A loucura do Rio




Por Lurdinha Henriques


Será que os loucos somos nós?

O Rio é esquisito mesmo. Se encalacra numa escolha que não é escolha. Mas foi sua, de alguma maneira. Se comporta como se o problema não fosse seu. Mas ele é. Parece se desafiar continuamente para ver até onde vai. Só que agora é sinistro.

O mesmo Rio que se dividiu entre Eduardo Paes e Gabeira em 2008, é o mesmo que está hoje entre Crivella e Freixo? É, mas não significa a mesma coisa. Dois candidatos. Nenhuma alternativa que tenha a ver com o caráter, o perfil, o modo de vida do carioca. Dois dogmas. Nenhuma liberdade. Se, em 2008, a máquina, o dinheiro, tiveram vitória apertada, pouco mais de 1%, lógica da época, com a liberdade perdendo para o poder econômico, o que existe agora é a ausência. Voto nulo, branco e abstenção bateram feio nas opções. O que caminha para a decisão é, na verdade, sua negação.

O que tudo isso tem a ver com a capacidade dos cariocas se reinventarem? O Rio vive hoje sua máxima contradição. Palco dos maiores eventos mundiais do planeta – Copa do Mundo, Jornada da Juventude, Olimpíadas e Paralimpíadas –, em curto espaço de tempo testou seus limites. E passou no teste. Se arrastando, lutando pela sobrevivência, com crise na educação, saúde, segurança, transportes levando todos à loucura. Mas foi em frente. Superando, sofrendo, mas caminhando. Quando o tormento parecia ter sido superado, revelou seus recalques e colocou-se, mesmo em decisão minoritária, em outro conflito.

O 2º turno não tem a cara do Rio, mas da negação, que não é a nossa cara. Nossa vida é afirmativa e propositiva. É bem humorada. Nem a cara fechada permanente, nem a pseudo calmaria, que esconde atrás de si a tormenta. Se parecemos caminhar para a não escolha, como se o Rio corresse para seu fim, quem sabe é o seu início. Na contradição, temos a possibilidade de recriar outros caminhos. No caos, se gera a saída. A dicotomia entre arrogância e salvacionismo e a modéstia redentora não nos serve. Não nos contemos em projetos pré-fabricados, socialismos superados, nem em falsas crenças manipuladoras e reducionistas. Aliás, dupla face da mesma moeda.

Para realmente superarmos estes tempos contraditórios, é preciso que a população carioca imponha sua lógica da liberdade, dos múltiplos caminhos, da diversidade, da alegria e da tristeza, das dicotomias que constroem nossa cultura e vida real, potencializando para a não aceitação de nada que torne os cariocas o que não são: seguidores de seitas.

Muitas emoções pela frente. Não haverá convivência amigável entre qualquer dos projetos apresentados e a lógica de uma cidade. Vamos ver quem pisca.


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