Alguns rabiscos sobre “vontade e representação”

Por Marcio Alves

A principal teoria “Schopenhaueriana” é de que a essência do mundo, como dos seres em geral, até das coisas inanimadas é irracional, e este irracional ele denomina de vontade.

Tanto é assim que se observarmos o papel do intelecto na natureza e nos animais, chegaremos a conclusão de que é quase nulo, mas isto não ocorre com a vontade, pelo contrário, o que realmente impera na natureza como um todo é justamente a vontade.

O que seria então esta vontade? Em Schopenhauer a vontade é a vontade de querer viver bem, e não somente viver, mas viver ao máximo, com toda intensidade, prazer e qualidade possível.

Se a vontade é a vontade de viver, logo seu maior inimigo é a morte. Sendo assim, uma das maneiras de vencer a morte, segundo Schopenhauer, é através da reprodução da espécie, ou seja, morre sempre o individuo, mas nunca a sua espécie.

É por isso que para Schopenhauer o que existe mesmo na realidade é a espécie que é a “coisa-em-si”, sendo que cada individuo seria apenas o fenômeno.
Na verdade a coisa em si é a forma, e a matéria é o fenômeno. O que esta em constante mudança é o fenômeno, mas já a forma é imutável.
Exemplificando: Mudam-se os seres humanos, que estão em constante transitoriedade da vida, sempre nascem, se desenvolvem e morrem, permanecendo a espécie humana que é a forma.

Por isso que a grande obra e principal tese “Schopenhaueriana” é “O mundo como vontade e representação”, pois para ele, o mundo é vontade e representação e nada mais. A vontade sendo o que ele chama de a “coisa-em-si”, já a representação é construída pelo intelecto, sendo uma interpretação dos fenômenos da coisa-em-si.

Esta é a grande diferença filosófica de Schopenhauer para todos os outros filósofos (com exceção de alguns poucos como Spinoza que já antes de Schopenhauer dizia que “o desejo é a própria essência do homem” (SPINOZA, Ética parte 4) ) que enfatizava o racional como a essência do homem.

Schopenhauer inverte a lógica idealista alemã de que a razão precede o querer, para ele é o querer que precede a razão.
Ele afirma categoricamente que “nós não queremos uma coisa porque encontramos motivos para ela, encontramos motivos para ela porque a queremos, chegamos até a elaborar filosofias e teologias para disfarçar os nossos desejos” (uma fonte de Freud)

Schopenhauer chega a fazer uma ilustração, onde ele diz que “a vontade é o forte homem cego que carrega nos ombros o homem manco que enxerga”, ou seja, o que predomina é a vontade, sendo que a razão seria a parte secundaria que dá nomes, significados e até justificativas para as ações que são totalmente dirigidas e dominadas pela vontade.

Entendo que mesmo quando temos um forte desejo e não o fazemos é por causa de um desejo maior ainda.
Exemplificando: É como um homem que adúltera, onde diz, para justificar os seus atos, que não consegue refrear a sua vontade, mas, se este mesmo homem tivesse uma forca o esperando no final do ato de adultério, com certeza ele conseguiria refrear sua vontade, por causa de uma vontade maior; a de viver e não morrer.

Sendo assim, somos totalmente guiados por nossa vontade, quando não à vontade em si por causa das conseqüências boas, se é pela vontade de não ser prejudicado. Neste sentido a moral, por exemplo, é respeitada pela maioria por causa de seus benefícios como status, respeito e etc, como também pela suas punições.

Ainda neste sentido, eu ariscaria dizer que não existe virtude na virtude própria, ou, melhor dizendo, não existe virtude pura, pois todas as virtudes seriam praticadas apenas e tão-somente pelo interesse de nossa vontade e não contra nossa vontade, ou seja, sempre visando algum ganho ou prevenção de algum castigo, para beneficio próprio.

Entrando (mas já saindo) na questão da religião, todas elas prometem recompensas e punições, manipulando e controlando assim os seus seguidores, pois o ser humano é interesseiro, sempre se perguntando o que vai ganhar e o que vai perder em todas as situações.

É por isso que Schopenhauer já dizia que para convencer um homem não é possível usar apenas lógica, razões e argumentos, e preciso antes apelar para sua vontade, desejo e interesses próprios. (SCHOPENHAUER, pg 126, “Conselhos e Máximas”)

Uma das características fundamentais desta vontade, tanto no homem, como no mundo em sua totalidade é o sofrimento, a dor, pois vontade já pressupõe necessidade, pois como afirma a teoria “Schopenhaueriana” que o desejo é infinito, mas sua realização é muito limitada.

A saída para todo este sofrimento proposta por Schopenhauer é a negação da vontade pela própria vontade, ou seja, nega-se o desejo pelo próprio desejo em si de não mais desejar.

A conclusão que se chega é de que a vida é uma vontade cega de sempre querer viver!

Exemplo: Uma pessoa bem idosa, mesmo em fase de uma doença terminal, luta com toda sua vida, com todas suas forças em busca de viver e não morrer, mesmo quando não existem razões suficientes para isto, aliás, ela pode até achar algumas razões, mas como vimos em Schopenhauer, essas razões ou justificativas são secundarias e subseqüentes ao motor maior que nos impulsiona e guia: VONTADE!

Mesmo quando a pessoa se suicida, ela se suicida porque quer acabar não exatamente com sua vida, mas no fundo, o que ela quer e deseja mesmo é acabar e por fim ao seu sofrimento.

Por isso é que todo suicídio não é contrario a vida em si, mas contra alguma espécie de sofrimento e dor que a pessoa não suporta mais.

O ponto principal que discordo é a cura para o sofrimento proposta por Schopenhauer de anulação da vontade.
Neste ponto, penso como Nietzsche, que a proposta “Schopenhaueriana” é uma proposta ou atitude covarde diante da vida.

A saída não é a negação da vontade, mas justamente o contrário, a aceitação da vida como ela é, com toda sua dor e prazer, sofrimento e realização, pois é disto que ela é feita.

Se a vida é constituída pela vontade, logo ao negarmos a vontade estamos conseqüentemente negando o que temos de mais precioso: a vida!



Por: Marcio Alves

Observação: Este texto é apenas uma síntese da síntese feita por mim sobre um trabalho da faculdade onde eu abordei as principais teorias “Schopenhaueriana”.

Comentários

Anônimo disse…
Ebaaa..fuii a primeiraa a ler!! Rsss...

Zueiraa acabei de comentar o texto do ISA...agora mais um pra eu ler...haha...

Marcio, como que tatu meu amigo?! Saudadesss...

Mandaa beijoo pra sua esposa...beijos pra vc..pro filhote...saudades amigo!!
Levi B. Santos disse…
Márcioooooooooooooo!


Até que enfim o acadêmico do “ser em si” decidiu voltar a esta sala, para trazer um pouco de suas experiências no campo das Ciências Humanas. (rsrs)

Mas eu perguntaria ao acadêmico, se a teoria dos instintos (pulsões de morte e de vida) de Freud seria ou não um desdobramento das idéias de Schopenhauer?

Há quem diga que o filósofo do pessimismo, por ter freqüentado enfermarias de doentes psiquiátricos deu início a interpretação psicologizante da filosofia. Penso eu, que Schopenhauer com o seu conceito de “vontade”, ajudou Freud, como seu leitor assíduo, a formular a teoria científica dos instintos.

Em suma a vontade de que fala o Filósofo consistiria em psicanálise, uma repetição de uma vivência primária de satisfação. Essa “pulsão reprimida”, em nós, adultos, nunca cessa de aspirar a satisfação plena dos instintos. Instintos esses que Freud coloca no campo do ID (inconsciente).

Ainda volto...
Muito bom o tema escolhido.

Compreendo quando Schopenhauer diz que "a vontade é a vontade de viver" bem como "o que existe mesmo na realidade é a espécie que é a 'coisa-em-si', sendo que cada individuo seria apenas o fenômeno".

Eu diria que não seríamos apenas fenômenos da espécie, mas do Universo e da Vida.

Como explicar certos atos de heroísmo em que um homem resolve sacrificar-se pelo bem de seus semelhantes dando a própria vida em favor de muitos?

Entendo que uma atitude destas, como foi a de Cristo, trata-se de uma consciência da vontade em que deve-se entregar uma vida pela Vida. Logo, Cristo foi o desejo consciente e aí consigo entender Schopenhauer quando ele fala da "negação da vontade pela própria vontade".

De certo modo, isto tem um pouco a ver com o que pregavam os epicuristas que eram uma espécie de hedonistas. Para os epicuristas é coerente sacrificar uma prazer menor em favor de um prazer maior. Por exemplo, deixo de satisfazer um desejo imediato que vai me trazer dores e sofrimentos para futuramente poder gozar de algo que será mais duradoro e sólido.

Contudo, não é a satisfação imediata de desejos, ou mesmo se for planejada, que trará cura para a mente humana. Mas é a consciência de que pertencemos ao todo, que somos partes de um coletivo e indivíduos isolados donos de sua própria vontade.

