Um “Pega” no Século II Sobre o Filho de José

Por Levi B. Santos


Os judeus (rabinos) do século II viam o proselitismo em torno da figura de Jesus como um fenômeno de natureza fanática. Naquele tempo os judeus em suas Sinagogas eram coagidos pela igreja primitiva a confessar a messianidade de Jesus. Por essa época, a história da concepção de um filho de Deus por uma virgem estava sempre motivando polêmicas ou “pegas” entre pagãos e cristãos. Não é que os judeus detestavam Jesus. Eles o tinham como um “profeta ou um impaciente anunciante do final dos tempos”. Eles achavam que “a igreja tinha dotado Jesus de traços não judeus, para em seguida fazer de seu nome o instrumento de um anti-judaísmo não cristão” [ “Filho de José? – Jesus no Judaísmo”, de Pinchas Lapinde ].

No célebre “Diálogo de Trifão”, Justino, que se convertera ao cristianismo em Éfeso e foi martirizado no tempo de Marco Aurélio, mostra um ácido diálogo imaginário, possivelmente, entre um judeu (ou pagão?) e um cristão.

O livro, História dos Dogmas – volume III”, de Henry Borgeois, cita a insistência dos primeiros cristãos em propagar a concepção virginal de Jesus, e a recusa categórica de muitos judeus e pagãos que consideravam tal história uma aberração ou uma construção de caráter ignominioso. É fato que os opositores dos cristãos viam no relato do evangelho de Mateus algumas nuances em favor de uma concepção adulterina da parte de Maria. Para alguns judeus, o cristianismo tinha se voltado para o paganismo dos mitos.

Momentos quentes do diálogo entre Justino e Trifão [Pagão(?), Judeu(?) ], que aqui reproduzo, mostram como esse imbróglio da virgindade de Maria, que mais tarde se tornaria um forte dogma, causou naquela época  tanta celeuma e gracejos. O que, de certo modo, não deixa de ocorrer ainda hoje.


Justino, defendendo a concepção virginal:

“Para que não venham, por falta de penetração do sentido dessa profecia, nos dirigir a acusação que justamente dirigimos aos poetas que contam as relações amorosas de Zeus com suas mulheres, vamos tentar explicar essas palavras. As palavras “Eis que a virgem conceberá”, significam que a virgem concebeu sem relação carnal, pois, nesse caso não seria mais virgem; mas o poder de Deus desceu sobre a virgem, tomou-a sobre sua sombra e a fez mãe sem atentar contra a sua virgindade. Esse é o ensino daqueles que escreveram a narrativa e tudo o que concerne a Jesus Cristo, nosso Salvador. E nós cremos neles, porque pela boca de Isaías, que citamos, o Espírito Profético anunciou que ele devia nascer, assim como indicamos mais acima.[...] Esse Espírito que desceu sobre a virgem e a tomou, a fez mãe, não por união carnal, mas milagrosamente”.


A Réplica do pagão, Trifão:

Nas fábulas dos que chamamos de ‘gregos’, diz-se que Perseu nasceu de Danai, que era virgem, depois que aquele que, entre eles se chama Zeus tinha se derramado sobre ela em forma de ouro. Vós deveríeis corar ao contar as mesmas coisas que eles, e seria melhor dizer que esse Jesus seria um homem entre os homens, e demonstrar pelas Escrituras, que ele é o Cristo, que foi julgado digno, por causa de sua vida perfeita e conforme a Lei, de ser escolhido como Cristo. Mas não faleis de prodígios, se não quiserdes ser acusados de tolos como os gregos”.


Justino, respondendo a Trifão, de forma veemente:

Trifon, quero que te convenças inteiramente, tu e todos os homens, de que, mesmo que me dirigirdes as piores caçoadas e zombarias, não me fareis abandonar meu propósito: ao contrário, das palavras e das coisas que pensais me opor para me convencer, sempre tirarei as provas de minhas declarações com o testemunho das Escrituras”.


Sobre um pequeno romance de Jesus, veiculado na época, Orígenes toma as dores de Justino:

[Celso] apresenta um judeu em diálogo com o próprio Jesus, pretendo convencê-lo de várias coisas, a primeira sendo a de ter inventado o seu nascimento de uma virgem. Depois, acusa-o de ter saído de uma povoação da Judéia e nascido de uma região, pobre e fiandeira. Diz em seguida, que rejeitada por seu marido, vergonhosamente vagabunda, ela dá à luz a Jesus, em segredo; que este foi obrigado, por pobreza, a ir alugar os seus serviços no Egito; lá ele adquiriu a experiência de certos poderes mágicos de que se gabam os egípcios; volta, todo envaidecido desses poderes e, graças a eles, proclama-se Deus. [...]
“Voltemos às palavras atribuídas ao judeu, onde está escrito que a mãe de Jesus foi expulsa pelo carpinteiro que a tinha pedido em casamento, por ter sido acusada de adultério e ter engravidado por obra de um soldado chamado Pantera, e vejamos se os autores dessa fábula de adultério da virgem com Pantera e de seu repúdio pelo carpinteiro não a forjaram cegamente para negar a concepção milagrosa do Espírito Santo. Teriam podido, com efeito, por causa de seu caráter absolutamente milagroso, falsificar a história de outra maneira, mesmo sem admitir, involuntariamente, por assim dizer, que Jesus nascera de um matrimônio ordinário”. [ORÍGENES, contra Celso]

P.S.:

Entre os primeiros cristãos, o homem Jesus foi relegado a um segundo plano. Sua imagem foi encoberta pela imagem de um Cristo glorificado. Com isso, os cristãos reprimiram a dolorosa realidade, de que Jesus, na cruz, se viu abandonado por Deus”. [ “Conflito e Paz”Bert Hellinger ]

Rabinos e mentores da Igreja primitiva, que se zangavam facilmente na idade média, hoje, até que mantêm o jogo do convencimento e da conversão ― fonte de todo litígio ―, em fogo brando. Modernamente estão mais ou menos apaziguados: Quando os cristãos dizem que Jesus é Deus feito homem, os rabinos ficam felizes porque esses mesmos cristãos adoram um Judeu.

Schalom Bem Chorim, um dos ilustres pensadores judaicos, chegou a dar estocadas provocativas nos cristãos, como esta: “...a fé de Jesus une judeus e cristãos, enquanto a fé em Jesus os separa”.


Comentários

Para não ser refutado por crentes seguidores do livro da capa preta eu cito o que nele está escrito. Marcos 6:3..."Não é este o filho de Maria?" Esta é uma declaração surpreendente que não deve ser desprezada. Chamar um homem primogênito judeu na Palestina do século l pelo nome da mãe não era só escandaloso, No mínimo uma ofensa com implicações tão obvias que fez Marcos inserir posteriormente a frase "Filho do carpinteiro e de Maria". Para os escritores da época como Flávio Josefo José teve pouca importância assim com os evangelistas também. No final do século l já havia rumores sobre o nascimento virginal de Jesus. Que ela fora inventada para mascarar uma verdade desconfortável sobre a paternidade de Jesus,ou seja, que ele nascera fora do casamento. O escritor do século ll, Celso narra a indecente história que a mãe de Jesus fora engravidada por um soldado chamado Panthera. A história de Celso causou polêmica entre os seguidores de Jesus. No entanto ela indica que menos de cem anos após a morte de Jesus, já circulava na Palestina rumores sobre seu nascimento ilegítimo.Estes rumores podem ter sido correntes mesmo durante sua vida.Virgindade de Maria? Só se for na menina dos olhos...
Levi B. Santos disse…
Tudo indica que Orígenes teve contato com os mitos Greco-romanos.
Segundo H. Usener, especialista em religião grega antiga, Orígenes (século II) já reconhecia o paralelismo entre a concepção virginal de Cristo e as lendas Greco-romanas sobre a origem Teogâmica de Platão.

