A escola modelo do Brasil da ilha de Marambaia




Por Mirian Bondim*

Um das iniciativas mais brilhantes do governo de Getúlio Vargas na região foi a criação, em 1939, da Escola Técnica de Pesca Darcy Vargas, na ilha de Marambaia. A escola foi construída durante o Estado Novo, sob a coordenação da Fundação do Abrigo Cristo Redentor, uma entidade filantrópica (sem fins lucrativos) criada por Rafael Levy Miranda.

A escola possuía em suas dependências dois dormitórios com duzentos leitos cada, subdivididos em camarotes, com quatro beliches de ferro, cobertos de lona, sala de diversões, biblioteca, barbearia, anfiteatro, lavanderia mecânica, enfermaria, com salas de isolamentos, gabinete dentário e médico, grupo escolar com instalações para 220 meninos, residência dos religiosos que administravam os serviços do hospital e da maternidade.

Até 1965, o estabelecimento funcionou como um grande complexo industrial profissionalizante de pesca, com a capacidade inicial para 400 alunos oriundos de vários estados brasileiros. Possuía instalações industriais com frigorífico, fábrica de redes de pescar com dois pavilhões destinados à tecelagem e o curtume das redes, fábrica de gelo, indústria do peixe com instalação frigorífica, com sala de salga e corte de cação, usando a mesma técnica de bacalhau na preparação da carne cortado em filés e na secagem e empacotamento de peixe seco, fábrica de sardinha em conserva com azeite e tomate, laboratório para o aproveitamento dos subprodutos dos peixes, entre os quais o óleo do fígado de cação, fábrica de farinha de peixe, estaleiro naval com carpintaria e todo o aparato deste, oficina mecânica de motores marítimos, usina de luz elétrica etc.

Além das instalações da escola industrial da pesca, foram construídas residências com esgoto, água encanada e energia elétrica destinadas aos pescadores e operários, uma cooperativa, uma escola primária, a Igreja Nossa Senhora das Dores, com clausura para religiosas, um parque recreativo para as crianças, um pequeno hospital, uma farmácia, além de padaria, hortas e espaço para pecuária. Esses últimos, para abastecimento dos operários, técnicos e alunos.

A Escola de Pesca, motivo de orgulho do governo de Getúlio Vargas e de Mangaratiba, marcou presença nas páginas dos principais jornais do país, sendo apontada como escola modelo do Brasil. Jornalistas acompanhavam as visitas de autoridades nacionais e internacionais à escola, noticiavam o encantamento desses visitantes pela organização por suas produções no preparo da pesca da rica Baía de Sepetiba.




Infelizmente, com o fim do governo de Vargas, em meados dos anos 50, o projeto entrou em decadência e, durante o regime Militar de 1965 a 1970, passou a funcionar dentro de um sistema comum de colégio interno (não mais como escola de pesca) com a denominação de Escola Técnica Darcy Vargas. Para tal, foi firmado um convênio entre a Fundação Abrigo Cristo Redentor e a Secretaria Estadual de Educação e um novo currículo escolar foi estabelecido, incluindo, além das disciplinas tradicionais, Artes Industriais, encadernação de livros, motores a explosão, artes gráficas, artesanato, marcenaria e noções de marinharia.

Em 1971, infelizmente, esse grandioso projeto chegou ao fim, com todas as instalações da antiga escola de pesca sendo passadas às mãos da Marinha do Brasil. Em 1981, foi criado, no local, o Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (CADIM), sob o comando dos Fuzileiros Navais. 

Em Mangaratiba, a Escola Darcy Vargas é saudosamente lembrada pela presença da “Banda da Marambaia”, animando as quermesses de festas das igrejas, os desfiles escolares de 7 de setembro, em torneios esportivos e outros eventos mais. Como também é lembrada por um grupo de ex-alunos que todos os anos se reúne para matar a saudade dessa inesquecível escola.

(*) Mirian Bondim é professora e historiadora. Escreve semanalmente na página Santa Paciência do sítio de relacionamentos Facebook.

OBS: A primeira imagem extraí da Wikipédia sendo os créditos autorais do trabalho fotográfico pertencentes a Diego Baravelli, conforme consta no artigo da enciclopédia virtual sobre a restinga (clique AQUI para ler). Já o texto foi extraído da postagem feita em 13/06 na página Santa Paciência do Facebook, na qual se pode ver antigas fotos sobre a escola, cuja pesquisa é atribuída a Guaraci Rosa em https://www.facebook.com/GuaraciRosaHistoriador/posts/1920945787930085

Comentários

Geraldo Rabelo Pessoa Junior disse…
Parabéns pelo relato,todo o comentário e real.Meu pai foi prefeito da ilha da Maranbaia de 1950/1954 ( assim era chamado ¨prefeito" )