What a Wonderful World






     Quando novo era um idealista. Via o mundo por lentes cor-de-rosas. Acreditava na superioridade moral do ser humano; duvidava que pessoas "boas" fossem capazes de fazer coisas ruins. Seu mundo era maravilhoso e a trilha sonora era o clássico de Louis Armstrong "What a Wonderful World". Ouvia "I see trees of green....red roses too...I see them bloom...e pensava "o mundo é mesmo maravilhoso e as pessoas são éticas e boas e sempre falam a verdade...". Era como aquele que amava os Beatles e os Rolling Stones mas teve que acordar do sonho na Guerra do Vietnã. Apresentaram-lhe o Vietnã! 
A hipocrisia moral. A ruindade nata da espécie humana. O mundo não era um "what a wonderful world". O mundo era feio. Pessoas "boas" eram capazes de coisas moralmente condenáveis, impublicáveis, hipócritas e dissimuladas. 
Era como aquele que quando criança sonhou ser Super-homem, Robim Hood ou até um rei dos contos de fada e ser ídolo numa banda de rock ou mocinho num filme de cowboy...(1) Doeu quando entendeu que os ídolos morriam de overdose que os heróis de papel não existiam que os mocinhos queriam comer as meninas e descartá-las como objetos do seu bel-prazer. 

O mundo não é um lugar maravilhoso o mundo é um lugar maravilhoso: Descobriu o paradoxo e buscou uma síntese! Via um gatinho dorminhoco a se espreguiçar em cima do banco de uma moto estacionada na rua. Via o sorriso enrugado de uma velhinha cheia de décadas expostas nas linhas do seu rosto. Via que no alto de um poste um passarinho fizera um ninho. Via o sol nascer e se por. 
Lia um poema que o transportava para uma dimensão diferente "Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta"... (2) Ah, que força era aquela que paria poemas? Esculturas? Quadros? Sinfonias? De qual mundo saiu Beethoven, Cecília, Drummond, Aleijadinho, Vinícius, Ravel...diga-me, de que mundo saiu o messias de Handel? Que força era aquela que levava alguém pondo em risco a própria vida ajudar a salvar judeus dos fornos de Hitler? Que mundo pariu Hitler, Mao Tsé-Tung e Stalin? Os grandes impérios opressores de gente pobre e mais fraca? Que mundo pariu Gandhi? Que mundo pariu Jesus de Nazaré? Que mundo te pariu?
Que mundo maravilhoso...



Eduardo Medeiros, 05/11/2016
___________________________
(1) "Super-homem, Robim Hood ou até um rei dos contos de fada e ser ídolo numa banda de rock ou mocinho num filme de cowboy..." - Referência a uma música gospel dos anos 80 do cantor Janires.

(2) "Eu canto porque o instante existe e a mina vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta"...  - Verso de um poema de Cecília Meirelles

Comentários

Quando novos, se consideramos o mundo bom, é porque nós posicionamos com base numa cognição restrita da realidade. Mais maduros, porém, se vemos beleza na vida, é por uma razão mais refletida. É certo que a experiência de cada um reflete nessa percepção. Seja pela influência religiosa, filosófica, estilo de vida, situação pessoal financeira, de saúde, familiar, psíquica, etc.
Levi B. Santos disse…
"Não sou alegre nem sou triste: sou poeta"...

O poeta é aquele que mesmo em meio a escombros, mergulha, busca, para retirar dos afetos paradoxais de sua alma, algo sublime, apaziguador, que exala equilíbrio.

Tão simples... (rsrs)
Bom dia, Levi.

Creio que o poeta, ao buscar esse equilíbrio, acaba optando pelo que gera o saldo positivo: o bem, a vida, a felicidade.

Se analisarmos a postagem feita pelo Edu, ele bem que poderia ter escolhido uma imagem ilustrativa mostrando uma guerra, a explosão da vergonhosa bomba de Hiroshima, ou ainda a imagem daquela pobre criança africana prestes a morrer e ser devorada pelo abutre (dizem que o fotógrafo que registrou aquilo teria se matado). Entretanto, a preferência aqui foi pelo belo, por mostrar as lindas aves que exaltam a exuberante natureza que nos cerca.

Viva a poesia!