Lula, colaborador do Dops?

 


                                                                       Lula e Tuma Jr



O jornal Folha de São Paulo em sua edição de hoje, 20 de março de 2023,  informa que o governo  planejava um  pedido de desculpas pelo golpe militar de 1964 e o presidente Lula teria vetado por não querer provocar tensão com os militares.  Os eventos estavam sendo organizados pelo Ministério de Direitos Humanos. O slogam estava até pronto: 60 anos do golpe 1964-2024 - sem memória não há futuro. Organizado pela pasta do  ministro Silvio Almeida, pedia uma ação coordenada entre governo e sociedade civil para lembrar as seis décadas do golpe que se avizinha.

Os documentos reforçavam a importância do Estado pedir desculpas públicas como reparação aos atos perpetrados pela ditadura militar. Muitos aliados de Lula não gostaram do seu veto, como o presidente do PT Rui Falcão que teve um entrevero com o  Ministro da Defesa José Múcio na festa de aniversário de José Dirceu. Segundo Múcio, Lula teria pedido que não houvesse manifestações no meio militar onde em tempos recentes se comemorava a data da chamada "Revolução de 64". Múcio disse que era preciso investir em pacificar o país.

Essa questão me lembrou um outro episódio em 2013 onde o jornalista Reinaldo Azevedo, então um ferrenho crítico dos governos petistas (hoje ele virou a casaca e se tornou um ferrenho defensor de Lula), em sua coluna na revista Veja,  cobrava ao então Ministro da Justiça de Lula, José Eduardo Cardozo que mandasse a PF investigar as denúncias feitas pelo delegado Romeu Tuma Jr em seu livro "Assassinatos de Reputações" publicado em 2013 de que Lula, então líder sindical, colaborava com o governo militar, sendo informante do delegado Romeu Tuma(pai de Tuma Jr), então chefe do Dops no final dos anos 70 e de que o PT produzia dossiês falsos contra inimigos políticos.

Em 1979, o último governo militar de João Batista Figueiredo, iria  promover a Anistia "ampla, geral e irrestrita"  e os militares viam com bons olhos a ascensão de Lula, pois sua figura de líder sindical, ajudaria a ofuscar os recém anistiados mais ideológicos socialistas  como Leonel Brizola e Miguel Arraes. Conforme escreveu Reinaldo Azevedo em seu artigo, 

O Lula “colaboracionista”, pois, é um dado da própria equação. Ainda que seus propósitos fossem os mais, digamos, puros — criar um partido só de trabalhadores —, a verdade inegável é que sua liderança rompia duas pretensões de unidade: a) a unidade da oposição defendida pelo MDB; b) a unidade das esquerdas, que Brizola tinha a ambição de liderar. E aquilo era música para os estrategistas da transição, especialmente o general Golbery do Couto e Silva. Eu era um fedelho, militante da Convergência Socialista, e me lembro bem como a extrema esquerda lia, então, a questão: a: Lula era considerado um nosso aliado contra a “frente burguesa” que pretendia se apresentar como “falsa alternativa” (era o que achávamos então) ao regime; b: Lula era considerado um nosso aliado contra a “falsa esquerda”, que considerávamos não marxista (e era mesmo!), que vinha do exílio com pretensões de liderar as massas, o que repudiávamos; c: Lula era considerado um nosso aliado APENAS ESTRATÉGICO, já que julgávamos que ele não passava de um reformista, com sérios “desvios de direita”, interessado apenas em reformar o capitalismo; d: a extrema esquerda entendia que fortalecer Lula era importante, para que pudesse ser descartado mais tarde.





Fato que dá mais peso às denúncias de Tuma Jr é que ele foi por 3 anos, Secretário Nacional da Justiça do segundo governo Lula, de 2007 a 2010. Segundo revela no seu livro, ele foi instado pelo PT a dar cursos de dossiês fabricados pelo petismo contra seus adversários. Além disso, no governo Lula, Tuma Jr protegia o PT ao não dar curso a investigações que pudessem comprometer o partido. 

Em seu artigo, diante das graves denúncias de Tuma Jr, Reinaldo Azevedo pergunta: "O que fará o Ministro da Justiça?" Não fez nada. 

Em 2010,  quando denúncias contra o Secretário de Justiça de Lula vieram à tona, acusando-o de ser supostamente chefe da máfia chinesa em São Paulo. Lula defendeu Tuma Jr dizendo que ele era um "delegado experimentado" e um "homem que tem uma folha de serviços prestados a esse país". O site G1 publicou a reação de Tuma Jr às denúncias em uma matéria de 5 de maio de 2010: 

Tuma Júnior disse enxergar "uma intenção de desmoralizá-lo", classificou a denúncia de "absurdo" e ainda arriscou um palpite: "Devo estar contrariando os interesses de alguém". O Secretário Nacional de Justiça também estranhou o fato de as acusações virem a público justamente no momento em que ele assume o comando do Conselho Nacional de Combate à Pirataria. "É muito estranho isso aparecer nesse momento", avaliou.

Azevedo fecha seu artigo na Veja com a seguinte frase:

Tuma Junior não era só um datilógrafo do Ministério da Justiça que agora diz ter ouvido coisas. Não! Ele ocupava um cargo central na pasta da máquina  petista de moer a reputação dos adversários, seguindo aquela que, há muito tempo, digo ser a máxima do partido: “Aos amigos, tudo, menos a lei; aos inimigos, nada, nem a lei”.



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