Procuro encontrar razões para justificar minha descrença.
Faço parte de uma minoria que não se envolve em movimentos eclesiásticos.
Estive eu ouvindo o Papa e a apresentação da via crucis e matutei; Será que
esta grande massa se contenta com ilusões?
Construímos nossas
crenças por várias e diferentes razões subjetivas, pessoais, emocionais e
psicológicas, em contextos criados pela família, por amigos, pela cultura e a
sociedade. Uma vez consolidadas essas crenças, nós as defendemos, justificamos
com uma profusão de razões intelectuais, argumentos convincentes e explicações
racionais. Primeiro surgem as crenças e depois as explicações. O cérebro é uma
máquina de crenças.
Historiadores de religião tem uma regra irônica para avaliar
as referências históricas na bíblia. Quanto menos sentido tiver a referência,
mais provável que ela seja verdadeira. Esta é uma das razões que tornam críveis
os relatos bíblicos da história de um filho de Deus. Por toda a história os
deuses haviam sido seres para quem se fazia sacrifícios. Os hebreus criaram um
deus que não só exigia sacrifícios rituais mas que ele próprio fazia sacrifício.
“Amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Jesus não era descendente de Davi, não nasceu em Belém, sua
mãe era uma moabita, pertencia a um clã fruto de uma relação incestuosa entre
Lot e uma filha. Seus milagres eram explicitamente simbólicos. Quando Jesus
curou um cego, disse; “Eu sou a luz do mundo”. Em João, Jesus transforma o
milagre em espetáculo. Antes de ressuscitar Lázaro ele diz que a doença de
Lázaro era para glorificar o filho de Deus. Quando cura um paralítico diz: “Vá
e nada conte a ninguém”. Mesmo pregando a redenção conquistou poucos seguidores.
Usando o critério de dissimilaridade a crucificação de Cristo
não passa no teste da inconveniência teológica. A crucificação é um sério
problema de retórica. O Messias seria um Rei, a redenção viria através de
castigo aos ímpios, um guerreiro com o dom da palavra e perder a vida não fazia
parte das atribuições do Messias. Também a atitude de Jesus diante da própria
morte. Se ele sabia ser filho de Deus e enviado ao mundo para morrer,
acharíamos que ele aceitaria sua morte com gratidão ou pelo menos com certa
resignação nobre. Afinal, sendo ele e o pai a mesma pessoa, sabia também que
ressuscitaria no final do ato. No entanto, suas palavras em Marcos são: Deus
meu, Deus meu, por que me desamparastes?
Por mais que eu leio a bíblia, por mais que eu ouço pregações
papais ou evangélicas ou qualquer coisa que o valha, não consigo acreditar nas
pífias evidências. Será que o errado sou eu?...Então por que me foi dado a
faculdade do discernimento?
Portanto, talvez a solução para atenuar a superstição e a
crença no sobrenatural esteja em ensinar como a ciência funciona, e não apenas
o que a ciência descobriu.
Comentários
Como é extremamente difícil para o fundamentalista crstão crê que o grito acima foi de decepção.
O crente do “a Bíblia diz...,” com certeza não crê que Joshua foi um humano igual a nós, com temores, dúvidas, e todo tipo de vicissitudes. Ele prefere viver numa situação psicológica de servidão infantil, contanto que lhe garanta o Céu.
Segundo Freud, “a crença na elevação de um homem a deus foi, portanto, a manifestação de um desejo inconsciente de eliminação do pai divino. Nisso reside a significação do fato de ter a comunidade primitiva cristã seguido a doutrina da adoção ― a teoria da elevação do homem a Deus”.
Eu comentei na postagem anterior, que a autenticação do ossuário de tiago sugere que Jesus foi uma figura histórica, e não que Deus existe.
Quanto ao teu texto, nada a criticar. Mas como já disse, a crença tem um lado emocional forte, e ela rechaça qualquer evidência em contrário, pois ela encontra explicações racionais para algo além da razão. Essa é a força da fé.