Quando se crê em Deus, pode-se concluir que tudo está em Deus e que Deus está em tudo (não que tudo seja Deus como prega o panteísmo). Então, pode-se desta maneira orar com algum entendimento a parte do Pai Nosso que fala: "seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu".
CORREÇÃO!

No penúltimo parágrafo esqueci de colocar a palavra NÃO, demodo que a parte final ficaria assim:

"(...) que somos partes de um coletivo e NÃO indivíduos isolados donos de sua própria vontade".

Aproveito para desejar uma boa semana a todos e um feliz mês de maio!
Eduardo Medeiros disse…
putz que la mierdaaaa....que saudade de ti, ô cabeçudo-psicológico-do-ser-em-si-que-deseja-o-desejo-de-desejar-tudo-aquilo-que-deseja!!!!!!!

muito bom o texto e volto daqui há pouco para comentá-lo.
Eduardo Medeiros disse…
marcinho, antes de freud ou de shopenhauer, os cabalistas já declaravam que o ser humano é feito de desejos. o curioso é que deus também seria feito de desejo, e o desejo de deus é repartir. este desejo de repartir, doar, é entendida na cabalah como "luz". a experiência humana, percebe que o ato de repartir é um atributo da bondade, logo, deus seria bom.

imagine se os homens direcionassem seu desejo para compartilhar e repartir. haveria pobres no mundo? haveria guerras? haveria exploração do ser humano por outro?

as tradições místicas tem muito a nos ensinar, mesmo que não creiamos na sua realidade factual mas sem dúvida, sua realidade existencial é bem concreta.

rodrigo: desculpe entrar num campo onde você é mestre (cabalah), qualquer coisa, nos enriqueça com mais detalhes.
Edu,

Não seja irônicio comigo! Sei ainda pouco sobre Cabala e talvez o básico a respeito do judaísmo, ainda que com muitas deficiências.

Realmente existem pensadores cabalistas que entendem o homem como desejo e acho que certa vez cheguei a ler um livro do rabino Yehuda Berg que, salvo engano, fala justamente sobre tal compreensão.

A luz, criada no primeiro 'Yom' (Dia), representa não apenas a luz que vemos, mas também a luz de vida e alegria que foi derramada sobre o universo. E este derramar de luz é mesmo ato de bondade do Eterno. É a base de toda a existência. É o que caracteriza o hino de tradição sacerdotal que inicia o 'Bereshit' (Gênesis).


"imagine se os homens direcionassem seu desejo para compartilhar e repartir. haveria pobres no mundo? haveria guerras? haveria exploração do ser humano por outro?"

Excelente, Eduardo!

Agora você colocou na linguagem de hoje o que significa amar, o cuidar do órfão e da viúva, não oprimir o estrangeiro, dar ao trabalhador o seu salário, libertar o escravo no Jubileu e tantas outras orientações que foram dadas aos homens numa época passada.

O que você falou também tem a ver com aquilo que a Igreja deve praticar, mas não faz. Com a mensagem do Evangelho. Com a multiplicação dos pães. Com a obra de Cristo que deu a sua vida para que muitos vivessem e também entendessem que o Caminho para a nossa redenção passa pela Cruz.
Em tempo!

Veja, Edu, este conhecido trecho do célebre "Sermão da Montanha" que certamente você já leu:

"Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus." (Mateus 5.14-16; ARC)

Pode-se dizer que o trabalho de Jesus aqui é corrigir a ocultação da luz que é causa dos problemas da humanidade, tornando-a exposta, afim de que seu brilho chegue até os lugares mais sombrios da Terra que são os corações dos homens.

Curiosamente Jesus não estava falando de nenhuma luz que não fosse aquela que nós mesmos já contemos, mas que se encontra encapsulada. Logo, posso entender que o dito atribuído a Jesus no Evangelho fala sobre o despertar das centelhas.

Neste sentido, podemos compreender que toda a desarmonia e "escuridão" existente hoje no mundo seriam projeções de um conflito que existe dentro de nós, visto que somos o foco de emanação e origem desse desequilíbrio.

Portanto, eis a chave para mudarmos o mundo: remover o conflito de dentro de nós. É esta a consciência que Jesus veio despertar em nós. Do contrário, seremos cegos tentando conduzir outro cego.
Unknown disse…
"Como explicar certos atos de heroísmo em que um homem resolve sacrificar-se pelo bem de seus semelhantes dando a própria vida em favor de muitos?"

Quem, Jesus? Ele não se sacrificou coisa alguma. Sacrificio é abrir mão de alguma coisa, neste caso, a vida, coisa que ele não fez, visto que sabia desde o início que ia voltar à vida. Ou seja, puro engodo.

E para livrar as pessoas do quê? de pecados que ele mesmo as condena (visto que ele é o seu próprio pai e criador do mundo)? Para saciar a própria sede por sangue? De todas as asneiras da bíblia, a da redenção é particularmente ridícula.

Entretanto, se o mito retrata algo real, ou seja, Jesus foi um homem que foi à morte pelo bem de sua causa, então, tal como tantos heróis que já houveram (é o velho mito do herói, presente em todas as culturas, religiões etc) o feito é interessante, embora muitas vezes inútil. Infelizmente, esse feito não foi bom, pois sacrificio em nome de uma religião só causa mais fanatismo. Mártires são ídolos usados pelas religiões para fazerem seus males, tal como foi o caso da cristã, e é o da Islã hoje em dia.

Mas por que diabos o assunto desandou pro mito cristão? Não era sobre Schopenhauer?

Márcio, concordo em gênero, número e grau com sua conclusão: "A saída não é a negação da vontade, mas justamente o contrário, a aceitação da vida como ela é, com toda sua dor e prazer, sofrimento e realização, pois é disto que ela é feita.".

Quando a gente se dá conta que somos nada, um pontinho de poeira num pontinho de tempo num pedacinho isolado do Universo, e que o mundo não foi criado para nós, não está nem aí para nós, e não vai nos recompensar por nada (não há uma "justiça" a ser feita), a gente vê que a VIDA é algo tão singular que merece ser aproveitada em sua totalidade.

No blog da rayssa tem um post sobre uma discussão de dois padres sobre a educação no país, que segundo eles é "ateísta" (não sei em que mundo eles vivem, mas tudo bem). Eu fiquei vendo aquilo e pensando: esses caras, defendendo a igreja ridicula deles, só falando de Deus, discutindo esse monte de bobeira, e para quê? Perdem a vida pelo quê? por nada. não tem prazeres, vivem de discussões inúteis, e além disso fazem voto de castidade (abrem mão de uma das melhores coisas da vida por... nada!).

Eles fazem exatamente o que Schopenhauer manda: negam as vontades, achando que vão negar o sofrimento, quando conseguem o contrário: sofrem mais e à toa, visto que nunca serão recompensados por isto. Abrem mão da única vida que tem certeza de terem por uma possibilidade remota de estarem adorando o deus certo, da maneira correta, e de serem um dia talvez recompensados por isto.

É como abrir mão de um prêmio da mega-sena por quê um maluco sob efeito de drogas disse que conversou com um ET que disse que você ganhará muito mais que isso caso siga 250123 regras durante toda sua vida.
Gabriel: "(...)Ele não se sacrificou coisa alguma. Sacrificio é abrir mão de alguma coisa, neste caso, a vida, coisa que ele não fez, visto que sabia desde o início que ia voltar à vida. Ou seja, puro engodo."

Cara, o que é ressurreição para você? Será que a Vida é apenas a minha habitação num corpo físico?

Jesus deu o seu corpo pois cria que a Vida ele não perde porque. E tentando explicar a ressurreição na linguagem de hoje, o que posso dizer é que, após a morte, nossa energia permanece integrada aos cosmos, une-se ao todo e retorna a Deus. Só que já não mais se encontra restrita a um corpo físico que até então estava animado por tal fôlego.

E isto que estou falando acima é puramente científico porque a Física já demonstrou que somos todos energia. Que até a matéria é também energia...

Mas em cada época o homem buscou entender o mistério dentro de sua cosmovisão. Seja nos tempos da Torah, quando falava-se que Iahweh Eloim soprou nas narinas de Adam e este se tornou uma alma vivente. Ou numa visão mitológica posterior quando passaram a imaginar uma comunidade celestial de seres com corpos e formas representados pelas coisas terrestres.

Mas de fato Jesus tinha plena fé que vivia e viveria, o que lhe deu confiança para dar seu corpo e derramar seu sangue. E fez isto de maneira bem diferente dos sacrifícios de animais que existiam até então no judaísmo, os quais de maneira alguma poderiam expiar pecados, mas eram apenas figuras, representações...

Muitas das vezes os cristãos querem limitar a morte de Jesus a um sacrifício substitutivo como se tivesse ocorrido naquele momento da Cruz uma transferência de pecados para o Messias à semelhança do animal morto. Contudo, quem se limita a esta visão acaba não entendendo a amplitude da obra salvadora de Jesus.

