Biblicamente Falando... Existe Espirito Humano?

“Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade, antes que... (contexto deve ser acoplado ao que aponto aqui)... E o pó volte a terra como era, e o espírito a Deus que o deu...” 

Eclesiastes 12:1 e 7

Estávamos estudando "cristologia" e surgiu uma pergunta interessante sobre a encarnação de Cristo. Perguntaram se ao chegarmos ao paraíso encontraremos dois "Jesus", o que possuía o espirito humano e o que possuía o espirito divino. Nem preciso dizer que isso causou um rebuliço na sala de aula kkkkkkkk Mas confesso que foi uma pergunta interessante e perspicaz... E agora??? Existe um "espirito humano"??? É óbvio que se trata de um assunto teológico e que para alguns aqui, pouco importa isso. Mas gostaria de ler as opiniões dos eruditos confrades que por aqui transitam e emitem seus tratados. Abaixo listo as argumentações bíblicas que encontrei, e que me respaldaram a emitir uma posição sobre o assunto, mesmo sendo contrariado por praticamente toda a classe.

  1. As escrituras afirmam e contribuem para a manutenção da ideia de tricotomia do ser humano em relação a sua composição. Somos corpo, alma e espírito (I Tessalonicenses 5:23 e Hebreus 4:12), cada qual com uma origem, função e um destino especifico. Com base nisto, a sentença que cito acima me fornece condições lógicas de afirmar que a expressão “espírito humano” é apenas uma força de expressão não tendo existência no campo teológico e filosófico por deficiências etimológicas e também por não se enquadrar na lógica racional das escrituras. Posso como força de expressão afirmar que o espírito é humano, somente se estiver me referindo à posse, ou seja, o “espírito é humano por estar no humano”. Afinal, o ser humano nada pode criar de si mesmo, e sendo assim, tanto Cristo como nós mesmos não possuímos um “espírito humano”, e sim um “espírito divino”. Por isso ele, o espírito esta pronto (Mateus 26:41) como bem disse Jesus, e no momento da morte ele retorna a Deus como pontuou o autor de Eclesiastes (Eclesiastes 3:7).
  2. A pré-existência de Cristo (João 1:1, Hebreus 1:2 e I Pedro 1:20) o dota de espírito, o qual anula qualquer possibilidade de que Deus o dê outro espírito. Sendo assim, fica simples de se compreender que Cristo apenas recebe corpo e alma ao vir a terra, considerando já ter o espírito divino em si. Logo, a ideia de que haja dois espíritos, ou que Jesus recebeu um ao nascer, é antibíblica devido a sua pré-existência.
  3. A diferença do que é apresentado nestas linhas em relação ao que Apolinario afirmou nos primeiros séculos da igreja se dá pela confusão que se faz etimologicamente entre os termos “espirito e alma”, fazendo relação a posição de mente/coração. Sendo que o termo mais apropriado para definirmos como mente seria a alma e ele utiliza espírito, pois é na alma que se concentram todas as emoções, sentimentos e desejos do ser humano (Provérbios 4:23), e que pela lógica e pela ciência corresponde a mente. Pois se a mente fosse definida pelo espírito, ele (espírito) jamais estaria pronto (Mateus 26:41), e sim em constante transformação, sendo sujeito a enganos e erros (Jeremias 17:9 e Romanos 12:2).
  4. Sendo assim, minha defesa é esta, “que Cristo ao se tornar Verbo Encarnado em Jesus, ele recebe um corpo para que haja materialização humana, e uma alma para que nela sejam lançados os pecados da humanidade e assim cumprir a sua missão de redenção, não recebendo um espírito, por já possuir o mesmo, o qual foi dado por Deus como a todos os homens”.

Comentários

Olá Matheus,

A pergunta que propôs é bem interessante, mas penso que não devia tê-la restringido à Bíblia. O debate teria ficado melhor se a questão fosse apenas esta: Existe espírito humano? Pois, assim, você abriria a argumentação até para quem tenta entender o homem à luz da racionalidade empírica ainda que a ciência não tenha conclusões que provem a existência de espíritos.

