A vila dos medos infundados e seus monstros imaginários.


No interessante filme chamado “A Vila” temos um retrato psicológico muito bem traçado de um grupo de pessoas que procurou fugir dos seus medos e traumas refugiando-se num local isolado onde imaginavam que as maldades do mundo nunca  voltariam a alcançá-los.

Para convencerem as novas gerações de que a vila que construíram era o único local seguro para viverem e que, portanto, não deveriam jamais sair dali, criaram monstros fictícios que eram chamados de “Aqueles de Quem Não Falamos”. Estes seres grotescos rondavam o vilarejo e só os deixavam em paz mediante o seu medo e sua submissão a determinadas leis criadas por eles.

Somente quando o noivo da filha de um dos chefes foi gravemente ferido por um habitante que era deficiente mental e precisou de remédios foi que o pai contou à filha toda a farsa ao fazê-la tatear (pois era deficiente visual) uma das fantasias de monstro que era utilizada pelos líderes para incutir medo nos jovens locais. Ao final, a conclusão dos moradores da vila foi que a maldade era inerente ao ser humano, que eles deveriam enfrentá-la, e que criar “monstros” para proteger seus filhos dos verdadeiros perigos era ainda pior.

A sociedade contemporânea não é diferente em determinados aspectos.  Muitos também procuram construir para si e seus familiares um mundo de superproteção, onde eles supostamente estarão a salvo dos horrores do “mundo lá fora”. O problema é que pessoas assim nunca amadurecem, pois ao invés de enfrentarem seus “monstros”, agem como aqueles animais que quando são ameaçados escondem sua cabeça na terra, julgando deste modo estarem livres de seus predadores.

Hoje, quem são “Aqueles de Quem Não Falamos”, as barreiras que nos impedem de conhecer o mundo além da nossa vila? Eles são as desculpas comumente usadas para justificar as chamadas “boas intenções”, a encarnação do velho jargão paterno “isto é para o seu próprio bem”.  Conselhos do tipo “não faça tal coisa, pois você não é capaz”; “não se relacione com determinada pessoa, pois ela não é boa para você”; “não escolha esta profissão porque você não terá um bom emprego” são verdadeiros “monstros” colocados pelas pessoas mais influentes na nossa vida para nos cercar e nos impedir de irmos além da zona de conforto e do comodismo no qual nos encontramos.

Assim como no filme, quem realmente dá vida aos monstros são aqueles que promovem o terrorismo da ignorância e incutem medo infundado nas pessoas, pois medo é também uma forma de maldade. O mundo jamais se transformará numa “Vila” utópica, por mais que alguns criem “bichos-papões” para tentar atemorizar os inocentes – de todas as idades - e impedí-los de conhecer e experimentar plenamente a vida “lá fora”.

Comentários

rayssa gon disse…
bom texto.

acho que um dos maiores "monstros" de hoje são as substancias ilicitas. se cria toda uma situação de medo e terror (a proibição das drogas e consequente trafico e mercado ilegais) que são absolutamente maiores que os efeitos negativos que essas mesmas drogas, supostamente, causam.
Parabéns pelo texto, amigo!

Penso que estes medos são cruéis para as crianças. Na classe média (e entre os ricos e famílias cultas também), muitos criam filhos com medo de se relacionar com os mais pobres.

Uns têm medo de sequentro. Outros da violência. Outros de serem enganados.

Quando lembro de minha infância e adolescência, recordo que de alguma forma fui vítima desses medos, mas resolvi ultrapassar certos limites e vi que as coisas não eram bem assim.

Recordo também do que me falaram acerca da maconha. Minha mãe contava que a tal erva matava e eu tinha a ideia de quem fumasse aquela parada seria bandido. Cresci sem saber qual era a onda do THC e se conhecesse algum usuário seria capaz de fugir dele. Só que quando comecei a conviver com os maconheiros, percebi que eles não são nenhum monstro de sete cabeças.

Tempos depois, experimentei a erva, mas não senti nada. Disseram que eu tinha que ter tragado de uma determinada maneira. Mas aí achei que não precisava descobrir qual a onda do THC e preferi contentar-me apenas com o barato do álcool, o que muitas vezes exagerava no início da juventude (consegui beber uma latinha de cerveja pela primeira vez só aos 17 anos).