Amigo, veja que aquela cruz era para os malfeitores e não para Jesus, o qual não tinha contra si nenhuma condenação. Ele poderia pensar desta maneira: não tenho nada a ver com os problemas das pessoas que vivem neste mundo. Elas fazem mal e guerra uns aos outros. Elas se matam e destróem a si mesmas. Elas estão sempre em desconexão com a Vida. Então pra que eu vou me importar? Pra que vou dar enfrentamento ao problemas que aflige o cotidiano delas? Pra que vou me desgasar com as causas dessa gente já que eles mesemos são a causa do mal em que vivem?

E Jesus podia muito bem ter dado as costas para tudo aquilo, ter saído de Jerusalém num disfarse qualquer, levado Maria Madalena pra cama, feito filhos nela, depois arrumado até uma amante como no filme dirigido por Martin Scorsese e morrer velho, amargurado com o mundo pelas asneiras do homem e decepcionado consigo mesmo por ter deixado de contribuir com o melhor do seu potencial para transformar o mundo em sua volta.

Mas Jesus mostrou com o seu exemplo de vida que, se queremos ver o mundo redimido de seu pecado, precisamos ter a mesma disposição e o desapego de Jesus às necessidades do corpo físico, bem como sua coragem para enfrentarmos a nossa própria cruz. E a humanidae não verá o tão aguardado e idealizado amanhecer messiânico, a nova era, se ela não passar pela cruz de modo que cabe à Igreja voltar a fazer como fez Cristo. Até porque a nova era messiânica não será algo pronto e acabado, mas é algo que construímos.

Quem tem ouvidos, ouça!
Hubner Braz disse…
Olá Marcitto,

Se eu falar que não li seu texto, estarei mentindo pra mim mesmo.

E fiquei curioso em saber o que cursas... será psicologia? filosofia? teologia?

Seu texto é ótimo, depois voltarei para comenta-lo.

Abraçosss
Hubner Braz disse…
Frase da semana:"O príncipe e a princesa casaram, o papa virou santo e o vilão (Bin laden) morreu. Esta parecendo final de desenho animado!!!!!!!"
Eduardo Medeiros disse…
rodrigão, eu não estava sendo irônico não, meu velho; você tem um conhecimento vasto de temas da cultura judaica e da teologia bíblica e também já fez bons comentários sobre a tradição mística da cabala.

o sacrifio vicário de jesus não é um tema unânime entre os teólogos cristãos. por exemplo, teólogos de tradição luterana não entendem a morte de jesus como um sacrifício para deus, como se deus não pudesse ser compassivo sem que houvesse uma vítima sendo sacrificada em lugar de outra.

essa teologia antiga, do sacrifício para apaziguar os deuses é bem antiga, pré-judaica; o israel antigo só seguiram o que era a regra no seu mundo.

pela leitura do evangelho, não consigo vislumbrar que a morte de jesus fosse um sacrifício para deus aos moldes do antigo testamento, mas ao que parece, foi assim que paulo entendeu a morte de jesus.

acredito que as pouquíssimas referências no evangelho que possam sugerir uma morte vicária como joão batista chamar jesus de "cordeiro de deus" ou jesus falando na última páscoa que "este é o meu corpo que é partido por vós" são interpretações bem posteriores ao próprio jesus.

de minha parte, não concebo que a morte de jesus tenha sido para lavar os pecados da humanidade(os evangelhos não deixam isso explícito, e como essa é uma doutrina central no cristianismo posterior, creio que o evangelho deveria estar cheio com esse tema, mas não é o que acontece).

logo, parece que esse não era o entendimento do próprio jesus em relação à sua missão messiânica.

mas o bill está certo, vamos nos ater ao tema que o marcinho propôs, podemos voltar à morte vicária em outra ocasião.

negar nossos desejos pode vir a ser um motivo para neuroses ou para profundas angústias. por outro lado, creio que não somos livres pelo cerceamento da sociedade, ou mesmo por vivermos em sociedade, satisfazermos todos os nossos desejos.

e também acredito que muitos possam sufocar certos desejos para que outros desejos possam ser satisfeitos...
Eduardo Medeiros disse…
bill, sequindo o que comentei acima, quero comentar a sua frase:

"Eu fiquei vendo aquilo e pensando: esses caras, defendendo a igreja ridicula deles, só falando de Deus, discutindo esse monte de bobeira, e para quê? Perdem a vida pelo quê? "

bill, meu amiguinho, arcanjo do mal, vil tentador e destruidor de ortodoxias teistas, messias do ateísmo cético:

a igreja é ridícula para você, para um padre, a igreja é a vida dele.

o que eles discutem é um monte de besteiras para você, para eles, são os temas com os quais ele lida todos os dias, tanto em suas reflexões devocionais quanto em suas conversas teologais.

o que você chama perder a vida, para eles é viver a vida que eles escolheram para si. ou você acha que um padre é padre por que tem alguém com uma pistola na cabeça dele obrigando-o a rezar missa e usar batina?

o seu ateísmo para um padre pode ser da mesma forma, uma baboseira, uma negação da vida.

é claro que você tem todo direito de criticar a "perda de vida" de padres, pastores, rabinos, sheiks etc; você só não pode achar que todo mundo aceite que "ganhar a vida" é viver a vida que você vive.

abração, meu arcanjo ateu favorito!!
Eduardo e demais,

Quando falei sobre Cristo não foi fora do contexto abordado no artigo sobre Schopenhauer. Observe que o meu primeiro comentário, onde faço referências a Cristo, vem justamente exemplificar a aplicação de parte do entendimento do filósofo. Porém, se hoje em dia você fala em Jesus em determinados meios, rapidamente surge quase que uma censura atéia tentando engaiolar o seu pensamento e sua expressão. E isto já sofri muito nos meios acadêmicos dentro de instituições de ensino e entre pessoas cultas que já quiseram até me excluir de suas relações e nem foram capazes de me ouvir até o final agindo com uma surpreendente irracionalidade e preconceito contra quem fala em Jesus, na Bíblia ou no Evagelho.

Seu que a Confraria é um espaço livre e desejo que assim continue. E também sei que aqui deve ser um espaço para o bom senso onde as pessoas devem procurar fazer comentários que estejam relacionados à postagem.

Nos meses em que tenho participado do site já percebi pessoas que, ao lerem sobre um tema, entram logo na questão sobre existência de Deus (teísmo e ateísmo) como se as discussões tivesses que girar sempre em torno disto. E, considerando que muitos frequentadores daqui foram pessoas que tiveram experiências no meio eclesiástico e hoje dizem não mais crer em Deus, parece que elas têm um problema não resolvido nesta área de suas vidas, motivo pelo qual vejo-as constantemente retornando ao debate de divergências entre teístas e ateístas, parecendo que estão na expectativa de terem alguma prova sobre a existência de Deus ou de um argumento capaz de convencê-las definitivamente...

Todavia, quando fiz menção de Jesus no meu primeiro comentário foi com a finalidade de mostrar que atitudes de dar a própria vida como fez Jesus são compreendidas num sentido semelhante a Schopenhauer quando ele diz que seríamos apenas fenômenos da espécie.

Assim, quando fiz a pergunta sobre "como explicar certos atos de heroísmo em que um homem resolve sacrificar-se pelo bem de seus semelhantes dando a própria vida em favor de muitos" foi justamente para confirmar a conclusão que eu já havia feito. Não para impregnar este espaço de pregações doutrinárias que, no final, tornam-se de tão pouca utilidade quanto os debates intermináveis sobre provass da existência de Deus.

Pra mim, a visão de Schopenhauer pode muito bem ter se baseado em reflexões dele sobre Cristo e os Evangelhos, embora sabe-se que ele foi o filósofo responsável por introduzir o Budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã. E daí a sua ideia sobre anulação da vontade relaciona-se com a experiência do Nirvana, estado em que o homem alcançaria a única felicidade real e estável.

Contudo, a distinção entre os fenômenos e a coisa-em-si (Noumenon) é uma ideia que Schopenhauer extraiu do pensamento de Kant. Segundo Kant, Noumenon não poderia ser objeto de conhecimento científico, conforme a metafísica clássica. E para Schopenhauer o mundo não é mais do que representações e Noumenon ele diz que é a Vontade.
Continuando...

E já que Cristo tornou-se um desdobramento destas reflexões, considero oportuno retornar a certos pontos que coloquei e foram debatidos.

EDUARDO: "de minha parte, não concebo que a morte de jesus tenha sido para lavar os pecados da humanidade(os evangelhos não deixam isso explícito, e como essa é uma doutrina central no cristianismo posterior, creio que o evangelho deveria estar cheio com esse tema, mas não é o que acontece)."

Meu amigo, muitas das vezes os diversos pontos de vista sobre a morte de Jesus falam sobre o mesmo acontecimento com liguagens diferentes!

