A Alemanha e o multiculturalismo

Merkel diz que o multiculturalismo "falhou redondamente na Alemanha".



Abaixo, um trecho do artigo publicado no site  publico.pt Recomendo a leitura completa do artigo.


A Chanceler quer que os 15 milhões de imigrantes aceitem os valores cristãos germânicos e aprendam a falar a língua, se não quiserem deixar de ter lugar no país. 

A chanceler alemã, Angela Merkel, lançou nova acha para a fogueira do já incendiado debate em curso no país sobre a imigração - e em particular do islamismo -, afirmando que a tentativa de criar uma sociedade multicultural na Alemanha "falhou redondamente". E exigiu aos imigrantes que aceitem e se integrem de acordo com os valores germânicos, sob a pena de perderem o seu lugar no país.   

(...) 

A tendência crescente de xenofobia e anti-islamismo na Alemanha foi expressa, de resto, num detalhado estudo publicado quarta-feira pela Fundação Friedrich Ebert (com ligação ao SPD), que mostra um terço dos alemães a defender a repatriação dos imigrantes. O mesmo estudo revela que mais de metade dos alemães - 58,4 por cento - é favorável a restrições à prática do islão, e 55,4 por cento disse "compreender que os árabes sejam vistos por algumas pessoas como sendo desagradáveis"

(...) 

Ao longo desta discussão, Merkel - sob pressão da linha mais dura dentro da CDU - tem tentado não hostilizar nenhum dos lados do debate. E o argumento a favor da mais profunda integração dos imigrantes na forma de vida alemã tem vindo a ser temperado com declarações em que, por exemplo, insta os alemães a aceitarem que as mesquitas se tornaram parte da sua paisagem social e cultural.

Comentários

Eduardo Medeiros disse…
Problemas com imigrantes na Alemanha sempre ressuscitam o fantasma do nazismo. Em plena Primeira Guerra, um certo cabo que tinha a função de mensageiro chamado Adolf Hitler, escreveu em uma carta a um amigo:

" .. Liquidar com isso, custe o que custar, e que aqueles de nós que tiverem a sorte de rever sua terra natal a encontrarem mais purificada dos elementos estrangeiros..."(A Biblioteca de Hitler)

Tema bom para se debater. Atual e relevante: xenofobismo, multiculturalismo, intolerância, tensão religiosas etc.

Enquanto os confrades da vez não publicam nada, eu aqui vou alimentando a nossa confraria... rss
Levi B. Santos disse…
Eduardo

Muitos analistas da sociologia consideram uma utopia pensar os EUA como centro multicultural por excelência. Segundo eles, o mundo e os EUA vão se tornando inexoravelmente mais uniformes, e não diversos do ponto de vista cultural”

”A pílula batizada de “multiculturalismo” transformou-se na mitologia de nossa época” ― afirmou o historiador Henry S. Kariel em seu livro “O Declínio do Pluralismo Americano”

Pode ser que a Ângela Merkel esteja revelando o óbvio: o de que todas as culturas diferentes, no fundo sonham com o sucesso da cultura hegemônica (no caso: a americana e a germânica) .

Em suma, é extremamente difícil se nadar contra a maré das irresistíveis forças da assimilação.
Levi B. Santos disse…
(continuando)

No que tange a religião tanto a Alemanha quanto os EUA estão rezando pelo Apocalipse de João: o de um só rebanho e um só pastor (desde que seja “cristão”).

Sobre o que você ventilou sobre o Nazismo:

Não devemos esquecer que foi sob a bandeira do cristianismo que o mensageiro Hitler, tentou purificar o “Reino de Deus” dos elementos estrangeiros. (rsrs)
Levi B. Santos disse…
Essa fala da Merkel tem pano para muitas mangas (rsrs)

Na verdade o Totalitarismo presente no fascismo, no nazismo está presente na figura que os judeus fizeram de Javé (que separou um povo virtuoso para si ou em seu nome), como bem expressa esse trecho pinçado de um artigo de Luiz Nassif ( http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/religiao-e-as-origens-do-totalitarismo-moderno )

“Mas tudo mudou com a institucionalização da Igreja no século II DC: os padres da primeira Igreja como Tertuliano de Cartago pressentiram a necessidade de racionalizar os dogmas da religião através de termos como “ortodoxia” oposta da “heresia”. Pela primeira vez surge a necessidade do controle do pensamento por meio de uma forma de Poder. Além de conquistar terras, escravos e riquezas, pela primeira vez as estratégias políticas de dominação passaram a ter necessidade de reprimir por diversos instrumentos qualquer pensamento divergente da norma. Essa é a origem das modernas formas de Totalitarismo como o fascismo, nazismo até instrumentos contemporâneos da “nova inquisição” como as redes sociais na Internet e teorias conspiratórias como a ‘illuminatifobia’.”
Levi B. Santos disse…
Não sei se entra aqui o sionismo, como forma de totalitarismo.