Mas, ainda assim, como tenho uma experimentação em Teologia, vou ao debate ainda que tardiamente. E aí outra consideração que faço é a seguinte: Na Bíblia cristã as informações existentes sobre espírito seriam coerentes? Entre o Antigo e o Novo Testamento não haveria uma diferença de concepção acerca do homem? Pois, se para os gregos, somos divididos em corpo, alma e espírito, na visão hebraica que é oriental, tal segmentação inexiste. Você é corpo, e você é alma e você é espírito. Os vocábulos nos dois idiomas podem nos conduzir a significações diferentes e aí já não teria tanta bagagem para opinar. Posso superficialmente dizer que, no hebraico, a ruah é um "sopro", o "fôlego de vida", o "ânimo". Aliás, o Judaísmo seria uma religião animista em que HaShem Elohim soprou nas narinas de Adam e ele se tornou um Nefesh...

É certo que a visão teológica vai se alterando dentro do próprio AT e acredito que o exílio babilônico e, mais tarde, o contato com a cultura grega tenham influenciado os judeus. Um dos resultados seria a ressurreição dos mortos que é totalmente ignorada no Pentateuco. Mas suponho que, mesmo na época de Jesus, ainda não houvesse uma ideia já consolidada de que o espírito seria uma consciência. Talvez já estivessem caminhando nesta direção como nos mostra a parábola do rico e do Lázaro de Lc 16:19-31. O autor bíblico não diz ali que os espíritos do rico e do Lázaro foram para os respectivos locais, mas nos deixa entender que eles, como consciências individuais, foram cada qual para o Seio de Abraão e para o Hades.

Assim sendo, acho muito complicado formar uma conclusão bíblica e daí penso que não deveria ter limitado o assunto à Bíblia. Não podemos pensar que a revelação tenha terminado com Apocalipse e muitas experimentações e estudos foram desenvolvidos dentro e fora da Igreja acerca da questão e nem sempre com respaldo nas Escrituras.

Grande abraço!
kkkkkkk Tranquilo Rodrigo

A ideia do 'biblicamente falando" não foi para limitar o debate... É que defendi esta ideia de não existência de espirito humano, e fui contrariado biblicamente... Porem biblicamente não há menção de espirito humano, e quando falamos, o fizemos por força de expressão.

O biblicamente falando foi meio que irônico.
Boa tarde, Matheus.

Embora eu ache complicado querermos elaborar doutrinas com detalhes sobre o mundo não físico como costumam fazer os espíritas kardecistas, creio que haja algo além desta realidade visível. Sinto que há em nós a eternidade até pelo desejo de continuarmos existindo e sermos lembrados após a morte. Assim, a essência do nosso ser permanece no atemporal junto com o Eterno. Afinal, HaShem não foi o Deus dos patriarcas. Ele é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, de modo que a eternidade do ser me parece unida ao atributo do nosso Criador bendito.

Tenha um ótimo descanso com muita paz!
Eduardo Medeiros disse…
"Biblicamente falando", o espírito/alma do homem é seu fôlego de vida que ele recebeu de Deus (visão do AT); esse fôlego, se acaba com a morte, e no modo de compreender do Eclesiastes, ele volta para Deus.

Já "biblicamente falando" no NT, Paulo incorporou em sua antropologia, a compartimentalização grega em corpo, alma e espírito.

o espírito é humano? é divino?

"teologicamente falando", Matheus, você criou um boa tese, apesar de ser complicada a explicação que o Jesus pré-encarnação "tinha" um espírito divino; ele tinha ou ele era?

Se isto é correto (dele ser e não ter), o que ocorre quando ele se "esvazia" no linguajar teológico de Paulo? De que ele se esvaziou? do que ele era ou do que ele tinha?

Armadilhas da teologia...(?)

mas devemos pensar em "espírito humano" ou em "Alma" em termos mais modernos; curiosamente, acho muito moderno a concepção de alma do autor do Gênesis como "fôlego", pois é o que é de fato. É com uma "inspiração" que o bebê começa a viver fora do útero e é com uma "expiração definitiva" que ele morre";

Mas o que a ciência investiga hoje é a consciência humana. Ela é uma boa candidata a ser o que chamamos de "espírito humano"; e até abro a possibilidade da consciência humana continuar existindo após se desligar do corpo.
Aproveitando o que o Eduardo colocou quanto à ciência, vale lembrar aqui das pessoas que tiveram uma EQM (experiência de quase-morte), as quais relataram terem se afastado de seus corpos vendo-os, inclusive, bem como ido em direção a uma luz e estabelecido contato com outras consciências.