Depois de ler uma matéria interessante sobre o tema desta postagem na revista Psiqué Ciência e Vida, resolvi compartilhar, principalmente com os dois psicólogos desta Confraria, para apreciação e possíveis debates. Editei a matéria tentando retirar dela o essencial e mantive muitas vezes, o texto original do artigo. A matéria é bem longa e aqui posto apenas a parte inicial. Se for do interesse, posso postar as demais partes posteriormente.
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"Resultado terapêutico é melhor quando são levados
em conta a crença e os valores espirituais do cliente"
Apesar da maioria da população mundial ser portadora de uma
fé religiosa, abordagens psicoterápicas como o Behaviorismo de Wateson, a
Psicanálise de Freud e a Terapia Cognitivo-Comportamental de Beck não
consideram em seus métodos a espiritualidade e as crenças religiosas. Foi por
causa dessa separação entre psicoterapia e espiritualidade que um grande
números de pessoas buscaram abordagens que considerassem seus sistemas de
crenças, o que faz aumentar em muito as Terapias Complementares no mundo.
A proposta original da psicologia era compreender o
espírito, que do latim spiritus significa literalmente respiração, sopro, mas
em séculos passados, a psicologia se distanciou do estudo do “não-palpável”,
enquanto a medicina desenvolvia métodos de investigações do corpo (do latim:
corpus, parte essencial). Hoje, é opinião corrente de que a psicologia deve
investigar o espírito.
Como sabemos, as primeiras discussões sobre religião no
âmbito da psicologia foi trazida por Freud, que a considerou como remédio
ilusório contra o desamparo. A crença na vida após a morte estaria embasada no
medo da morte, análogo ao medo da castração, e a situação à qual o ego estaria
reagindo é a de ser abandonado. Atualmente, a experiência espiritual-religiosa
deixou de ser considerada fonte de patologia e, em certas circunstâncias,
passou a ser reconhecida como provedora do reequilíbrio e saúde da
personalidade.
As atuais teorias sociológicas veem na crença após a morte
uma forma de fornecer significado à vida atual com a continuidade na seguinte.
Numa amostra nacional de 1.403 americanos, essa fé ou crença esteve
positivamente correlacionada à qualidade de vida e especificamente relacionada
com menor severidade de seis sintomas (ansiedade, depressão, compulsão, paranoia,
fobia e somatização). Outros estudos recentes sobre espiritualidade e
religiosidade em amostras específicas (enfermidades graves, depressão e transtornos ansiosos)
mostraram pertinência quanto à investigação do impacto dessas práticas na saúde
mental e na qualidade de vida. O psiquiatra Alexander Moreira-Almeida revisou
os estudos conduzidos nesse campo e revelou que, na maioria deles, níveis mais
elevados da participação espiritual/religiosa foram associados a um maior
bem-estar e saúde mental.
Estudos feitos na Universidade de Boston com psicoterapeutas
chegou à conclusão que a espiritualidade é um tema potencialmente provedor do
encontro de equilíbrio e harmonia dos clientes. Por outro lado, a diversidade
de conceitos da espiritualidade foi um ponto de dificuldade para o profissional
abordar o tema na psicoterapia. Mesmo com a importância da espiritualidade e religiosidade
na vida das pessoas, muitas vezes fundamentais, a dificuldade para a
psicoterapia de integrar essa dimensão humana se resume em fatores como: a
orientação tradicional de escolas psicoterápicas de que a espiritualidade está
fora da esfera de investigação e do conhecimento, a ausência de programas de
supervisão e treinamento e o desconforto com os temas espirituais e religiosos
por parte dos educadores e profissionais. Mesmo com essas dificuldades,
iniciativas buscam a integração da espiritualidade-religiosidade na
Psicoterapia.
Comentários
Você é mais um que vem dando força para que esse recanto se transforme eu um reduto da psicanálise.(rsrs)
Antes de comentar o excerto que você trouxe à baila, da revista psique, gostaria de deixar claro que a Psicoterapia , apesar de ter alguma intersecção com a psicanálise, na realidade tem diferenças que tentarei explicar em poucas palavras.
A psicologia e a psicoterapia têm seus métodos de olhar o humano baseado no “Eu” e na consciência, enquanto que a Psicanálise se detém noutro tipo de “realidade” ― aquela que provém da instância inconsciente do sujeito.
É certo que tanto o psicoterapeuta quanto o psicanalista se desdobram para escutar o indivíduo com seus conflitos. Só que a psicoterapia tenta tratar tudo de forma mais rápida, ao se concentrar apenas no discurso do paciente. Já a psicanálise procura captar o que há por trás da PALAVRA, ou discurso do analisando. Dir-se-ia que o analista age como um garimpeiro que esburaca muito, para colher algum cisco de diamante no meio do montão de barro. (rsrs)
Na psicanálise muito da queixa e da conversa do sujeito se enquadra exatamente nos mecanismos de defesa psíquicos , que são exercidos para proteger os próprios recalques do analisando.
Para Freud, a saúde mental depende em grande parte da flexibilidade do EGO em deixar passar para consciência os desejos recalcados ou reprimidos, que soterrados e bem guardados na mente, estão na base de todo processo neurótico.
Recorro a uma analogia para exemplificar melhor:
o olhar do psicanalista não é dirigido à beleza do lado direito do bordado do tecido, é dirigido mais ao lado feio do bordado. É lá no lado AVESSO, que o analista vai encontrar os nós e as tramas do intricado de fios que deram origem a vistosa figura do lado direito do pano.