Aguardo as intervenções de Edu, Rodrigo e Donizete, sobre esse tema delicado. (rsrs)
Eduardo Medeiros disse…
Levi, não é certo que choques culturais sempre existiram e faz parte da própria dinâmica humana de preservar aquilo que lhe dá identidade? O desafio sempre foi a convivência com a diversidade, com o respeito a outros valores e culturas que não o seu. Nesse sentido, creio que o mundo moderno, ainda que de maneira frágil, vinha conseguindo construir essa diversidade, principalmente a reboque da globalização econômica; mas tudo parece que degringolou no 11 de setembro. Ali o tal do "choque cultural" se avolumou criando novas tensões entre Ocidente e Oriente, entre cristianismo e Islã.
Eduardo Medeiros disse…
Para deixar o assunto mais claro, segue uma definição de multiculturalismo:

"O multiculturalismo é um princípio que defende a necessidade de se ir além das atitudes de tolerância entre diferentes culturas num mesmo território ou nação. Para os defensores do multiculturalismo, as diferenças entre culturas que habitam um mesmo estado devem ser respeitadas e encorajadas, para que possa haver uma coexistência harmoniosa. A ideia de multiculturalismo está associada a outros fenômenos contemporâneos como o pós-modernismo e o relativismo cultural. Não há, no entanto, um consenso entre os pensadores desse tema sobre a sua definição. São basicamente dois os conceitos mais utilizados de multiculturalismo: um diz que todas as culturas dentro de uma mesma nação têm o direito de existir mesmo que não haja um fio condutor que as una; outro conceito define multiculturalismo como uma diversidade cultural coexistindo dentro de uma nação em que há um elo cultural comum que mantenha a sociedade unida."

http://pessoas.hsw.uol.com.br/multiculturalismo.htm
Eduardo Medeiros disse…
Levi, permita-me mexer nessa questão do totalitarismo estar necessariamente ligado ao judaísmo, sionismo ou cristianismo.
Você escreve que

"Na verdade o Totalitarismo presente no fascismo, no nazismo está presente na figura que os judeus fizeram de Javé (que separou um povo virtuoso para si ou em seu nome"

Creio ser anacrônico demais ver fascismo, nazismo ou comunismo na figura religiosa de Javé e de seu povo escolhido, Israel. Se Javé era totalitário, Dagon ou Baal não eram diferentes. Essa ideia de "majestade suprema" posta nos deuses já carrega em si, o "poder".

Teologicamente falando, a escolha de Israel por Javé não se deu por imposição totalitária, deu-se por pura livre escolha de Javé. Javé amou Israel e este, sempre lhe foi uma pedra no sapato..rss

É possível ver em muitas partes do Pentatêuco, a disposição mosaica de uma tolerância com o diferente, com o "estrangeiro".

"Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito" Êxodo 23:9

"Uma mesma lei haja para o natural e para o estrangeiro que peregrinar entre vós'. Êxodo 12:49

"Por isso amareis o estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. "Deuteronômio 10:19

No entanto, podemos ver também na lei mosaica, algo que a Angela Mekel quer fazer com os muçulmanos ao exigir que eles recebem os valores cristãos:

"Portanto tenho dito aos filhos de Israel: Nenhum dentre vós comerá sangue, nem o estrangeiro, que peregrine entre vós, comerá sangue". Levítico 17:12

Ou seja, aqui, o estrangeiro é obrigado a observar uma prática cultural e cultual de Israel - não comer sangue.

E aí deixo uma questão: é razoável que um estrangeiro que vive e se beneficia de uma sociedade em alguns aspectos superiores a dele (creio que qualquer mulher muçulmana que se mudasse da Arábia Saudita onde ela é proibida de dirigir e fosse para a Alemanha onde mulheres dirigem sem problemas, se beneficiaria dessa "diferença cultural' se ela quisesse), que ele seja exigido de aceitar alguns valores culturais desse país?

