Crônica Para Um Finado

Por Levi. B. Santos As Exéquias do Excêntrico Bioanalista O laboratório era a sua segunda casa. A bem dizer, quase todos habitantes da pequenina cidade já tinham passado por suas mãos. Respeitavam-no, pois era a ele a quem recorriam; a quem entregavam seu sangue, seus excrementos sólidos e líquidos para ser examinados minuciosamente. Na tarde cinzenta e fria de seu sepultamento ninguém ousou dizer uma palavra sequer. O sacerdote esperava que alguém se pronunciasse, antes do féretro descer à cova, mas nenhum tomou essa iniciativa. Aliás, nada podiam fazer, pois estavam perplexos, como que atacados por uma sisudez mórbida, como se uma aura paralisante tivesse caído abruptamente sobre seus nervos e músculos. Uma mistura de perplexidade e tristeza transparecia em todos os olhares. O silêncio que reinou minutos antes do corpo do cientista descer à sepultura, talvez fosse resultado do clima de extrema religiosidade da população a colidir com a persona...