miranda


Você acha que a estrondosa vitória do NÃO à divisão do Pará tem a ver com uma melhor conscientização política social e econômica do povo paraense?

Ou será que tudo isso não passou de uma briga entre lobos e raposas da política paraense, melhor dizendo, uma briga entre os donatários da capitania paraense sob a tutela do Governador, e os seus adversários políticos?
Levi B. Santos disse…
Ô Eduardo

O entrevistado diz:

“Um pequeno investimento feito agora poderá transformar a favela e integrá-la à cidade e à economia formal.“,

Aí eu pergunto:

Será que isso pode ser possível sem que haja um pacto entre o poder do tráfico e o poder da nossa frágil república?

Como você sabe, o Brasil, já é considerado um dos maiores entrepostos de drogas do mundo.

Essa SÍNTE$E, é possível, em sua opinião?
Caro Levi,

Os políticos e a maioria da população paraense não conhece seu estado. Paraense não tem ambição por terras e todas as regiões que se desenvolveram através da agricultura e pecuária foram colonizadas por emigrantes e esquecidos pelo poder público. No entanto, quando o estado passou a receber royalties polpudos pela produção de minério, descobriu-se que havia uma galinha dos ovos de ouro em seu território, mas outras raposas também as desejavam. Daí o plebiscito. Só foi favorável ao não, porquê a maioria da população do sim são botafoguênses, não têem títulos. He, he..
São duas facções diferentes, a sociedade que desejava separar o estado de Tapajós o faria por uma questão filosófica, cultural ou por amor à região do Tapajós.
A sociedade que desejava separar a região de Carajás, só por raposas políticas. O estado de Carajás seria um covil de déspotas. Mas, infelizmente, a separação é só uma questão de tempo. O Pará é uma casa de "Mãe Joana", daqui se leva tudo.
Este comentário foi removido pelo autor.
Caro Levi,

Foi boa, esta espremida que você deu no Edu. Vamos ver, se apertado abre os olhos.

Levi, o ouro não trouxe desenvolvimento ao estado pois foi produzido fora das leis e contrabandeados. Houve muito garimpo marginal que em nada melhorou o estado.

Não votei 55 por conscientização política, votei no NÃO para não favorecer a corrupção abrindo vagas para desonestos.

Se brasileiros votassem com consciência política, nosso Brasil nâo seria este paízinho de merda. Marginais não teriam poder, nem dentro de presídios nem em Brasília.
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

esse "poder do tráfico" não é assim tão poderoso. Eu estou analisando o caso a partir do olhar de alguém que more numa área onde antes traficantes ditavam a regra no território, ou seja, quem entrava, quem não entrava, quem morria, quem vivia. Esse poder não existe mais. Nas áreas de UPPs acabou o desfile de traficantes armados, eles fugiram para outras localidades ou foram presos. O que continua, é o tráfico na moita, disfarçado, disk-droga, o cara leve a droga em casa. Esse tipo de tráfico é quase impossível acabar. Mas a verdade é que por exemplo, no complexo do alemão, onde o "poder" do tráfico era imenso, não existem mais traficantes dando ordens. Eles se debandaram feito baratas tontas, o Brasil todo viu as imagens ao vivo pela TV.

Então, eu não sei como fica as relações entre o poder e os grandes traficantes. O Brasil é corredor de passagem para a Europa, mas não existe refino de cocaína aqui no Rio em escala "industrial". E creio que não exista em nenhum outro Estado.

Então, Levi, pragmaticamente, o povo que vive no complexo do alemão, está feliz da vida por que pode até comentar para as câmaras de TV que tudo "está tranquilo".

E esse é o meu foco: a melhoria de vida dos oprimidos pelo tráfico que não existe mais onde foram implantadas as UPPs.

Agora, se os policiais que estão nessas áreas 24 horas por dia não vão se transformar nos novos "donos do pedaço" só o tempo vai dizer.

E eu concordo que o morro tem que estar integrado com o asfalto, uma cidade só; a "Cidade Partida" que o Zuenir Ventura já descreveu no seu livro há anos, precisa colar suas partes. Se isso vai acontecer, eu não sei, mas é o que eu e muitos esperam.
Levi B. Santos disse…
Sei não, Edu


Ao sair das favelas, para onde vai o poderoso comércio de drogas?

