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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Sem senhores e sem capatazes: Um carnaval aquilombado pelas massas

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Por  Hertz Dias* O capitalismo tornou-se um fardo insuportável nas costas de nossa classe. Nos setores oprimidos das semicolônias o fardo pesa em dobro. Por isso, o desejo de jogá-lo ao chão é cada vez maior, algo que se refletiu com muita força no carnaval de 2018. A Escola de Samba “Paraíso do Tuiuti” expressou isso na Marquês de Sapucaí. 75 minutos para desfilar, 130 anos de abolição para questionar, 500 anos de exploração e humilhação para denunciar. Emocionante, revoltante, necessário. E não foi só essa escola de samba que transformou as passarelas em “tribunas populares”, foram várias escolas de sambas e blocos alternativos de todo Brasil que resolveram escancarar o verbo com enredos e marchinhas politizadas. Não se trata de um suposto retorno nostálgico à raiz do nosso carnaval, pelo contrário, o que existe é muita luta pela sobrevivência nas trincheiras da guerra social, necessidade de denunciar o genocídio negro como fez brilhantemente a Beija Flor, de mostrar que “...

A liberdade espiritual e os evangélicos

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Por Arthur Virmond de Lacerda Neto A liberdade espiritual ou separação do Estado, das igrejas, ou laicização do Estado, foi instituída em 1890, por influência dos Positivistas, sob o valor da liberdade de pensamento, o que inclui a de crença e de descrença. Graças a ela, o Brasil deixou de adotar religião obrigatória, o catolicismo. Hoje, contudo, graças à liberdade espiritual, certos indivíduos e certas igrejas aproveitam-se da ingenuidade, da credulidade, da ignorância das massas, para, mistificando-as com a religião, locupletarem-se às custas delas, ascenderem politicamente, aspirarem à dominação gradual da sociedade segundo os dogmas da teologia bíblica. Não foi para isto que os Positivistas introduziram a liberdade espiritual, em 1890; não foi para isto que os próceres da república (Benjamin, Demétrio Ribeiro, Rui, Teixeira Mendes, Deodoro, Floriano e outros) separaram a igreja do estado e nos livraram da obrigatoriedade do catolicismo. A liberdade espiritual, princípio ca...

Como o patriarcado desmantelou o matriarcado, diabolizando a mulher

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Por Leonardo Boff* É difícil rastrear os passos que possibilitaram a liquidação do matriarcado e o triunfo do patriarcado, há 10-12 mil anos. Mas foram deixados rastos dessa luta de gênero. A forma como foi relido o pecado de Adão e Eva nos revela o trabalho de desmonte do matriarcado pelo patriarcado mediante um processo de diabolização da mulher. Essa releitura foi apresentada por duas conhecidas teólogas feministas, Riane Eisler ( Sex Myth and Poilitics of the Body: New Paths to Power and Love , Harper San Francisco 1955) e Françoise Gange ( Les dieux menteurs , Paris, Editions Indigo-Côtes Femmes,1997). Segundo estas duas autoras se realizou a uma espécie de processo de culpabilização das mulheres no esforço de consolidar o domínio patriarcal. Os ritos e símbolos sagrados do matriarcado são diabolizados e retroprojetados às origens na forma de um relato primordial, com a intenção de apagar totalmente os traços do relato feminino anterior. O atual relato do pecado das ...

O legado tucano em São Paulo

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Por Floriano Pesaro* A eleição do saudoso Mario Covas (1930-2001) ao governo estadual, em 1994, iniciou a liderança do PSDB para o bem de todos os paulistas. Ele herdou um Estado com sérios problemas fiscais, baixíssima capacidade de investimento, obras paradas e políticas públicas em desmonte. Diante desse desafio, não hesitou em fazer o que precisava ser feito e promoveu um responsável ajuste das contas públicas. Em razão das dificuldades que todo ajuste causa, a disputa pela reeleição foi duríssima, e ele quase ficou de fora do segundo turno. A população reconheceu seu trabalho de saneamento das finanças e conferiu a Mario Covas uma vitória consagradora. Dessa forma, não se permitiu descansar e deu continuidade a uma série de políticas públicas pioneiras, como os restaurantes Bom Prato, hoje com mais de 50 unidades, e o Poupatempo, referência em bom atendimento aos cidadãos em 71 unidades por todo o Estado. Com o falecimento de Covas, Geraldo Alckmin assumiu o leme do...

Seu ateísmo não me ofende!

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Por Hermes C. Fernandes * "Se Deus não existe, tudo é permitido" — Dostoiévski   O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de ateus no Brasil. De acordo com dados do IBGE, 7,4% (cerca de 12,5 milhões) da população brasileira declararam-se " sem religião ", podendo ser agnósticos , ateus ou deístas . O mundo tem experimentado uma espécie de reavivamento do ateísmo. Artistas engrossam o coro de intelectuais e cientistas que afirmam não acreditar na existência de Deus. O que antes era um fenômeno circunscrito a certas faixas etárias (acima dos 40), agora pode ser verificado até entre adolescentes. Talvez devido ao ateísmo professado atualmente por alguns ídolos teen como Daniel Radcliffe e Zac Efron, astros das franquias cinematográficas Harry Potter e High School Musical respectivamente. Trata-se, portanto, de um ateísmo fashion, e não do clássico, fruto de uma decepção religiosa ou de uma reflexão filosófica. Anteriormente, ateus preferiam id...