O modelo helenista teogâmico de filósofos e conquistadores, influiu na construção virginal de Cristo. (vida a obra “Concepção Virginal de Cristo” ―de José de Freitas Ferreira)

O Rodrigão e o Eduardo(que cursou Teologia) podem detalhar mais essa questão, para nós, Miranda. Aguardemos (rsrs)
Não conheço a grade curricular do curso de teologia mas não acredito que discutem os manuscritos apócrifos só por que a igreja os taxou sem autenticidade.Acho que eles estudam os livros "inspirados pelo Espírito Santo" então, seus ensinamentos são tendenciosos. Nunca poriam em dúvida a virgindade de Maria nem a paternidade de Jesus. Na Palestina do século l era muito comum a mulher casar grávida e mais comum ainda era pular a cerca.

Caro Levi,

Boa tarde!

Sempre é interessante revisarmos a História, não é mesmo?

Embora não tenhamos suficiente conhecimento acerca do que foi o cristianismo nos dois primeiros séculos, visto que recebemos dos católicos a versão oficial, eis que o movimento proselitista cristão como o de qualquer outra religião trouxe foi empobrecimento intelectual.

O que vejo nesses dois debates do segundo século foi uma enorme infantilidade dos caras de ambos os lados. Um não tentou compreender o outro ou as razões da fé do outro. Cada qual achava ser absoluta a versão de sua verdade.

O artigo começa dizendo que os rabis do século II "viam o proselitismo em torno da figura de Jesus como um fenômeno de natureza fanática", mas quem garante que o mesmo não ocorria também dentro do judaísmo? E a maneira radical como se guardava o sábado ou a pureza dos alimentos entre muitos fariseus a ponto do sujeito "coar um mosquito e engolir um camelo" em que ambos seriam imundos para a dieta com base na Torá?

Por outro lado, não descarto que, seu eu pudesse viajar numa máquina do tempo, talvez ficasse decepcionado e perplexo com o cristianismo do século II. Talvez descobrisse que muitas das perseguições romanas foram causadas pelo comportamento de intolerância dos religiosos mais radicais ou quem sabe até alguns dos líderes cristãos se beneficiassem com a indústria do martírio para atraírem novos seguidores enquanto eles mesmos negassem a fé por atitudes e palavras?

Enfim, há muita coisa que não sabemos e acho que isso pouco importa agora mais de 1800 anos depois. A religião já não é mais totalmente a mesma e seus avanços evolutivos devem ser fortalecidos embora ainda haveremos de conviver com os retrocessos.

A paz do Senhor.
Um curso de Teologia estuda também escritos apócrifos, literatura rabínica e tudo que tenha a ver. Até o cérebro humano os seminaristas têm estudado ultimamente.
Levi B. Santos disse…
Caro Rodrigo

E sobre a afirmação de Schalom Bem Chorim: “...a fé de Jesus une judeus e cristãos, enquanto a fé em Jesus os separa”..

Será que esse ainda é o pensamento da maioria dos Judeus?
Gostei dessa frase e da sua indagação! Apesar de meus conhecimentos sobre o Judaísmo serem limitados, eu diria que a fé de Jesus une muitos judeus e cristãos tolerantes, mas que os mais fundamentalistas são capazes de rejeitar até os ensinamentos de nosso Senhor. Contudo, mesmo o judeu tolerante não aceita esses dogmas de um Jesus divinizado que seria a encarnação de Deus e nem o conjunto de crenças absolutizadas do cristianismo. Enfim, eu concordaria que sim. Pode ser que no futuro as duas religiões irmãs consigam se conciliar como fizeram Esaú e Jacó...
Eduardo Medeiros disse…
Mas se é verdade que 100 anos após a morte de Jesus começou a circular histórias sobre seu nascimento, em menos de 100 anos construiu-se os relatos do nascimento virginal. Não vejo relação de uma coisa com a outra. Eu entendo que os relatos do nascimento virginal foram sim influenciados pela mitologia grega, afinal de contas, num mesmo evangelho pode-se ver influencias tanto gregas quanto judaicas.
Eduardo Medeiros disse…
Evidente que os judeus também eram proselitistas. Aliás, há uma frase de Jesus onde ele critica tal proselitismo,feito pelos fariseus. Se é de fato de Jesus não dá pra saber, ou se é frase já influenciada pela tensão cristãos x judeus.
Levi B. Santos disse…
“Eu entendo que os relatos do nascimento virginal foram sim influenciados pela mitologia grega, afinal de contas, num mesmo evangelho pode-se ver influencias tanto gregas quanto judaicas” (Eduardo)


Perfeito Eduardo.

Concordo que a história do nascimento virginal de Cristo, tem tintas ou pinceladas dos gregos.

Entretanto, certos historiadores dão conta de que na época de Justino, o culto à “Virgem Maria” ― “era uma adaptação do culto babilônico - a adoração a princesa Semíramis, esposa de Ninrode, fundador da Babilônia, com quem teve um filho chamado Tamuz, que segundo a lenda babilônica, quando moço foi morto por um animal selvagem, e ressuscitado pelos ritos religiosos de sua Mãe”.

“Segundo a lenda, a “deusa mãe”, Semíramis permaneceu virgem, mesmo após ter dado à luz a Tamuz.

De maneira análoga o catolicismo afirma que Maria se manteve virgem após o nascimento de Jesus.
Eduardo Medeiros disse…
quando o cristianismo virou a religião do imperador e mais tarde, a religião do império, uma multidão de devotos de religiões pagãs ficaram órfãos, pois nem todos receberam o cristianismo de braços abertos. Muitos foram obrigados a se tornarem cristãos sob o imperador Teodósio. E parece que o clero cristão acabou por adaptar alguns mitos pagãos para um "cristianismo popular". Fizeram isso com a comemoração do nascimento de Jesus no dia do Sol Invictus como adaptaram vários mitos de nascimentos virginais(como o mito babilônico ) que eram conhecidos e aceitos pelo povo; o cristianismo precisava da sua deusa, pois deusas eram bem populares, Ninguém melhor para ocupar esse papel do que a Virgem Maria. Sendo que nesse tempo, os relatos evangélicos já existiam e foram somente adaptados.
Creio que essa linha de pensamento de alguns autores pode estar certa.
Levi B. Santos disse…
Eduardo

Pregam por aí, com base nos evangelhos que, Maria, mãe de Jesus, foi entregue ao apóstolo João, para ser assistida por ele.

Eu li, (agora, não me lembro em que livro) que o status de Maria, como Deusa, teve início com a chegada desse apóstolo à Éfeso. Lá, erigiram uma escultura da "Mãe de Deus" ao lado da Deusa Diana.

E eu fico imaginando, o rebu que a "virgem" Maria provocou em Éfeso, como Mãe de Jesus. diante da história de que Seu filho tinha ressuscitado com status de um "Deus".
Levi B. Santos disse…
Ou essa construção veio muito depois e João e Maria são inocentes quanto ao Jesus pós-helenizado? (rsrs)
O cristianismo é como uma espécie de alfaiataria que quando a roupa não cai bem faz ajustes no cliente. Este ímpeto de adaptar a sociedade ao sistema fica claro quando se obriga crianças a frequentar escola dominical ou catecismo.
Levi B. Santos disse…
É sobre isso que estou inquirindo ao Pastor Eduardo, Miranda!