Eduardo Medeiros disse…
Levi, outra provocação: até que ponto o sionismo (também) não foi uma reação ao totalitarismo do antissemitismo?
Levi B. Santos disse…
Muito emblemático (e de fundo psicanalítico) Edu, esse seu esclarecimento teológico (baseado no livro de Levíticos) sobre a ambivalência (qualidade de quem tem sentimentos opostos) de Javé, que na verdade não é uma ambivalência dos deuses, mas sim uma ambivalência do homem(portador de sentimentos conflitantes) projetada em deuses. Lógico que a guerra e a intolerância não é entre deuses Javé, Alá, Baal e Dagon e sim entre as ”imagos paradoxais dos afetos” internalizadas na psique humana elevadas a categoria de “deuses”. O desejo por um pluralismo cultural e o desejo autoritário são faces de uma mesma moeda. São afetos contraditórios característicos da condição humana. Ele anseia pela paz entre as nações, e ao mesmo tempo, inconscientemente, faz o contrário.

Como você bem expôs: Javé é contraditório, porque o homem é portador de desejos antagônicos, e não o contrário. Quando eu digo que Javé é dúbio (possuidor do desejo de não interferir na identidade do estrangeiro, e ao mesmo manda o Seu povo oprimir o estrangeiro a não comer sangue), estou dizendo simplesmente que o homem é ambíguo.

A Ângela Merkel, em sua fala, expôs uma das faces de Javé(que não morreu na psique do mundo ocidental) ― “O em minha casa quem manda sou eu” (rsrs)

Por outro lado, o Governo Americano, quando diz que aceita os diferentes sem oprimi-los, está mostrando uma face de Javéa Utópica ― a de desejar “respeitar” os que têm deuses diferentes, muito embora lá no fundo o que realmente quer é que sua cultura hegemônica seja absorvida pelas culturas que considera inferiores. Não é à toa que, atualmente, os EUA criaram toda uma rede de espionagem para VIGIAR e PUNIR os estrangeiros em seu País e fora dele. (rsrs)
Levi B. Santos disse…
(continuando)

Sobre o Sionismo ser ou não uma forma de Totalitarismo :

Entendo que Nazismo, Fascismo e Sionismo, estão dentro do mesmo projeto Totalitarista. O Sionismo – seria um totalitarismo, na medida em que forja um “projeto” em nome de um “Deus” que é mais poderoso do que os demais deuses.

Agora, o Ante-semitismo, não seria uma forma de totalitarismo, num suposto nome de Cristo, uma vez que Hitler, se via, imbuído de propósitos cristãos?
Levi B. Santos disse…
(continuando)

A minha resposta, Edu, a uma pergunta sua sobre “Os Judeus e a Sociedade” (Parte III) ― Artigo publicado no “Ensaios & Prosas” em Janeiro de 2012, vem muito a calhar com o tema aqui debatido (até agora, só por nos dois – rsrs)

“E como deveria ser a condição psicológica dos judeus que buscavam a garantia da sua existência no próprio antisemitismo?” (Eduardo)

"vastas parcelas dos Judeus que se preocupavam com a existência de seu povo descobriram, num curioso e desesperado erro de interpretação, a idéia consoladora de que o anti-semitismo, afinal de contas, podia ser um excelente meio de manter o povo unido.." (Levi)
Caros Eduardo e Levi,

Cumprimento-os, ainda que com certo atraso, pelo excelente texto escolhido e também pelos comentários que postaram.

Digo que a Europa vive um momento bem delicado. Principalmente os países mais ricos da UE, liderada pela desenvolvida Alemanha, que atraem milhões de imigrantes em busca de oportunidades de trabalho. E, entre esses estrangeiros, estão os povos muçulmanos que muitas das vezes nem sabem falar o idioma do local e querem preservar seus costumes e cultura no país de destino.

Por outro lado, o povo local nem sempre consegue receber bem os imigrantes. Ainda mais em tempos de crise econômica em que, devido ao desemprego, os próprios nacionais precisam correr atrás de vagas de trabalho antes ocupadas pelos estrangeiros. Tarefas como dirigir táxis, fazer faxina e a construção civil começam a ser feitas também pelo cidadão de origem quando o seguro do governo já não cobre mais os gastos.

Por outro lado, há que se pensar nos choques culturais. O estrangeiro, ainda mais preservando costumes bem diferentes e formando seus guetos, nem sempre consegue uma boa convivência na sociedade. Ainda mais quando o imigrante tem suas ambições de poder, pratica o proselitismo religioso, tem uma quantidade muito maior de filhos e sonha com uma Europa islâmica. E aí a reação do nacional nem sempre acaba sendo apropriada e muitas pessoas tendem a desenvolver um xenofobismo.

