Racismo de Carnaval perdoado?!




Embora o Congresso Nacional esteja às vésperas de aprovar uma nova lei sobre crimes raciais, prevendo penas mais duras (Projeto n.º 6418/2005 do senador Paulo Paim do PT gaúcho), ainda se ouve durante esses dias de Carnaval, tanto nas ruas como nas casas, algumas marchinhas como O teu cabelo não nega cuja letra é altamente preconceituosa:

"O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega, mulata
Mulata, eu quero o teu amor"

É certo que estamos a falar de algo surgido há cerca de oito décadas atrás. Tal canção foi criada em 1929 pelos Irmãos Valença, no Recife, com o título Mulata. Tornou-se nacionalmente conhecida quando Lamartine Babo (1904 - 1963), após fazer algumas adaptações, lançou-a com o nome atual no Carnaval de 1932. Algo que chegou a causar uma peleja judicial. Não por causa do racismo, mas sim pelos direitos autorais.

Tendo vencido a ação em todas as instâncias, os Irmãos Valença tiveram reconhecida a autoria da composição, inclusive recebendo uma indenização da então gravadora Victor, a qual havia solicitado a Lamartine as modificações na música. Contudo permitiu-se que este fosse mantido como um dos coautores, em virtude das adaptações que fizera, a pedido da gravadora.

Ora, não tenho dúvidas de que se a música fosse composta a partir de 1989, quando o Congresso Nacional já havia aprovado a atual Lei n.º 7.716, João e Raul Valença, assim como Lamartine Babo e o dono da gravadora, teriam sido todos presos pela polícia sem direito a fiança (art. 20 da norma vigente citada). A pena ainda chegaria a ser majorada para até cinco anos de reclusão pela divulgação da marchinha nos meios de comunicação que, na época, seriam os rádios e jornais porque a TV ainda não existia no Brasil.

O fato é que, apesar do plágio musical e do racismo (há quem veja também um alto teor de machismo), O teu cabelo não nega acabou entrando para a história da MPB de modo que não vejo hoje qualquer possibilidade de algum órgão público impedir a sua divulgação em território nacional. Talvez o seu uso com conotação racista, conforme o contexto em que ocorre a reprodução, pode caracterizar conduta ilícita, o que não seria o caso de meramente relembrarmos o passado.

Nunca podemos nos esquecer de que a perversidade do racismo brasileiro encontra-se em sua sutileza. Por trás da hipócrita afirmação de que aqui seria uma "democracia racial", inúmeros atos de depreciação ao indivíduo são praticados como se fosse simples brincadeirinha entre amigos, o que não é verdade. Basta nos colocarmos no lugar de um negro, ou de uma mulher negra, para sentirmos o quanto é doloroso sofrer certos tipos de preconceito. No caso da música, assim ocorre como bem comentou o blogueiro Marcio Alexandre M. Gualberto, em seu artigo de 21/04/2005:

"Bonitinha essa marchinha, não? Quantas vezes já cantamos em época de carnaval, né? Mulata, negona gostosa, carnões bons de apertar, quem não gosta? Mas vejam que beleza: "o teu cabelo não nega". Uma afirmação da negritude. "Mas como a cor não pega, eu quero o teu amor". Putz, vê-se que é música de branco para branco: o cara quer comer a mulata mas não quer ser da cor dela. Tal como essa temos uma série de "sutilezas" do racismo brasileiro nas músicas, na literatura, nas artes, nos meios de comunicação. Eu ponho sutileza entre haspas porque, para nós negros, nada disso é sutil. Pelo contrário, está às escâncaras. Nós percebemos facilmente. Mas quando tocamos no assunto os brancos vêm dizer que estamos querendo pôr chifres em cabeça de cavalo."