João e Maria podem nem ter tomado parte da Alfaiataria Grega que costurou os dogmas ( rsrs)
A maior alfaiataria foi a romana a partir de Tertuliano (Filósofo nascido no século ll que provavelmente criou o dogma da "Santíssima Trindade) e seguido por Theodósio e Constantino que industrializou o ofício. Todos os personagens bíblicos são figuras de retórica. "Todas as maçãs da caixa bíblica são podres."
O velho testamento é uma história de oitiva (alguém ouviu dizer que alguém falou). Criada por um povo sofrido onde todos os outros povos também tinham suas lendas. O novo testamento foi escrito décadas após os supostos acontecimentos e quem os escreveu não foi contemporâneo. Maria não era virgem, José não era descendente de Davi, Jesus não nasceu em Belém. Criaram uma história baseada em uma lenda para um povo que viveu há dois milênios. João e Maria dos irmãos Grimm é outra lenda também parecida com Maria e José. Todos estão perdidos em seu ambiente, João e Maria na floresta e Maria e José na bíblia. Historinhas de ninar.
Este comentário foi removido pelo autor.
Dos supostos apóstolos de Jesus, João era o que menos sabia a que veio. A família pouco valia para os revoltosos que protestavam contra o império.
Ela, a família, sabia qual a pena para quem tomava esta atitude.Os seguidores do líder revoltoso tinham pouco conhecimento do grupo familiar, além do mais tinham vidas curtas.
Eduardo Medeiros disse…
Levi e Mirandinha.

Tudo é muito complexo quando se trata das origens cristãs e dos seus escritos. A história da estátua de Maria ao lado de Diana eu nunca li, Levi, soube agora. rs
O evento acadêmico da "busca pelo Jesus histórico" tentou jogar luzes sobre as raízes históricas do cristianismo, e nessa empreitada, nada foi deixado de fora: nem os evangelhos canônicos, nem os apócrifos, nem a história da palestina sobre dominação romana, nem os mitos e as teologias que surgiram a partir do "movimento de Jesus".
Evidente que eu não compartilho esse desprezo radical que o MIRANDINHA tem pela história cristã. Desprezá-la é desprezar nossas próprias raízes históricas. Nada ficou com antes depois do "evento Jesus"; para o bem ou para o mal, a força da mensagem cristã moldou e conquistou o Ocidente. Se o Ocidente alcançou níveis altos de desenvolvimento científico e intelectual, queiram ou não, isso foi fruto também do cristianismo. Basta lembrar que os primeiros cientistas eram monges; basta lembrar que por causa dos monges copistas podemos ter hoje vários manuscritos de livros que teriam desaparecido. A cultura ocidental deve muito ao cristianismo.
A força da mensagem de Jesus talvez esteja na sua intemporalidade. Não foi uma mensagem restrita a um povo, a uma tribo, mas se pretendeu universal.
Levi B. Santos disse…
O que acho interessante é que o que Justino escreveu (O Diálogo de Trifão) possivelmente no século II, já refletia o litígio entre os adeptos de um Jesus mitologizado e os adeptos de um Jesus histórico. Os últimos, considerados hereges, afirmavam que Jesus teria nascido, possivelmente, de uma união “impura”: o soldado Pantera teria engravidado Maria.

Tenho a impressão de que o judaísmo helenístico por ser androcêntrico e ter repulsa a sexualidade profundamente orgástica da mulher, tenha concorrido sobremodo para sedimentar a história de um profeta judeu nascido de uma virgem.

É no mínimo estranho que um fato extremamente sobrenatural de um nascimento virginal (Partenogênese?) não tenha sido objeto de conversa entre o Messias, seus discípulos, os fariseus, saduceus e outras castas religiosas daquela época.

Jesus não deixou nada escrito, e talvez, ele e seus pais nada soubessem dessa construção mítica a ser efetuada dezenas de anos depois do seu desaparecimento.

Como bem falou Miranda, que não concorda que um ET tenha vindo ao mundo da forma que os evangelhos, escritos 70 anos D.C, narram. (rsrs):

” O novo testamento foi escrito décadas após os supostos acontecimentos e quem os escreveu não foi contemporâneo. Maria não era virgem, José não era descendente de Davi, Jesus não nasceu em Belém.”
“A história de Celso causou polêmica entre os seguidores de Jesus. No entanto ela indica que menos de cem anos após a morte de Jesus, já circulava na Palestina rumores sobre seu nascimento ilegítimo” (Miranda)
Este comentário foi removido pelo autor.
O que me causa indignação não é o cidadão pregar a existência de Jesus o Cristo. Ele pode, mas me deixe fora disso, não tente me converter afirmando que se eu não aceitar estou com um pé no seu inferno, Se afirmassem que houve um Jesus histórico que espelhou os romanos a criar um Jesus Cristo para politizar uma sociedade, talvez eu respeitaria, por isto não ser uma mentira.A partir do século ll os romanos criaram os dogmas cristãos baseando nos costumes de um povo oprimido por interesses políticos. Que esta religião promoveu algum bem é indiscutível, principalmente visando seu próprio poder. Mas o mal que causou a gerações futuras é impagável. A ambição ´política enlameou seus alicerces. Para participar de um grupo social eu não tenho que praticar o suicídio intelectual o a eutanásia em meu aprendizado.
Olá, Eduardo.

Se não me falhe a memória, parece que foi num dos livros do Géza Vermes (1924-2013) onde o respeitável estudioso mencionou a existência de fariseus missionários na época do primeiro século. Não descarto tal possibilidade e que os cristianismo como religião tenha surgido como uma alternativa ao judaísmo em expansão no mundo romano, principalmente nas cidades da Diáspora.
Uma questão a se responder. Qual seriam as razões (necessidades) desse apego à ideia de uma mãe virgem nos mitos? Seria algum complexo em relação à figura paterna na expectativa de que uma nova humanidade possa surgir sem a influência ruim do genitor? De qualquer modo, vejo na ideia do novo nascimento um pouco disso (conf. João 3:6). Nas boas novas joaninas, defende-se a ideia de um novo parto pela experiência espiritual que tem a ver com a conversão. Uma conversão que só parece ser admitida se for dentro dos valores d grupo já que Nicodemos, um judeu, ainda carecia desse renascimento.
Acredito que veio posteriormente, Levi. Mas não muito depois da helenização de Jesus. A Maria entregue a João não significaria aí que a versão dos fatos a ser aceita deva ser aquela estabelecida pela ortodoxia cristã? Contudo, o culto da veneração feita a Maria parece-me posterior tanto à época dos escritores do NT como dos apologetas. Refiro-me aos apologetas antigos evidentemente (rsrsrs)...
Caro Edu,

Talvez deva muito mais ao Judaísmo. Ou melhor, aos judeus que coexistiam com a maioria católica dentro da sociedade ocidental europeia.

Na Idade Média, quando alguém precisava de um médico, recorriam a um judeu.

Grande parte dos cientistas e pensadores que a humanidade teve era de judeus.
"Tenho a impressão de que o judaísmo helenístico por ser androcêntrico e ter repulsa a sexualidade profundamente orgástica da mulher, tenha concorrido sobremodo para sedimentar a história de um profeta judeu nascido de uma virgem." (Levi)


É algo a se considerar, mas como explicar o que há de comum entre esses mitos sobre nascimentos virginais?

Será que não existiriam outras razões conforme compartilhei acima com a suposição do mal relacionamento do filho com o ái cuja memória genética ele tenta se livrar?

Em Gênesis, Abraão recebe a ordem de deixar a casa paterna...
Miranda,

A impressão que me causa é que sua mente esteja traumatizada com os crentes.

As ameaças de coação sobre o inferno têm sido cada vez menos utilizadas embora não esquecidas por muitas igrejas evangélicas brasileiras.

Para a religião, o Jesus histórico não tem tanta importância, meu caro. Mesmo para um crente liberal ou um seguidor de linha mais esotérica, vale mais é a utilização dos mitos para promover o auto-conhecimento do ser humano. No entanto, o discurso religioso tosco tenta se valer de uma questionável historicidade como requisito para a fé, conforme bem colocou.

Realmente esse foi o tipo de cristianismo que prevaleceu e que trouxe muito obscurantismo ao mundo.