O lavar de pecados podemos compreender também como curar a humanidade da sua conduta pecaminosa e nos ensinar a projetar desejos e vontades para a construção de um mundo melhor.

Muitos fundamentalistas vêem o pecado como uma conduta que separa o homem de Deus e que trás condenação à morte e ao inferno.

Pois bem. Tal entendimento é verdadeiro mas ao mesmo tempo é metafórico. E, se não for analisado de maneira também metafórica, corremos o risco de termos uma visão reduzida e restrita sobre o que é pecado e o lavar de pecados.

A Cruz é o maior ensinamento para que o homem vença o poder do pecado! É abrindo mão de seu egoísmo que o homem pode então ceder quanto aos seus interesses próprios e lutar até à morte pela transformação do mundo. Pois quando você não está mais preso a si mesmo, nada te impede mais de fazer a vontade do Pai, de lutar pela verdadeira Vida da qual a nossa vida no corpo é apenas um fenômeno, uma representação.

É neste sentido, Edu, que o pensamento de Arthur Schopenhauer vem de encontro ao entendimento que tenho construído identificando-se com o sacrifício de Cristo. Pois não estou a falar da remoção de um pecado nos autos processuais do Fórum divino (representação muito ultrapassada e inconveniente). Estou falando do erro conflitual que tem nos levado a uma permanente desconexão e que nos impede de desfrutarmos a era messiânica idealizada pelos profetas e no Novo Testamento.
Levi Bronzeado disse…
O desejo está ligado ao que nos falta, àquilo que nos torna humanos e que impulsiona os nossos projetos de vida. Nesse sentido, somos constituídos também por aquilo que nos falta. Por isso sonhamos, estudamos, trabalhamos, criamos, reinventando o mundo e a nós mesmos cotidianamente.

O que impulsiona a vontade ou o desejo em nós é aquilo que nos falta, ou aquilo que perdemos no nosso desenvolvimento psíquico. Quando sonhamos, estudamos, trabalhamos, lutamos por um ideal ou criamos estamos reinventando, ou melhor repetindo o que vivenciamos de forma inconsciente nos primeiros meses de vida. Na tentativa de preencher o seu vazio, Jesus se rendeu a “imago paterna” internalizada em sua mente: “Seja feita a Tua vontade”.
“Não é o que eu quero, mas o que tu queres” – disse um Cristo ambivalente.
A pergunta: “por que me abandonaste?” – indica que Jesus estava procurando uma explicação, talvez supondo que seu Pai, poderia, se tivesse querido, ter usado do seu poder.

O testemunho de Etty Hillesum, Judia holandesa internada em 1942 em Auschwitz, dá uma idéia, a primeira vista, paradoxal , do antiteísmo do cristianismo:

” Uma coisa me parece cada vez mais clara: não é você, meu Deus quem pode nos ajudar, mas nós que podemos te ajudar – e, assim fazendo, ajudamos a nós mesmos. É tudo o que nos é possível salvar nesta época e é também a única coisa que conta: um pouco de ti em nós, meu Deus. Talvez possamos também contribuir para dar-te à luz nos corações martirizados dos outros Sim, meu Deus, pareces tão pouco capaz de modificar uma situação finalmente indissociável desta vida.
Tomarei por princípio ajudar-Te, tanto quanto possível, e, se conseguir, ali estarei para os outros também.Mas não acalentemos ilusões heróicas quanto a esse ponto. Esta conversa contigo, meu Deus, começa a me dar novamente um pouco de calma. Terei muitas outras contigo num futuro próximo, impedindo-Te assim de fugires de mim. Sei que sem mim, Deus não pode viver um só instante.


Em tudo isso, vemos que não podemos deixar de ser um Sisifo (mito de Sísifo) do desejo ou da VONTADE de preencher o vazio daquilo que nos foi tirado. Mas, é na última hora que o Filho abandonado às conseqüências felizes e infelizes dos desejos humanos, adere a um Pai não-poderoso, que juntos calam-se diante da violência e da maldade humana.

O desfecho do ensaio de Márcio, que reproduzo abaixo, resume em poucas palavras todo o meu extenso comentário:

A saída não é a negação da vontade, mas justamente o contrário, a aceitação da vida como ela é, com toda sua dor e prazer, sofrimento e realização, pois é disto que ela é feita.
(Márcio)
Unknown disse…
depois de 2 mil anos de ter que engulir à força jesus e cia, é natural que as pessoas não aguentem mais falar da chatisse do evangelho e da bíblia. ainda mais em meios acadêmicos. nem todo mundo morre de amores pela falida doutrina da redenção e se ninguém aguenta mais falar desse assunto, é por quê ele já esgotou, e já é hora de trocar a fita.

"Cara, o que é ressurreição para você?"
é ser, dado como morto, reviver. o que ocorre inúmeras vezes em hospitais. é bem comum

"Será que a Vida é apenas a minha habitação num corpo físico?"
definir vida é algo bem complicado. pode-se dizer que vírus é vida? cristais se multiplicando e mudando de forma são formas de vida?
no caso de nós, humanos, nós não "habitamos" num corpo, nós SOMOS este corpo.


"o que posso dizer é que, após a morte, nossa energia permanece integrada aos cosmos, une-se ao todo e retorna a Deus. Só que já não mais se encontra restrita a um corpo físico que até então estava animado por tal fôlego."

energia não é uma entidade, ela é uma propriedade de entes (sistemas em interação trocam energia, mas energia não existe sozinha. não existe energia "voando" por aí).

"E isto que estou falando acima é puramente científico porque a Física já demonstrou que somos todos energia. Que até a matéria é também energia..."

nada do quê você falou é científico: deuses, espíritos e matéria=energia.

Edu, você disse:
"a igreja é ridícula para você, para um padre, a igreja é a vida dele."

Sim, para mim ela é ridícula, tanto que eu disse que EU estava pensando, esta é minha sensação, o que eu penso sobre a vida destas pessoas. Pela minha visão de mundo, elas estão simplesmente jogando fora a única vida que têm.

"o que você chama perder a vida, para eles é viver a vida que eles escolheram para si. ou você acha que um padre é padre por que tem alguém com uma pistola na cabeça dele obrigando-o a rezar missa e usar batina?"

"Obrigado"? Depende do que você considera como ser "obrigado". Ser doutrinado desde a infância sobre a existência da vida após a morte como recompensa por negar a vida atual, para mim é ao menos uma pressão bem forte.
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, de fato, você fez uma ligação entre jesus e sopenhauer, aliás, muito bem feita.

"O lavar de pecados podemos compreender também como curar a humanidade da sua conduta pecaminosa e nos ensinar a projetar desejos e vontades para a construção de um mundo melhor."

gosta também dessas resignificações que podemos fazer do evento da cruz. os discípulos de jesus viram na sua morte algo definido pelos seus padrões de crença e visão de mundo que era sempre transpassado pelo religioso. cabe a nós, herdeiros daquele evento, traduzí-lo e atualizá-lo para a necessidade de cada época. nesse sentido, temos muitas lições para a vida a tirar da bíblia, como faz o levi através da leitura psicanalítica.

quem ficar lendo tudo literalmente querendo provar que tudo aquilo era "absurdo", que deus é sádico por querer ver sangue derramando, jamais mergulhará nas águas profundas do magnífico texto bíblico.
Eduardo Medeiros disse…
bill, esse negócio de negar a vida atual para herdar uma vida futura foi um pensamento do cristianismo medieval e do cristianismo pentecostal do início do século 20. nenhum cristão hoje(a não ser os muitos antiquados)pensam assim.

e além do mais, quem pensou assim, pensou errado, já que está registrado que jesus disse "eu vim para que tenham vida em abundância"- e essa vida não era depois da morte.

o projeto de jesus era ensinar a viver, se os seus seguidores fizeram tudo diferente...

mas ainda assim, doutrinado ou não, se alguém quer viver esperando uma vida futura, o problema é deles, não se estressa com isso não. geralmente, esse pessoal são bons cidadãos. e no fundo, isso é mais importante.

por que ainda que a fé morra, seja negada, vire bolor, o que importa mesmo são as ações de cada um.
Marcio Alves disse…
AOS CONFRATERNOS

É muito bom estar novamente "retornando" a esta casa e poder estar revendo os velhos (e novos) amigos.

Estou loco para poder dispor de um tempo para debater com todos vocês, e tentar trazer novas (?) ideias, mas estou mesmo com o tempo muito corrido....tentarei, pelo menos, ler todos os comentários aqui postados, pois acredito ser pouco provável que eu vá conseguir comentar todos os comentários.

Desde já agradeço a todos pelos comentários e bom debate!

Abraços
LEVI! Muito interessante a sua visão sobre Jesus explicada do ponto de vista da Psicologia. Como se pode ver, todas as áreas do conhecimento servem-nos de metáforas para tentar explicar ao homem a Realidade, a qual não alcançamos na totalidade, mas apenas chegamos a uma revelação dentro de nós, num plano subjetivo, pessoal.