Um país que tem suas fronteiras com os países produtores de cocaína totalmente desguarnecidas, como pode impedir a entrada de drogas. Penso que não há vontade política para tal feito. O Narcotráfico tem raízes muito profundas e conta com aquiescência de certas autoridades, que sempre avisam com antecedência quando vão realizar as espetaculosas operações de invasão nos morros.

Você falou que não existem mais traficantes nas favelas dotadas de UPPS, e o que continua é o tráfico na moita.

Mas entenda, quando há repressão em um local o tráfico se expande para outra localidade, outros Estados.
Aqui em minha cidade, nos cafundós da Paraiba, quase toda semana tem apreensão de Crack (droga fortíssima), coisa que dois anos atrás não se via.

Os traficantes não perdem nada. Quando a demanda cai, o preço da droga sobe.

Além do mais, você sabe como é a tentação para o lado do ganho ilícito. A cidade dos três poderes que o diga (rsrs).

Já pensou o nego oferecer uma mesada de dois mil reais por mês a um policial que ganha 1.000 reais. De oferecer a um graúdo 10 mil reais por mês para ser protegido?

Foi veiculado ultimamente pela imprensa que já existe o Mensalão da UPP: PMs recebem até R$ 53 mil por mês

Lá em São Paulo a situação não é tão diferente. A Universidade de São Paulo é uma cidade com 100 mil habitantes. Dizem que lá o Tráfico é muito rentável.

O reitor da USP, ultimamente, ao optar pelo policiamento do campus universitário, já está sendo pressionado pela Justiça: Dias atrás a Associação Juízes para a Democracia saiu em defesa dos estudantes (usuários de drogas) que não querem policiamento na universidade, com esse bordão: “É preciso solidarizar-se com as ovelhas rebeldes”.

Mas eu penso que antes de começar a COPA, na surdina, deverá haver um acordo de bom comportamento entre o Governo e o Narcotráfico

Não custa lembrar o que escreveu Reinaldo Azevedo em seu blog em 16/05/2010(rsrs):

“A história dos petistas e do governo Lula com as Farc pode ser contada em capítulos. Nem é preciso fazer uma pesquisa muito exaustiva. Comecemos por observar que, ao longo dos anos, o lulo-petismo tem sido mais duro com o governo constitucional e democrático da Colômbia do que com os narcoterroristas. Explica-se...”
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

não discordo de nada do que você falou. O tráfico de drogas vai continuar, é impossível acabar com ele. mas volto a dizer que estou analisando e focando nas regiões de onde o tráfico foi expulso. não há como negar que os conflitos armados acabaram. a paz voltou ao morro.

agora, todos os problemas que resultaram da expulsão desses traficantes(de fato, muitos se abrigaram em outras favelas ainda não pacificadas) terão que continuar sendo enfrentadas.

o secretário de segurança do Rio, Beltrame, me parece um homem digno e que leva a sério o seu trabalho. pelo menos até onde sei.

é bem provável que outros estados importem a experiência das UPPs do Rio.
As UPPs não terão um efeito imediato, mas fará com que os futuros traficantes pensem duas vezes antes de se tornar um...

Que o problema das drogas não irá acabar, acho que já está claro, ao menos deveriamos tentar diminui-lo, as UPPs estão se mostrando uma boa solução para dificultar o trafico, o que já é um avanço.
Acho que junto com as UPPs deveriam vir campanhas educativas e as já aplicadas campanhas culturais. Talvez saia um pouco acima da renda do pais (err... quer dizer, do que DEIXAM para o pais) mas, pelo menos, aos poucos implementadas.
Levi B. Santos disse…
Edu e Tiago


Lí hoje, nas páginas amarelas da Veja desta semana, uma entrevista de Claudio Beato (Coordenador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança de Minas Gerais e professor visitante da Universidade de Harvard), e fiquei estarrecido.

O sociólogo, diz logo no início da entrevista: Os marginais de fardas são ainda mais perigosos que os traficantes .

Passo a transcrever alguns trechos de sua entrevista à Veja (que são de arrepiar):

Diz ele:

“A podridão não se limita às bases da corporação, mas está entranhada nos mais altos escalões” (que coragem desse homem, hein?). E aí ele cita o caso do assassinato da juíza por um tenente coronel envolvido com grupos de extermínio.