Abraços.
Levi B. Santos disse…
Está bom o debate (rsrs)

Eu gostaria de fazer uma pergunta ao Rodrigo:

A Fé do crente precisa de um Mito para lhe servir de muleta?
Levi B. Santos disse…
Está bom o debate (rsrs)

Eu gostaria de fazer uma pergunta ao Rodrigo:

A Fé do crente precisa de um Mito para lhe servir de muleta?
Aí que tá, Levi. O mito não seria "muleta". Ele se trata de uma linguagem que não somente seria um estilo literário típico da Antiguidade como também possui um caráter profundamente pedagógico. Talvez hoje essa linguagem mítica atrapalhe mais do que ajude, mas tenho minhas indagações se seria honesto privar as nossas crianças e as gerações que nos sucederem dos contos religiosos. Se tivesse filhos teria um enorme contentamento em contar-lhes sobre as histórias da Arca de Noé, da luta de Davi com Golas e de como Deus libertou os israelitas da escravidão egípcia através de Moisés. Ter assistido vários filmes religiosos na TV nos dias de feriado sagrado fizeram-me tão bem!
Levi B. Santos disse…
O perigo, Rodrigo, é que a Criança da Escola Dominical não cresça ao ficar entendendo que o Deus do Velho Testamento está vestido com a mesma roupagem da idade média.

Sem a compreensão de que o Mito representa os sentimentos opostos que nos habitam, ela vai continuar entendendo, de forma literal, o Início do livro de Gênesis. Ou seja, vai continuar pensando que o Deus Judaico expulsou o seu lado “mal” do “paraíso celestial”. Não se pode expulsar o nosso lado paradoxal. Isso, sim, representa o nosso desejo de exclusão do outro.

Tem que haver uma SÍNTESE.
Concluindo:

A figura mítica da serpente do Mito da Criação é um arquétipo importantíssimo e essencial em nossa vida de relação.
Caro Levi,

Não desejo que as pessoas fiquem no jardim da infância da religião (ou da escola da vida melhor assim dizendo). E de fato muitas dessas escolas bíblicas nas igrejas não trazem esclarecimento mas sim obscurecimento.

Dizer que Deus teria expulsado do Paraíso "o seu lado 'mal'" não me parece coerente uma vez que fomos dotados de livre arbítrio e foi a humanidade quem resolveu separar-se do seu Criador. Assim, não vejo o cap. 3 de Gênesis como uma projeção desse sentimento humano ao qual o irmão se referiu. O primeiro casal deixa o Éden para que não comesse da árvore da vida e a tragédia humana não fosse eternizada. Logo, entendo que aquela limitação foi para o nosso próprio bem e o Eterno continuou falando com o homem quando este deixou o Éden e foi lavrar a terra com o suor do rosto.

Assim, assistimos em toda a Bíblia que Deus continuou buscando o homem ainda que este muitas das vezes tenha agido com ingratidão para com o seu Criador e Redentor como vimos na experiência daquela blasfema geração de israelitas do êxodo egípcio cujos cadáveres ficaram pelo deserto. Somente Josué e Calebe entraram na Terra Prometida à descendência dos patriarcas.

Sobre a serpente, sem dúvida que essa figura bíblica é importante. Embora o Apocalipse a tenha identificado como sendo o Satanás, ela pode nos dizer muitas outras coisas. Inclusive acerca de nós mesmos e da projeção dos nossos sentimentos.
Em tempo!

Sem querer desviar do assunto inicialmente proposto, recordo que, na antiga simbologia egípcia existe a imagem em relevo de duas criaturas como alegoria de forças opostas. Uma de suas variações apresenta uma ave de rapina em luta com uma serpente.

Há quem entenda que a ave represente não só o bem como o sol e o céu, enquanto a serpente, estendida no chão ou na água, evocaria a terra e as forças geradoras da vida. Ambas juntas indicam criação e fertilidade, além do equilíbrio precário das forças da natureza.

Até que ponto essa simbologia possa estar associada ao relato judaico de Gênesis eu não sei. Porém, podemos identificar, numa moderna compreensão, a presença da dialética. Aí a queda do homem seria então entendida como parte da nossa evolução coletiva. A busca da humanidade nas muitas gerações pelo caminhar conscientemente e se relacionar verdadeiramente com o seu Criador expulsando de si as coisas que a afastam do foco da elevação.

A paz do Senhor!
Levi B. Santos disse…
Sobre o que falei:

“Deus teria expulsado do Paraíso "o seu lado “mal'"

Entendo que o que o mito aí quer mostrar é justamente a psique humana.

Foi o homem ambivalente ou bipolar, que para falar consigo mesmo, projetou seus instintos ou sentimentos ambivalentes em um ser antropomórfico, também bipolar.

O homem constrói (figura do bem) e destrói aquilo que construiu (figura do mal). No mito essa ambivalência está contida nessa metáfora bíblica: “Eu crio o bem e crio mal”

O grande estudioso dos Mitos, Joseph Campbell, foi amigo de Jung. Ele, depois de uma análise psicológica profunda, sobre esse lado “mal” ( Diabo, Satã, etc), chegou a afirmar o seguinte:

“Minha definição de demônio é um anjo que não reconhecia. É um poder que você negou expressão, e que você reprimia. Como toda a energia reprimida, ele começa a crescer e pode tornar-se extremamente perigoso.”

Na epopeia de Jó, o que o mito, quer mostrar, senão a dualidade psíquica: a de que Deus e o Diabo estão a dialogar dentro da psique? Se não reconhecermos isso, iremos fatalmente projetar nosso inferno nos outros.

Não há vencidos nem vencedores, quando se faz a síntese dos opostos, bem simbolizados por um Jó que, após todo o seu drama interno, faz um banquete e convida seus inimigos para sentar à mesa com ele.

Levi B. Santos disse…
Sobre o que falei:

“Deus teria expulsado do Paraíso "o seu lado “mal'"

Entendo que o que o mito aí quer mostrar é justamente a psique humana.

Foi o homem ambivalente ou bipolar, que para falar consigo mesmo, projetou seus instintos ou sentimentos ambivalentes em um ser antropomórfico, também bipolar.

O homem constrói (figura do bem) e destrói aquilo que construiu (figura do mal). No mito essa ambivalência está contida nessa metáfora bíblica: “Eu crio o bem e crio mal”

O grande estudioso dos Mitos, Joseph Campbell, foi amigo de Jung. Ele, depois de uma análise psicológica profunda, sobre esse lado “mal” ( Diabo, Satã, etc), chegou a afirmar o seguinte:

“Minha definição de demônio é um anjo que não reconhecia. É um poder que você negou expressão, e que você reprimia. Como toda a energia reprimida, ele começa a crescer e pode tornar-se extremamente perigoso.”

Na epopeia de Jó, o que o mito, quer mostrar, senão a dualidade psíquica: a de que Deus e o Diabo estão a dialogar dentro da psique? Se não reconhecermos isso, iremos fatalmente projetar nosso inferno nos outros.

Não há vencidos nem vencedores, quando se faz a síntese dos opostos, bem simbolizados por um Jó que, após todo o seu drama interno, faz um banquete e convida seus inimigos para sentar à mesa com ele.

Não Rodrigo, a minha mente está desencantada com meus semelhantes que aprendem a ler e escrever mas não tiram proveito psíquico disto. Continuam agindo como párias manobrados por uma lenda político espiritual inventada para socializar uma cultura bárbara há milênios. Mesmo aceitando que esta lenda, alvo de sua fé, já esteja mais do que caracterizada como improvável, estes analfabetos funcionais continuam usando como muleta para imputar seu sucesso ou infortúnio. Meus filhos conhecem a lenda dos hebreus, dos nibelungos, das Valquírias, dos atlantes. Sabem da existência de várias religiões e o nome de muitos deuses. Não se tornaram defensores de nenhum deles nem os usam como muletas.O pai é espelho do filho. Se o pai é adepto ao candomblé e leva seu pequeno filho ao terreiro, ele nunca será um homem bomba aspirando dez virgens.
Em 1814 Pierre Simon de Laplace escreveu: "Se uma inteligência em determinado instante, pudesse conhecer todas as forças que governam o mundo natural e as posições de cada ser que o compõe, se, além disso, essa inteligência fosse suficientemente grande para submeter essas informações a análise, teria como abranger em uma única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e os dos menores átomos. Para essa inteligência, nada seria incerto, e o futuro, tanto quanto o passado, se faria presente diante de seus olhos.
Grande Levi,

A cultura que criou a lenda divina associou céu e inferno no mesmo condomínio. O seu "Livre arbítrio" são duas escadas; se praticar o bem, ter bom caráter., crente e aceitar Jesus como seu salvador, subirá para o sótão. Lá estará Roma com o Papa lhe esperando. Se, praticar o bem, ter um bom caráter mas for ateu, descerá para o porão. Lá estará o carnaval do Rio de Janeiro com a Mangueira te esperando. Sem o inferno, o céu não existe.
Eduardo Medeiros disse…
bom, desculpem a demora! vou comentar alguns trechos da cara Trindade...