Também achei interessante o testemunho de Etty Hillesum que, embora soe um pouco herético aos fundamentalistas, assim como muitos Salmos na Bíblia, parece uma autêntica expressão do seu interior. E, neste sentido, pode-se dizer que conversar com Deus é também conversar com nós mesmos, o que ajuda o ser humano a resolver seus conflitos internos e, desta maneira, buscar a promoção da paz. Logo, temos mais é que orar como realmente nos sentimos sem medo de que a nossa oração vá parecer herética diante do Pai. Aliás, muitos cristãos teriam limitações em recitar o primeiro verso do Salmo 22 como fez Jesus na cruz e também muitos judeus nso seus momentos mais difíceis já que uma oração dessas, num tom aparentemente agressivo, é bem comum pra cultura deles.


GABRIEL: "nada do quê você falou é científico: deuses, espíritos e matéria=energia"

Brother, atualize seus conhecimentos de Física! Principalmente de Física Quântica!

Já se constatou que, na prática, a matéria não existe. Tudo é energia de modo que matéria nada mais é do que energia organizada e estabilizada.

Houve tempo em que se pensou que o átomo fosse a menor expressão da matéria. Depois descobriram que existiam partículas subatômicas (prótons, nêutrons e elétrons). E, finalmente descobriu-se que as partículas subatômicas podiam ser decompostas em campos energéticos e estes na energia primordial e esta no vácuo quântico.

O espírito, isto é, o 'ruah' (sopro) é uma metáfora da tal energia. E, por sua vez, habitar num corpo, ou, numa visão oriental, ser corpo, também são metáforas. Até a ciência de hoje usa uma linguagem tão metafórica quanto os escritores da Bíblia!

O universo é um oceano de probabilidades, meu caro! E tudo o que emerge do vácuo quântico pode manifestar-se como onda energética ou partícula. A própria luz possui as duas dimensões (onda e fóton que é partícula). E a realidade, conforme verificado pelos físicos quânticos, é uma combinação dessas duas dimensões, o que a torna profunda e misteriosa. Pois as coisas não são totalmente partículas e nem totalmente onda e sim uma combinação, embora possa haver o predomínio de uma ou da outra.

Ora, todos os seres são compostos por ondas e partículas. E todos somos um oceano de probabilidades. Por isso nos transformamos e a morte física marca apenas um novo nascimento.

Não tenho nenhuma pretensão de definir vida o que pra mim sempre permanecerá como um conceito aberto e um oceano de probabilidades. Mas hoje eu entendo que vida é algo muito amplo. Pois pedra é vida. Vírus também. A Terra está viva e igualmente todo o universo.
Unknown disse…
cara, não vou discutir fisica quântica aqui, mas o que sei é que ela não endossa pretenssões espiritualistas, e não tem nada a ver com esse besteirol pregado por aí. e muito menos a bíblia.

a dualidade onda-particula da luz é uma maravilha da física, mas tirar conclusões espiritualistas daí é forçar a barra. é o mesmo tipo de coisa que faziam os espíritas quando se descobria o magnetismo.

tudo que posso fazer é indicar estes dois tópicos: http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=17462.0
e
http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=24253.0

e te indicar também este blog: wolfedler.blogspot.com . basta pesquisar por quântica, matéria, energia etc lá.

esse é um assunto que não discuto mais, ao lado de Evolução.
EDUARDO: "quem ficar lendo tudo literalmente querendo provar que tudo aquilo era "absurdo", que deus é sádico por querer ver sangue derramando, jamais mergulhará nas águas profundas do magnífico texto bíblico."

O irmão posicionou-se muito bem! Pois se eu ficar só na minha leitura do mundo e querendo explicar tudo por um ângulo só, por uma subjetividade (ou equívoco de minha subjetividade) posso acabar encapsulando o meu entendimento.


"e além do mais, quem pensou assim, pensou errado, já que está registrado que jesus disse "eu vim para que tenham vida em abundância"- e essa vida não era depois da morte. o projeto de jesus era ensinar a viver, se os seus seguidores fizeram tudo diferente."

Concordo que o projeto de Jesus é o de ensinar a viver.

Por sua vez, devemos observar também que nas muitas palavras atribuídas a Jesus no 4º Evangelho, o escritor faz uso duplos sentidos numa maravilhosa adaptação da mensagem evangélica à visão de mundo dos gregos, conforme ocorre em várias passagens iguais a do novo nascimento do capítulo 3 e não acho que seja muito diferente no 10. Mas vamos ao texto e seu contexto e para tanto eu cito a versão da Tradução Ecumênica da Bíblia:

"O ladrão só aparece para roubar, matar e levar à perdição; eu vim para que os homens tenham a vida e a tenham em abundância". (João 10.10; TEB)

Certamente a significação de vida aqui é dupla. Há uma vida que é a do Pai, a qual Jesus refere-se e faz um contraste com os falsos salvadores que procuram essencialmente dispersar e destruir.

Sem dúvida que Jesus não fala aqui de encher seus discípulos de bens como dizem os teólogos da prosperidade (estes sim parece que vêm para roubar, matar e destruir). E, usando a metáfora da vida humana, o escritor maneja muito bem o discurso atribuído a Jesus para transmitir sua idéia de viver com segurança e liberdade o que, poeticamente falando, seria a ovelha encontrar as "pastagens". Senão vejamos o verso anterior (v. 9):

"Eu sou a porta: se alguém entra por mim, será salvo, sairá e voltará e achará com que se alimentar". (TEB)

Uma interpretação mais antiga e fundamentalista talvez contentaria-se em explicar que isto seria a salvação da morte e de tudo aquilo que tende a destruir o homem e, neste ponto, o 4º Evangelho teve a meu ver o defeito de divinizar excessivamente Jesus e se afastar da tradição dos sinóticos onde ele se identifica como o Filho do Homem.

Então, lendo novamente este verso, mas com o olhar do Jesus dos sinóticos, posso compreender que o Filho do Homem, ou o próprio homem, também seria esta porta - o lugar da auto-descoberta e da manifestação dos dons divinos.

Conforme escrevi no meu último artigo no blogue Café com Gente, Jesus veio ao mundo nos ensinar que somos "luz do mundo". Ele, o Filho do Homem, também declarou-se como a luz do mundo, mas também disse que os demais homens também são luz.
guiomar barba disse…
Rodrigo, sua resposta a Gabriel, sinceramente, foi de uma pessoa que tem domínio sobre o que fala. Fiquei emocionada.

Abraço.
guiomar barba disse…
Edu, Jesus falou: Si alguem quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a cruz e siga-me.

O que podemos entender é que a vida em abundância que Jesus promete aqui nesta vida, está muito acima dos prazeres que muitas pessoas escolhem viver aqui na terra e ela é o começo de uma vida futura, além do nosso entendimento.

Beijão.
Eduardo Medeiros disse…
"a dualidade onda-particula da luz é uma maravilha da física"

concordo, bill e vou além: é inacreditável.

ainda tem o lance da partícula ora se comportar como partícula, ora como onda(energia) de acordo com o observador.

aliás, os físicos materialistas até hoje acham inacreditável ou querem achar uma explicação mais plausível para o fenômeno. já os físicos idealistas adoram essa dualidade que no fundo é uma unidade.

também não gosto de adequar conceitos espirituais ou metafísicos à física quântica, mas que a física quântica tem algo de "meta", ah, isso tem...
Unknown disse…
Rodrigo, para ser sincero, concordo com esta parte do seu comentário: "O lavar de pecados podemos compreender também como curar a humanidade da sua conduta pecaminosa e nos ensinar a projetar desejos e vontades para a construção de um mundo melhor."

Neste caso, "pecado" para mim é a falta de humanismo, a falta de respeito pelas culturas alheias, o desrespeito pela natureza, a ganância excessiva, o consumismo selvagem...

A questão é que, neste sentido, admiro os deuses (sejam eles Jesus, Buda, Krishna...) e suas lições. Neste caso aprendo com Campbell o poder que os mitos tem na nossa formação, e como eles podem ser usados para nosso próprio bem.

Só que, e nisso eu sei que você há de concordar, na maioria dos casos, os religiosos não veem este lado dos seus deuses. O cristão aprende desde pequeno que seu objetivo de vida deve ser o de salvar a sua própria pele. É aquela mecânica básica: peque, peça perdão, ore, cante pra jesus, pense em jesus, fale de jesus, leia a biblia... mas de fato, por em prática o que seu deus ensinou? nadicas... no máximo fazer uma ou outra boa ação (e dependendo da teologia, isso será considerado inútil).

E é aí, irônicamente, que se comete a maior heresia da religião. Em se prender nas imagens, esquece-se da mensagem. E pratica-se todas as atrocidades que aquele mito dizia para não fazer. Ao ver uma mensagem de um Mala da vida, você fica a imaginar do que aquelas pessoas seriam capazes se tivessem poder. Um culto religioso, após um sermão falando-se do pecado, parece um exército indo para a guerra, pronto a destruir todos os "pecadores".