Outro trecho da entrevista, que me deixou de cabelo em pé:

“A tendência é que, com o enfraquecimento do tráfico, que perdeu recentemente alguns de seus QGs, as milícias comecem a assumir o comércio de drogas. Aqui e ali, já surgem sinais de que essa transferência está em curso. Se isso se concretizar teremos o pior de todos os cenários. Veja o que ocorreu na década de 90 em Medellin, na Colômbia. Os paramilitares, saudados então como solução no combate do narcotráfico, acabaram por se tornar, eles próprios, os chefões do crime organizado.


"Recentemente, houve o infeliz episódio em que um líder comunitário da Rocinha acabou flagrado vendendo fuzil, mais um escândalo." - finalizou assim, o sociólogo, a sua entrevista.

Será que o nosso destino aponta para uma solução tipo: PACTO que está havendo na Colômbia?
He, he, he... De ato em ato, a peça "O povo brasileiro" vai sendo montada. E eu já assisti. Estou montando uma, que vocês, talvêz conheçam: "O colápso moral de uma sociedade anarquista".
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

com certeza os bandidos fardados são mais perigosos, mas eles também sempre existirão e isto não é privilégio do Brasil, claro.

Aqui no Rio, já foram presos mais de 100 milicianos, a polícia também está na cola deles(apesar da corrupção policial).

Levi, uma coisa é certa: os policiais bandidos não são a maioria. Ou será que são?

Eu só não quero é me render ao pessimismo de que o povo brasileiro está fadado ao fracasso. Não está.
Levi B. Santos disse…
Edu


Entendo que a questão do narcotráfico não envolve só Brasil. Envolve toda a América Latina. Estamos no centro de um jogo político entre países produtores de drogas e países consumidores.

Sou meio cético quanto a um possível desmonte de um mercado, que segundo a ONU movimenta mais de US$ 600 bilhões por ano e está sempre associado ao crime organizado, lavagem de dinheiro (aqui não entra o povão, mas a elite que está no poder).

Se houvesse vontade política, de há muito, as nossas fronteiras com os países produtores de drogas, estariam guarnecidas. Precisamos entender que há uma porta escancarada propositalmente para entrada de drogas no nosso país, para consumo próprio e para exportação para o Velho mundo.

Os donos desse poderoso comércio sabem muito bem o “por quê” da não existência de um plano estratégico de defesas das nossas fronteiras com os países produtores da droga.

Sou meio cético, Edu. Talvez um raio de esperança surja em mim quando um dia, as monumentais festas de final de ano em Copacabana puderem ser realizadas sem a presença dessas substâncias alucinadoras, que fazem o espetáculo de fogos ficar mais inebriante e psicodélico. (rsrs)
Quando o assunto é violencia, o Brasil não pode se pronunciar, nossas guerras civis são comparadas a guerras entre países.
É fato que a violencia diminuiu, mas também é fato que esta muito acima do que é considerado RUIM por alguns sociologos.
Penso que nosso país está indo pelo caminho errado, mas não sou pessimista a ponto de falar que não há como reparar esse nosso 'defeito' cabe a nós que vemos e compartilhamos relatos de corrupção, não apenas olhar e dizer que está corrupto, e sim olhar, DENUNCIAR a corrupção e fazer nosso papel politico... escolher pessoas que realmente tem potencial de representar um grande país (digo representar um grande país porque o nosso do modo que está já está muito bem representado, tem um palhaço no governo... bem parecido com o brasileiro mesmo...)
Não seria tolo a ponto de dizer que todos irão votar conscientemente, nem arisco dizer que será a maioria, mas se a 'ELITE INTELECTUAL' NÃO DAR O PRIMEIRO PASSO com o mesmo fervor que falam de Deus ou futebol, então aí sim meus amigos, o Brasil estará fadado ao fracasso.

O problema das favelas está longe de ser totalmente resolvido, mas barrar qualquer iniciativa no pessimismo de que PODE ser pior, sem nem ao menos tentar, é jogar a toalha desejando que se caminhe EXATAMENTE pelo caminho que está se seguindo.

Se os policiais se tornarão tão ou mais corruptos quanto os bandidos então a culpa será nossa, por não cobrarmos a devida fiscalização, porque no inicio será assim mesmo, pegará no tranco, parando, para depois começar a se notar a diferença...
O povo brasileiro não está fadado ao fracasso. Este atestado ele já assinou no comportamento ético, na educação e nanmaneira de votar. Que tem jeito, tem!
A geração Fênix consertará o Brasil.
Quem não tem conserto é a C.P.F.G. que foi cruelmente abandonada às vésperas de natal.
Por quê?.....Por quê?