Hoje tenho uma visão de mundo bem diferente. Não vejo mais o maconheiro como um bandido ou um viciadão na coisa, sendo que até defendo a legalização da erva (para fins terapêuticos e com prescrição médica).

Penso que, além do medo incutido pelos pais, também precisamos nos libertar pelas coisas que o Estado nos disse, visto que viemos de um governo autoritário que, até 1985, governou o país. E, se pensarmos bem, ainda existem resquícios da ditadura para serem demolidos em nossas vidas.
guiomar barba disse…
Oie Isa, muito bom e proveitoso seu texto. Realmente, eu convivi com muitooooooooooos medos e como sofri com alguns deles. Cheguei a ter medo de ter medo. Hoje me policio mais contra qualquer classe de medo, e vejo como Rodrigo que nem tudo é o bicho que fazem ou não é bicho nenhum. Mas infelizmente sei, que sempre teremos que enfrentar os medos negativos, embora, agora talvez, com mais maturidade.

Beijão pra tu.
Anônimo disse…
Grande Isa,

Ótimo texto.

Nossa sociedade aprendeu assim:
"Dorme nenem que a cuca vem pegar...".

"Menino não faça isto que papai do céu te castiga".

"Meninonão faça isto que o diabo te levará ao inferno".

Esta semana tive uma prova de que algumas pessoas precisam deste "medo" para conter seus desejos maléficos:
A irmã de minha esposa disse:
"Mas é muito fácil você dizer que é ateu, abandonar a igreja, dizer que deus não existe e ficar livre para fazer tudo que desejava fazer e não fazia quando estava na igreja".

"Eu respondi: O que mesmo eu desejava fazer e não fazia?"

Abraços,

Evaldo Wolkers.
Eduardo Medeiros disse…
isa, vi esse filme e realmente é muito interessante.

"Para convencerem as novas gerações de que a vila que construíram era o único local seguro para viverem e que, portanto, não deveriam jamais sair dali, criaram monstros fictícios"

vejo isso como um movimento natural: queremos sempre proteger nossos filhos(a geração que chega)dos perigos reais ou imaginários que nos afetou ou que pensamos que poderia afetar-nos.

mas a invenção de monstros não é eficaz. vejo que o melhor que se deve fazer para a geração que chega é passar a experiência de vida que a geração mais velha acumulou e orientá-los onde estão os possíveis perigos.

mas como gerações novas são sempre desbravadoras, esses perigos muitas vezes exercem um certo fascínio sobre os mais jovens e aí muitos irão se aventurar e poderão se machucar. ou não. tudo vai depender, creio, da orientação que tiveram dos pais.

rayssa:

eu discordo de você. as drogas são um perigo real e imediato. se as drogas fossem liberadas, evidentemente, a violência do tráfico se extinguira mas as consequências no viciado continuaria. não dá prá dizer que o prazer momentâneo que as drogas podem produzir irá fazer bem para o viciado com o passar do tempo, muito ao contrário, irá, certamente, destruí-lo. os exemplos estão aí.

mas também acho que dizer para o jovem "não pode" é a pior coisa que se pode fazer. têm-se que esclarecer, mostrar os por quês, citar exemplos, ponderar se vale a pena, etc, etc.

acredito muito na conscientização.
Levi Bronzeado disse…
"Para convencerem as novas gerações de que a vila que construíram era o único local seguro para viverem e que, portanto, não deveriam jamais sair dali, criaram monstros fictícios" ( Eduardo)

Deixa eu fazer uma “regressão as minhas vidas passadas”(rsrs):

Foi assim que meus pais incutiram em minha mente de criança tenra, para me convencer que a nossa família era diferente das demais.

Diziam eles que nós tínhamos sidos escolhidos por deus para fazer a diferença, no meio dos incrédulos – filhos de Satanás. Jamais deveria sair do “internato de lavagem cerebral evangélico”. Lembro-me bem que recebi o famoso LIVRINHO DO CORAÇÃO que mostrava o coração do crente repleto de anjos e serafins sorridentes. O coração do incrédulo cheio de animais imundos e monstros horríveis, com Satã num trono bem no centro. O coração de um desviado com o fogo do inferno e capetas com tridentes pulando ao redor da fogueira.

