Editorial da revista Carta Capital de 23 de maio de 2012, por Mino Carta
Roberto Civita tende mesmo a se considerar único, um Moisés chamado a conduzir a Abril à terra prometida. Pronto a pôr em prática, assim como o herói bíblico dividia as águas, as artes da mídia nativa, inventar, omitir, mentir. Tropeço entre atônito e perplexo na última edição da revista Veja, a qual impavidamente afirma, entre outras peremptórias certezas, a autoria da derrubada de Fernando Collor da Presidência da República em 1992. Comete assim, entre a invenção e a mentira, o enésimo lance clássico do jornalismo nativo ao contar um episódio tão significativo da história do País.
Um ex-diretor da Veja, Mario Sergio Conti, escreveu um livro, Notícias do Planalto, para sustentar que Collor foi eleito pelos jornalistas. Não sei se Conti é mais um dos profissionais que no Brasil chamam o patrão de colega. Claro está, de todo modo, que a mídia naquela circunstância executou a vontade dos seus barões, a contarem com a obediência pronta e imediata dos sabujos. E à eleição de Collor Veja ofereceu uma contribuição determinante não menos do que a das Organizações Globo. Agora gabam-se pelo dramático desfecho do governo interrompido e omitem que lhes coube a criação do mostro.
Os leitores recordam certamente a expressão "caçador de marajás". Pois nasceu no berço esplêndido da TV Globo e foi desfraldada à exaustão pela capitânia da esquadra abriliana. Ocorre que o naufrágio collorido não foi obra desta ou daquela, e sim do motorista Eriberto, que prestava serviço entre o gabinete presidencial do Planalto, o escritório de PC Farias e a Casa da Dinda. Localizado pela sucursal de IstoÉ em Brasília ao cabo de uma exaustiva investigação, trouxe as provas que a CPI não havia produzido. É a verdade factual, oposta à versão da última edição de Veja.
Lembro aquele sábado de 1992 em que IstoÉ foi às bancas com as revelações decisivas, de sorte a obrigar os jornalões, a começar pelo O Globo, a reproduzir as informações veiculadas pela semanal que então eu dirigia. A entrevista de Pedro Collor a Veja, do abril anterior, não bastaria para condenar o irmão presidente, tanto que a CPI se encaminhava para o fracasso. Pedro, de resto, nada de novo dissera na entrevista, a não ser a referência a certos, surpreendentes supositórios de cocaína. No mais, repetira, um ano e meio depois, uma reportagem de capa da IstoÉ. (...)
Roberto Civita tende mesmo a se considerar único, um Moisés chamado a conduzir a Abril à terra prometida. Pronto a pôr em prática, assim como o herói bíblico dividia as águas, as artes da mídia nativa, inventar, omitir, mentir. Tropeço entre atônito e perplexo na última edição da revista Veja, a qual impavidamente afirma, entre outras peremptórias certezas, a autoria da derrubada de Fernando Collor da Presidência da República em 1992. Comete assim, entre a invenção e a mentira, o enésimo lance clássico do jornalismo nativo ao contar um episódio tão significativo da história do País.
Um ex-diretor da Veja, Mario Sergio Conti, escreveu um livro, Notícias do Planalto, para sustentar que Collor foi eleito pelos jornalistas. Não sei se Conti é mais um dos profissionais que no Brasil chamam o patrão de colega. Claro está, de todo modo, que a mídia naquela circunstância executou a vontade dos seus barões, a contarem com a obediência pronta e imediata dos sabujos. E à eleição de Collor Veja ofereceu uma contribuição determinante não menos do que a das Organizações Globo. Agora gabam-se pelo dramático desfecho do governo interrompido e omitem que lhes coube a criação do mostro.
Os leitores recordam certamente a expressão "caçador de marajás". Pois nasceu no berço esplêndido da TV Globo e foi desfraldada à exaustão pela capitânia da esquadra abriliana. Ocorre que o naufrágio collorido não foi obra desta ou daquela, e sim do motorista Eriberto, que prestava serviço entre o gabinete presidencial do Planalto, o escritório de PC Farias e a Casa da Dinda. Localizado pela sucursal de IstoÉ em Brasília ao cabo de uma exaustiva investigação, trouxe as provas que a CPI não havia produzido. É a verdade factual, oposta à versão da última edição de Veja.
