segunda-feira, 30 de abril de 2018

Convivência significativa

Ontem eu estava refletindo sobre a importância de melhorarmos a qualidade da nossa convivência com as pessoas do nosso presente e, principalmente, com as que estão próximas de nós.

Conviver é um desafio. Ainda mais quando nem sempre somos nós quem escolhemos as pessoas a exemplo dos nossos familiares e colegas de trabalho, ao contrário do que ocorre nas amizades e nos relacionamentos amorosos. São situações em que a vida, aleatoriamente, nos aproxima do outro e, com isso, nos leva a ter que lidar com as diferenças.

Por outro lado, vejo esse desafio como um aprendizado em que nem sempre conseguimos tirar nota 10 e muitas das vezes há situações que fogem do nosso controle por não dependerem das escolhas conscientes que fazemos. Por isso, chego à conclusão de que nunca devemos nos sentir culpados ou fracassados por não termos atingido um padrão ideal de convivência com o outro. Até mesmo quando somos a causa da discórdia visto que a culpa não leva a nada.

Fato é que esse aprendizado precisa ser encarado como uma oportunidade para melhorarmos como pessoas, mas há momento a em que o convívio também pode nos fazer mal. É quando o outro passa a assediar a nossa consciência, nos agredir, sufocar a nossa personalidade e, enfim, nos prejudicar. Então chega o momento em que precisamos tomar decisões nem sempre agradáveis pelo nosso próprio bem e até pelos outros na escolha de um afastamento ou da separação.

Por outro lado, posso dizer que o Evangelho me ensinou algo muito importante chamado perdão e que, apesar da religião nem sempre saber refletir adequadamente sobre isso, cuida-se de uma atitude importantíssima. Pois tendo em vista os conflitos existentes entre os seres humanos, pode-se dizer que a vida seria insustentável neste planeta se não houvesse uma certa dose de perdão liberada entre as pessoas.

Perdoar eu diria que é uma atitude humilde. É quando abrimos mão de exigir o que entendemos ser nosso por direito para reiniciarmos o relacionamento sobre novas bases. Em outras palavras, é  o entendimento de que é melhor sermos felizes do que querer ter razão.

Por certo que perdoar não significa abrir mão do amor próprio e nem se submeter a uma situação contínua de indignidade. Daí eu entender que muitas das vezes a religião não aborda o assunto com a clareza necessária pois muitas das vezes ela pouco desenvolve os seus conceitos da Bíblia e/ou da tradição.  Sem contarmos que é preciso levar em conta a necessidade de evitarmos a repetição dos erros que levaram ao conflito anterior.

Nesta segunda-feira, que para muitos de nós é parte de um feriadão de quatro dias, teremos nas despreocupadas horas de hoje uma grande oportunidade para convivernos melhor com aqueles que a vida aproximou de nós ou com quem escolhemos nos relacionar. Poderá ser o momento de quem sabe ficarmos menos na internet e tentarmos uma outra conexão mais direta e verdadeira com essas pessoas que compõem de fato a nossa breve passagem por este mundo como são os pais, filhos, irmãos, cônjuge e amigos.

Ótima segunda-feira a todos e que tenhamos ótimas conexões presenciais no decorrer deste dia.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

O LADRÃO E A LADRA




Estávamos no Parque Municipal de Belo Horizonte, quando um cidadão vinha ofegante correndo atrás de um ladrão que assaltava na feira hippie da Av. Afonso Pena. Ele conseguiu alcançar o ladrão que lhe estendeu a mão intentando enganá-lo. O cidadão mandou-o dar a volta e tirando do seu bolso uma caixa com o óculos roubados, mandou-o embora. Poucos minutos depois uma gritaria e uns dez policiais passaram por nós correndo e logo depois voltaram com o ladrão algemado e uma multidão aplaudindo o trabalho deles. “Muito bem!”


Apesar do número de policiais e da multidão ensandecida, o sujeito agrediu um dos policias deixando os sinais das suas unhas no seu braço.
Enquanto um policial revistava o sujeito, eu me aproximei dele e comecei a lhe falar do quanto ele era amado por Deus, ao que ele me respondeu prontamente: “Eu sei.” 
Olhei aqueles rostos felizes, delirantes com a prisão daquele jovem e minha lembrança penetrou as celas de um cárcere, escola para marginais. Lugar de violência que gera violência. Sabia também que logo, logo, aquele sujeito estaria novamente nas ruas, mais cheio de ódio e disposto até mesmo, quem sabe, a matar o cidadão que o perseguiu.



Mas o que mais gritava dentro de mim era a hipocrisia em que vive a nossa sociedade. Dos ladrões declarados, nos cuidamos contra eles como podemos, mas dos ladrões disfarçados não temos como nos esconder.