Não creio que A “religião” que grassa por aí, nos “tabernáculos eternos” consiga sobreviver sem a figura de Satã e sua curriola de monstros.
A religião se nutre desses monstros fictícios. A famosa Hora do Apelo que está mais vivo como nunca, pelo menos, aqui no nordeste, nada mais é que a “Hora Das Bruxas”.

Por sinal, ontem, estava reunido aqui com uma cúpula das Assemb. de Deus local, e eles, por unanimidade, não tiveram como desdizer que, é “condição “sine qua non” - o medo do “castigo do inferno”- para alavancar o seu comércio, para arrebanhar vítimas para seu hospício. Sem a figura do capeta os membros dos currais religiosos se dispersariam rapidamente.

O Diabo cristão com suas ameaças é o fator primordial ou imprescindível para o crescimento das “igrejas”. É certo que o avanço científico restringiu os espaços da demonologia. Mas são poucos os que compreendem que os casos vivenciados com demônios e monstros imaginários querendo roubar a alma do indivíduo são esquizofrenias, ou psicoses que são tratados no campo da psiquiatria (isso, quando os sintomas imaginários se sucedem quase que diariamente, prejudicando a vida normal do sujeito).

È fácil, extremamente fácil, para os farsantes donos de igrejas, explorar os porões do inconsciente, trazendo as imagens dos monstros gravados em nossa mente virgem , dos tempos de meninos para barganhar o seu céu mercantil para quem for bonzinho e brandir ameaças com o fogo inferno - para os questionadores.

Tenho uma neta que, aos quatro anos de idade, passeando comigo , pediu para conhecer um castelo no centro da cidade (era a igreja católica). Decorridos um ano de aprendizado na ESCOLA DOMINICAL com professores “teólogos” formados pelas diversas siglas que pululam por aí, eu a convidei (agora com 5 anos) para dar uma passada lá na igreja católica (o castelo, segundo ela). PASMEM para o que ela me respondeu:

Vou não vovô — ali tem cão”

Obs: A Igreja que ela frequenta é a 2ª maior do Estado da Paraíba, atualmente com um grande colégio para o ensino primário e aulas diárias sobre como, manter o fogo da intolerância religiosa aceso.

P.S.: Mas, como diz Edu, existe as exceções, creio que em torno de 0,05 % do “rebanho de deus”. (rsrs)

EM TEMPO: Edu, o macabro “Livrinho do Coração”, a cerca de três meses, foi reeditado (uma edição luxuosa), e está sendo distribuída nos currais de “insanidade em nome de deus”.
Eduardo Medeiros disse…
levi, faz tempo que não vejo esse tal livrinho. lembro-me de tê-lo visto nos tempos de crianças mas não estou certo se foi dado por minha mãe ou se eu vi em algum lugar. acho que foi num quadro.

esse o livro vermelho da revolução cultural protestante evangélica. aliás, trato disso num texto lá no caminhos da teologia.

a religião cristã precisa de várias reformas. a mais premente é deixar de achar-se o centro do universo espiritual e a partir de onde todo o resto será julgado. o caminho é longo...faço parte dos 0,05%. na verdade, o percentual deve ser ainda menor...

mas no meu comentário eu expandi um pouco a figura dos monstros para outros setores da vida da criança que não só o religioso.

quero educar meu filho na herança cristã que eu tenho. ainda acredito que certos valores cristãos são relevantes principalmente em nossos tempos.

mas tenho certeza que ele não vai achar que no "castelo" tem cão...rssss

na verdade, até tem...kkkkkkk só que o cão que late lá também late cá.
Levi B. Santos disse…
quero educar meu filho na herança cristã que eu tenho. ainda acredito que certos valores cristãos são relevantes principalmente em nossos tempos.

