sábado, 26 de dezembro de 2020

O Rio já teve políticos melhores que os de hoje...

 



"É preciso prosseguir ainda quando se saiba que os outros não estão preparados para a nossa generosidade." (Artur da Távola)


Houve um tempo em que a população do Estado do Rio de Janeiro votava um pouco melhor do que atualmente e elegia pessoas mais interessantes. Era o caso do jornalista, advogado, escritor e professor Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, conhecido pelo pseudônimo de Artur da Távola que, se estivesse ainda entre nós, completaria 85 anos em 03/01/2021. 


Tendo iniciado a sua vida política em 1960, no extinto Estado da Guanabara, Artur da Távola chegou a ser deputado, mas foi cassado da Assembleia Legislativa pelo regime militar, precisando deixar o país para escapar da perseguição ideológica. E chegou a viver na Bolívia e no Chile, retornando depois à vida pública de modo que foi um dos nossos constituintes em 1988. 


Artur da Távola nunca foi eleito prefeito, porém exerceu mandatos de deputado federal de 1987 a 1995 e, depois, de senador de 1995 a 2003, além de atuar secretário da Cultura na cidade do Rio por nove meses em 2001. E foi ainda um dos fundadores do PSDB, o qual veio a presidir entre 1995 e 1997, numa época em que o partido ainda preservava um pouco de suas características originais.


Todavia, desde o começo do presente século XXI, parece que os eleitores do Rio de Janeiro retrocederam. O cargo ocupado por Artur da Távola veio a ser, nas legislaturas seguintes, de Marcelo Crivella, o qual teve dois mandatos de senador e, em 2016, foi eleito prefeito da capital estadual, tornando-se um dos piores governantes da história da cidade.


Dizer que antes o brasileiro sabia votar não é verdade pois os resultados das nossas escolhas, na maioria das vezes, foram negativos. Porém, a política tinha um espaço maior para pessoas inteligentes e capacitadas, com menos influência das lideranças religiosas obscurecedoras ou do crime organizado. Afinal, as pessoas liam e pensavam um pouco mais...

sábado, 19 de dezembro de 2020

Vivemos no mundo da lua



 Por Mino Carta


Parece-me que o Brasil atual atingiu um ponto extremo de uma crise de demência que vem de longe, se quisermos, desde o descobrimento. Desconfio, porém, da existência de um juízo brasileiro, na lua ou em qualquer lugar do universo.

Neste país que ainda não chegou a nação, a guerra das vacinas, em pleno desenvolvimento e de incerto final, é a prova provada de uma situação de terrificante descalabro, sem contar o fato de que o suposto presidente da República mais uma vez transgride a Constituição, a lhe impor todo o cuidado com a saúde popular.

Um ditado italiano diz a respeito de quem está fora do eixo e perdeu a razão: “Ele vive no mundo da lua”. O planeta dos lunáticos, admiravelmente representado por Georges Méliès* no seu famosíssimo filme, obra-prima do alvorecer da Sétima Arte. Cada vez menos países ficam fora de um plano de vacinação, hoje já previsto para abarcar o mundo, quem sabe antes do Natal ou logo após. Aqui vivemos à margem da humanidade por obra de uma situação somente explicável à luz de uma análise patológica. Quando, orientados por Americo Vespuci, que já alcançara as costas do Piauí, os portugueses comandados por Cabral atingiram Porto Seguro, o escriba da aventura reconheceu a fertilidade da terra, onde “em se plantando tudo dá”. Logo começou a desgraça de uma colonização predatória, a dividir o espaço em imensas capitanias hereditárias e a desencadear um processo de escravidão que durou três séculos e meio e, a rigor, ainda vigora. Brutal a discrepância entre o que a natureza oferecia e a estultice do homem incapaz de aproveitar-se de tanta generosidade. Pairava desde então a conspiração contra o melhor juízo, semeava-se a demência.



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Revista CartaCapital, 19/12/2020

* Georges Méliès, cujo nome de batismo é Marie Georges Jean Méliès foi um ilusionista e cineasta francês famoso por liderar muitos desenvolvimentos técnicos e narrativos no alvorecer do cinema. Wikipédia


sábado, 28 de novembro de 2020

A relação entre os cidadãos e os seus representantes após as eleições



As eleições passam, mas os debates políticos ficam, os quais sempre virão à tona de algum jeito. Inclusive tais expressões têm se mostrado cada vez mais presentes em épocas de comemorações festivas como o Natal, o Ano Novo e o Carnaval, embora quase sempre espontâneas. 


Geralmente é a partir de 08/03, no Dia Internacional da Mulher, que alguns grupos sociais organizados começam a articular as suas ações, buscando influenciar decisões a serem deliberadas na pauta política de um país, região ou cidade. A partir daí, temos cerca de nove meses de acontecimentos relacionados à política, apesar dos fatos que ocorrem no chamado "apagar das luzes", ou logo no começo de um mandato, sem o suficiente conhecimento do público por meio dos canais de divulgação.


