A internet é a maior oficina do diabo de todos os tempos, por que é
pra lá que correm e concorrem todas as pessoas com tempo vago da
atualidade. Quem só trabalha ou só estuda e não tem família, filho,
marido, esposa ou netos pra cuidar, tem de quatro, oito ou ate doze
horas por dias disponíveis para navegar, mais precisamente vagar pela
internet. Pois quem estuda e trabalha, tem de manha a ate a noite:
obrigações e compromisso sérios, tem pouco tempo, e só entram na
internet para se atualizar, e selecionam
muito bem o que vão ver, por não ter tempo a perder. Pois é esse imenso
tempo vago que possibilita num lugar infinito de possibilidade de
informações falsas e verdadeira, e a mistura das duas a fermentações de
todas essas paranoias e teorias de conspiração que florescem a cada dia.
O pior de tudo, é que quem tem tempo pra isso, pode criar a jogar na
rede o que quiser, tudo movido por um desejo de influenciar. Se ate
empresas serias de imprensa demonstra inescrupulosamente com noticias
falsas ou verdadeiras, isso já não importa a essa altura, um enorme
desejo de mudar o destino e rumo das coisas com noticias. Imagina uma
pessoa completamente á toa, com um mínimo de inteligência para juntar e
fermentar ideias, o que ela pode semear, simplesmente pelo desejo de
poder, de sentir que tem a capacidade de através da internet gerar
sentimentos de histerias e paranoias coletivas. Os lunáticos de ontem
são os internautas do hoje, são pessoas com um tempo vago imenso
suficiente para vagar de um lado pro outro, jogados pelo sensacionalismo
e feitiços de informações cujo leque de possibilidades são infinitas.
Quem trabalha de dia e estuda ou cuida da família de noite, sente ao
entrar na internet, estar entrando em outro mundo, num mundo de guerras e
revoluções, num mundo com sensações de fim de mundo. Num Mundo surreal,
diferente daquele em que pautou sua vida durante o dia. Nunca fez tanto
sentido a frase de que mente vazia é oficina do diabo, ainda mais na
modernidade com tanta gente que só estuda ou só trabalha e tem muita
hora vaga, pra simplesmente vagar.
Comentários
O francês Gabriel Tarde, considerado o pai da microssociologia, no final do século XIX, dizia em seu clássico As Leis da Imitação (ainda não traduzido para o português), que a opinião pública é formada pela troca de opiniões entre as pessoas e outras pessoas cujas opiniões respeitam. A partir daí se formam fluxos de opinamento. Quando as informações difundidas são amplas, como pelos meios de comunicação, aquela troca de opiniões se dá milhares/milhões de vezes. São esses fluxos que formam a opinião pública.
O autor fala também de três atores nesse processo: (i) os que iniciam processos de opinamento (“loucos”); (ii) os que repassam os fluxos de opinamento (“sonâmbulos”); e (iii) os que não estão nem aí e não dão importância a esses fluxos e não repassam (“idiotas”). Segundo ele, quanto maior a proporção desses últimos, menor a velocidade na formação de opinião pública e mais difícil identificá-la.
Bem, quando olho pras redes sociais da internet, vejo entre os que saem compartilhando tudo a figura dos "sonâmbulos". Basta saber influenciá-los com as certas palavras capazes de motivá-los. Os que lançam tendências, em via de regra, geralmente estão se dando bem porque agem intencionalmente esperando resultados econômicos e político-eleitorais. Mas os que não estão nem aí para as informações que circulam nos ambientes virtual e físico corresponderiam aos que você citou na postagem: aquela gente que só trabalha e estuda.
No fim das contas, são os que sabem viver suas vidas comuns as pessoas que mais prosperam, tornando-se mais felizes porque dão atenção ao relacionamento com a família. Elas se sentem surpresas com os acontecimentos da política, da economia e da vida social quando lhes atingem, mas tornam a se preocupar com as coisas do cotidiano simples quando tudo se normaliza. Mas para esses nem sempre as experiências alcançam tanta intensidade se compararmos com quem cultiva um pouco de ociosidade criativa. Principalmente para os que lançam ou refletem sobre as tendências.
Por outro lado, vejo que o excesso de participação da internet ou dos ambientes físicos de discussões que entretêm pode fazer mal. Tudo na vida precisa de algum equilíbrio e acho que o ser humano precisa aprender a não se deixar dominar por nada. Nem pelo trabalho em excesso ou pelos cafés filosóficos, sendo certo que nem só de pão viver o homem, como bem ensina a Bíblia. Mas é claro que a maioria dos internautas não tá nem aí pras conversas de alto nível preferindo repassar as besteiradas humorísticas, ver fotos de mulher pelada, fofocas sobre a nova amante doe um jogador de futebol famoso, a separação de alguma atriz, etc.