"Para a religião, o Jesus histórico não tem tanta importância (Rodrigo).De fato, o que a religião menos se interessa é pela figura do Jesus histórico. Para eles basta saber que Jesus foi um homem de verdade, de carne e osso, mas...sem pecado por ter duas naturezas, uma humana e uma divina. Para as abordagens acadêmicas sobre Jesus, nada disso interessa. Não é preciso ser cristão para pesquisar o Jesus histórico. E o consenso atual sobre a questão entre a maioria dos historiadores é que Jesus de Nazaré foi uma personalidade histórica, aliás, bem parecido com outros chamados "messias" ou "homens divinos" que andavam pela palestina no século I
Eduardo Medeiros disse…
No entanto, o discurso religioso tosco tenta se valer de uma questionável historicidade como requisito para a fé, (Rodrigo)

Aqui, Rodrigo, eu vejo alguns problemas. Corrija-me, por favor, se eu estiver equivocado. A fé cristã não nasceu de uma "iluminação" transcendental. Ela nasceu de um homem concreto. O fato da afirmação da humanidade de Jesus é essencial sim, à fé cristã. Segundo Paulo, o único mediador entre Deus e os homens, é Jesus Cristo HOMEM.
Não estou negando que a partir desse dado concreto - a humanidade de Jesus - fez-se teologia e buscar agora do porquê se ter feito teologia do evento concreto é difícil, talvez, por que o homem Jesus tenha a si mesmo, se feito "teologia".
Não sei se deu para captar o que eu quis dizer .rrsss
Eduardo Medeiros disse…
A Fé do crente precisa de um Mito para lhe servir de muleta? (Levi)

respondeu-lhe o Rodrigo: O mito não seria "muleta". Ele se trata de uma linguagem que não somente seria um estilo literário típico da Antiguidade como também possui um caráter profundamente pedagógico.

Mandou de volta o Levi : O perigo, Rodrigo, é que a Criança da Escola Dominical não cresça ao ficar entendendo que o Deus do Velho Testamento está vestido com a mesma roupagem da idade média. Sem a compreensão de que o Mito representa os sentimentos opostos que nos habitam, ela vai continuar entendendo, de forma literal, o Início do livro de Gênesis.

Sobre isso eu teria a dizer: Os mitos ainda têm um papel importante a cumprir na mente racionalista da sociedade atual. Não é a toa que os mitos hollywoodianos faturam milhões todo ano..rss
Imaginem os mitos que formaram a consciência ocidental?
A questão que parece acertada, é abordar os mitos de forma certa: como símbolos para a nossa vida interior e nossa vida relacional.
A Bíblia é um livro infestado de símbolos que querem transmitir mensagens existenciais. Isso se vê nas histórias, nos significados dos nomes dos personagens, do uso de símbolos numéricos, etc.
Mas para perceber tais símbolos, o cristianismo teria que abandonar a leitura literal deles, o que eu vejo como algo quase impossível de acontecer de uma forma geral.

Eduardo Medeiros disse…
Dizer que Deus teria expulsado do Paraíso "o seu lado 'mal'" não me parece coerente uma vez que fomos dotados de livre arbítrio e foi a humanidade quem resolveu separar-se do seu Criador. (Rodrigo)

Entendo que o que o mito aí quer mostrar é justamente a psique humana. (Levi)

Entendo que o mito do Gênesis se presta a múltiplas interpretações e a múltiplos ensinamentos. Sempre é bom tentar buscar qual foi a intenção inicial do autor do texto. No caso, explicar de forma mítica (a linguagem da época) como a humanidade veio a existir e do porquê a humanidade ter uma natureza "caída".

Nesse questão da natureza caída, acho que a interpretação psicológica que o Levi tanto gosta cabe como uma luva. Qual seria o melhor termo para "natureza caída" do que o Levi diz:

Foi o homem ambivalente ou bipolar, que para falar consigo mesmo, projetou seus instintos ou sentimentos ambivalentes em um ser antropomórfico, também bipolar.

A humanidade é "caída" por que e bipolar. E enquanto bipolar, constrói seu deus de forma similar ou projeta em seu deus a não polaridade exatamente para distinguir um ideal a ser buscado por ele mesmo. Ideal esse sempre buscado e nunca alcançado - vide as constantes vicissitude do povo de Israel -

Eduardo Medeiros disse…
Sem o inferno, o céu não existe. (Mirandinha)

Mirandinha, essa sua frase se encaixa perfeitamente na interpretação psicológica que o Levi faz do mito cristão. Nesse sentido, o cristianismo é fonte real para uma abordagem do que vai pelos afetos polarizados do homem. Ele deseja o céu, e para isso, precisa fazer o bem e ter o Salvador. Mas sem um inferno, onde a ameça da condenação esteja presente se ele falhar, para que fazer o bem? Talvez por isso alguns pensadores argumentaram que a religião seria um freio para a violência.
A teologia paulina esboça bem essa "guerra entre os opostos" que habita o ser humano. Na sua linguagem teológica, esta seria a guerra entre a natureza humana e o ideal elevado das coisas do espírito. Ou seja, o bem e o mal que nos habita. Nos termos usados pelo LEVI, "o homem ambivalente ou bipolar".

E o cristianismo têm um alento para a psiqué humana. O seu Deus, "polarizou-se"; em CRISTO Jesus, Deus experimentou as ambiguidades humanas mas foi capaz de vencê-la como homem, dando o exemplo para os homens.

Na verdade, a mensagem cristã é um chamamento para equilibrar os polos e não, extinguir o "polo mal", pois segundo João, "se dissermos que não temos pecados (ou seja, a crise da ambiguidade), mentimos. Mas se confessarmos os nossos pecados (nossa ambiguidade), Deus (aquele que em Cristo experimentou a ambiguidade) é fiel para nos perdoar os pecados (ou seja, equilibrar outra vez os polos)"
Eduardo Medeiros disse…
MIrandinha, o argumento do Pierre Simon de Laplace é bem interessante, não? Esse tal seria nada mais nada menos que Deus! rss
Então este "Deus" seria muito burro. Um idiota faria melhor.
Caro Levi,

Tendo a Bíblia como uma magnífica obra de arte literária, cada qual pode compreendê-la da mais variadas formas. Entendi e respeito a sua análise sobre o homem que se apoia numa interpretação psicanalítica da queda de Adão, muito embora existam tantas outras coisas ali para serem extraídas em prol da nossa edificação. Não que as colocações do irmão deixem de ser num certo sentido edificantes ainda que pareçam bem irreverentes para com a concepção bíblica de Deus.

Bem sei que todos nós corremos o risco de antropomorfizar o Eterno. Nem os autores sagrados escaparam disso. Nem mesmo Moisés que alcançou uma profunda intimidade em suas experiências no Sinai e na tenda. Mas talvez não poderia ser diferente e os mandamentos dados por intermédio dele tornaram-se próximos da necessidade humana em sua época.