E aí, os pecadores se tornam exatamente quem não o são. Prostitutas, gays, ateus, católicos, espíritas... e a coisa vira uma guerrinha idiota (que pode se tornar uma guerra mesmo), do "meu deus é maior que o seu".

E é por isso que desprezo a mensagem da redenção cristã, no sentido que sempre fui apresentado, de que pela morte de jesus os humanos foram perdoados, bastando que se "aceite-o". Esta parte da mensagem é inócua para mim, pois não acredito que como indivíduo eu possa garantir algo a mais do que esta vida, pois só tenho esta afinal. A única parte interessante, e neste caso tão interessante quanto tantos outros mitos, são os ensinamentos morais. Não são perfeitos, tem suas falhas, mas pode-se extrair coisas boas dali.

Você, como cristão, pode não entender como eu não sinto essa paixão que você tem por Jesus. Ora, há tantos deuses diferentes, tantos mitos, e todos tem seus méritos, e não vejo nada de especial em Jesus, ele é para mim mais um na multidão, um sábio como tantos outros. O que não aguento é essa fixação que alguns tem em um deus, em que tudo no mundo gira em função dele, como se todo assunto devesse ser legislado pelas suas palavras, como se aquele deus fosse perfeito (como se existisse isso).

Faço-te um desafio: cite-me uma passagem em que você discorda de Jesus.
Eduardo Medeiros disse…
"já a representação é construída pelo intelecto, sendo uma interpretação dos fenômenos da coisa-em-si."

isso é verdade. a verdade é interpretação. quem vê, interpreta e faz sua verdade. quem olha um ponto preto numa folha branca vê o quê? pode-se ver muitas coisas. o que é então o ponto na folha branca em si? não existe, ele é interpretação. ou existe mas seu significado "real" está escondido em algum lugar.

será?
Eduardo Medeiros disse…
bill, gostei muito deste seu comentário para o rodrigo. gostaria de meter o pitaco, mas foi para ele, vou esperar que ele primeiro te responda.

eu discordo de jesus em alguns pontos...ohhhhhhhhh ou melhor dizendo, discordo do que alguns dos seus seguidores disseram que ele disse...pois o que de fato ele disse e fez, é uma zona meio sombria.
Levi Bronzeado disse…
Bill

Você tocou no ponto nevrálgico da questão:

Realmente, oJesus mitologizado não permite que o “fiel cristão” admita que ele teve vicissitudes, dúvidas, surpresas, decepções, pisadas de bola, arrogâncias, etc

Só há uma maneira de discordar dele: “ acreditar que ele foi um humano como nós”.
Amor, ódio, nojo, compaixão e horror são afetos que estruturam o indivíduo, em todas as culturas. Fora desse contexto o comportamento do outro fica incompreensível para nós.

Jesus não foi compreendido porque era humano demais para se adequar às idéias de Israel.
Gabriel! Estou positivamente surpreso com suas reflexões pois percebo que evoluiu bem e se abriu para novas reflexões. Não vou comentar cada detalhe, visto que muito do que disse estamos de acordo, mas quero me prender no final


"Você, como cristão, pode não entender como eu não sinto essa paixão que você tem por Jesus. Ora, há tantos deuses diferentes, tantos mitos, e todos tem seus méritos, e não vejo nada de especial em Jesus, ele é para mim mais um na multidão, um sábio como tantos outros. O que não aguento é essa fixação que alguns tem em um deus, em que tudo no mundo gira em função dele, como se todo assunto devesse ser legislado pelas suas palavras, como se aquele deus fosse perfeito (como se existisse isso)."

POis eu te digo, amigo, que Jesus jamais pretendeu ser um deus! Ele referia a si mesmo como sendo o Filho do Homem, alguém profundamente humano e que pode muito bem ter buscado desmitologizar a ideia que os israelitas tinham acerca do Messias.

Sob certo aspecto, o messias também é o próprio homem. Ou seja, todos devemos ser messias uns dos outros, pastores e cuidadores. Pois quando o Evangelho mostra aquela parte em que Jesus disse que quando praticamos algo em benefício dos "pequeninos" é ao Messias que estamos fazendo, na prática ele está apontando para onde se encontra o Messias.

Ora, isto é de fato libertador e contraria a própria ortodoxia cristã (seja católica ou protestante) porque rompe com as ideias absurdas de autoridade e hierarquia dentro da Igreja. Rompe com a ideia de um homem "pontífice" para que todos nós possamos construir as pontes.


"Faço-te um desafio: cite-me uma passagem em que você discorda de Jesus."

Manos, eu não sei o que Jesus de fato falou! Embora eu leia e extraia grandes ensinamentos dos 4 evangelhos gregos da minha Bíblia, tenho dúvidas se as palavras ali atribuídas a Jesus sejam ditos autênticos do Mestre. Pois Jesus mesmo não escreveu livro algum. Por sua vez, não foram Mateus, Marcos, Lucas e João que de fato escreveram tais livrops que levam seus nomes, visto que nem o texto informa de quem seja a autoria. Mas fica evidente que foram os gregos do final do século I ou começo do século II que redigiram os evangelhos e escreveram para um público também grego, sendo certo que, posteriormente, houve alterações praticadas pela Igreja e trechos dali podem representar mais doutrina eclesiástica do que ditos de Jesus. Inclusive há estudos que apontam no sentido de que os ditos autênticos de Jesus podem corresponder a 17%. E mesmo as narrativas evangélicas podem ser criação posterior dos padres, inclusive sobre o nascimento virginal cujas histórias de Mateus e de Lucas não as descarto como bons ensinamentos.

Sendo assim, minha postura é de humildade com relação ao judeu Yeshua ben Yosef que teria vivido nas três primeiras décadas. Eu creio que ele é o Messias, o verdadeiro rei de Israel indistinguível pela sua nobreza de caráter e aperfeiçoamento a ponto de entregar sua própria vida afim de que seu povo (e todos os povos com o Israel espiritual) fosse verdadeiramente livre. Uma liberdade que não se conquista apenas com um movimento político como propunham os zelotes, mas inclui uma revolução interior sem a qual o homem é capaz de repetir novamente os mesmos regimes opressivos de seus algozes.

Abraços.
Em tempo!

A chave da coisa não está em discordar, mas sim em compreender uma mensagem.

Toda mensagem quer expressar algo e os ditos atribuídos a Jesus, embora muitas das vezes hiperbólicos, isto é, propositalmente exagerados, exigem um certo esforço do leitor dos evangelhos sinóticos.

Gosto muito do Evangelho de Marcos que msotra um Jesus bem humano e não entra nos detalhes acerca de seu nascimento virginal, sendo complementado pela chamada "tradição Q" (passagens que são comuns a Mateus e Lucas mas não aparecem em Marcos), bem como pelos trechos específicos de Mateus e de Lucas.

SObre João, devemos ver ali uma ideologia posterior da Igreja que diviniza Jesus a tal ponto que, em certos momentos, chega a atentar contra sua humanidade. Ora, tenho dúvidas de que Jesus tivesse recebido adoração e muitos diálogos e trechos narrativos do 4º Evangelho podem ser pura criação de uma Igreja grega no século II. Só que ainda assim eu busco extrair a essência da mensagem e vejo excelentes ensinamentos em João (que obviamente não pode ter sido escrito pelo apóstolo João que é tido em Atos como um humem iletrado e inculto assim como Pedro).
Eduardo Medeiros disse…
putz, o rodrigão já falou tudo o que eu queria falar...assim não vale....rsss
Levi Bronzeado disse…
Mas fica evidente que foram os gregos do final do século I ou começo do século II que redigiram os evangelhos e escreveram para um público também grego, sendo certo que, posteriormente, houve alterações praticadas pela Igreja e trechos dali podem representar mais doutrina eclesiástica do que ditos de Jesus” (Rodrigo)

A grande maioria dos que professam a religião cristã, ficaria atônita com a afirmação acima.(rsrs)

Eles, não entendendo que a figura de Cristo foi mitificada pelos gregos, ainda continuam esperando que o Filho do Homem volte sobre as nuvens para trazer a salvação e a condenação como juiz do mundo. Nós, aqui, sabemos que essa concepção é mitológica, e que naquele tempo foi muito tempo difundida entre judeus e gentios, sendo posteriormente transportada para a pessoa de Jesus.

Bultmann, acha que essa concepção de Filho de Deus preexistente, que desce ao mundo em forma humana para redimir a humanidade forma parte da doutrina gnóstica da redenção. Para ele, essa concepção mitológica do mundo e as representações da escatologia, do redentor estão superadas por carecerem de valor.

No frigir dos ovos, e de acordo com Bultmann, sobre os evangelhos, temos que nos ater unicamente as suas partes: ética, social e psicológica, ressaltando a mensagem que os evangelhos trazem e não a pessoa de um Cristo helenizado.

Mas me diga mesmo Rodrigo, o que sobra das mensagens das igrejas cristãs de hoje, quando tudo que pregam está impregnado do “andar de cima” e do “andar de baixo” do Universo?