Não tiro a razão de todas essas críticas, mas faço a ressalva de que, na primeira metade do século passado, a sociedade ainda não tinha a devida consciência da extensão do racismo e nem de outros preconceitos até aí cultivados como coisas normais. Até nas escolas e igrejas a segregação ainda era promovida! E para piorar mais ainda, havia gente da intelectualidade brasileira na época que expressava saudades dos tempos da escravidão em seus discursos e artigos publicados nos jornais. Eu mesmo, na década 80, sendo ainda um menino, lembro-me que algumas pessoas idosas que, em suas visitas na casa de meu avô, expunham esse tipo pensamento atrasado.

Mas os tempos mudam, não é mesmo?! Felizmente o negro tem ganhado dignidade em nossa sociedade ainda que falte muito para isso se tornar algo pleno e compensador. Mas nesse contexto, o que fazer com a marchinha senão relembrá-a como parte da história? Daí proponho que algum compositor elabore uma nova versão para música pois, considerando que as pessoas a ouvem hoje em dia mais pelo ritmo do que pela letra, bem como tendo em vista o lapso temporal superior a setenta anos desde sua criação, que tal as pessoas que gostam de Carnaval cantarem algo sem preconceito? E, quanto às versões antigas, sugiro que a própria sociedade as deixe como registros históricos de uma época em que atos de indignidade motivados pela raça, cor da pele, sexo e origem ainda eram banalizados. Neste sentido, a música pode contribuir para uma melhor investigação do nosso passado. Proibir qualquer reprodução agora seria uma tremenda burrice.

Um bom feriado a todos!

Comentários

Bom dia, amigos!

Afim de manter o blogue da C.P.F.G. atualizado com novas postagens, estou compartilhando aqui o artigo que escrevi em minha página dia 03/03, tendo em vista que o debate do artigo anterior não foi mais alimentado.

Se algum colaborador se sentiu ofendido por ter eu invadido a ordem de postagens (talvez tenhamos que rever isso), que o próximo escritor se sinta à vontade para publicar antes do tempo mínimo de quatro dias.

Um abraço e boa leitura a todos!
Nobre Amigo Rodrigo,

Este artigo é deveras muito interessante. Por fim, acabará por nos levar a debater sobre uma série de antagonismos que permeiam a questão. Digo isso porque no dia 19 de novembro do ano passado escrevi aqui mesmo, um artigo sobre o dia da consciência negra, onde entre as questões abordadas, o tema deste artigo era uma delas.

A única coisa de que tenho medo ao debater este assunto é o cerne desta frase que você cita no final de seu artigo, e em especial a palavra que coloco em letras maiúsculas.

""Felizmente o negro tem ganhado dignidade em nossa sociedade ainda que falte muito para isso se tornar algo pleno e COMPENSADOR""

Esta questão que envolve "compensação" trás uma sensação de responsabilidade lançada sobre uma parcela que não teve uma atuação direta nos períodos da escravidão. Um preço a se pagar pelo erro de nossos antepassados. A vida também é difícil para nós brancos, como é para os nossos irmãos negros, ao menos no meu caso é. Mas também sei que há uma pequena classe elitista que já nasceu com o cú virado aos céus Quando estou lutando por uma vaga de emprego , ou por uma vaga em uma universidade "x", quando acordo cedo para cumprir uma carga horária de trabalho para manter minha vida, e minha casa, e leio, ou escuto alguém fazer uso deste termo "compensação", meu senso de justiça fica turvado. Não considero que se faça justiça por meio da injustiça. Hoje, o número de brancos em condições de miséria é muito semelhante ao número de negros. Se for na favela, verá ambos juntos empinando pipa, correndo descalços no campos de terra, lutando para conquistar uma vaga de trabalho como operário, ou ainda juntos galgando um espaço em meio ao tráfico, ao crime.

É necessário valorizar o negro pela sua história, mas compensação racial para mim esta fora de cogitação. Um programa onde a questão social e financeira fosse colocada na balança e que abarcaria tanto o negro quanto o branco seria muito mais justa. Mas estamos no Brasil, e temos que isso resultaria talvez em um novo processo de racismo... Eita assunto complicado, este!!!