Edu, tenha cuidado redobrado com as Escolas Dominicais infantis e as lições bíblicas da CPAD. São de arrepiar... (kkkkk)
O engraçado é que todos sabem o que foi feito de errado com nossa educação na infância, no entanto continuamos a repetir os mesmos erros. Fomos educados com base em mentiras; mêdo do diabo, castigo de Deus, prêmios por fidelidade religiosa, para cada instituição um modelo educacional baseado em fobias. Formaram-nos por descartes de sabedoria.
Porquê não deixar seu filho escolher o que seguir?
É difícil mostrar com ceticismo todos os caminhos, mesmo os que não desejamos?
Conduzir seu filho aos 5 anos para uma escola dominical ou para uma missa é o mesmo que pedir que façam com ele o que fizeram a nós. Uma verdadeira lavagem cerebral.
Tentei evitar isto a meus filhos. Se quiserem optar por qualquer religião ou o caminho das drogas, vão por opção e conhecendo os efeitos.
Eduardo Medeiros disse…
mirandinha, uma criança de 5 anos não tem condições de decidir nada...ela precisa primeiro aprender as alternativas para enfim, na maturidade, escolher a que melhor lhe convier.

não pretendo impor nenhuma lavagem cerebral nele, mas toda educação é em última análise, uma lavagem cerebral.

eu disse que quero que ele tenha os bons valores do cristianismo e não as insanidades e distorções que impuseram ao cristianismo.

ninguém que se considere educado no ocidente pode prescindir de conhecer a bíblia. não precisa ser cristão para isso.

fique tranquilo levi. agora você tem que sutilmente fazer alguma coisa para salvar sua netinha...rs
Edu,

"mirandinha, uma criança de 5 anos não tem condições de decidir nada...ela precisa primeiro aprender as alternativas para enfim, na maturidade, escolher a que melhor lhe convier."

Concordo com você, mas desde que lhe seja oferecida mais de uma alternativa (Outras escolas). Só assim ela terá condições de escolha.
O pastor da igreja onde eu me congregava anteriormente certa vez disse que, na época em que o grupo reunia-se a sala de um colégio, viu duas crianças brincando em que uma dizia pra outra: "corre senão Papai do Céu vai te pegar..."

Surpreendente ou não, esta é a ideia absurda de divindade que muita gente cultivou dentro de si. Um deus que estaria pronto para nos castigar com um raio em sua mão caso fizéssemos algo derrado que lhe desagradasse.

Nossa sociedade precisou criar medos sobre castigos para impor limites às pessoas. E isto não está só na educação dos pais, mas também na disciplina imposta pelo sistema injusto em que vivemos.

Mas qual seria o motivo de inventarem tantos monstros imaginários que inclui até a concepção errada de divindade?

Penso que seja mais trabalhoso educar uma criança de maneira consciente do que ameaçá-la com um castigo capaz de cotnrolar suas condutas mesmo na ausência do educador.

Só que a resposta não se satisfaz com a preguiça e sim pela própria inviabilidade dos grupos dominantes em explicar racionalmente a todos sobre a divisão injusta da sociedade entre ricos e pobres. Porque se todos pensarem de maneira livre, logo perceberão que devem rebelar-se contra as classes políticas e econômicas que nos dominam e que para tanto contam com o apoio de instituições religiosas.

A Rayssa colocou-se muito bem quando tocou na questão das drogas e, neste ponto, hei de discordar do Eduardo quando ele diz que "as drogas são um perigo real e imediato", pois, ao fazer tal afirmação não é considerado qual o verdadeiro conceito de drogas.

Certamente que, numa sociedade tão vulnerável como a nossa, alguns tipos de drogas são perigosas. Mas pergunto o que é droga?

Será que droga é apenas aquilo que o Estado classifica como substância ilícita entorpecente?

O álcool não é uma droga ainda que liberada?

Cigarro também não é droga?

O café não é outra droga?

Vários remédios não são drogas?

E os alimentos dos quais necessitamos não podem ser vistos como drogas boas?

Ou como explicar hoje, em pleno século XXI, o Santo Daime e a utilização da hayuasca ?


Ora, desde que o homem existe ele faz uso de drogas. E o que mais espanta é que droga tem muito a ver com religião. Não somente os povos primitivos drogavam-se para buscar um contato com o mundo espiritual, como também, nas cidades do Império Romano, era comum a existência de centros de culto de "religiões de mistério", as quais ofereciam experiências de poder sobrenatural aos membros da seita pelo uso de drogas ou de danças para alcançarem um estado de êxtase.