RIOS DA INDIFERENÇA

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Por Fernando Gabeira* Escrevo a caminho de Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Saí diretamente do Rio para cá. Suponho que a sociedade também tenha essa tendência ao equilíbrio, uma espécie de sistema nervoso autônomo. Se é assim, creio que já deu sinais de que algo vai mal tanto no organismo nacional como no sul-americano. O Rio foi tomado por inúmeros casos de violência e assalto. Apesar de tantos avisos, o governador Pezão confessou que o estado não se preparou para o carnaval. Como se uma festa tão antiga e previsível fosse um raio em céu azul. O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, disse que iria aproveitar a folga do carnaval e viajar para a Europa, em busca de experiências “inovativas”. Folga, como assim? Trabalhei no carnaval por escolha, se quisesse poderia estar fantasiado em qualquer esquina. Mas um prefeito não tem folga no carnaval. É precisamente o período em que tem de cuidar de tudo, para evitar o pior. Pezão ainda não conseguiu ler o plano de s...

Nota do Sindicato dos Advogados - RJ sobre o Decreto de intervenção federal do governo Temer

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Por Álvaro Quintão* O presidente do Sindicato dos Advogados-RJ vê com enorme preocupação a decisão do governo federal de intervir, via decreto, na área da Segurança do Estado do Rio de Janeiro, colocando tropas militares para cuidar da Segurança Pública. O impopular e ilegítimo governo Temer claramente busca, com uma campanha midiática e decidida às pressas, uma verdadeira “tábua de salvação” neste ano eleitoral. A nosso ver, é um equívoco achar que concedendo às Forças Armadas plenos poderes na área da segurança pública do estado resolveremos os sérios problemas existentes no Estado do Rio de Janeiro. Ainda que a violência exija medidas sérias de proteção dos cidadãos, providências para a geração de empregos, entre outras, trariam melhores resultados do que colocar a população do Rio de Janeiro refém das Forças Armadas. Se o país vive uma crise econômica, o Rio de Janeiro é o estado que mais sofre, seja pela paralisia da Petrobras, seja pela falência das empreiteiras, a ...

ENQUANTO AGONIZO

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Por Paulo Delgado* Ele se amontoa sobre o país. Hiperrealiza seus desejos, usa aliados como escória. Sem álibi, mandou o genro do compadre desqualificar a acusação, e deu errado. Segue trabalhando mal o luto. Um voo tão alto, uma queda tão grande. Revelou-se político de comodidade, tirou vantagem da desonestidade e alega princípios para abafar inconveniências. Chegou ao limite de querer aproveitar da própria decadência. Um grupo e ele saem do Fórum seguindo na direção do passeio. Embora vários do cortejo sejam mais altos e estejam à frente dele, qualquer pessoa que os observe do outro lado da rua pode ver a cabeça dele ultrapassando por uma cabeça a dos seus apoiadores. Não é perspectiva, é subalternidade. Lembra livro de Willian Faulkner, Enquanto Agonizo, onde um pai brutal impõe a todos um enterro sem fim, não deixando a vida de ninguém fluir sem ter de pensar no seu egoísmo doentio. A calçada, esturricada pelos pisões do povo e pedras soltas, segue reta como um fio de pru...

O quanto a metafísica ampara as nossa carências

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Interessante como que a foto acima, de autor desconhecido, mas amplamente divulgada nas redes sociais da internet, tem feito um grande sucesso mesmo entre pessoas não religiosas. A imagem costuma vir acompanhada de confortantes palavras que dizem: "Mesmo se caírem as folhas, Deus é capaz de garantir o espetáculo". De fato, ao olharmos para a foto, deparamo-nos ao centro com uma árvore seca já sem nenhum verde em seus ramos. Porém, as nuvens do céu, vistas além dos galhos pelas lentes do fotógrafo, acabam compondo o formato que as folhagens dariam ao vegetal, caso lá ainda estivessem. De um modo semelhante, a fé proporciona a muitos crentes experiências subjetivas capazes de suprir aquilo que já não se tem mais nesta vida, fortalecendo um sentimento muito poderoso que há em nós - a  esperança . É algo que tem ajudado muitos a caminharem em seus desertos existenciais, fazendo com que o peregrino se sinta em paz num oásis cheio de fontes hídricas em sua volta. N...

Apesar do Carnaval, somos ainda um povo muito reprimido...

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Quem pouco conhece sobre a realidade brasileira do cotidiano e/ou acerca da sexualidade humana, poderá chegar a equivocadas conclusões de que somos um povo liberado pelo simples fato de uma parcela da população brincar no Carnaval a ponto de sambarem quase nuas. Daí tanto os estrangeiros como os próprios brasileiros podem construir essa falsa impressão. Uns por não saberem como de fato é o Brasil e outros por acharem que liberdade sexual se explique pelo comportamento permissivo que muitos têm no Carnaval. Mas se você acha que "não existe pecado do lado de baixo do equador", como diz a música feita em 1973 por Chico Buarque e Ruy Guerra, enganou-se. Aliás, diga-se de passagem que a principal frase do frevo, que vez ou outra ainda se ouve no Carnaval dos nossos dias, não foi uma invenção original dos compositores. Pois cuida-se de um antigo ditado europeu surgido ainda na primeira metade do século XVII, como bem explica Natália Pesciotta numa postagem feita no s...