Abraço.
errata último paragrafo - Mas estamos no Brasil, e "temo" (não "temos")...
Olá, Matheus.

Primeiramente obrigado pela leitura e por comentar.

Penso que, quando se fala em compensação há que se lançar essa conta nas costas do Estado.

Foi o Estado luso-brasileiro quem matou os índios e trouxe os negros de sua terra de origem para servir de mão-de-obra no país. Tal situação se perpetuou após a independência e o governo imperial não foi capaz de impedir o hediondo tráfico de seres humanos mesmo quando, por pressões inglesas, o Brasil deixou de adquirir formalmente novos escravos. Com a proclamação da República, no ano seguinte à abolição, nada foi feito de concreto para incluir socialmente o negro que acabou trocando as senzalas pelos cortiços e pelas favelas, sem ter acesso a uma educação de qualidade, nem aos cargos do serviço público ou a qualquer programa assistencial. A discriminação e a segregação ainda continuaram por longas décadas sendo certo que a economia de mercado pouco ajuda a quem está por baixo.

Diante de tudo isso, os descendentes dos ex-escravos encontram até hoje dificuldades para se inserirem neste mundo competitivo, economicamente excludente e que não sabe dar valor ao ser humano. Tanto o racismo quanto a pobreza são situações que causam um rebaixamento na auto-estima do indivíduo refletindo sobre suas emoções, expectativas e horizontes. E embora não exista hoje por aqui uma discriminação racial tão forte como em outros países, há que se considerar que o fato do negro ter sido empurrado historicamente para o alçapão da pobreza e da miséria.

De fato, há brancos que, mesmo não sendo afrodescendentes, estão na miséria e na pobreza, o que também foi provocado pela política de exclusão social dos governos e razões históricas. Uma delas estaria no abandono do campo, o que obriga muitos trabalhadores rurais a migrarem para as cidades. Também a falta de melhores políticas nas áreas da habitação, no amparo ao desempregado, os problemas na mobilidade urbana e o custo de vida elevado em várias regiões e cidades contribuem para a perpetuação dessa problemática.

Certamente que a melhor maneira de se compensar o negro que padece na miséria ou na pobreza seria através da adoção de políticas públicas eficientes sem fins eleitoreiros. Seria investindo num ensino de qualidade nas escolas públicas em que federalizar a educação pode ser uma boa saída. Um Estado que se torne mais presente na formação das crianças acompanhando a nutrição dos pequeninos, dando a eles uma real assistência médica, odontológica e psicológica por meio de estabelecimentos de ensino dotados de uma estrutura suficiente em que o aluno fique por um período integral estudando (manhã e tarde).

Assim sendo, nada mais justo do que o Estado pagar essa dívida investindo no social como deveria ser. Ainda que as cotas nas universidades e no serviço público possam servir de alguma ajuda, eis que tais políticas serão meros paliativos se as outras faltarem. Aliás, é preciso sempre ter cautela para o risco dos governantes demagogos não estarem promovendo a divisão da sociedade como desculpa para não cumprirem seus compromissos.

Quanto aos ricos, estes sim devem ajudar o Estado a pagar a conta. Quem possui um grande capital deve pagar elevados impostos e aí cabe ao governo ser inteligente afim de que a tributação não esmague o setor produtivo fazendo com que o mercado brasileiro se torne menos atrativo aos investidores. Sabendo dosar e não desviando dinheiro para a corrupção, poderemos construir um futuro diferente do que foi o passado e tem sido o nosso presente.

Abraços.
Eduardo Medeiros disse…
Rodrigo, conforme comentei lá no face, vejo meio como paranoia essa onda revisionista de querer agora, censurar músicas e livros do século passado por serem "racistas". Se isso toma um vulto muito grande, a coisa começa a ficar absurda, como se tornar politicamente incorreta termos consagrados como "nuvens negras", "denegrir", etc. Isso para mim é bobagem.
É verdade que historicamente, foi o Estado Brasileiro que colocou os negros nas favelas, mas também muita gente que foi lutar em Canudos e quando voltaram ficaram a ver navios.
Aqui no Rio, com o desejo do prefeito Pereira Passos de modernizar a cidade à moda europeia, no inicio do século 20, acabou por derrubar os cortiços fazendo toda aquela população não ter mais onde morar, forçando-os a irem para os morros, de onde se originou as favelas.