Não sei se você tem o mesmo modo meu de pensar: acredito que todos os elementos míticos, como satanás, anjos, céu, inferno, paraíso, etc , são metáforas dos afetos profundos de nossa mente, pois, nada, realmente, deve existir fora dela. O mito cristão, simplesmente, traduz o que há de bom ou de mal na pessoa em forma de fantasias e figuras, que por sinal, foram íntimas de todos nós, no início da formação de nossa personalidade.
Levi Bronzeado disse…
Rodrigo

Quando tiver um tempinho, acesse o link abaixo, sobre um sucinto ensaio que tem muito a ver com o meu último comentário:


http://cpfg.blogspot.com/2010/06/sobre-nossos-demonios-interiores.html
Eduardo Medeiros disse…
levi, se o "pastor rodrigão" pregar isso na igreja dele ele será cordialmente convidado a se retirar do púlpito...quiçá, do rol de membros...rssssss

fiquemos com bultmann: tirem o mito e deixem o querikma. ou façamos como niebuhr, usemos o mito para explicar o kerigma.
Prezados Levi, Eduardo e demais.

Penso que a atitude da religião em relação aos mitos deve ser reformulada conforme a linguagem dos dias de hoje. Não acho que precise ser excluída como sendo um discurso ingênuo e fantasioso que perdeu sua razão de existir nos tempos atuais.

Por outro lado, não se pode tratar a fé em Deus como uma ilusão de uma personalidade neurótica como se o crente estivesse buscando no sobrenatural um substituto da aconchegante proteção paterna e materna que lhe capacite a enfrentar as ameaças da vida. Logo, embora eu considere a visão psicanalítica do Levi a respeito da espiritualidade, penso que não devemos reduzir ao universo da nossa mente a visão das coisas divinas.

AInda que muitos crentes façam esta substituição do pai terreno pelo Pai celestial, penso que a figura de Deus não se confunde com a de nossos genitores. Estes podem até servir de metáforas para expressar um amor tão gracioso que palavras não são capazes de definir.

Os elementos míticos são ao mesmo tempo metáforas e uma expressão, uma linguagem. Logo, não discordo de que Satanás (o adversário), os anjos (mensageiros personificados), o paraíso e o inferno sirvam de representações. E são representações mais de uma cultura antiga do que dos tempos de hoje e que ganharam novas formatações durante o período medieval e no mundo islâmico.

Hoje eu penso que o saber científico pode tornar-se os novos elementos metafóricos para exprimir a Suprema Realidade, a qual perpassa a todos nós.

Não podemos achar presunçosamente que o nosso conhecimento do início do terceiro milênio seja algo pronto e acabado pois, futuramente, vários dos nossos conceitos serão compreendidos dentro de uma nova visão (vejam por exemplo o que é o átomo para a ciência hoje e qual o conceito de um século atrás). Porém, é dentro da compreensão atual que devemos nos comunicar e entender qual o propósito do Evangelho de Cristo e como que a Torah (instrução) é atemporal.

Quando digo que não podemos reduzir as coisas ao universo da mente humana é porque, na verdade, não somos seres isolados e fazemos parte de uma coletividade universal de seres. Temos em nós os mesmos elementos que surgiram na origem do universo e que se acham presentes neste mundo e em outros. Continuamos sendo filhos da terra, inegáveis descendentes de Adam (palavra que vem do hebraico 'adamash' significando terra) e homens (palavra que vem de húmus). Logo, há Algo de misterioso por trás de toda esta existência e que deve ser reverenciado, levando-nos a respeitar a Vida e a preservarmos tal como instintivamente fazem muitos animais com os seus filhotes chegando a enfrentar a morte física protegê-los.
Continuando...

Neste sentido, eu entendo Jesus como o cara que veio nos ensinar a viver. Abrindo mão da própria vida, seu ato me comunica a mensagem de que reencontramos a Vida quando passamos a viver por Ela. Quando entendemos que a nossa existência não pode estar baseada numa satisfação individual e sim coletiva tanto da espécie quanto dos demais seres e do planeta. E, ainda que grande parte dos relatos sobre Jesus tenha sido acrescentado e modificado pela Igreja, o seu ato de entregar a vida já é mensagem suficiente para me evangelizar e fazê-lo ressurgir sempre vivo em meu coração.

Certamente que pesquisar o nosso consconsciente torna-se importante para aprendermos a lidar melhor com a Realidade que nos cerca visto que a revelação do Eterno se dá no íntimo de cada ser. Pois se trata de um auto-exame e que se torna indispensável para que eu faça parte do corpo de Cristo no sentido de identificar-me com sua obra sacrificial e lavar-me no seu sangue do meu pecado (entender que é dando o sangue que o homem vence o pecado que assola o mundo).

Uma vez feito isto, não há como Cristo não ressurgir para o crente e o crente viver Nele, pelo seu sacrifício. A morte torna-se uma mera aparência porque passamos a estar novamente conectados à verdadeira Vida. E, quando morremos, o corpo desfaz-se pela ação da natureza enquanto nossa energia que nos anima retorna para o todo, harmonizando-se com o universo de onde todos fomos criados. E intimamente passamos a ter a convicção de que fazemos parte de uma Vida só, tendo aqui mesmo optado por contribuir pela sua continuidade nas futuras gerações e nos demais seres que nos sucederão.

Jesus Cristo morreu prematuramente aos 33 anos. Mas é esta morte, no auge dos dias de um homem, que é capaz de nos sensibilizar para o papel que devemos ter na nossa breve existência. Pois é agindo como Ele que iremos desencadear o processo de redenção mundial afim de que a Vida possa prevalecer sobre o desejo destrutivo do homem.

Jesus é realmente o Caminho, e a Verdade e a Vida. E, através dele, podemos chegar ao Pai. Nâo ao nosso pai biológico, mas ao Pai de toda a Vida e que é a Vida.

Aleluia!
Em tempo!

Permitam-me expressar um pouco mais embora talvez eu possa ter abordado os pontos essenciais das últimas colocações do Levi e do Eduardo. Peço que suportem um pouco mais a minha prolixidade e o desejo de compartilhar as ideias que perturbam minha mente (rsrs).


"Mas me diga mesmo Rodrigo, o que sobra das mensagens das igrejas cristãs de hoje, quando tudo que pregam está impregnado do “andar de cima” e do “andar de baixo” do Universo?"

Olha, Levi. Acho que uma desmitologização não seria tão destrutiva para a Igreja. Certamente colocaria em questionamento tudo aquilo que foi dito anteriormente, coisa que ofende mais ao catolicismo do que o protestantismo. Uns teólogos fariam um tremendo malabarismo para tentarem conciliar as ideias do passado com as do presente e, desta forma, manterem a credibilidade papal ou das doutrinas de suas instituições.

Porém, eu acredito que o movimento cristão iria estar se renovando como ocorre com todo movimento. Pois se as igrejas permanecerem ainda presas às suas doutrinas, elas não suportarão o sopro do Espírito. Não vão resistir às mudanças.


"se o "pastor rodrigão" pregar isso na igreja dele ele será cordialmente convidado a se retirar do púlpito...quiçá, do rol de membros...rssssss"

Acho que não! Na igreja onde eu me congrego eu e o pastor, além de outros irmãos, trabalhamos com a desconstrução doutrinária. Mas sempre é muito difícil de levar certas mensagens ao púlpito porque os ouvintes nem sempre suportam ou compreendem.

Por outro lado, tenho meditado sobre como dosar e tornar objetivo um processo de desconstrução. Isto porque, além de ver proveitos no mito para fins de comunicação da mensagem do Evangelho (grande parte do pessoal que se congrega lá veio de outras igrejas evangélicas), penso que devemos ser amorosos com o nosso irmão e buscando promover mais a transformação do caráter do que levar o indivíduo a uma situação onde ele possa acabar desacreditando em Deus e se desviar. E aí a descrença acaba se tornando uma opção de quem resolve encontrar desculpa para uma vida libertina.

Na boa, o público com o qual muitas das vezes eu lido não tem muita condição de saber quem foram os gregos e as doutrinas do cristianismo. Eu mal consigo passar alguma noção de cronologia bíblica para o povão deste país, então já não sei se terei algum sucesso conclusivo em desmitologizar historicamente o cristianismo. Mas vejo proveito em ajudar as pessoas a vivenciarem a fé pela experiência delas mesmas.

Por várias vezes eu já me vi como um intelectual arrogante querendo derrubar certos conceitos das mentes das pessoas. Então percebi que é perda de tempo querer que elas vejam o mundo pelas mesmas lentes que eu e descobri que o melhor é tentar entender qual a compreensão delas sobre o mundo. Logo, eu não dispenso os termos da cultura cristã e evangélica para interagir com os demais crentes. E olha que eu já me surpreendi bastante com a sabedoria dos mais humildes...