Penso que não podemos confundir a proposta de Merkel com as atitudes de intolerância de Hitler. Vejo nela alguns exageros políticos. Inclusive em querer decretar a falência do multiculturalismo. Contudo, penso ser necessário que o estrangeiro aprenda a língua do país de destino e também se submeta às suas normas jurídicas. A lei, esta sim deve ser o vínculo necessário para se manter uma sociedade multicultural. Do contrário, tem-se uma ruptura que, no futuro, pode levar a uma preocupante divisão e aí a inteligência alemã já prevê o que pode suceder nas próximas décadas.

Uma ótima semana a todos!
Penso que não só o ataque terrorista de 11 de setembro como a imigração em excesso causaram esse declínio multicultural nos Estados Unidos, sendo certo que nem sempre a sociedade norte-americana foi tão tolerante, o que varia e estado para estado. Enquanto o sul sempre foi mais racista e xenófobo, bem como anti-semita, os novaiorquinos foram mais abertos. E vejo aí uma boa influência dos judeus e por que não dizermos também da Maçonaria? Aliás, os EUA, originalmente, eram parte de um projeto de nações, um ideal baseado na liberdade e na igualdade mas que, com o tempo, se degenerou. E um dos pecados teria sido justamente a política intervencionista que atraiu contra a América um sentimento de ódio e de vingança.
Obrigado por se lembrar de mim, Levi. (rsrsrs)

Eu diria que a origem desse erro possar estar lá no universalismo grego - o helenismo, o que teria mais a ver com a nossa formação cultural no Ocidente. Ao se promover qualquer universalismo, há que se ter cautela em relação às tendências totalitárias que existem em todos os grupos. E aí a Igreja também cometeu esse pecado tendo em vista que que o cristianismo ortodoxo acabou se tornando um novo helenismo.

Por outro lado, a característica do sionismo é bem diferente do universalismo. Como uma reação ao anti-semitismo, buscaram os judeus ter a própria terra onde pudessem viver seus costumes de forma plena já que, na Europa e em outros lugares, eram muitas vezes oprimidos. E isso até bem antes do nazismo. Tentando resumir, eu diria que o sionismo propõe o seguinte: "Queremos ter o nosso espaço!"

Sob certo aspecto, o povo alemão também não deseja isso hoje em dia? Eles que conseguiram formar uma nação evoluída não querem ter o desejo de continuar progredindo com o mesmo grau de consciência?

Pois bem. Se a Merkel souber conduzir essa questão sem alimentar a intolerância e o ódio dentro das pessoas, não vejo nada de mal. Sem violar a liberdade individual do outro, podem ser aprovadas leis pelo Parlamento alemão que promovam e protejam a cultural nacional, bem como exijam o aprendizado da língua, a frequência de crianças de ambos os sexos à escola, dentre outras coisas. Acho que obrigar o árabe ou o judeu a comer salsicha ou querer impedir o abate kosh e muçulmano de animais, como fez recentemente a Polônia, já seria uma extrapolação. Mas abolir o uso da burca em locais públicos para permitir a identificação das pessoas (medida de segurança), aí já acho válido.

Atualmente, o judeu pode adaptar-se melhor do que um muçulmano fora de sua terra. E aí algo que devemos reconhecer nos judeus é que eles não são proselitistas. Já os muçulmanos pretendem converter o mundo inteiro à religião deles. Para muitos judeus ultra-ortodoxos, um prosélito continua sendo goim.
Muito interessante o conceito e penso que o elo comum deva ser a legislação concebida dentro do prisma do respeito às liberdades.

Agora vejamos o nosso querido Brasil. Com todas as nossas falhas, corrupção e homofobia na sociedade, somos um bom exemplo de sociedade multicultural. É certo que não temos uma quantidade tão grande de muçulmanos nas nossas cidades, mas vejo que as pessoas convivem relativamente bem dentro de uma padrão que podemos considerar como aceitável.