Assim, o uso de drogas era visto como um facilitador na tomada de consciência em diversas religiões. O próprio sentimento de liberação experimentado na embriaguez pode ser considerado como uma tentativa de se conduzir a mente para determinados estados que tirassem o homem de sua habitualidade cotidiana.
Continuando...

Certa vez um conhecido meu me escreveu o seguinte:

"(...) o sentimento disto que se chama "espiritual" de ex-pirus, que é luz ou fumo que do fogo ascendeu aos céus com suas insinuações esvoaçantes de algo transcendente, é mais comumente evocado pela experiência da "pequena morte" que deveria ser mais comum na remota antiguidade... Sexo, drogas, música, asfixia por afogamento, cansaço estenuante, medo pânico, danças giratórias, envenenamentos, fome, perda sanguínea e todo um arsenal xamânico de indução ao êxtase até hoje é utilizado em quase todas as religiões. Mircea Eliade tem ótimas obras sobre o assunto. O Homem em sua trajetória evolutiva foi aperfeiçoando esta forma de expressão da consciência do mundo e o que mais o ajudou a criar as religiões foram as drogas. Elas primeiramente foram ingeridas nas rotas dos bovinos. Os cogumelos eram parte da alimentação do humano em marcha pelas pradarias, e ainda são... Assim experenciaram muscarina, psilocibina, psilocina etc. Os primeiros deuses ou deusas, na tradição feminina, tinham chifres! As mulheres foram as primeiras agricultoras e colhiam cereais (Ceres) e muitos destes grãos vinham infectados com um bolor (fungos), o Claviceps purpureum, rico de ergotina, pré-LSD. Com o centeio se fazia o pão de Elêusis, precursor da hóstia judia/cristã, hoje pasteurizada e seu ritual era um grande bacanal orgístico, ou melhor dizendo, ergostínico... A maconha circulava desde a Índia até a tundra siberiana. O ópio idem. Sempre houve culturas da maconha, do ópio, da harmala, e da DMT (dimetiltriptamina, parente da nossa serotonina, hoje em dia tão decantada). Com a sagrada árvore produtora de DMT, os judeus faziam sua arca, seu altar, sua urna funerária. Nela, na Shanti (Santo lenho), Jesus foi cruxificado, seus espinhos foram sua coroa...Móveis rituais judaicos só podiam ser produzidos com seu cerne, inclusive os do Templo de Salomão. Sua beberagem é o "amargo vinho do mação, ou maçon, em francês. A transcendência se dava no grau 33 com a ajuda deste Vegetal. Quando o humano europeu voltou para a América, oficialmente, em 1.500, encontrou mais um paraíso de drogas, e logo eles que viajavam na busca da rota para as drogas orientais... Cogumelos exóticos, cactos, cereais, seivas, folhas, flores, uma cultura de drogas nunca antes sonhada. E religiões também afins com suas bases extasiantes. Foi um carnaval tropical: quanto mais os papas proibiam as drogas americanas, mais elas proliferaram. Assim, este conceito de droga deveria ser transmutado para fármaco, pois é drogado que o homem se torna religioso, num certo sentido: de doente, com uso do fármaco espiritual, torna-se curado pelo santo fármaco, a santa hóstia - sonrisal da mente dormente do homem transiente...A história das religiões, cultos, seitas, seja lá o que for nesta área tem seu correspondente numa determinada droga (alcalóide). Dizer que o Vinho do Senhor é suco de uva, é a maior heresia. Que a árvore do conhecimento, da vida e da sabedoria era espinafre, também. A sarça ardente era a boa arruda síria, rica de harmalina (Peganum harmala). Misturando-se a dimetil-triptaminma da acácia amarela (lembra da música do mação Luís Gonzaga) com harmalina da santa harmala, temos uma droga poderosa, a mesma do Dai-me, do candomblé de caboclo da Jurema."