Como diz o Matheus, políticas de "compensação" são sempre problemáticas, pois realmente, a vida é dura pra todo mundo. Mas não tem como não ver que a vida foi mais dura para os descendentes de escravos.
O Estado brasileiro precisa "reparar" essa dívida com um investimento pesado e sério em educação pública de qualidade, pois só assim, os mais pobres (muitos deles, negros) conseguirão vencer sem precisar de paternalismos populistas, sempre muito perigosos.
Caro Edu,

Embora favorável a uma política temporária de cotas no acesso às instituições de ensino e ao serviço público (de modo algum apoio a chamada PEC das Cadeiras Negras), penso que essa onda do "politicamente correto", se levada adiante com radicalismo, pode trazer consequências negativas para o movimento de promoção da igualdade racial uma vez que passa a suscitar na sociedade brasileira um conflito até então inexistente.

Identificar o racismo naquilo que já foi torna-se até instrutivo da mesma maneira que, quando lemos a Bíblia, encontramos também um patente machismo nos textos sagrados, inclusive no Novo Testamento (ver cartas de Paulo, por exemplo). Não que isto reduza o valor das Escrituras, mas é algo que vem nos revelar a cosmovisão dos autores em suas respectivas épocas e tal ocorre também na literatura brasileira e em suas músicas.

Agora eis que estamos diante de questões distintas e que teriam em comum a problemática do racismo. E, em se tratando de expressão artística de tempos passados, está em jogo a memória nacional e o conhecimento de nossa história que são coisas que não podemos simplesmente sair deletando sob pena do governo acabar destruindo o rico patrimônio cultural brasileiro.
Mariani Lima disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
O que pode acontecer é a segregação ao cotista. O governo para mascarar sua incompetência quanto a educação promoveu cotas para os "afrodescendentes" e eles aceitaram a discriminação, não racial mas na capacidade intelectual. Como se o negro em igualdade de condições não tivesse competência para disputar uma vaga de vestibular com um ariano que, diga-se de passagem, é uma minoria. Por que não ofereceu a cota para o branco oriundo de escola pública. O pior: A raça negra aceitou o perjúrio. As universidades são obrigadas a aceitar os afrodescendentes.não pela sua competência mas pela cor da sua pele. Em tempo; eu não devo nada à raça negra, eu não os escravizei. Pelo que leio os negros foram vendidos como escravos para diversas regiões do mundo pelos seus próprios irmãos. Os mais fortes, mais novos, mais viris aportaram nos EUA e lá prosperaram mesmo às custas de muito sofrimento e disputam as vagas universitárias sem a necessidade de cotas. Os que para o Brasil vieram continuam aceitando serem julgados inferiores. Tenho ascendência negra e não tenho um pingo de orgulho disto.
Eduardo Medeiros disse…
Inclusive, há negros que são contra as cotas de negros nas universidades públicas. Mas nos EUA houve sim um sistema de cotas, mas lá, o racismo foi muito mais forte, presente e estatal do que aqui.
Levi B. Santos disse…
“Nunca podemos nos esquecer de que a perversidade do racismo brasileiro encontra-se em sua sutileza. “ (Rodrigo)

O que disse recentemente o afrodescendente, Joaquim Barbosa, presidente do STF, sobre uma possível candidatura dele a Presidente da República:

"Ainda há bolsões de intolerância muito fortes e não declarados no Brasil. No momento em que um candidato negro se apresente, esses bolsões se insurgirão de maneira violenta contra esse candidato. Já há sinais disso na mídia".