"fiquemos com bultmann: tirem o mito e deixem o querikma. ou façamos como niebuhr, usemos o mito para explicar o kerigma."

Boa, Edu! Aproveitemos todos estes pensadores. Só que a minha proposta seria deixarmos os mitos e o querigma. E, como já disse antes, precisamos saber evangelizar na linguagem atual de modo que se um mito já não mais explica, descartemo-no ou atualizemos o seu significado para o linguajar de nossa cultura e de nossa época. Usemos a criatividade e façamos também novas parábolas da Vida e consideremos tudo o que existe de nacional para expressarmos o sentido do Evangelho num excelente tom. Tanto Bultmann quanto Niebuhr ajudam.
Levi Bronzeado disse…
“Jesus é realmente o Caminho, e a Verdade e a Vida. E, através dele, podemos chegar ao Pai. Nâo ao nosso pai biológico, mas ao Pai de toda a Vida e que é a Vida.”

No que diz respeito à afirmação acima, Rodrigo, o Islã não ver essa “verdade particular ” com bons olhos.

O “Duelo religioso” junto com o vídeo que postei recentemente lá no “Ensaios & Prosas” mostra que uma luta entre verdades religiosas é sempre uma luta entre surdos, isto é entre partes que não se entendem.

Veja o que diz o Alcorão, a respeito do dogma “ Jesus – filho de Deus”:

“Dizem: “Deus teve um filho!” Glorificado se já Deus;Ele é opulento; Seu é tudo quanto há nos céus e na terra! Que provas tendes referentes a isso que dizeis? Direis acerca de Deus o que ignorais? Dize-lhes: “Aqueles que inventam mentiras acerca de Deus não prosperarão!
(Sura10, 68-69)

Entendo que Judeus, cristãos e muçulmanos estariam desfrutando de uma tolerância maior , ou mesmo harmonia, se compreendessem que tanto os elementos da Torá, quanto o mito da segunda pessoa da trindade, quanto as alegorias do Alcorão devem ser entendidos hoje como linguagem metafórica, que contrariamente à maneira tradicional religiosa, quer mostrar os símbolos como significados subjetivos. A dissociação entre o subjetivo e o objetivo no conhecimento, é a meu ver, a doença central de nossa cultura.

Assim sendo, todas as vivências, em todas culturas religiosas tem seus símbolos estruturantes, mas a função estruturante é a mesma. Vejamos: uma pequena amostra, como exemplo, de como os religiosos tem arquétipos psíquicos comuns uns aos outros.

O muçulmano diz: “Tenho raiva de um político corrupto”. O Cristão diz: “Tenho raiva de um fundamentalista”. Para o islamita o político é um símbolo estruturante de sua psique e a RAIVA e a sua função estruturante. Para o cristão, o fundamentalista é um símbolo estruturante e RAIVA é uma função estruturante. Veja que a RAIVA é uma função comum tanto a cristãos como a muçulmanos. Era isso que as religiões deviam mostrar para conviverem pacificamente, sem essa história de fazer prosélitos.

Jesus – é um símbolo estruturante da psique do homem ocidental. Maomé – é um símbolo estruturante do povo árabe. A função estruturante do muçulmano e do cristão têm a mesma raiz psíquica.

Jesus para o cristão e Maomé para o Islã são O caminho, a verdade e a vida”
Para a Psicologia Simbólica, a função estruturante que é a essência do símbolo estruturante, é quem atua de forma livre e criativa, contribuindo para o crescimento da Consciência, o caminho do Bem e da auto realização no processo de humanização.

Ainda tenho esperanças de que os sábios das três grandes denominações Abraâmicas combinem entre si para entender os textos sagrados, não ao pé da letra (que é uma sandice), mas que cheguem um dia a compreender que as escrituras sagradas ensinam-nos que nossos afetos profundos paradoxais não devem ser projetados nos outros. Talvez, chegue esse dia em que abaixaremos as armas, para compreendermos verdadeiramente que esse “reinado” entre “Monarca e súditos” - são arquétipos existentes na PSIQUE de todos indivíduos de todas as culturas. Aí então, o “Lobo” e o “Cordeiro”, como metáforas dos nossos sentimentos, habitarão juntos, sem se estranharem, sem Jihads e sem Cruzadas.
Prezado Levi,

Vejo que às vezes falamos das mesmas coisas com liguagens nem sempre iguais mas que em essência buscam promover o diálogo dentro daquilo que, como bem expôs, seria a "função estruturante".

Penso que entre as três religiões abraâmicas há pessoas que se esforçam para chegarem a uma compreensão. Porém, o povo continua servindo como massa de manobra para líderes que jogam com a ignorância das pessoas.

Como promoveremos um diálogo entre muçulmanos e cristãos no Brasil se existe gente oportunista como este Silas Malafia que tem convocado evangélicos (e católicos também) para uma manifestação dia 29 contra a união estável entre homossexuais? Pois se trata de um sujeito extremamente pernicioso igual a muitos radicais (ou que se aproveitam do radicalismo) espalhados também pelo mundo islâmico e judeu.

Se dependermos destes caras, vamos continuar vendo novas cruzadas como foi a recente guerra de Bush contra o Iraque. Logo, percebo que cada denominação abraâmica precisa aprender a se revolucionar. E se nós cristãos temos esta visão, que comecemos a fazer isto no nosso meio. Não concorda?

Abraços.
Levi Bronzeado disse…
Caro Rodrigo


O Silas ao convocar uma "guerra santa" contra a união estável dos homossexuais assumiu de vez o espírito de Bin Laden.

Temos agora o nosso "Bin Laden Pentencostal", que quer implodir, na base de uma uma insana prepotência, os pilares básicos da carta magna de nossa nação.

Agora, eu quero ver mesmo se ele tem coragem de expulsar um casal Gay de seu curral religioso(Vitória em Cristo) - rsrs

Rodrigo, veja o que diz o meu amigo psicanalista cristão Antônio Ayres, de cujo blog (PSICOTEREPEUTA CRISTÃO) sou um seguidor, em seu artigo: "A Mesma Mente Que Nos Protege Nos delata" , que cai como uma luva no caso do senhor das cruzadas malafaianas:


É IMPORTANTE SABER ISSO?

Obviamente, é muito importante conhecer o funcionamento desse mecanismo de defesa para entendermos, muitas vezes, o que está subjacente àquilo que ouvimos, vimos ou presenciamos.

Vamos a alguns exemplos, que podem estar presentes em nossa vida cotidiana. Se o pastor de determinada igreja faz um sermão no qual condena a sensualidade e a pornografia, ele está fazendo aquilo que é inerente à sua função de cuidar de seu rebanho.

Mas, se esse mesmo pastor demonstra obssessão por pregar sempre contra a sensualidade e a pornografia,muito provavelmente ele é que está sendo alvo dessas tentações e deve estar seduzido por elas.(aqui, eu acrescentaria a luta obsessiva contra o homosexualismo)

Um outro exemplo: aquele televangelista que está continuamente apontando na TV os "críticos de mau caráter" pode, simplesmente, estar demonstrando que o "crítico mau caráter" é ele mesmo.

Vemos, pelo que aqui foi exposto que o nosso cérebro e a nossa mente são como uma faca de dois gumes. Eles, com toda certeza, nos protegem. Mas podem, também, nos delatar.


Tony Ayres



Read more: http://psicoterapeutacristao.blogspot.com/2010/03/mesma-mente-que-nos-protege-nos-delata.html#ixzz1LzM2pBf3
Eduardo Medeiros disse…
cambada, cadê o mirandinha e o hubinho?

levi, sua esperança também é a minha. tenho escrito sobre isso lá no caminhos da teologia. como o rodrigo falou, quem sabe os do nosso meio que estão aptos a entender isso não começam a pensar?

mas se isso ocorrer, infelizmente, será daqui há muitas décadas, mudanças como esta levam tempo. não seria maravilhoso que cada religião visse apenas o que a sua e as outras têm de bom e que tudo o que for bom para uma pudesse completar a outra?

sei, sei, utopias...
Edu,

Mudanças podem levar décadas, séculos, milênios ou às vezes breves instantes.

Quem imaginava que o mundo árabe estaria passando por tantas transformações neste 2011?

Quem podia prever a queda do muro de Berlim e o fim das cortinas de ferro do comunismo no final da década de 80?

E o que dizermos sobre o movimento de maio de 68?

Assim, penso que devemos estar atentos para as tendências dos nossos dias afim de nos posicionarmos.

Acho que se uma ideia surge nas nossas mentes é porque ela pode também estar em outras pessoas. Só precisamos saber compreendê-las e as expressarmos de modo que o outro também compreenda.

Sem querer mistificar as coisas, parece que, reprentinamente, surge um mover energético que que se espalha como ondas pela sociedade com forte potencial para revolucioná-la.

Aí eu te pergunto, amigo. Qual é a tendência atual dentro da sociedade brasileira? O que ela deseja? Como nossos jovens têm se sentido? O que eu, você e outros têm pensado?