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Mostrando postagens de dezembro, 2017

ANO NOVO, VIDA NOVA

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Por Frei Betto* Estamos à porta de 2018. E o que fizemos de nós mesmos em 2017? Há em nós abissal distância entre o que somos e queremos ser. Um apetite de Absoluto e a consciência aguda de nossa finitude. Olhamos para trás: a infância que resta na memória com sabor de paraíso perdido; a adolescência tecida em sonhos e utopias; os propósitos altruístas. Hoje, o salário apertado num país tão caro; os filhos, sem projeto, apegados à casa e ao consumismo; os apetrechos eletrônicos que perenizam a criança que ainda resta em nós. Em volta, a violência da paisagem urbana e nossa dificuldade de conectar efeitos e causas. Como se os infratores fossem cogumelos espontâneos, e não frutos do darwinismo econômico que segrega a maioria pobre e favorece a minoria abastada. O mesmo executivo que teme assalto e brada contra bandidos, abastece o crime consumindo drogas. Ano novo. Vida nova? Depende. Podemos continuar a nos empanturrar de carnes e doces, encharcados em bebidas alcoólicas, ...

Nudez e vergonha do corpo

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Por  Arthur Virmond de Lacerda Neto e-mail: arthurlacerda@onda.com.br Por que o brasileiro encobre certas partes do seu corpo nas praias? Décadas atrás, havia traje de banho: as pessoas banhavam-se no mar vestidas, com trajes próprios, que, nos homens e nas mulheres, encobriam-lhes o peito e a metade superior das coxas. Depois, os homens descobriram o tórax e as mulheres adotaram o “maillot”.  A seguir, o calção de banho masculino reduziu-se a as mulheres adotaram o biquini, em que se lhes ocultam as mamas e o púbis. Surgiram, a seguir, a sunga, o “fio dental” (que seria melhor designado por fio de nádegas) e a porção superior do biquíni reduziu-se drasticamente. Hoje, é mínima a parcela do corpo humano que a moral convencional obriga a encobrir, nas praias. As mamas e a genitália feminina são, ainda, ocultas por indumentos mínimos, se é que se pode chamá-los de roupas. Na verdade, não o são; não são trajes de banho. São a expressão da mentalidade do brasileiro,...

O Natal e a nossa cultura

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Apesar do Natal ser uma das datas mais importantes do nosso calendário (hoje em dia mais por motivos culturais/comerciais do que religiosos), há muitas curiosidades acerca desta época que nem todas as pessoas sabem. Pois bem. Uma delas foi que o aniversariante  Jesus de Nazaré  não nasceu comprovadamente em dezembro, inexistindo na Bíblia qualquer referência direta ao dia, mês ou ano da sua vinda ao mundo. Nem mesmo nas literaturas apócrifas! Logo, trata-se de uma comemoração simbólica cuja instituição pela Igreja se deu no século IV da era comum para substituir as comemorações pagãs no solstício de inverno ( natalis invicti Solis ), que era a celebração do nascimento anual do deus  Sol Invicto  no Hemisfério Norte. No entanto, quase a totalidade dos cristãos comemora o Natal e até mesmo muitos que não são religiosos seguem a tradição mais por razões culturais. E eu, sinceramente, não vejo problemas em aceitar tal comemoração sobre Jesus v...

Pedras no Bolso

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                                                                                                                                           Elidia Rosa No filme As Horas, que narra a vida da escritora Virgínia Woolf, a cena que me marcou, entre tantas outras cenas desse filme espetacular, foi a derradeira, e que também inicia o filme. Nele Virgínia, desesperada diante da impossibilidade cada vez maior de exercer sua criatividade, sob forma da arte de escrever, e de todo caos em torno a partir de seu próprio caos interno, decide colocar algumas pedras nos bolsos e lentamente adentrar as águas do Rio Ouse, na Inglaterra, submerg...

Minha versão de dentro do acidente do ônibus que deixou sete vítimas; três em estado grave

Quase três horas da madrugada. Tudo em silêncio e na mais perfeita calmaria e paz. Dormia um sono profundo. Profundo não, porque quem é que pode dormir bem numa poltrona que é desconfortável como as que são de um ônibus, ainda mais de que é convencional? DE REPENTE: o impacto e o barulho da batida do ônibus no caminhão de boi... estilhaços de vidro voando no meu rosto (isso, porque estava sentado na poltrona 35, do meio para o final do ônibus)... uma gritaria e muito choro, misturados com vozes de crianças, jovens, adultos e idosos... e ainda por cima, a luz do ônibus que permaneceu apagada por eternos segundos: meu Deus o que está acontecendo? Gritos de “para motorista, para o ônibus!” e de “quebra a janela gente!” e de “me ajuda eu quero sair daqui!”, junto com “gente, parece que tem gente morta aqui na frente”, meu Deus, o que será tudo isso afinal? Quando a luz do ônibus finalmente é acessa; quando o ônibus finalmente para; continuo sem entender o que houve... porq...