O que disse recentemente o sociólogo e ex-presidente FHC sobre Barbosa:

“Joaquim Barbosa, “não tem traquejo” para ocupar a Presidência da República na hipótese de o ministro decidir se candidatar ao Planalto.

Pergunto eu:

Isso é preconceito racial ou não?

Não se pode basear no exemplo de alguns para generalizar uma situação. Os negros em sua maioria foram pisados e sufocados pela elite branca e estão ainda condicionados.
E muitos os que prosperam conseguem isso também devido a outros fatores. De fato, o excesso de comodidades pode gerar paralisia laboral e intelectual, mas não seria o caso das cotas. Até porque o negro precisa competir para conseguir sua colocação no vestibular ou em um concurso público federal.
É verdade que muitos negros daqui e de lá são contrários. Viva a democracia por essa pluralidade! Porém, Edu, penso que o fato do racismo lá ter sido mais forte não torna desnecessária a adoção de tais políticas afirmativas. Lá, por exemplo, as condições econômicas bem como a mobilidade social são muito melhores do que no Brasil. É mais fácil para um cidadão americano ter acesso ao crédito, abrir seu próprio negócio e formar um patrimônio de sete dígitos.
Caro Levi,

Gostei de seus comentários e da pergunta que formulou.

Sobre as colocações do presidente do Supremo, concordo plenamente com ele. Esses bolsões de intolerância, apesar de estarem perdendo força, ainda existem no Brasil e muitas propostas de inclusão social do negro têm gerado grandes polêmicas de modo que o radicalismo pode suscitar anda mais conflitos, o que também deve obrigar o governo a ter também certa dose de sutiliza no combate às desigualdades raciais.

A respeito do FHC, não penso que o ex-presidente tenha sido racista apesar do sujeito ser extremamente elitista e arrogante. A análise que ele fez de Joaquim Barbosa não parece ter se baseado em sua negritude, mas sim da postura do ministro do STF, o que não significa que eu concorde com as posições de S. Exa. Pois Barbosa, mesmo tendo seus defeitos, não deixa de ser uma possibilidade. Talvez seria melhor do que a atual mandatária.

Abraços.
Levi B. Santos disse…
Rodrigo

Já que o seu texto fala de modinhas carnavalescas com nuances de racismo, que tal abordarmos também as piadas que têm conotação pejorativa em relação ao outro diferente ou tido como inferior?

Freud, em suas correspondências com se amigo Fliess, chegou a dizer que colecionava piadas sobre judeus. Ele entendia que por trás do riso que uma piada provocava, existia sempre um álibi do sujeito, recalcado como coisa inferior.

Numa piada ou numa brincadeira, o inconsciente deixa escapar “pré-conceitos” internalizados desde a mais remota infância.

Aristóteles já dizia que “ a comédia é uma imitação de homens inferiores"

Há preconceitos e preconceitos. Comumente, se diz que existem dois tipos de preconceitos em nossa vida de relação:

1. Aqueles que deixamos escapar como acontecem nos lapsos involuntários.

2. Aqueles que sentimos lá dentro e policiamo-nos para não deixarmos escapar.

E aí?

Será que este último não é mais destruidor, pelo fato de se sentir e não ser revelado ou confessado?
Não entendo como ainda há racismo no Brasil, onde 80% da população tem origem negra e muitos com mais de 1/3 de sangue afro. E emigração africana se deu, na forma de tráfico, no início do século XVI e atingiu o ápice em meados do século XVII sendo proibido em 1850 atingindo a quantia de 3.000.000 africanos aportados na forma de escravos.
Sua existência no Brasil passou por todos os ciclos de desenvolvimento cultural e econômico. Monarquia, Oligarquia,Ditadura e Presidencialismo, Ciclo do extrativismo, Ciclo da borracho, Ciclo do café, Ciclo do ouro e Ciclo do açúcar. Não há nenhum evento histórico sem a presença do negro. Hoje, 2,5 séculos após sua chegada os descendentes desta raça autóctone da África representa a maioria populacional do País. Não obstante não figura no topo da cadeia econômica e social sofrendo, ainda, preconceitos de inferioridade.
Do alto da minha ignorância eu pergunto: A culpa é de quem? De seu algoz ou de sua própria incompetência?
A emigração italiana se iniciou em meado do século XVIII e atingiu o ápice por volta de 1920 com um contingente inferior a 10% ao número de escravos africanos. Substituíram, a duras penas, a mão de obra desqualificada do ex escravo, também sofrendo o regime de semi escravidão. Hoje 1/3 da economia tanto industrial como agrícola estão nas mãos de seus descendentes. Se sobressaem na política, na economia e na cultura.
Não vou falar de Alemães, Judeus, Japoneses. Eu só quero entender.
Caro Levi,