Acho que estou me tornando cansativo.
Depois eu volto (à la Hubner). Vou esperar os comentários do Márcio, da Elídia e dos fantasmas da C.P.F.G que aqui aparecem raramente. (rsrs)
Edu
A Psicologia Junguiana tem a melhor reposta para seu questionamento, uma vez que ela considera a alma humana como sede dos conteúdos arquetípicos, que são representações primitivas que estão na base dos diversos tipos de religião.
Jung, faz uma afirmação contundente em seu livro “Psicologia e Religião” (página 111). Se não vejamos:
“É indiferente o que pensa o mundo sobre a experiência religiosa: aquele que a tem, possui, qual inestimável tesouro, algo que se converteu para ele numa fonte de inestimável tesouro, algo que se converteu para ele numa fonte de vida, de sentido e de beleza, conferindo um novo brilho ao mundo e à humanidade. Qual o critério válido para se dizer que tal vida não é legítima, que tal experiência é mera ilusão? Haverá uma verdade melhor, em relação às coisas últimas do que aquela que ajuda a viver? Eis a razão pela qual eu levo a sério os símbolos criados pelo inconsciente.”
Freud, dever torcido o nariz para tal afirmação...
Eu tenho, porém, minhas ressalvas quanto essa “certeza” junguiana. (rsrs)
A fé diz muito sobre a personalidade das pessoas.
A sua contundente afirmação se encaixa bem na psicologia Freudiana, que considerava a religião como a repetição de uma experiência infantil.
Freud dizia que a criança aprendeu a reduzir a sua própria insegurança pela confiança e respeito medroso por seu próprio pai.
Para ele, o adulto religioso, revive as mesmas condições infantis, projetando em Deus seu "medroso respeito". O barbudo chegou a dizer que esse tipo de dependência, na realidade, está na base de toda obsessão neurótica.
Mas aí, eu também tenho ressalvas a fazer... (rsrs)
A insegurança é a base de toda obsessão neurótica. Quem me prova que a fé não é uma dependência?
A religião, a fé, as crenças, os mitos, fazem parte da humanidade desde sempre, estão incrustados na formação da nossa identidade como espécie, e devem, evidentemente, serem causas de muitas atitudes e condicionamentos.
O Mirandinha não deixa de ter razão ao dizer que a fé é uma "dependência". Aliás, os próprios crentes dizem isso. Já dizia uma antiga canção evangélica:
Dependo de Jesus
Igual as aves dependem das asas para voar...
Mas ser dependente a qualquer coisa(uma ideologia, uma filosofia, uma moral) é sempre patológico?
A mente humana também tem seus limites, é tão singular que a diferênça entre o louco e o gênio só é sensivelmente notável após analizadas exaustivamente.
Para Plínio ― O Velho (77 d. C.), não somos tão independentes assim. Olha, vale a pena refletir sobre o que ele escreveu:
“Usamos os pés de outras pessoas quando andamos para frente, usamos os olhos de outra pessoa para reconhecer as coisas, usamos a memória dos que se foram, para formatar as nossas ambições.”
Espero não ter chegado tarde demais ao debate. rsrs
Na verdade não vejo problema (não mais) na religião EM SI, mas na RELAÇÃO que o religioso tem com sua religião.
Como descrever um Gadhi, mather luther king, kierkegaard e/ou proprio Jung, (para não dizer todos) como paranoicos, esquizofrenicos, iludidos, infatilizados e alienados da vida, por causa de suas crenças?
Mas também não podemos negar que a religião para muitos pode ser mesmo uma fonte de grande infalitilidade, paranoia, e toda critica batida e "lugar comum" dos ateus.
Se analisarmos de maneira justa e honesta, não dá para negar e menosprezar todo conteudo simbolico e a riqueza de significados encontrados em Deus e na religião.
Acho sim, que a psicologia deveria, como já esta fazendo, levar em consideração a totalidade humana, sendo uma das facetas do humano, sua espiritualidade.
O grande problema do religioso cristão, principalmente, é que seu livro foi escrito dando ênfase à parábolas onde algumas são dignas de interpretação ambígua.Daí o semiculto faz sua maionese misturando limão, vinagre,creme de leite e vinho corrente. Cada um tem uma justificativa para o pecado original, o rico no céu, o filho de Deus e outras discrepâncias. Isto causa esquizofrenia, paranóia, ilusão e outros males que os levam à salas de psiquiatria quando descobrem que passaram a vida replicando ilusões. Alguns indignados se dizem ateus sem saber que para ser ateu necessita possuir conhecimento vasto de história, ciência, física e noção de grandezas.
A mais bela experiência que podemos ter é a do mistério. Ele é a emoção fundamental que se acha no berço da verdadeira arte e da verdadeira ciência. Quem não sabe disso e já não consegue surpreender-se, já não sabe maravilhar-se, está praticamente morto e tem olhos embotados. Foi a experiência do mistério - ainda que mesclada com a do medo - que gerou a religião. Saber da existência de algo em que não podemos penetrar, perceber uma razão mais profunda e a mais radiante beleza, que só nos são acessíveis à mente em suas formas mais primitivas, esse saber e essa emoção constituem a verdadeira religiosidade; nesse sentido, e apenas nele, sou um homem profundamente religioso. Não consigo conceber um Deus que premie e castigue suas criaturas, ou que tenha uma vontade semelhante à que experimentamos em nós.
bem, talvez algum neo ateu diga que ele foi só "meio iludido"...