Quanto às palavras do Joseph Campbell que citou, é preciso cautela para que alguém nas a deturpe achando que deva dar ocasião a todos os impulsos que têm. Concordaria que esse "demônio" seriam os sentimentos baixos com os quais preferimos não dialogar. Assim, se não tento compreender a minha ira, meu desejo sexual fora dos padrões familiares ou minhas ambições financeiras ou algum vício, acabo deixando que tudo venha à tona gerando uma terrível crise comportamental. Contudo, se tento entender o porquê e vou na raiz do problema, admitindo que tenho essas fraquezas e que preciso superá-las, coloco-me então numa situação de melhor enfrentamento. Aí estou de acordo de que não há vencidos e nem vencedores porque, se admito não estar me dominando e que também não sou totalmente controlado porque fui dotado do dom da vontade, fica mais fácil conviver com essa drama que nos acompanha.
Altamirando, acho melhor não generalizar. A crença em Deus pode ser libertadora, o que independe da religião da pessoa ou da tradição que ela segue. O homem maduro não vai imputar a terceiros fora de si o que é de sua exclusiva responsabilidade. A fé verdadeira deve fazer com que o crente assuma os seus erros e busque discernir até onde vai o campo de influência dos acontecimentos externos e que isto não invalida o fato de ser ele a causa.
Como não somos essa Inteligência Superior que é Onisciente, devemos manter uma atitude de reverência. Daí o dizer bíblico de que "o temor do Eterno é o princípio do saber". Veja como que a crença em Deus pode contribuir em muito para o aperfeiçoamento do ser humano!
O contrário da existência seria o nada e o não existir. O livro do Apocalipse identifica o destino no lago de fogo como sendo a "segunda morte" e vejo aí uma boa metáfora para os que não escolhem a Vida e preferem seguir pelo alienante caminho que leva à destruição da alma.
Não necessariamente, Edu. Pode bastar, por exemplo, a experimentação dos ensinamentos atribuídos a Jesus. Posso desenvolver a minha fé cristã sem necessariamente ter que aceitar como fato histórico a vinda de Jesus. Claro que isso se choca com a ortodoxia cristã, mas por que a minha fé dependeria da aprovação alheia?

De fato não preciso ser cristão para pesquisar sobre o Jesus histórico. E, certamente, o estudioso não ganhará nenhum grão de mostarda de fé pela pesquisa que empreender. Exceto se em algum omento ele olhar para dentro de si e tentar compreender a natureza divina que há nele mesmo.
Caro Edu,

Tudo vai depender da maneira como se lê Paulo, os evangelhos, o NT e qualquer narrativa sobre Jesus, seja ela canônica ou tida por "apócrifa".

Discordo quando diz que "a fé cristã não nasceu de uma 'iluminação' transcendental". Pois, embora a cultura cristã dependa de uma narrativa, doutrinas e das tradições dos seus variados segmentos, tudo baseada na encarnação de Jesus, eia que a conversão e o "novo nascimento" não dependem do aprendizado desse conteúdo. Trata-se, pois, de uma experiência do indivíduo, a qual podemos chamar de iluminação ou de iniciação como termos alternativos que os grupos esotéricos preferem. Neste caso, as narrativas com características de historicidade vão se tornando maneiras de se transmitir ensinamentos. Aí uma frase dita pelo autor sagrado ou por qualquer personagem deve ser objeto de investigação teológica. O foco deve ser a Palavra, sendo que o homem Jesus serve de um excelente instrumento pedagógico.
Concordo com boa parte do que colocou neste comentário. Agora vou à parte final:

"Mas para perceber tais símbolos, o cristianismo teria que abandonar a leitura literal deles, o que eu vejo como algo quase impossível de acontecer de uma forma geral." (Eduardo)

Bem, irmão. Num país onde grande parte da população é semi-analfabeta (sobretudo no campo espiritual), de fato é difícil as pessoas abandonarem esse nível de leitura passando para algo mais profundo. Contudo, precisamos reconhecer que a literalidade segura muitos comportamentos e contribui para a formação de caráter de um povo. Penso que, numa era científica, a confusão com a historicidade torna-se prejudicial para a própria cultura religiosa.

Particularmente, não costumo abandonar o literal. Procuro desenvolver paralelamente as minha exposições para a edificação da Igreja. Uns compreenderão a minha mensagem enquanto outros não. Vez ou outra encontro alguns radicais que passam a me combater e se recusam a acompanhas as reflexões que proponho. Esse tem sido o meu drama nas pregações dirigidas à Igreja.
"Ideal esse sempre buscado e nunca alcançado - vide as constantes vicissitude do povo de Israel" (Eduardo)

Não seria então uma permanente caminhada? Mas quanto ao que se constrói de positivo não haveria aí uma divina inspiração? O Dedo de Deus? Neste caso, estaríamos a projetar o que há de divino em nós.

Falando em bipolaridade, podemos dizer que esta seria uma realidade acima da matéria em que nossos corpos são usados tanto para o bem quanto para o mal. Cabe ao homem aprender a e conduzir diante dos impulsos que recebe. Daí a importância do auto-diálogo.
Amigos,

Sobre céu e inferno, essas realidades exitem e estão dentro das pessoas. Tanto o relato de Apocalipse sobre a Nova Jerusalém como as ideias contidas no Corão ( sobre ser um lugar com abundante água e virgens com peito durinho) seriam metáforas para o homem tentar compreender o que significa viver a eternidade com Deus.

"Nunca mais te servirá o sol para luz do dia, nem com o seu resplendor a lua te alumiará; mas o SENHOR será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória." (Is 60:19; ARA)

Eu quero ir pro céu! Eu quero estar para sempre com Deus! Aleluia!
Levi B. Santos disse…
Mas aí, Rodrigo, em seu comentário, transparece dois "Ceus": Um, como realidade em nossa vida de realação. E outro utópico, relacionado a glória, e poder eterno (projeção da sede de poder terreno?)

Lembro de que minha mãe dizia:

"O que eu não posso TER aqui, Lá eu vou TER de sobra". E começava a nomear o que teria lá no Ceú, começando pelo metal mais precioso e caro: "O OURO" .

A Medalha de prata e de bronze nem pensar.(rsrs)

Ou seja Lá, a história da competição pelo melhor, começaria outra vez.
- Ou o "Eterno Retorno de Nietzsche" (rsrs)

Bom dia, Levi!

Será que essa necessidade de TER não seria a projeção de outros desejos mais profundos do ser humano?

Ora, o ser precede o ter. O homem maduro sabe que o poder e os bens são meios dos quais nos utilizamos mas nunca um fim neles próprios. Já o imaturo se aliena pensando que achará a felicidade plena conquistando isto ou aquilo. Inclusive escapando do mitológico inferno para viver em SEGURANÇA após a morte. Contudo, se este crente refletir bem, ele se sentirá seguro hoje no aqui e agora sabendo que está habitando no "esconderijo do Altíssimo" quer esteja cá ou lá pois sabe fazer de Deus o seu refúgio e morada em todo o tempo. Mesmo diante das maiores dificuldades que enfrenta.

Quem dera eu fosse já esse crente madurão! Mas digo ao irmão que o "céu" ainda é uma realidade má compreendida, mesmo para os próprios escritores bíblicos os quais se utilizavam de comparações com o que é terreno para relatar as coisas espirituais. Inclusive a metáfora do ouro, que é um metal nobre e de altíssimo valor. Aí realmente a prata e o bronze não seriam adequados para o São João falar como seriam as coisas na Nova Jerusalém já que LÁ até o ouro será coisa comum diante da Divina Presença que envolve a todos nós, mas que estaremos melhor conectados ao Eterno no futuro vindouro visto que hoje existiria em nós uma grossa casca de pecados que atrapalham esse relacionamento, utilizando assim os conceitos religiosos.