Concordo em relação às piadas e, por isso, penso que seria uma questão a ser trabalhada assim como o uso de determinadas palavras. Neste ponto, hei de discordar do Edu pois entendo que os termos denegrir ou judiar tiveram uma origem preconceituosa embora tenha ganhado outro sentido na atualidade.

Esses dois preconceitos não estariam de algum modo relacionados? Não sei se entendi tudo o que expôs corretamente, mas, pelo que percebi, seria possível sentir/manifestar as duas coisas.

Há um outro ponto a ser considerado:

Qual a melhor maneira de se combater o preconceito?

Também questiono até onde a criminalização de determinadas conditas podem contribuir positivamente na luta contra o racismo?

Busca-se atualmente apenar cada vez mais condutas e recrudescer as penas em relação ao racismo, mas há que se levar em conta que o melhor tratamento parece ser a conscientização pelas vias educativas. Se todo e qualquer fato conflituoso da convivência social passar a ser levado às Delegacias e Juizados Criminais, onde vamos parar?
Parece que vc se esquece, Altamirando, de que sempre existiu no Brasil uma repugnante elite branca, a qual patrocinou o racismo já que este servia como ideologia capaz de justificar a escravidão negra e, posteriormente, da mão-de-obra assalariada.

Cientificamente falando, não existem raças humanas. Não há nenhuma evidência capaz de comprovar que um grupo étnico seja superior ao outro em termos de inteligência. Pode-se distinguir um povo de outro em termos de capacitação pela formação cultural e educacional recebidas.

Na imigração italiana que V. Sª. citou, o Brasil acolheu tanto a pobres quanto a ricos. É certo que os italianos e seus descendentes sofreram a exploração no campo, mas já possuíam uma formação que, juntamente com as melhores condições do século XX, permitiu que eles se opusessem e lutassem por direitos trabalhistas aqui. Inclusive devemos a eles a participação em diversos movimentos revolucionários, sindicais, anárquicos e socialistas. E, ao formarem suas colônias associativas, conseguiram superar os desafios com muito mais união.

Agora seria correto afirmar que os negros não eram unidos? Penso que estaríamos cometendo uma tremenda injustiça histórica, mas o certo é que a maioria dos africanos trazidos à força para cá viviam num estado praticamente tribal, foram tratados como animais, dispersos entre fazendas e ainda proibidos de praticarem a religião animista de origem (daí o sincretismo surgido nas senzalas). Alguns formaram quilombos, mas nem todos escaparam da tirania dos senhores de engenho e dos barões do café.

Vale lembrar que, mesmo em outras épocas, a população negra também foi maioria. Isto foi fato no Império e gerava muita preocupações acerca do controle populacional por causa do medo de que houvesse uma revolta dos escravos. Daí um dos motivos para a utilização dos negros na Guerra do Paraguai, geralmente nas linhas de frente.

Concluindo, Altamirando, não dá para se comparar a brutal escravidão dos negros com a imigração dos italianos, alemães, japoneses e os diversos grupos de judeus. Foram circunstâncias bem diferentes em que o fator liberdade certamente pesou.
Caros amigos,

Fico feliz que este tema esteja promovendo um bom debate entre nós e acredito que, aos poucos, a nossa C.P.F.G. está retornando aos velhos tempos de interatividade e maior participação nos comentários.