Em parte considero o que ele colocou pois realmente as drogas alucinógenas fizeram parte da construção da história humana e talvez até dos seres vivos (já assisti um vídeo mostrando os elefantes e vários bichos da savana africana doidões depois de comerem amarula). Então, pensando bem, dorgar-se trata-se de uma necessidade e, se a "viagem" é feita com orientação médica e religiosa, livre da perversa manipulação dos traficantes, a experiência pode ser libertadora para a mente.
Eduardo Medeiros disse…
mirandinha,como eu disse, ela precisa saber todos os bons caminhos (e os ruins também)para quando tiver razão, escolher o melhor para ela. e tomara que ele escolha um bom caminho, tipo esse que o pai trilha...rsssss
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, vamos com calma. uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa da coisa coisada do coisa...rssss

não substimo a presença constante das substâncias que levavam a transes e estados alterados de consciência na história, inclusive religiosa.

eu acredito mesmo que a proibição das drogas causam mais mal do que bem, já que tudo que é proibido e desejado, mas isso não significa que droga é uma coisa boa. como eu disse lá em cima, a liberação das drogas melhoraria a vida de um viciado em crak? só melhoraria se o governo tivesse um plano específico para tratar os viciados.

com isso estou dizendo que as drogas mais comuns hoje em dia e que são proibidas, como a cocaína e o crak são letais ao cérebro.

mas é claro que o cigarro e o álcool também são drogas, mesmo que o efeito danoso deles demore bem mais a aparecer do que a cocaína e o crak.

no entanto, custa-me concordar com você de que o ser humano precisa mesmo se drogar. mas por que alguém hoje em dia busca a cocaina e o crak? de certo que não é para ter uma experiência religiosa. os viciados nessas substâncias são o resultado da falência social e existencial em que vivemos e eles morrem bem cedo pelo uso delas.

então, rodrigo, tudo o que você disse é verdade, mas em nossa sociedade atual as drogas proibidas são fatais para quem se vicia nelas.

talvez o melhor a se fazer seja liberar as drogas proibidas para que se tivesse um controle melhor dos viciados e deveria ter um programa eficaz para todo mundo que quisesse parar de usá-las.

o cerco que se faz hoje ao cigarro é um exemplo disso. as propagandas foram banidas da mídia(não sei por que não fizeram o mesmo com o álcool); existem campanhas para que o fumante para de fumar pois isso será melhor para a saúde dele mesmo.

por fim, lembro que de fato, a droga deve mesmo ser algo importante para o ser humano, já que o próprio organismo produz uma "droga do bem", a serotonina que provoca euforia e bem-estar mas que não destrói a saúde.

e ela é conseguida por algumas vias bem legais:

comendo chocolate.
fazendo sexo.
correndo ou caminhando por uma hora.

nunca fumei na vida(exemplo de meus pais que não fumavam e que diziam que fumar fazia mal à saúde e era pecado. tá bom, o "pecado" estava mal colocado, mas funcionou para mim). álcool, só bebo de vez em quando quando bebo uma cerveja e mesmo assim, prefiro as sem álcool. deveria beber mais vinho de boa qualidade por causa dos antioxidantes flavonóides da uva mas o suco natural já é uma boa fonte deles. é que eu não gosto de vinho...

espero daí, suas considerações.
Esta frase eu ouvi, de um prefeito, há alguns dias atrás quando fomos reivindicar um lote em seu parque industrial.
"Qualquer coisa que coisar vai estar coisando".

Como se dissesse: Deixa do jeito que está para ver como é que fica.

São as nossas conjecturas...
"no entanto, custa-me concordar com você de que o ser humano precisa mesmo se drogar. mas por que alguém hoje em dia busca a cocaina e o crak? de certo que não é para ter uma experiência religiosa. os viciados nessas substâncias são o resultado da falência social e existencial em que vivemos e eles morrem bem cedo pelo uso delas."

Prezado Eduardo,

Em momento algum disse que estou de acordo com o uso destas substâncias sintéticas que são potencialmente danosas à saúde e api não posso deixar de incluir alguns remédios de tarja preta cuja venda é legalizada, com restrições, mas que muitos usuários consomem para curtir uma onda alienante.

Sou contra as pessoas buscarem as drogas por alienação.

As drogas devem ser ministradas com fins terapêuticos, o que, sob certo aspecto, é um fim religioso porque serve para restaurar o seu bem estar físico e psíquico.