Como se sabe, a chamada democracia deliberativa constitui-se como um processo de deliberação política caracterizado por um conjunto de pressupostos teórico-normativos que incorporam a participação da sociedade civil na regulação da vida coletiva. É algo que avançou muito na Europa mas que ainda é uma raridade no Brasil, estando hoje em declínio (ou em crise) devido ao obscurantismo cultural que atravessamos, mas que sempre irá ocorrer dentro de um limite cuja extensão não conseguimos precisar.


Certo é que nem sempre os resultados das eleições trarão uma total legitimidade às decisões e às ações políticas sob o prisma sociológico. Pois os governantes e parlamentares, uma vez escolhidos, nunca conseguirão se fechar totalmente ao diálogo com o público supondo que caberá exclusivamente a eles o poder de deliberar sobre os assuntos de interesse da coletividade.


Ora, até que ponto cidadãos e representantes políticos não devem justificativas mútuas ao longo de quatro anos?! 


Pode um governante eleito este mês ser amanhã diplomado, tomar posse do cargo e passar todo o seu mandato alheio ao que chamamos de "voz das ruas", sem que sejam realizados eventos para discussões com o público?!


Inegavelmente, a interatividade é parte integrante da base do debate público, sendo algo de grande importância para que haja uma real legitimidade democrática dentro de uma sociedade. E, quanto a isto, o sociólogo alemão Jurgen Habermas, atualmente com 91 anos, ensinou muito a humanidade com as suas teorias do agir comunicativo (ou "Teoria da Ação Comunicativa"), da política deliberativa e da esfera pública. Aliás, pode-se afirmar que ele seria o "pai" do modelo two-track da teoria da democracia deliberativa onde o poder comunicativo derivado da influência pública sobre processos institucionais decorre não somente das eleições como nos debates sobre leis, através da produção de fluxos comunicativos em esferas públicas articuladas.


Assim sendo, nesse diálogo de duas vias, teríamos uma linguagem comum circulante no meio social mas que precisa ser traduzida para uma linguagem técnica, a fim de que tais opiniões sejam compreendidas e ajudem a programar as ações estatais. E, no sentido oposto da conversa, a informação especializada deve se tornar acessível para o público comum para que o leigo consiga compreender os mais importantes acontecimentos da política.


Por outro lado, nem todos os discursos feitos pelos cidadãos, ou isoladamente por um representante no Legislativo, significa um total poder de deliberação. Os organismos e meios de participação política certamente são limitados por mais que as opiniões ventiladas tenham insumos para produzir modificações ou, pelo menos, discussões. Ainda mais num sistema inflexível como o nosso presidencialismo de coalizão onde o debate sobre o "conjunto da obra" de um governante torna-se enfraquecido quando ocorre o alinhamento entre o Executivo e o Legislativo.


Passadas as eleições, é certo que o debate não se encerra e, quanto a isso, não podemos achar que as redes sociais de internet, a exemplo do sítios de relacionamentos Facebook, sejam as melhores ferramentas de comunicação já que elas não têm proporcionado um debate produtivo e civilizado entre os seus usuários. Porém, cada qual com a sua própria lista de contatos pessoais, quer se tratem de lideranças ou não, é capaz de contribuir para aquecer o debate politico que continuará a existir enquanto houver palavra, seja dentro ou fora dos eventos oficiais.


Que haja mais qualidade nas nossas discussões políticas!


OBS: Imagem acima extraída da Wikipédia com atribuição de autoria a Ryan Somma, Occoquan, USA, conforme consta em https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_deliberativa#/media/Ficheiro:Rally_to_Restore_Sanity-_Deliberative_Democracy_Now!_(5130166257).jpg

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Habermas, a filosofia e as redes sociais

 



O mais influente pensador vivo completou 89 anos

Jurgen Habermas mantém o saudável hábito de conceder poucas entrevistas. O filósofo alemão, que completa 89 anos nesta segunda-feira 18, continua, porém, a analisar os temas essenciais do mundo contemporâneo em uma volumosa produção de livros e artigos. 

Internet e redes sociais

É possível que com o tempo aprendamos a lidar com as redes sociais de forma civilizada. A internet abriu milhões de nichos subculturais úteis nos quais se troca informação confiável e opiniões fundamentadas. Pensemos não só nos blogs dos cientistas, mas nos pacientes que sofrem de uma doença rara e entram em contato com outros na mesma condição em outro continente para se ajudar mutuamente com conselhos e experiências. Sou velho demais para julgar o impulso cultural que as novas mídias vão gerar. O que me irrita é o fato de que se trata da primeira revolução da mídia na

história da humanidade que serve antes de tudo a fins econômicos, e não culturais.

Filosofia
Sou da antiquada opinião de que a filosofia deveria continuar tentando responder às perguntas de Kant: o que é possível saber?, o que devo fazer?, o que me cabe esperar? e o que é o ser humano? Não tenho certeza, no entanto, de que a filosofia, como a conhecemos, tenha futuro. Atualmente segue, como todas as disciplinas, a corrente no sentido de uma especialização cada vez maior. E isso é um beco sem saída, porque a filosofia deveria tentar explicar o todo, contribuir para a explicação racional de nossa forma de entender a nós mesmos e ao mundo.


