“Escrevo, logo posto, logo existo”




Recentemente, eu, com um grupo de amigos muito próximos, resolvemos colocar em pauta um tema para ser debatido. O assunto era justamente a transformação pela qual a sociedade passou nas últimas duas décadas, Zygmunt Bauman, grande sociólogo que infelizmente nos deixou recentemente, a nomeou de modernidade líquida. Teria ele sido um crítico ferrenho da maneira como nos relacionamos hoje? Veremos.


Não há possibilidade alguma de dicotomizar, a modernidade líquida das redes sociais, que obviamente também não podemos desentranhar da Internet. Creio que o que vou relatar a seguir, reflete o pensamento de todos que porventura estão lendo este pequeno artigo. Só de pensar em ficar sem conexão já nos dá aquele friozinho na barriga, afinal, preciso dela para fazer este texto chegar até vocês, uma vez que minha máquina de datilografia está perdida em alguns dos cômodos onde acumulo bugigangas em casa, além do mais, sinceramente, não saberia enviar uma carta a cada um dos mais de Mil amigos que quero que leiam. Começo a escrever estas linhas tentando controlar a ansiedade (com S, antes que o Marcio me critique) que este inocente pensamento me traz.


É difícil manter uma só linha de raciocínio, pois o tema me remete a outros tantos pensamentos, que apenas uma relação pessoal, uma conversa real numa roda amigos, me proporcionariam tempo suficiente para expor tudo que penso, e de uma maneira que todos possam entender, então tragicamente, me dou conta de que há quem esteja neste exato momento “conectado” a milhares de pessoas em seus smart phones, tablets, PC’s, e mais, há até quem prefira isto, ou seja, aquelas pessoas que, literalmente, pausam suas vidas reais e se plugam alegremente ao virtual.


Deste modo, podemos concluir que é fato então, quando alguns de nós afirmam que nossos passos estão pautados pelo fenômeno da internet e como consequência, seu impacto na subjetividade dos seres modernos. Neste debate, que pode ser encontrado em nosso canal no You Tube (olha ela aí) o tema fora superficialmente debatido por um viés Filosófico, Sociológico, Psicológico com um pé na Psicanálise, e por que não dizer, especulativo, e como não poderia deixar de ser, ainda requer de nós um aprofundamento acerca da influência da tecnologia na construção de identidades para o mundo líquido em que vivemos.


A relevância deste tema é significativa, uma vez que é perceptível (e por que não dizer, preocupante), a dependência que temos hoje de um sinal Wi-fi, mesmo para aqueles que ainda se aventuram do lado de fora de suas casas, acabem se deparando com a virtualização das relações. Andamos pelas ruas sem olhar mais para a frente, para o horizonte, em geral nossos olhos estão voltados para o celular, ou nossas atenções concentradas na vibração dos mesmos em nossos bolsos, à espera de um contato. Experimentem levantar a cabeça e avaliar quantas pessoas, dentro de um metrô, trem ou ônibus lotado, estão mergulhadas em seu mundo virtual, arrisco dizer...quase ninguém. Reparem também, num grupo sentado à mesa de bar ou restaurante, como teclam descompensadamente em seus aparelhos, mesmo estando na companhia de amigos, bem ali do lado.


Vivemos pela primeira vez na história da humanidade em um mundo no qual ser parte de um grupo globalmente interconectado é a situação normal da maioria dos cidadãos. Os nossos debates, de certo modo, me fizeram enxergar esse novo cenário das relações interpessoais que se ramifica para outras análises que podemos fazer, como a do desenvolvimento de uma solidão “off-line”, em que estar “desligado” é praticamente um suicídio social, e da sensação que nos acomete de que o real é sempre traumático e excessivo ou pior ainda (se é que pode haver algo pior) a nossa felicidade diametralmente ligada ao parâmetro do “posto, logo existo”.


O Bauman nos mostrou esta armadilha criada por nós mesmos, em que somos caçadores e presas ao mesmo tempo, pois à medida que nos desdobramos para chamar a tenção de nossos “amigos” virtuais, líquidos, também ficamos na dependência angustiante de que ele nos note, e nos responda, e que aqueles “dois pauzinhos” do Whats fiquem azuis.


“O mundo mudou, as pessoas mudaram, a maneira de nos relacionarmos também, e o no górdio desta transformação pela qual a sociedade passou, é saber se permitiremos que essa liquidez própria da água nos fará sermos uma correnteza onde pessoas entram o tempo todo e logo se perdem carregadas pela velocidade do declive, ou se seremos maleáveis e adaptáveis a todos os recipientes onde seremos colocados, mantendo nossas moléculas ligadas por uma força muito maior, não pelas leis da física, mas pela lei do amor, chamada AMIZADE".


Aos grandes amigos virtuais que consegui nos últimos 7 anos…


Eduardo
Rodrigo
Edson
Aldim
Elídia
Elaine
Esdras
Doni
Franklin
Mari
Aline
Edu cabeça
Hubner
Lene
Adeíldes

Salmito

Por Edson Moura

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