Assim, o respeito às leis, à democracia e aos direitos humanos são coisas que devem compor esse elo. Não se pode, por exemplo, fazer da religião algo comum. Agora diga-se de passagem que a religiosidade do povo alemão em geral parece ser coisa do passado. Lá a frequência às igrejas católica e luterana tem sido percentualmente baixa se comparado com épocas passadas e as congregações cristãs que mais crescem são as de imigrantes latinos. Eu mesmo conheço um bispo (evangélico) que saiu do Brasil para pastorear uma igreja na Alemanha. Sua filha casou-se com um alemão da gema, mas a maioria dos membros na igreja dele são imigrantes brasileiros e hispânicos.
Alcançar a diversidade e preservar a nossa identidade é, sem dúvida, um enorme desafio.
Até hoje em Israel, apesar do multiculturalismo lá existente, é preciso respeitar certas normas de caráter cultural. Lá não se pode abrir um templo religioso sem a autorização do Estado, o que eu, particularmente, discordo. Exceto no que diz respeito à localização do prédio religioso, penso que permitir as pessoas de se reunirem para a celebração de cultos é uma maneira de se evitar manifestações religiosas em locais públicos.

Levanto aqui um questionamento. É possível termos uma sociedade multicultural convivendo com a religião estatal? Penso que uma coisa não impede a outra desde que se tenha um mínimo de liberdade religiosa. Mas é certo que a oficialização de uma religião, ou mesmo de um grupo delas, pode abrir precedentes de perseguição se não houver nas leis e na constituição do país normas protetivas do direito de culto.
Interessante a sua observação, Levi.

Quanto ao anti-semitismo, eu diria que ele pode ou não conduzir a um totalitarismo. São coisas que independem. Antes de Hitler, a Europa viveu momentos de pluralidade política e partidária, mas uma parcela da sociedade continuava odiando os judeus ou não aceitando o modo distinto de eles viverem.

Contudo, atualmente, tem-se notado uma nova tensão entre os judeus. Devido ao assédio dos grupos judaico-messiânicos, os ultra-ortodoxos começaram a reagir às tentativas proselitistas de evangelização desses cristãos não assumidos. Tanto em Israel quanto nas sinagogas espalhadas pelo mundo. Inclusive entre os sefaraditas sendo certo que estes tentam historicamente se afirmar como judeus na comunidade judaica e aí encontram uma boa oportunidade para ganharem mais pontos com aqueles que são nascidos de ventre judeu. Assim, nesse momento de assédio religioso, há alguns rabinos radicais que buscam espaço para fazerem ecoar suas ideias de não assimilação, o que acaba sendo causa de novos desajustes sociais. Surgiram até conflitos entre esses fundamentalistas e os judeus liberais que foram encontrar-se com o papa Francisco em Aparecida...

Igualmente, a política imigratória de Merkel precisará de muita cautela para que o xenofobismo não aflore. Afinal, o discurso dela representa a nova tendência da direita mundial que não é mais liberal como foram s finados Margaret Hilda Thatcher (1925 - 2013) e Ronald Wilson Reagan (1911 - 2004), mas sim algo com características predominantemente conservadoras.
Levi B. Santos disse…
Ô Rodrigão!

O governo alemão através da chanceler Alemã, “anseia que os 15 milhões de imigrantes aceitem os valores cristãos germânicos”.

Ela com essa retórica não está pondo a barba de molho, para anular a possibilidade de se criar um Estado dentro de outro Estado?

Não sei. Mas ela pode está recorrendo a um passado recente, quando se apregoava o projeto do grande doutrinador do povo judeu na Alemanha ― Benjamin Disraeli:

Benjamin Disraeli foi longe. Diz Hannah Arendt: “Ele sabia que a aristocracia, que, ano após ano se enriquecia comprando títulos de nobreza, externava sérias dúvidas quanto ao valor de tais títulos [...]. [...]Disraeli, embora não fosse o único judeu exceção que acreditava na sua qualidade de escolhido sem acreditar no Deus de quem partira a escolha ― e de quem poderia partir a rejeição ―, elaborou uma doutrina racial a partir desse tolo conceito de missão histórica. Afirmava que o princípio semita representava tudo o que é espiritual em nossa natureza, e que só existia uma aristocracia: a ‘aristocracia da natureza’.

O link abaixo, traz mais subsídios para nossa interação sobre esse delicado tema:

http://levibronze.blogspot.com.br/2013/01/os-judeus-na-sociedade-2-parte.html

Caro Levi,

Não se pode negar que há entre os judeus um etnocentrismo. Aliás, até o advento da era contemporânea, duvido que algum outro povo tenha se portado de maneira diversa. Talvez as diferenças estariam na aneira como se tratava o estrangeiro dentro de seu país e, neste sentido, a Torá buscava ser inclusiva ainda que houvesse obstáculos para a participação na assembleia do povo.