A internet tem de certo modo facilitado a vida de muitas pessoas, que a sabem usar.
A internet, hoje, é mais do que nunca um instrumento nas mãos do Criador. Já pensou você freqüentando a igreja em Campinas, carregando uma bolsa à tiracolo contendo uma Bíblia volumosa pesando cerca de 5 quilos, e uma Harpa Cristã de mais ou menos 600 gramas, além de dois dicionários (um grego e outro em português) pesando mais 4 quilos. Sairiam gozando de você, pois, hoje, qualquer pastor anda de mãos vazias tranqüilo com seu smart phone de apenas 100 gramas no bolso interno do paletó.
Lá no púlpito, ele olha para a plateia e escolhe, num simples clique, um dos 4 ou 5 sermões que ele gravou no aparelhozinho, e retransmite para toda a igreja a palavra estereofônica de deus, ensaiada com bem calma em casa. Ele pode escolher, dependendo do estado da platéia, uma pregação para levantar o austral das ovelhas, como pode clicar num sermão duro de exortação, ou clicar numa pregação tipo reteté. Tudo sem precisar do velho refrão: “os irmãos orem em espírito para que Deus me dê uma palavra da parte dele”.
Se Deus criou tudo num clique, como diz lá no Gênesis, por que o pregador não pode fazer o mesmo com o seu smart-phone? Tudo para glória Dele (e claro do orador, né?)
Você sabe muito bem, que Campinas –SP tem as igrejas mais avançadas da América Latina, e não tenho dúvidas de que essa evolução já tenha chegado aí, onde máquinas eletrônicas para substituir as velhas salvas de tirar ofertas há anos foram abolidas, segundo você me referiu no tempo em que a C.P.F.G funcionava a todo vapor.
Hoje com o avanço da tecnologia e da cibernética, você pode entrar no estacionamento com cancela da igreja, apertar um botãzinho e ouvir uma voz angelical dizer suavemente: “Pode entre meu querido irmão, que deus lhe dê o que mais você deseja, e não esqueça de pagar seu tiket no caixa mais próximo de sua poltrona”. Sem falar que no interior da igreja, quando a palavra for inssossa, você pode acessar a senha com o porteiro e ficar dedilhando no seu celular, até chegar a “Hora do Apêlo”
Então eu diria que a internet tanto pode ser a oficina do diabo, quanto a de Deus. (rsrsrs)
Apesar de saber que cultura também se faz com humor, vou deixar de lado esse tipo de figura de linguagem, para concordar com trechos pinçados do comentário de Rodrigo e do seu texto, Esdras:
“...Você pode fazer da internet o seu ambiente de trabalho para a promoção de novas ideias e estabelecimento de tendências que vão surgindo na atualidade”. (Rodrigo)
“[..] ...é claro que a maioria dos internautas não tá nem aí pras conversas de alto nível preferindo repassar as besteiradas humorísticas, ver fotos de mulher pelada, fofocas sobre a nova amante doe um jogador de futebol famoso, a separação de alguma atriz, etc.”, (Esdras)
Mesmo estando no ocaso da vida (tem já 68 anos de idade) quando faço o uso da IRONIA, faço como recurso metafórico no intuito de instigar o sujeito à reflexão. O ironista, a primeira vista pode até ser visto como um ingênuo, e considero que ele tem um papel inglório ― o de brincar com conceitos e opiniões pré-formadas, mas no fundo no fundo a linguagem irônica tenciona desconstruir o pensamento único ou polarizado. A ironia em sua essência tem uma lógica sadia, que é a de tirar leite de pedras consideradas antagônicas. E dessa forma está sempre desconcertado ou surpreendendo o escritor, que na maioria das vezes, espera a aprovação daquilo que ele tem como certo.
Como dizia Paul Valèry: “A palavra é metade de quem a escreve, e metade de quem a responde. Ou seja:: nem sempre o que o leitor responde corresponde ao que o escritor espera. (rsrs)
Mas esse objeto nunca deixa de refletir a nossa ambivalência: podemos por ele ter ódio e amor. Como acontece com os canibais que devoram as suas vítimas para adquirir algo desejável que existe nela. Ódio e amor também presentes no caçador que apesar de furiosamente matar o leão, para se tornar valente, adora degustar o coração da fera ferida e inerte.
Talvez a razão de sua pergunta que abaixo repliquei tenha no fundo um pouco de sua vivência satisfeita ou não satisfeita, prazerosa ou não prazerosa decorrente de suas freqüentes andâncias pelo Face.