Durante a semana do Carnaval, recebi do Sr. Lacerda, editor do blogue Mangaratiba ( http://muriqui-lacerda.blogspot.com.br/ ) um artigo para ser publicado aqui. Já havia algum tempo que eu e o Eduardo tínhamos feito um contato deixando uma mensagem no seu blogue e agora ele me retornou.

Acontece que eu postei recentemente e, embora já não tenhamos mais em vigor a ordem de publicações, quero saber se os confrades me permitem compartilhar o artigo de sua autoria e que recebi via email?

Um abraço a todos e tenham uma excelente semana!
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo, eu também não concordo com a classificação de raças devido a cor da pele e dentre as evidências que eu conheço, existem muitas que não entendo, por exemplo: A África é o País berço da civilização, em seu solo há todos os ingredientes vegetais e minerais existentes no mundo, sua força de trabalho tem vigor, por que ainda é o continente mais primitivo, mais faminto e mais pobre e mais doente? Qual foi a contribuição que o africano legou para a humanidade na ciência, medicina, engenharia, física? QUAL FOI A INVENÇÃO POR MAIS SIMPLES QUE SEJA? Se o afrodescendente brasileiro se acha vítima de preconceito, por que continua aceitando cargos de segundo escalão, cotas para adentrar em universidades? Por que não provam que tem competência para disputar em igualdade de condições? Pelo pouco que aprendi, capital e inteligência não tem pátria, credo nem cor.
Claro que existe exceções, mas e daí, elas fazem a diferênça?
Levi B. Santos disse…
Rodrigo!


O que dizer disso aqui?:

A conclusão do estudo “Preconceito, Consciência e Lógica” em parceria com o Instituto Brasileiro de Opinião Pública (Ibope) é de que o brasileiro carrega algum tipo de preconceito, intolerância, incômodo ou estranhamento com relação ao outro (diferente).

Foi o que quis inferir no meu último comentário: Falei que mesmo negando que não temos preconceito, no fundo sentimos lá dentro um estranhamento com relação aquele diferente de nós ― e isto foi inoculado em nossa psique pelos nossos antepassados. Ou seja, a repulsa ou desejo de exclusão vem de dentro, - o que a psicanálise explica como uma reação que esboçamos para proteger os recalques que no inconsciente guardamos.

No que concerne ao preconceito de cor:

“No Brasil, o preconceito é negociável, manipulável. A pessoa fica mais preta ou menos preta de acordo com a circunstância”. ― afirma antropóloga, Lilian Schwartz, uma das maiores especialistas sobre causas e efeitos do preconceito e da discriminação

“A pesquisa qualitativa realizada pelo Ibope para a revista “Brasileiros” indicou que a antiga idéia de que “preconceituoso é o outro”, em relação ao preconceito racial, está perdendo força. Os entrevistados se reconheceram preconceituosos”. [ vide link:
http://www.revistabrasileiros.com.br/2009/01/15/o-preconceito-sai-do-armario/#.Uxx25dLBOSo }
Não se esqueça, Altamrando, de que a África foi também vitimada pelo colonialismo nos séculos XIX e XX quando nações europeias resolveram invadir esse continente. Muitas das riquezas existentes hoje na Inglaterra, França, Portugal e outros países deve-se ao que eles roubaram dos povos africanos.
Caro Levi,

Uma das mais citadas frases de Nelson Mandela é esta:

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."

Como o confrade bem colocou, o preconceito trata-se de algo que "foi inoculado em nossa psique pelos nossos antepassados". E acho que estamos bem de acordo quanto a essa visão.

Abraços e boa semana a todos!
Em tempo!

Também concordo que, no Brasil, o preconceito racial de um modo geral esteja a perder força. E para tanto o fato de nos reconhecermos como preconceituosos ajuda a melhor nos conduzirmos quanto aos sentimentos e atitudes.