Por onde anda o Desejo?

Aldim Rosa da Silva
Psicanalista

Elídia Rosa
Psicóloga 





⁠⁠Por onde anda o desejo?

Sendo ele o que nos guarda impiedosamente contra nossa verdade: Dizeres... Dentro de cada olhar, nada é programado. Por entre meus dedos, há imagem disparada. Afinal de contas, quem respeita a ética do desejo? Por onde andam as vontades? Apenas perguntas? Feito um estrangeiro que não se encontra em parte alguma, feito as borboletas, que sobrevoam sobre as ruas... o desejo se perdeu no decorrer do tempo. Dias bons, dias ruins o importante é se adaptar.

Andamos em cenários pintados por outras mãos, e queremos coisas que não desejamos, pois se esvaziam essas vontades num curto gole - ou tragada, ou mais uma noite que acordou  tingida de cinza vazio, leves rachaduras nos copos à mesa - e no que se foi. "Temos empregos de merda para comprar coisas que não precisamos".

Meticulosamente não sabemos na verdade quem somos. Passamos por anos a fio, sem saber o que realmente queremos. Despudoradamente aflitos no meio da multidão. Momentos se baseiam em metamorfosear-se em ações estonteantes, na moralidade da transgeracionalidade. Aprendemos a lidar com as mazelas fincadas pela relação social com o outro; o outro é a periculosidade, que habitam em mim. Apenas esse grande Outro que me faz sentir o que realmente sou, e o que quero. Na verdade, não sabemos o que queremos: o carro novo, o apartamento, a roupa, o boleto o boné, a fantasia... tamponamos com a toxicomania, nosso fragmento de espelho quebrado.

Colocando-se o mal estar da atualidade como algo que não abarca o desamparo do sujeito inserido no laço social, provocado pela perda de referências na modernidade, a “ morte de Deus” entre outros, impõe-se com isso, o conflito entra a natureza dos antigos e a “liberdade dos modernos”.
O desejo põe em cheque as realidades, dos outros e de mim. E esse espelho revela múltiplas faces, até aquelas onde (acredito) não sou, na penumbra do que foi refletido.

O desejo, nos cala a boca...
O ego, negocia suas maiores vontades.

 Supostamente seremos o resultado do que queremos ser? Eis a pergunta. Obviamente que a ética do desejo vai ficando de lado. As vezes deixamos para trás o que realmente queremos. E afinal, onde mora o desejo? Ele poderá ser relativamente realizado? O que é válido, o que o sujeito sente? Ou o que é preciso fazer para q a sociedade nos aceite?

E o instinto mais primitivo, que fez o ser humano caminhar pela ilusão, e transitar na civilização? Mesmo que seja claro a negação, um dia, gozamos de satisfação em pleno sentido por tais atos: canibalismo, incesto e assassinato.
Com o decorrer do nosso processo evolutivo, tropeçamos nos dispositivos que fazem o ser humano se constituir...

Se hoje, diminuímos a frequência praticada, foi por pouco. Canibalismo não é tão explícito como era antes. Incesto, esse se esconde na contramão da civilização, porém tem seu êxito como prática (nem que seja às escondidas). Assassinato? Se hoje não matamos por prazer, indicamos alguém para fazer...
O desejo se desloca mais uma vez, tamponando, a real forma de agir da raça humana...
Quantos de nós busca a resposta do que realmente nos faz ir atrás do que que realmente nos proporciona contentamento?

O ser humano evolui isso é fato! Mas tem coisas que não mudam: a vontade de um segundo. Totalmente voltada para o prazer e satisfação...
A tragédia a que nos dispomos cotidianamente en-cenar, está disposta de tal forma que o esgotamento a que estamos expostos, se distancie da ética do desejo, nos jogando no mais completo desamparo, em um sem fim de simulacros de existências esvaziadas, subproduto de nossa busca pulsional.

Resgatamos Antígona, a personagem da tragédia grega, para evocar o desejo ainda que para isso a vida esteja em jogo. A ética do existir, que busca não soterrar com os enganos de uma existência norteada por vidas mais ou menos ordinárias. Amor ao desejo, uma trilha certamente nada fácil de ser trilhada, onde os encontros são verdades  disponíveis para quaisquer ouvidos, porém acatadas apenas por alguns.            


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