Dizer que LÁ haverá competição, aí eu discordo. Creio que nesse outro nível da humanidade (eu creio que será nesta mesma Terra transformada pelo amor do Messias, daí os "novos céus e nova terra"), reinará a cooperação mútua. O ser humano vai desejar que o outro viva bem como ele em sua companhia amorosa. Não vai ser esse cada um por si como tenho experimentado aqui nesses dias de falta d'água no at´[ipico verão do Sudeste brasileiro em que um vizinho resolve encher sua piscina aumentando a demanda enquanto outro se aproveita de ter uma bomba, ainda tem aqueles que lavam carros e calçadas, enquanto tenho deixado até de molhar diariamente as minhas plantas usando a água já usada que estava na piscina para dar descarga. Não que eu seja santo e eles os capetas, mas creio que, no "céu", as pessoas vão adquirir consciência dessas coisas porque pensarão no bem estar do próximo e cultivarão a espiritualidade.

Numa visão mais atualizada do céu, irmão, podemos dizer que a humanidade chegará LÁ através de seu dialético processo evolutivo. Minha leitura do Apocalipse já não mais fundamentalista tem me levado a ver nas catástrofes e dificuldades oportunidades para o homem melhorar. Ainda assim haverá aqueles que continuarão impenitentes pensando só em si mesmos e praticando o mal. Estes, nesta mesma vida, não amadurecerão e quando ganharem outra oportunidade na "ressurreição", vão continuar atentando contra os santos inspirados por Satã (conf. Ap 20:7-10). Aí a profecia é concluída em que o futuro feliz ocorrerá sem essa turma para que possamos ser felizes sem precisarmos mais conviver co quem não quer melhorar e só deseja fazer o mal.

A paz!
Levi B. Santos disse…
Não sei, Rodrigo, mas vejo um lugar utópico de gozo eterno ( Ceu) e de sofrimento eterno (Inferno), como uma projeção sim, dos nossos desejos ambivalentes de “prazer-desprazer”, “amor-ódio”, etc,. Ou seja: ao falar de um “Céu” para uns, estou subentendo que há “inferno” para outros.

Acredito que um texto como o das Escrituras Sagradas seja dotado de infinitas interpretações. A dissecação dos elementos cheios de dualidades do Mito, acho, que é o método que mais se aproxima de nossa realidade interior.

Poderíamos, como falou, certa vez, Eduardo Giannetti, dizer que a história da Criação teria sido o “Big- Bang da linguagem no Universo do Engano”. ― onde ele diz, algo emblemático:

...no sentido literal da verdade, por estranho que pareça a serpente foi mais honesta que a figura de Deus. Não que se queira concluir que Deus mentiu. O que transparece, contudo, é que a morte a que Deus se referia em sua ameaça não era a morte súbita e literal do organismo, mas a consciência antecipada da morte.
O engano original da ”queda”, portanto, teria partido de um engano de entendimento acerca da palavra divina. A serpente não mentiu. O que ela fez foi explorar a porta aberta por um mal entendido espontâneo, ou seja, pela atribuição ingênua e indevida de literalidade a um ameaça igualmente real.



Eduardo Medeiros disse…
Levi, essa tirada do Eduardo Giannetti é interessante. De fato, a ameça de que "se comeres, certamente morrereis" esconde uma pegadinha rss mas a serpente também foi pelo mesmo caminho ao dizer "certamente não morrereis". E como é fica? rs
Eduardo Medeiros disse…
Rodrigo, mesmo você procurando fazer novas leituras do céu e do apocalipse, no fim das contas, você ainda não acredita numa utopia? Num desejo que nunca se realizará? Numa volta ao um idílico éden aqui na Terra? uma volta aos princípios? Tem como entender isso de literalmente? ou pode-se entender isso enquanto utopia a ser perseguida pelo homem, ainda que não plenamente alcançável?
Levi B. Santos disse…
“No princípio foi o “engano”

O certo é que o fruto trouxe um saber “divino” ― imortal enquanto durar... (rsrs)
E que frutinho indigesto, héin,Levi? Causador do pecado original até para aqueles que não vão acreditar.Deus vai castigar vocês. Vai mandá-los arder no mármore do inferno junto com o abacaxi que a cobra ofertou a Eva. Não se preocupem que estarei lá para abanar o fogo.
Levarei umas skolzinhas.
Levi B. Santos disse…
(kkkkkkkkkkk)

Só se colhe dessa história algum valor intrapsíquico, Miranda, se se entender que tudo nela são figuras míticas simbolizadoras dos sentimentos humanos. Agora, houve um povo que tentou viver de sua literalidade e se perdeu. (rsrsrs)

O auto-desconhecimento do mito ou a ingênua literalidade é que projetou na mente de muitos a divisão do espaço em um Céu e o Inferno Utópicos. Sobrou, é claro, para prole do primeiro casal. (rsrs)
Prezado Levi,

A serpente havia dito a Adão e Eva que eles se tornariam "como Deus", conhecedores do bem e do mal. Contudo, a aquisição desse conhecimento não os igualava ao Criador. Faltaria ao homem a eternidade. Logo, discordo do Eduardo Giannetti pois Deus só deseja o nosso bem e que o sacro relato bíblico seria um engano. Antes as Escrituras traduzem a mais absoluta verdade acerca de nós mesmos.

A ideia de céu e inferno nos levam à supor que sofrimento e felicidade continuam no pós morte e que podem significar estados que se eternizam na existência de cada um. A graça de Deus, porém, convida o homem a ser feliz, mas nem sempre as pessoas se abrem para esse chamado e oportunidade. Quantos, por exemplo, não partem daqui odiando o outro e apegados à matéria? Quantos não perdoam quem lhe causou dano e até a si mesmos? Quantos que na sua soberba intelectual zombam do Eterno até o último suspiro? Só que tais pessoas estão cultivando sofrimento para elas mesmas porque não me parece que para a consciência fora da esfera física todos os vínculos com a sua passagem terrestre serão cortados. Deve existir um tipo de memória espiritual dos fatos e das escolhas, bem como os resultados da ação e reação, coisas que somente a divina pode remediar levando-nos a buscar a solução.

Um abraço.
O "fruto" tem levado o homem a muitos outros enganos ao tentar discernir de maneira independente e auto-suficiente o que seria bom para si ignorando a correta instrução (Torá) de seu Criador. Refiro-me não necessariamente ao texto escrito da Bíblia mas à direção espiritual dada pelo eterno diante dos desafios e necessidades que se apresentam. Tal fruto significa a impenitente separação do ser humano e arrogante pretensão de se fazer como Deus.
Uma utopia, talvez, mas não algo que possamos considerar como irreal.Se algo existe como pensamento ou idealização, logo tal coisa existe e creio ser de divina inspiração. Eu creio que o Paraíso aqui se realizará, Edu. Tudo depende, porém, das nossas escolhas. Se, por ex., o homem continuar destruindo a natureza em sua volta, esse Éden só existirá mesmo lá no céu. Contudo, buscando Deus e despertando a nossa consciência messiânica, podemos tornar Isaías 11 uma realidade. Inclusive no AQUI e AGORA. Bendito seja o Eterno!
"houve um povo que tentou viver de sua literalidade e se perdeu" (Levi)


Se por acaso o irmão estiver se referindo aos judeus, lembro que eles se acharam muito mais rápido do que nós brasileiros. Eis aí o desenvolvido Estado de Israel para mostrar os avanços na caminhada da valorosa nação israelita. Um povo que sobreviveu a bimilenar Diáspora enquanto que nós brasileiros estamos a nos destruir com tanta violência, corrupção e idolatria.

Por favor, esclareça-me, Levi, que povo seria esse?

A paz do Senhor.
Em tempo!

