A gaiola do Facebook




Muito interessante o artigo de Federico Nejrotti que tem circulado pela internet alertando sobre uma nova mudança no algoritmo do site de relacionamentos Facebook, a qual permitirá que o usuário aumente a sua interação na linha do tempo com seus amigos mais próximos. Nesta configuração, os feeds que serão reproduzidos na linha do tempo de cada usuário serão de pessoas mais próximas e não tanto notícias, reportagens ou de contatos que matem pouca interação. 

A crítica que se faz é que a rede social aproximará cada vez mais pessoas que pensam igual e, deste modo, afastará o contato do usuário com quem pensa diferente dele, desestimulando o debate. De acordo com o autor, o novo modelo de filtro organizado pelo Facebook poderá deixar o o internauta "mais burro" vivendo em sua "bolha".

Preocupante, não? Será que nos interessará permanecer nessa gaiola que, além de impor filtros também bloqueia cegamente os seus usuários? 

Leiam o artigo e tiremos as nossas conclusões sobre o assunto:


A bolha de filtros do Facebook está deixando você cada vez mais burro


ESCRITO POR FEDERICO NEJROTTI


Se você está lendo isso agora, considere-se sortudo.

O Facebook anunciou no começo desta semana que mudará o algoritmo que decide o que cada usuário vê em sua linha do tempo. No comunicado, o diretor de engenharia da empresa, Lars Barstrom, afirmou que, a partir de agora, você não perderá nada de seus amigos. Na prática, você deve ver cada vez mais conteúdo dos seus parças e migas e menos notícias, reportagens e afins.

As mudanças afetam um dos mais importantes valores das páginas de empresas e veículos na rede: o “alcance”. Tal índice mostra quantos usuários verão determinada postagem, ou seja, quantos usuários verão a atualização na linha do tempo.

Dado que hoje a maior parte dos adultos tem a rede de Zuckerberg como uma das principais fontes de informação – 62% dos americanos, de acordo com pesquisa recente da Pew Research – os efeitos podem ser, digamos, muito limitadores.

A condição criada por meio dessa política muitas vezes é chamada de “bolha de filtros”. Baseia-se na ideia de que redes sociais que usam algoritmos para definir as atualizações mais importantes aos usuários tendem a fornecer gradualmente conteúdo que se alinhe aos interesses e opiniões dos mesmos. A pessoa fica isolada em sua ilha de preferências.

Tomemos como exemplo a explosão midiática em torno do Brexit, o referendo realizado no Reino Unido para determinar sua saída da União Europeia: um usuário a favor do “Fico” no Facebook explicou quão complicado foi para ele encontrar postagens dos opositores já que, no dia em que o “Deixo” ganhou, buscou por postagens celebrando a vitória e surgiram poucos resultados.

"O Facebook está se tornando uma câmara de eco que nos previne de sermos confrontados por opiniões com as quais não concordamos"

O problema não era só na sua linha do tempo. Ele também usou a busca do Facebook e não teve sucesso. Não é que não houvesse postagem sobre a grande vitória do Deixo, mas sim que o Facebook, ao identificá-lo como eleitor do Fico, não permitia que ele as visualizasse.

O Facebook tem interesse dobrado nessa questão: por um lado, a empresa precisa poder cobrar quem cria conteúdo e quer mais exposição – veículos jornalísticos, caso o leitor não saiba, pagam para aparecer mais nas linhas do tempo das pessoas. Do outro, precisa aumentar o número de interações de usuários na rede social. Quanto mais gente na própria bolha, melhor.

A prática afeta o conteúdo publicado por páginas públicas, claro. Os donos delas têm cada vez mais dificuldade em chegar aos usuários que as curtiram, e as únicas soluções são pagar ao Facebook para impulsionar suas postagens ou criar conteúdo feito para ser compartilhado. “Se muito do seu tráfego é resultado de pessoas compartilhando seu conteúdo e os amigos destas curtindo e comentando, haverá um impacto menor se a maior parte de seu tráfego vem diretamente de postagens na página”, explicou Backstrom durante o anúncio.

Conscientização

Isso tudo não diz respeito apenas ao gargalo midiático. O público dentro da bolha se verá cada vez mais fechado dentro de uma esfera de informações diminuta e separado de quem não pensa como ele.

O Facebook afirma que seu novo algoritmo enfatizará postagens “informativas”. Você consegue imaginar uma banca de jornais com estes filtros? Se você é de esquerda, nada de publicações de direita para você. Está do lado do Trump? Há boas chances de que sua fonte de informação favorita nunca informe de nada sobre Bernie Sanders – a não ser que o destrua. O mesmo vale para fãs de Bolsonaro e fãs do PSTU. As notícias vão de acordo com o gosto do freguês.

De certa forma, talvez devamos encarar as redes sociais como verdadeiros serviços sociais, um bem público – não somente um produto divertido criado por alguma empresa. O escândalo recente sobre a seção de “Tendências” no Facebook, mais influenciada por curadoria humana do que a empresa transparecia, mostrou que as pessoas estão começando a pensar nas maneiras como as notícias chegam até elas.

Ainda estamos brigando com todas as implicações de um público que se informa por meio das redes sociais. O fato é que, por ser algo novo, falta muito para compreendermos tudo isso. Mas, antes de tudo, é bom lembrarmos que a tal bolha existe – e ela só piora.

* Tradução de Thiago “Índio” Silva.


OBS: Imagem acima extraída de http://www.luzdegaia.net/reinos/ute/burros-3E.jpg

Comentários