Lembro aquele sábado de 1992 em que IstoÉ foi às bancas com as revelações decisivas, de sorte a obrigar os jornalões, a começar pelo O Globo, a reproduzir as informações veiculadas pela semanal que então eu dirigia. A entrevista de Pedro Collor a Veja, do abril anterior, não bastaria para condenar o irmão presidente, tanto que a CPI se encaminhava para o fracasso. Pedro, de resto, nada de novo dissera na entrevista, a não ser a referência a certos, surpreendentes supositórios de cocaína. No mais, repetira, um ano e meio depois, uma reportagem de capa da IstoÉ. (...)
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Na continuação do editorial, Mino Carta também revela que no dia do fechamento de IstoÉ com a matéria do motorista Eriberto um ex-colega lhe visitou tentando impedir a publicação. Era um pedido do alto escalão que ele identificou como sendo da Ministra Zélia, que ele ironiza dizendo ser "mais talhada para dançar bolero do que carregar a pasta da economia". Mino Carta também diz que ao pedir demissão da Veja onde trabalhara na década de 70, disse a Victor Civita: "Por nada deste mundo hoje trabalharia na Abril, entre outros motivos porque seu filho Roberto é um cretino". O patriarca da editora Abril teria dito "Não diga isso, diga ingênuo
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"meu desalento é plenamente justificado: nossa mídia é a pior do mundo. É ruim porque parte de uma série de preconceitos, de posições previamente acertadas, sempre em defesa do privilégio, sempre em defesa da minoria. Mas a parte disso ela é muito ruim tecnicamente. Temos uma mídia que não sabe escrever, não sabe titular, enfim péssima. Nossos jornais, comparados com os grandes jornais do mundo, chegam a ser ridículos, parecem jornais humorísticos."
"meu desalento é plenamente justificado: nossa mídia é a pior do mundo. É ruim porque parte de uma série de preconceitos, de posições previamente acertadas, sempre em defesa do privilégio, sempre em defesa da minoria. Mas a parte disso ela é muito ruim tecnicamente. Temos uma mídia que não sabe escrever, não sabe titular, enfim péssima. Nossos jornais, comparados com os grandes jornais do mundo, chegam a ser ridículos, parecem jornais humorísticos."
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O italiano de 75 anos, famoso pelo sangue quente que transparece através da contundência de seus textos, é um homem de olhos verdes, cabelos brancos e sorriso doce. Em seu currículo, estão a fundação das revistas Isto é, Veja e Quatro Rodas. Mino também esteve à frente do Jornal da República e A Tarde. (Entrevista com Mino Carta Leia aqui)
Comentários
"A Veja, na minha época, foi um dos poucos órgãos realmente censurados neste país infeliz. Eu tenho muito orgulho do meu passado na Veja. Quando eu saí da Veja ela se bandeou para o lado da ditadura. Há uma separação nítida entre a Veja que eu dirigia e a Veja que existiu depois de mim, entre esse lixo que se chama Veja e que a chamada classe média - que eu também não sei onde é que está porque normalmente média pra mim está no meio de alguma coisa e eu não sei em qual meio a classe média brasileira está - lê. Mas a Veja de hoje é um verdadeiro lixo, mostra o nível da nossa classe média, a compreensão da vida, a visão do mundo, a perspectiva do que eles são capazes."
(link citado ao final da postagem)
O julgamento do Mensalão dirá quem sairá vencedor dessa pendenga. Se o Zé Dirceu e sua turma forem considerados inocentes a vitória será do Mino, se condenados a vitória será do Civita.
Essa briga promete ainda muitos lances...
O julgamento do Mensalão dirá quem sairá vencedor dessa pendenga. Se o Zé Dirceu e sua turma forem considerados inocentes a vitória será do Mino, se condenados a vitória será do Civita.
Essa briga promete ainda muitos lances...
Sem dúvida, é um socialista que baba o ovo do Lula, seu amigo há décadas. Na Carta Capital ele declarou abertamente seu voto a Lula em 2002 e 2006 e a Dila em 2010. A veja e outros jornalões (como ele diz) posam de imparciais mas todos têm seus candidatos.
Na entrevista apontada no Link, ele diz que Lula às vezes lhe "dá trabalho". Mas é certo que a Carta Capital procura minimizar as "travessuras" dos petistas e baixa o cacete na turma do FHC.
Por isso, Levi, costumo sempre ler os dois lados: leio Veja e leio a Carta Capital. Leio a Caros Amigos e leio a Folha.
e especificamente no julgamento do mensalão, espero que os Civita ganhem a parada.