A ideia do inferno parece ser muito mais cristã do que judaica. Talvez tenha surgido na época inter-testamentária, mas não teve a mesma orientação na era rabínica.
Grande Levi,
É muito fácil entender a lenda dos judeus e sua literalidade. O que me surpreende é pessoas com certo nível de conhecimento continuarem a defender esta medíocre historinha a partir do primeiro casal que nunca existiu.
Eu não sou contra o cristianismo, assim como não sou contra o budismo, taoismo ou qualquer outra seita. Todos teem direitos de acreditar ou não, dependendo de sua cultura e o nível de seu conhecimento. Assim com tem analfabetos que não acreditam em clonagem, índios que desconhecem a conquista espacial, tem também analfabetos funcionais que ainda não acreditam em transplantes executados a distancia tal a evolução da engenharia.
É muito fácil entender por que as religiões foram formadas e por que seus livros foram escritos. Difícil é explicar isto a um devoto, beato ou carola.
Levi B. Santos disse…
Na verdade, caro Rodrigo, para ser mais preciso, esse povo a que me refiro não se perdeu: anda se perdendo por aí. Melhor dizendo, e creio, você há de convir, que a maioria ainda é atraída pelo marketing religioso que usa os elementos míticos Céu e Inferno para monetariamente fazer crescer em progressão geométrica os seus currais.

O vergonhoso televangelismo no nosso meio não me deixa mentir, com seus acenos explícitos vendendo recompensas em uma outra vida depois da morte para os que caírem e sua rede; e para os que não rezam por sua cartilha interpretam maldosamente a metáfora “o “fogo eterno”  a pior forma de terrorismo em nome de um deus. A ameaça de viés antropomórfico que está fixada à letra e não ao espírito da letra, tem outro nome: ”Auto-engano”

Dizem que importamos esse nefasto sistema lá dos EUA. Tem tudo para ser verdade, pois a esmagadora maioria dos americanos crêem num Deus antropomórfico e num Diabo ou príncipe das trevas (meio homem meio dragão alado) . Nos nossos dias, infelizmente, os arautos dos rituais da idade média têm abusado dos requintes eletrônicos da mídia contemporânea para vender o produto CRISTO.

O marqueteiros das Trevas aproveitam-se das angústias, das incertezas e inquietações do homem, para pregar que essas vicissitudes humanas são encostos dos capetas e, como latifundiários do “Senhor”, vendem cada vez mais caros, terrenos celestiais à vista, ou pelo cartão de crédito.

Eles sabem que o estudo aprofundado da estrutura e da função dos mitos que dizem respeito as idiossincrasias internas do homem, não dá dinheiro nem enriquece seus celeiros.

Mas o que fazer quando pseudo-sacerdotes usam e abusam dos mitos, fazendo deles um comércio vil de engorda de ovelhas para comercializar a sua lã a preços extorsivos, em pleno horário nobre nos principais canais de Televisão?
Difícil é mostrar as belezas das Escrituras Sagradas para um ateu que se petrificou nos seus conceitos...
Caro Levi,

Posso lhe dizer que o secularismo acabou criando um ambiente propício para a expansão do pseudo-evangelismo midiático. As pessoas foram abandonando sua formação espiritual e se tornaram presas fáceis para os charlatões da fé. Basta o indivíduo passar por uma situação difícil que ele cai na rede desses assediadores da humanidade.

O discurso de "céu ou inferno" já não é mais tão utilizado como foi no passado, mas ainda assim a grande maioria dos pastores evangélicos e uma boa parte dos padres não o descarta por completo. Hoje até que o catolicismo seria mais tolerante por causa da doutrina sobre purgatório e o reconhecimento dos "cristãos anônimos", o que não exclui o velho método de coação psicológica.

O irmão disse que importamos essa loucura toda dos USA, mas eu diria que já na primeira metade do século o povo brasileiro estava deixando de pensar tanto nas coisas espirituais. "Religião é coisa para padres e freiras", diziam algumas pessoas nos anos 40 e 50, quando o Brasil era predominantemente católico. Só que o protestantismo foi entrando aqui com uma variedade de opções capazes de corresponder às necessidades emocionais do povo brasileiro, entre as quais a fuga da realidade, a crença em milagres já que o sistema de saúde mal funciona, o sonho de ser rico e ter carimbado o passaporte para o céu, a salvação dos familiares perdidos nos vícios, encontrar a cara metade através de orações pela vida sentimental e também ter êxtases e experiências sobrenaturais, o que seria um enorme conforto para um povo de sexualidade reprimida e com poucas condições de mobilidade social. Daí as igrejas protestantes mais tradicionais nem terem crescido tanto e, nos últimos anos, muitas denominações acabaram se pentecostalizando. Até os próprios católicos investiram no movimento carismático e que aceita a veneração e a intercessão de Maria junto com a doutrina sobre os dons do Espírito Santo.

Contudo, a sua pergunta final leva-me à seguinte resposta: É preciso promover a formação espiritual do cidadão brasileiro! Não através do tipo de esclarecimento que busca trazer o destruidor secularismo, mas sim dentro das tradições religiosas da nossa cultura levando-se em conta todos esses anseios do ser humano. O discurso da crítica sobre os charlatões da prosperidade se não estiver conectado a algo mas sólido, por exemplo, vai apenas desconstruir e nada edificar. Logo, é preciso haver um projeto para esta e as gerações conforme a Torá expressamente concebe no pacto entre o Eterno e os israelitas. Por isso eu defendo um Brasil religioso cujo Estado mesmo sendo laico, tem uma sociedade capaz de significar a sua vida cotidiana através de um cristianismo libertador, renovador e progressista.

A paz do Senhor!
Em tempo!

Não defendo um retorno ao catolicismo, mas sim um novo modelo de Igreja e que busque trazer uma revolução espiritual. Cito a seguir alguns valores que devem ser buscados com esse propósito:

- Educação espiritual das crianças com leitura bíblica e uma espécie de doutrina religiosa introdutória;

- A discussão permanente das condutas éticas que seriam codificadas em livros ara a observância das pessoas;

- Atuação na área social prestando socorros emergenciais, elaborando e executando projetos, acompanhando e participando das decisões políticas relevantes a nível local, regional, nacional e mundial;

- Diálogo e cooperação com outros grupos religiosos;

- Trabalhos voltados para a assistência psicológica.
Levi B. Santos disse…
À Quaternidade de comentaristas:


O Texto postado estimulou os nobres confrades, Miranda, Eduardo e Rodrigo a fazer interessantes e frutíferos contrapontos

Creio que algo de positivo ficou nesta nossa longa interação.

Passemos então a régua, e que venha nova postagem. (rsr
Prezado Levi,

Você quer passar "a régua" justo agora que toquei num ponto indispensável sobre a reforma da Igreja que o momento atual exige para ser posto em prática?!

Sei que o debate inicial já se desdobrou em outros e que, ultimamente, estávamos quase que só nos dois a debater tendo participado nas discussões do post apenas quatro pessoas e nenhuma letra feminina...

Pensando nisso, em que pese a ordem de postagens, talvez eu queira escrever algo já que não deu muito certo o nosso último plano de reformar a C.P.F.G. e não creio que o blogue retornar aos saudáveis tempos daquilo que podemos chamar de Confraria Primitiva, da qual só cheguei a participar em seus meses finais.

Verdade é que sempre desejamos retornar aos primeiros tempos, o que também ocorre com os entusiastas da Igreja de Cristo como é o meu caso. Mas tenho aprendido que é impossível "tomar banho duas vezes num mesmo rio", conforme havia dito o filósofo e que as coisas estão em permanente evolução. Logo, tanto a C.P.F.G. quanto a amada Igreja, a Noiva do Cordeiro que Cristo buscará "sem ruga e sem mácula" caminham neste sentido.

Amigos, acho que vou escrever algo sobre a Igreja, um assunto que certamente não morre em nenhum de nós que somos os seus exilados numa era onde predomina o fundamentalismo religioso e o marketing do televangelismo.

A exceção do Altamirando que virou ateu, por acaso você e o Eduardo já desistiram totalmente da Igreja? Suponho eu que não! Todavia, posso falar por mim que, embora, no momento, esteja desigrejado (não desviado), sinto falta do convívio com a comunidade de crentes e anseio por caminhar unido com meus irmãos ajudando uns aos outros sem dogmas, sem obscurecimento de ideias, sem discriminação de qualquer tipo, sem a exploração da fé alheia, sem demagogias e sem as armadilhas do nefasto secularismo.

A paz do Senhor.