Contudo, os governos hoje proíbem a maconha e apenas alguns países admitem seu uso dentro de normas restritivas. Na Holanda pode-se fazer até o uso recretivo da Canabis sativa. Na Califórnia´, há anos que se permite uma compra em quantidades restrita com fins medicinais, sendo que a aplicação da erva já se destina a vários tipos de tratamento. Mas no Brasil, porém, a maconha ainda é tabu e, na prática, você só a encontra nas mãos de um traficante, o que me recuso a fazer. Seja por causa dos ditivos químicos que eles colocam e também porque sou respeitador das leis independentemente de concordar com elas ou não, bem como abomino o crime organizado que tanto assassina e corrompe as vidas neste país.

Acredito que não estamos longe de nos entender sobre este assunto e que talvez estejamos falando quase a mesma coisa nos pontos principais com palavras e expressões diferentes.

Acrescento que, apesar de defender a legalização da Canabis sativa, sou contra uma liberação geral como se um adolescente pudesse fumar seu baseado em cada esquina da cidade. Aliás, acho até que a maconha deveria ser consumida por pessoas mais velhas como já foi no passado em que era o vovô quem fumava o seu cachimbinho da paz lá na roça sem que tal conduta fosse considerada crime e as sementes eram dadas como ração para os canarinhos cantarem com mais felicidade.
Continuando...


Penso que a busca de muitos jovens pela droga decorre de um vazio interior das pessoas, uma falta de propósitos, de uma adolescência prolongada e privada de um relacionamento saudável e amoroso com o sexo oposto, da ausência dos pais no processo educativo e da falta de re-ligação (pra não falar na religião institucionalizada quase sempre dispensável).

Hoje quando olho para a nossa juventude, vejo-a como se estivesse muito sem opção. Observo-a sem liberdade econômica para trabalhar e casar-se cedo. Sem liberdade total de locomoção devido à violência e o trânsito agressivo das cidades. Sem acesso ao lazer e aos esportes muitas das vezes. Sem ter uma educação libertadora nas escolas. Sem uma orientação religiosa esclarecedora que, ao invés de considerar "pecado" os impulsos do sexo, deveria ensinar os jovens e adolescentes a conviver com seus desejos sem traumas e promover diálogos e debates que despertem a consciência para a vida.

Quando uma criança judia atinge a sua maturidade (aos 12 anos de idade, mais um dia para as meninas; e aos 13 anos e um dia para os rapazes), passa a tornar-se responsável pelos seus atos, de acordo com a lei judaica. Trata-se do Bar Mitzvá que significa "filho do mandamento" em que o jovem judeu é chamado pela primeira vez para a leitura da Torah.

Ora, considerar um rapaz de seus 13 anos como homem e capaz de integrar o quórum mínimo para as cerimônias religiosas da comunidade trata-se de algo a meu ver muito importante porque dá ao adolescente senso de responsabilidade acompanhando a transformação do seu corpo em adulto. E não é só isto. O jovem (e também a jovem) passa a ter bens pessoais e pode, inclusive, casar-se.

Ora, esta passagem para a vida adulta não ocorre apenas na cultura judaica, mas é comum também entre vários povos e tradições do Oriente, bem como na África, entre os índios americanos e no meio islâmico. Apenas a sociedade ocidental moderna é que tem prolongado a infância e a adolescência de seus jovens com o argumento de que eles estão numa idade para dedicarem-se ao estudo, o que acaba formando adultos bem imaturos.
Rodrigo,

Não vejo paridade entre sua adimiração pela filosofia judáica e algumas obras de Mircea Eliade.
Eliade nos mostra a realidade nua e crua das religiões e não deixa margens para ouvidos de mercador. Não entendi...
Eduardo Medeiros disse…
rodrigo, de fato, estamos caminhando de mãos dadas, com apenas um ou outro passo diferente mas no final do desfile, os passos chegam certinhos.

você levantou uma questão bem interessante: a adolescência extendida da nossa sociedade ocidental até os 35 anos...duvida? rss

as culturas orientais dão um banho no ocidente nesse quesito(e em vários outros). um rapaz judeu de 13 anos que já começa com o estudo da torá é mil vezes mais maduro, inteligente e perspicaz do que um jovem ocidental da mesma idade que de modo geral, não consegue ler nem um gibi da mônica sem dificuldade de entender o texto.

as pessoas de admiram do relato bíblico de que jesus com 12 anos discutia com os doutores da lei a torá. ora, isso era o comum no meio do povo judeu como é até hoje.

depois vem me dizer que a cultura judaica é dispensável...melhor seria copiá-la nesses departamentos.
Altamirando, quem referiu-se a ela foi o meu aigi que me mandou a mensagem que citei compartilhando-a com vocês. Inclusive, se você ler novamente meu comentário acima, verá que não concordo plenamente com o que ele colocou.

