Ademilde Fonseca - Tico-tico no fubá (1942)































Esse mês de março está de lascar!! 

De lascar com a cultura popular brasileira. Primeiro o Chico, depois Ademilde e agora, Millôr!! Céus, onde vamos parar? 
Como é triste perder três grandes talentos assim, um atrás do outro.


De Ademilde minha mãe falava com orgulho: "Ela é do Rio Grande do Norte" (ela mesma, uma natalense orgulhosa). Ela costumava cantar para eu ouvir "Tico-tico no fubá", música de Carmem Miranda e grande sucesso de Ademilde. E eu, garoto, reclamava: "Canta mais devagar, mãe, não estou entendendo nada..." 


Saudades  de Ademilde. Não foi da minha "época" como gostamos de dizer, mas eu tenho o péssimo hábito de admirar cantores que não foram da minha época. Saudades também da minha mãe, que apesar de viva e com boa saúde, mora hoje quase que completamente num mundo só seu.








O Diário do Nordeste publicou uma síntese da sua carreira:


Em 1941, foi para o Rio. Na cidade, receberia de Benedito Lacerda o título de rainha. Em 1942, gravou o primeiro dos mais de 50 discos (a maior parte, 78 rotações; nos anos 40, 50 e 60, por vezes lançou mais de um por ano). Os maiores sucessos seriam "Tico-Tico no Fubá" - o primeiro de todos -, "Brasileirinho", "O Que Vier Eu Traço" e "Apanhei-te Cavaquinho". Apresentou-se com Canhoto, Jacob do Bandolim e Pixinguinha e com a orquestra de Radamés Gnattali. Também gravou maxixes, marchas e sambas. Excursionou pelo País e pela Europa.


Tico-tico No Fubá
Carmen Miranda


Tico-tico
Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Ó por favor, tire esse bicho do celeiro
Porque ele acaba comendo o fubá inteiro
Tira esse tico de cá, de cima do meu fubá
Tem tanta coisa que ele pode pinicar
Eu já fiz tudo para ver se conseguia
Botei alpiste para ver se ele comia
Botei um galo, um espantalho e alçapão
Mas ele acha que fubá é que é boa alimentação

O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer é mais minhoca e não fubá

Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
 Que vá comer é mais minhoca e não fubá

Comentários

Eduardo Medeiros disse…
Caros colegas,

não suporto vim aqui e ler reclamações do "grito do silêncio" que muitas vezes se faz presente no nosso meio. Dói-me o coração visualizar o Mirandinha ávido por uma boa postagem e ler apenas o silêncio...

Então, pronto, acabei com o silêncio na base do chorinho, numa homenagem à Rainha do Choro que foi cantar agora nos píncaros da glória celestial.

Não é um post "pensante" mas com jeitinho dá pra filosofar sobre a morte, sobre o chorinho e sobre o humor.

Ah, e sobre a saudade...
Levi B. Santos disse…
Justa homenagem, Eduardo

Não posso esquecer a Ademilde.

O chorinho "Tico-Tico no Fubá" foi alvo de minhas primeiras incursões no mundo da música. Deu trabalho, mas eu aprendi a dedilhar esse ícone dos chorinhos, nas cordas de um cavaquinho - primeiro instrumento musical que embalava minhas noites de estudante ginasial.

Que saudade...
Pois é, Edu. Foi o que acabei de escrever no blogue do Levi sobre o Millôr Fernandes:

"Com o coração triste vamos aos poucos nos despedindo das pessoas que nasceram antes da 2ª Guerra e que foram bem presentes em nossas vidas durante algumas décadas."

E, junto com todos estes grandes nomes, também perdi minha avó materna nascida em junho de 1935!

Ela não era considerada nenhum talento nas artes, mas fez parte desta geração que hoje se despede. Pois certamente ouviu aquelas belas músicas nacionais que antecederam ao estrangeiro rock, riu de muitas piadas daqueles criativos humoristas que não precisavam apelar tanto pra imbecilidade de hoje, assim como teve a oportunidade de ler escritores e poetas de qualidade.

Mas que geração foi aquela em que as pessoas não perdiam seu tempo ouvindo estas músicas horrorosas de funk como "Dança da bundinha" e coisas piores ainda?! Pois naquele tempo ainda havia mais gosto cultural. A população brasileira, mesmo com menos escolas e diplomas, ainda preservava suas raízes porque tinha formação.

Assim vão os saudosos artistas e seu público de um outro tempo, deixando aos seus sucessores uma grande herança cultural para que possamos cultivar mais qualidade nos nossos interesses de lazer.