Naquela mesma semana estivemos no Shopping Estação de Belo Horizonte. Minhas cunhadas, estrangeiras, foram comprar dois botões de rosas para decorar um presente. Lá estava uma garota, arrumadinha, trabalhando, vendendo flores. Que lindo! Quem diria que ali estava uma ladra oportunista...



Minha cunhada lhe deu uma nota de cinquenta reais. Ela tomou a nota em sua mão, mas falou que não tinha troco, eu lhe estendi uma nota de dez reais, ela também disse que não tinha troco, meu marido então contou moedas e lhe deu exatamente o preço dos botões de rosa. Daí eu vi que ela estava com os cinquenta reais na mão como se fosse guardar, mas esperei que a minha cunhada pediria o seu dinheiro e me distraí. Saímos dali e logo depois, minha cunhada se deu conta de que a garota não tinha lhe devolvido os cinquenta reais, então voltou lá com seu irmão e um sobrinho e falou com a moça que ela não tinha devolvido o dinheiro... simplesmente ela negou deixando a minha cunhada, apesar de indignada, impotente. Como ela poderia provar que a vendedora não devolveu o seu dinheiro?
Aquela garota por certo, continua no seu trabalho “honesto,” roubando os mais confiantes, a final é vendedora no Shopping Estação.



Esta mesma sociedade que grita: “Pega o ladrão!” Talvez na sua grande maioria é ladrão oportunista “legal”: no Planalto; nas lojas; nas feiras; nos salões de beleza; nos serviços informais; nos transportes; aonde não?



“Pega o ladrão!” E todos eles olham para alguém que está correndo na rua...



17.03.2018
Guiomar Barba.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

O clamor da ministra pela serenidade

Nesta segunda-feira (02/04), a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), gravou um pronunciamento de 3 minutos e 18 segundos no qual defendeu o "fortalecimento da democracia", afirmando sobre a necessidade de "se respeitar opiniões diferentes" e pediu "serenidade" a fim de que diferenças ideológicas não resultem em "desordem social". 

Embora a sua assessoria não haja informado qual a motivação do comunicado da ministra ao país, pode-se perfeitamente presumir que tudo o que Carmen Lúcia disse tem a ver com o polêmico julgamento do habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cujo desfecho, por certo, não poderá agradar a uma nação hoje dividida.

De qualquer modo, vale a pena refletirmos sobre o que disse a presidente da mais alta Corte de Justiça deste país pois, afinal, os dias não têm sido lá muito favoráveis para o cultivo da tolerância depois que as redes sociais de internet promoveram a bipolarização da sociedade pela radicalização do debate. 

Com a palavra, a nossa excelentíssima ministra:



A democracia brasileira é fruto da luta de muitos. E fora da democracia não há respeito ao direito nem esperança de justiça e ética.

Vivemos tempos de intolerância e de intransigência contra pessoas e instituições.

Por isso mesmo, este é um tempo em que se há de pedir serenidade.

Serenidade para que as diferenças ideológicas não sejam fonte de desordem social.

Serenidade para se romper com o quadro de violência. Violência não é justiça. Violência é vingança e incivilidade.

Serenidade há de se pedir para que as pessoas possam expor suas ideias e posições, de forma legítima e pacífica.

Somos um povo, formamos uma nação. O fortalecimento da democracia brasileira depende da coesão cívica para a convivência tranquila de todos. Há que serem respeitadas opiniões diferentes.

Problemas resolvem-se com racionalidade, competência, equilíbrio e respeito aos direitos. Superam-se dificuldades fortalecendo-se os valores morais, sociais e jurídicos. Problemas resolvem-se garantindo-se a observância da Constituição, papel fundamental e conferido ao Poder Judiciário, que o vem cumprindo com rigor.

Gerações de brasileiros ajudaram a construir uma sociedade, que se pretende livre, justa e solidária. Nela não podem persistir agravos e insultos contra pessoas e instituições pela só circunstância de se terem ideias e práticas próprias. Diferenças ideológicas não podem ser inimizades sociais. A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro.

A efetividade dos direitos conquistados pelos cidadãos brasileiros exige garantia de liberdade para exposição de ideias e posições plurais, algumas mesmo contrárias. Repito: há que se respeitar opiniões diferentes. O sentimento de brasilidade deve sobrepor-se a ressentimentos ou interesses que não sejam aqueles do bem comum a todos os brasileiros.

A República brasileira é construção dos seus cidadãos.

A pátria merece respeito. O Brasil é cada cidadão a ser honrado em seus direitos, garantindo-se a integridade das instituições, responsável por assegurá-los.

OBS: Créditos autorais da imagem acima atribuídos a Marcelo Camargo/Arquivo/Agência  Brasil, conforme extraído de http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2018-04/em-pronunciamento-na-tv-carmen-lucia-destacara-tempos-de-intolerancia-no

Viva São Cosme e São Damião!

Aí um texto publicado no Facebook pelo historiador e deputado Chico Alencar que confere um bom sentido às crenças religiosas e aos costume...