“...diga me dessa ociosidade que cria post, e textos infinitos jogados ao infinito da internet, e por mais ricos que sejam servem apenas para significar a vida do escritor, dar uma ocupação mais digna a capacidade humana de mentes tão férteis,”
Por falar em “ociosidade”, quero acrescentar que chegamos a uma idade em que a internet nos dá a oportunidade de exercer o Ócio criativo, Esdras.(rsrs)
Foi bem no começo da fleuma pela internet que li o Livro “O Ócio Criativo”. Lembro-me bem do que disse a entrevistada ― Maria Serena Palieri, ao entrevistador Domenico de Masi:
“O homem que trabalha perde tempo precioso”.
No exercício do meu ócio, quando escrevo, ou digito na telinha do computador sempre acabo aprendendo alguma coisa, quando o outro faz seu contraponto. Quando ele não faz seu contraponto e concorda ou me elogia naquilo que expus no texto, massageia o meu ego e alimenta meu narcisismo. O mal estar da pos-modernidade advém do fato de não se poder fugir desse dilema. O apóstolo Saulo de Tarso, disse, nesse sentido: “quem me livrará do corpo dessa morte?” (rsrs)
Quando eu digo que a internet é a “oficina do Diabo”, estou exercendo um mecanismo de defesa e, por experiência própria estou expondo a minha decepção comigo mesmo; ao mesmo tempo projetando o meu inferno existencial no outro, parafraseando, Sartre.
Escolhemos a diabólica INTERNET (ou ela nos escolheu?),
Ela é fogo consumidor, as vezes perda de tempo, às vezes bálsamo ou remédio para as nossas dores existenciais. E não é que sonhamos, às vezes, que é por ela, que enfim, encontramos a rachadura ou brecha para sonhar com a reforma do mundo, e assim, poder nos sentir VIRTUALMENTE LIVRES"?
Às vezes penso que a Internet é uma espécie de religião que, à semelhança de Javé, tem duas faces: uma divina e outra diabólica ou sombria. Faces que Ele usa conforme o estado psicológico em que se encontra sua vítima.
O Eduardo está tão envolvido no Face, que parece que ainda não apreciou teu texto. (kkkkk)
Foi esse danado do Facebook que nos encantou com sua varinha de condão, para depois de um período de encanto deixar instalado em nós o vazio do desencanto. Desencanto que pode ser, quem sabe, não irredutível para sempre.
Bom seria que esse desencanto se assemelhasse ao vazio de um estômago faminto ― vazio que é bem vindo, pois estimula o anseio de voltar a degustar a comida gostosa e inigualável da casa da mamãe.
Vou cometer um sincericídio, fazendo minha uma estrofe da antológica canção de Ataulfo Alves:
Eu daria tudo que eu tivesse
Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança
Esses últimos dias de eleições, militei o bom combate do debate político no Face, pois foi lá que o bicho pegou pra valer entre governistas e oposição. E logo eu, que este ano queria ficar impassível diante do pleito...quando dei por mim, estava ali, denunciando os desmandos do PT e apregoando que a democracia precisa de alternância.
Internet "oficina do diabo"? Sei não. A internet pode ser tudo. Todas as oficinas nela cabem, você precisa saber escolher em qual delas vai entrar.
Mas Esdras diz bem:
Quem só trabalha ou só estuda e não tem família, filho, marido, esposa ou netos pra cuidar, tem de quatro, oito ou ate doze horas por dias disponíveis para navegar
Parece certo que a internet com sua força irresistível, nos roubou todo o tempo vago e ocioso, e grande parte desse tempo foi pescado pelo Face. Mas até lá pode-se degustar bons petiscos. Nosso grupo no Face é um exemplo disso, onde temas relevantes são sempre propostos.
Mas a internet roubou até mesmo o pouco tempo de quem trabalha, estuda e ainda tem família, com prejuízo de alguns deles.
O nascimento do meu filho há quase 4 anos, também me ajudou a ser mais seletivo. Hoje separo um bom tempo do meu dia para brincar com ele, para conversar (o menino vai ser bom de papo).
E dei sorte por ter sido pai depois de ter me reformado e ter o dia livre para fazer o que quiser. (não vou entrar na questão de que quando ele tiver 20 anos eu já serei um velhinho de 66...rss)
Mas a tese do amigo confrade visitante é válida. A internet têm prendido em suas teias um número grande de jovens principalmente, tirando-lhes a experiência de outras atividades, o que eu acho pode ser ruim. Mas se forem bem orientados, poderão não só ficar horas jogando na rede, mas também poderão se beneficiar do inesgotável campo de pesquisa e estudo que a rede nos dispõe.