Meu pobre conhecimento sobre as obras de Mircea Eliade nãso me permitem hoje opinar a respeito de seu pensamento. Ela apenas foi citada pelo meu amigo na mensagem que escreveu pra mim quando debatemos sobre drogas e religião.
"Admiração". É que depois do almôço eu não como as letras. Daì sobram...
Rodrigo,

Mircea Eliade (1907-1986), influente escritor, historiador e filósofo. Foi professor de religiões em vários países por onde passou. Dominava oito idiomas e chegou a ser preso em campo de concentação em 1938 acusado de ser membro da Guarda de Ferro. Uma organização romena de extrema direita antisemita, simpatizante do nazismo.
Lí dois de seus livros: O sagrado e o profano, Mitos e realidade.
Porisso não entendi sua conotação a Eliade, sendo você um judaico.

Esta postagem do Isa poderia, muito bem, ter sido baseada em um de seus livros:
* Mitos, Sonhos e Mistérios: O Encontro entre a Fé Contemporânea e as Realidades Arcaicas, (1960), Londres: Harvill Press.

O entendimento de Eliade do mito no mundo moderno, o prestígio das origens míticas, e sua análise do simbolismo da ascensão, do combate, do labirinto, e da luta contra monstros, entre outros.
É isto. Rodrigo, um abraço.
Anônimo disse…
Isaaaa...que saudades!!

O texto está lindo e perfeito na minha opinião!!

Realmente, percebemos que ainda, por tanta necessidade de prevenção...as pessoas estão se "camuflando" em muitas coisas..

Vejamos um exemplo, o Welington Menezes que atirou em vários alunos...creio eu, que ele vivia em uma "vila" também, onde nesta vila ele era puro...ele era santo...ele era um ser refugiado das garras das "pessoas más"...daquelas pessoas que o jogavam na privada e dava descarga..

E nesta vila, infelizmente...o que seria uma vila para seu refúgio..acabou sendo uma forma dele se irar ainda mais contra tais pessoas...se dividir..e agir de forma cruel..

As igrejas muitas vezes, chamam de impuro aquele que desfruta da festa carnal, chamada de carnaval..

Creio eu que o carnaval é uma festa liberal, mas eu curto carnaval, danceii a madrugada toda num bloco de Minas no último carnaval, e confesso..que não fiz nada de errado, nada que desse a entender, que sou "impura".

Sei lá..são rótulos, tabulações..pré-conceitos..que só crucificam as pessoas, e não levam a nada....

Vivemos numa vila com muitos vizinhos estranhos...

Beijoss Isaaa...te amo, mesmo não podendo falar com vc, pois estou sem celular TIM..e o meu da claro já não funciona direito...(credito, é escassez total aqui)..Saudadessss!!
Altamirando,

Eu poderia muito bem ler Mircea Eliade e filtrar um eventual anti-semitismo que, obviamente, não serviria pra mim.

Acho que, quando se faz um estudo científico sobre algo, deve-se ler todas as obras à nossa disposição, independentemente de concordarmos ou não.

No campo da Teologia, por exemplo, um estudioso não deve apenas consultar as obras de autores de sua ramificação religiosa. Pois, se resolvo estudar a Bíblia, devo levar em conta estudos de rabinos, testemunhas de Jeová, padres católicos, protestantes, pensadores que foram considerados hereges, teólogos liberais, ortodoxos, esotéricos, etc. Afinal, a Teologia é um estudo científico como qualquer outro e não se confunde com as posições que serão adotadas por um discípulo desta ou daquela corrente.

Igualmente pode-se dizer em relação ao estudo das drogas e também da Psicologia.

Abraços.
Anônimo disse…
Qualquer semelhança com a bíblia não é mera coincidência