Como bem colocou, a questão é delicada sendo que os interesses de poder acabam sendo uma enorme dificuldade.

Agora permita-me uma observação. Benjamin Disraeli, o Conde de Beaconsfield, foi um aristocrata, tendo sido um importante primeiro-ministro da rainha Vitória. Embora fosse judeu de origem sefaradita, sua elevada condição econômica o colocava na órbita de outros interesses que muitas das vezes poderiam conflitar cm os princípios da Torá.

Obrigado aí pela dica de leitura do seu texto.
Em tempo!

Certamente que Merkel representa mais os interesses de uma classe dominante mas também tenta agradar o eleitor comum alemão.

Para os grandes empresários a política de imigração interessa porque atrai trabalhadores e ajuda a regular o preço da mão-de-obra enquanto que o eleitor comum sente-se preterido e até invadido. Assim, como representante da direita, ela busca regular a situação tentando agradar os dois lados (se bem que ninguém serve a dois senhores).
Eduardo Medeiros disse…
Amigos Levi e Rodrigo,

este papo aqui está um verdadeiro seminário sobre multiculturalismo, intolerância, tolerância e afetos contraditórios!

Levi, sua deixa: "O desejo por um pluralismo cultural e o desejo autoritário são faces de uma mesma moeda. São afetos contraditórios característicos da condição humana. Ele anseia pela paz entre as nações, e ao mesmo tempo, inconscientemente, faz o contrário."

Suas interpretações a partir dos afetos humanos como sempre, enrique demais qualquer conversa e descortina as razões ocultas do porquê fazemos isto ou aquilo. Tenho aprendido em suas "aulas de psicanálise" que o melhor é buscar equilibrar os afetos, o contraditório em nós. O desejo de ser multicultural e ao mesmo tempo, de preservar os "hábitos de casa".

Nesse sentido, vejo um desejo de equilibrar essa tensão do "estrangeiro em casa alheia" na Torá como já citei. A parte do não comer sangue seria a ponta que equilibra o "Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito" ?

Mas esse é um equilíbrio difícil de se encontrar, principalmente nestes nossos tempos pós-modernos, onde a política, a economia, os interesses nacionais, se colocam sempre acima do ser humano.

E
Eduardo Medeiros disse…
O Rodrigo teceu comentários pertinentes sobre as condições sociais e políticas atuais na zona do euro, principalmente com a questão islâmica:

Por outro lado, há que se pensar nos choques culturais. O estrangeiro, ainda mais preservando costumes bem diferentes e formando seus guetos, nem sempre consegue uma boa convivência na sociedade. Ainda mais quando o imigrante tem suas ambições de poder, pratica o proselitismo religioso, tem uma quantidade muito maior de filhos e sonha com uma Europa islâmica. E aí a reação do nacional nem sempre acaba sendo apropriada e muitas pessoas tendem a desenvolver um xenofobismo.

Essa questão da islamização da Europa será cada vez, creio, motivos de tensões e crises entre Ocidente e Oriente. Parece claro que as forças políticas e religiosas do Islã mais radicais tem o desejo de destruir a cultura ocidental e vem fazendo isto a muito tempo através do terrorismo e do seu ódio por Israel, visto como um aliado "perto de sua própria casa" do grande satã ocidental. A coisa é difícil..rsss
Vale lembrar que preceitos aparentemente contraditórios permitem ao intérprete da Lei dar uma interpretação normativa conforme as necessidades de cada momento. Muito importante vc ter feito menção da Torá Sagrada, Edu.
Não só a cultura judaica como a cristã não se harmonizam totalmente com o Islã. Embora eles até admitam possibilidade de salvação para os seguidores destas duas religiões monoteístas, consideram-nos suplantados e que devemos ser convertidos, sendo certo que, no Corão, há preceitos que agradam tanto as vertentes fundamentalista quanto a liberal e mística. No entanto, tenho pra mim que a cultura da racionalização, se promovida amplamente, é capaz de desarmar todos os grupos radicais. Quer sejam os muçulmanos mais fundamentalistas ou os seguidores do nazi-fascismo. Mas será que as elites econômicas e políticas estão de fato interessadas na promoção do esclarecimento? Continuo acreditando mais na via do diálogo e da promoção da igualdade social através de políticas realmente inclusivas.
Aproveito ara desejar ao escritores e leitores deste blogue meus votos de feliz Natal. Boas festas e tudo de bom!