Abraços.
Vejam como as mães nordestinas são iguais, todas que nasceram antes da grande guerra cantaram esta música para seus filhos.
Tico-tico no fubá foi composta em 1931 por Zequinha de Abreu e Eurico Barreiros, gravada em 1931 pela orquestra Colbaz e popularizada em 1940 na voz de Carmem Miranda mas ninguém fez dela uma canção como Ademilde.

Quer dizer, então, que o silêncio ensurdecedor foi rompido pelo Eduardo Medeiros. Minhas felicitações! "Não existem mais surdos como antigamente".
Edu meu caro, tudo que nasce, cresce e morre. Os seres humanos também, uns morrem de câncer, outros de falência múltipla de órgãos, outros de cirrose e alguns ervados.Pena é que não está havendo substitutos à altura destes valores. Nossa cultura também está entrando em colápso. Estamos rezando e entrando nas cavernas.
Eduardo Medeiros disse…
Levi,

quer dizer que mandas bem também no cavaquinho???!!! Eu tinha um tio(irmão de minha mãe) já falecido, que era músico profissional e um excelente tocador do "violão pequeno"(como eu imaginava que o cavaquinho fosse quando eu era garoto).

então fica combinado assim: você nos deve dois concertos: um de paiano e um de cavaquinho...rsssssss

vamos arejar um pouco esta confraria com belos saraus.
Eduardo Medeiros disse…
Mirandinha,

valeu pela correção, pensei que tico-tico fosse composição da Carmem Miranda.

E eu concordo com você. Nossa cultura, tanto musical quanto literária está em franco declínio.

O nosso extremo relativismo cultural nos impede de dizer que o funk é uma droga e que bossa nova é musicalmente mais rica. Tenho um grande amigo, filósofo, enganjado em causas sociais que defende com unhas e dentes a "cultura da favela"; digo a ele que eu não critico a cultura da favela, mas critico o valor artístico e cultural do funk que se faz nas favelas. Não podemos chamar de arte uma coisa de uma nota só(excetuando, claro, o "samba de uma nota só"), batida e repetida duas mil vezes, cuja letra se resume em "bunda", "chão" e "desce".

Todos nós morremos, Mirandinha, é certo, mas enquanto vivemos, procuremos viver da melhor forma possível.

Vê se controla bem essa tua diabete com boas caminhadas diárias, visita regular ao médico e boa alimentação...rss (não sou o médico da confraria mas estou repetindo o que todo médico diz...)
Eduardo Medeiros disse…
Rodrigo,

eu gosto muito de música boa, inclusive de Rock. Sou uma pessoa esquisita. Ao mesmo tempo que me enlevo com uma sinfonia de Chopin ou Mozart(e outros clássicos), adoro rebolar ao som de Elvis...kkkkkkkkkkk
Edu meu caro,

Vou começar a cobrar como professor já que vai me cobrar como médico. Paiano vem de paio e cavaquinho é um pequeno pedaço de cavaco. Não sou diabético, posso não acreditar na existência de Deus mas diabético eu não sou "ainda".
Edu, não existe cultura no analfabetismo. Exibir orquestra sinfônica com música clássica em favelas é ofertar caviar para porcos. Para mim o funk é um batuque de senzala e muito ruim.
As vezes que vi apresentação de música clássica em favela, os instrumentos foram motivo de chacotas e os que aplaudiram foram julgados insanos pela maioria.
Edu meu caro,

Como você demorou a replicar e sou impaciente, gostei da (não?) intencionada gosação. Você publicou o vídeo com uma letra e redigiu uma outra letra da mesma música.
Eduardo Medeiros disse…
kkkkkkkkkkkk

MIrandinha,

primeiro te chamei de diabético, perdoe-me, foi um equívoco, é pressão alta que você tem né? hiii, nem sei mais, mas seja o que for, continua valendo a dica. Caminhadas, caminhadas e caminhadas e comer bem...

A letra do vídeo de fato está diferente, não foi intencional não. Aí eu não sei qual é o mistério...será que há duas versões da mesma letra ou esta letra que eu pesquei num site de música está errada?

Nessa tenho que chamar os universitários. (Levi e você)

E quanto a orquestras em favelas, já sou totalmente contrário à sua opinião. Acho bom jogar pérolas aos "porcos", vai que algum "porco" consegue admirá-la? Aqui no Rio de vez em quando a orquestra sobre algum morro e a galera gosta muito. O problema é que os porcos acham que só existe lavagem para ele comer, já que é o que lhe dão sempre...
Não se pode chamar a todos os animais que estão dentro do chiqueiro de porcos, lá estão, também, os tratadores. Mas convenhamos, cheiram iguais.

O bom gosto musical,Edu, vem da alma. É um sentimento intra uterino intransferível. Para apreciar a arte da música é necessário ter sensibilidade, uma condição imprópria ao submundo.
Intra uterino no sentido de sua formação, a priori.