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fonte: http://www.panaceiablog.com.br/habermas-a-filosofia-e-as-redes-sociais/

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Chico Calipígio

 



E COMO O BRASIL É MESMO O PAÍS DO GROTESCO, senadores criticaram o ministro Barroso do Supremo por pedido de afastamento do senador Chico Calipígio. Muito "coerentemente", o senador do PSD-BA disse que foi uma ação "afoita, e o direito ao contraditório"?

Penso eu aqui qual seria o "contraditório" que o senador Chico Calipígio teria a oferecer. Talvez seria "Policial, eu estava com um desarranjo estomacal e estava cagando dinheiro. Não sei porquê, por uma graça divina ou mutação genética, eu defeco dinheiro"


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

14 de Outubro - Dia do Velejador



 

Por Aarão de Moura Brito Neto


"Navegar é preciso, viver não é preciso" [?]


No século I a.c., o general romano Pompeu, encorajava marinheiros receosos, inaugurando a frase “Navigare necesse, vivere non est necesse.”


Corria o século XIV e o poeta italiano Petrarca transformava a expressão para “Navegar é preciso, viver não é preciso.”


“Quero para mim o espírito dessa frase”, escreveu depois Fernando Pessoa, confinando o seu sentido de vida à criação.


E cantando a coragem navegante, em jeito de fado brasileiro, Caetano Veloso escreveu Os Argonautas. “Navegar é preciso, viver …” Com um fim inacabado, a música lança as interrogações.


Navegar é preciso?


Sim! Navegar é uma viagem exata. Fazia-se com bússolas e astrolábios. Hoje, faz-se com satélites, GPS’ e www’s.


Viver não é preciso?


Não! É uma viagem feita de opções, medos, forças, inseguranças, persistências, constâncias e transições…


Mais de 2000 mil anos depois, interrogamo-nos:


Viver não é preciso?


Não, quando navegar é sonhar, ousar, planear, arriscar, empreender, realizar…


Porque aí, navegar é viver!


OBS: Texto extraído da página do autor no Facebook, conforme consta em https://www.facebook.com/aaraoebrandao23/posts/3745570708834059 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

A necessidade de união das forças progressistas na política




Embora eu esteja em campanha em Mangaratiba, vou falar um pouco do panorama geral político aqui no RJ, incluindo o que tenho visto em outros municípios no que diz respeito às eleições de 2020.


Uma das coisas que venho observando  tanto aqui quanto em várias cidades do estado é a falta da união das forças progressistas capazes de contribuir com avanços nos aspectos políticos, sociais, culturais, ambientais e/ou até mesmo econômicos, se olharmos de uma ótica distinta da maioria dos grandes empresários. E, para não ficar restrito ao antigo e ultrapassado binômio esquerda-direita, prefiro fazer menção ao termo progresso que, por sinal, encontra-se estampado na bandeira do nosso país juntamente com o vocábulo "ordem".


Como sabemos, Marcelo Freixo desistiu de disputar a eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro alegando haver falta de unidade na esquerda. Na ocasião, o deputado federal do PSOL disse que a estratégia para vencer o presidente Jair Bolsonaro em 2022 passaria pelas eleições deste ano, reconhecendo o erro cometido pela oposição em 2018:

 

"Bolsonaro não venceu as eleições apenas pelos seus acertos, mas também pelos nossos erros. De todos nós. Não tem como separar 2022 de 2020. Que a gente não saia derrotado de 2020 e tenha sabedoria no primeiro e segundo turnos"


Já não sei até que ponto os resultados em 2020 influenciarão em 2022, considerando que, no pleito de 2016, o PSDB foi o partido que mais conquistou prefeituras no Brasil e o tucano Geraldo Alckmin terminou com apenas 4,76% dos votos em todo o país, tendo, praticamente, um terço da votação do terceiro colocado, Ciro Gomes. Já em 2000, dois anos antes da primeira vitória de Lula (2002), o PT e partidos de esquerda foram vitoriosos na maioria das capitais brasileira, reconquistando, inclusive, a administração paulistana, através da candidata Martha Suplicy.


Todavia, independente de se concordar ou não por completo com raciocínio do citado parlamentar, fato é que, pelo menos no âmbito no RJ, na maioria dos municípios fluminenses, as forças progressistas do país encontram-se desunidas e poderiam estar compondo alianças pelo menos visando uma melhora na gestão de cada município. Inclusive sem se importarem tanto com o que enfrentarão daqui uns dois anos, no pleito geral.


Na capital fluminense, uma pesquisa do Datafolha, divulgada na semana passada (deve estar vindo uma nova por esses dias), apontou, com base num levantamento feito nos dias 05 e 06 deste mês, Eduardo Paes com 30%, Marcelo Crivella com 14%, Martha Rocha com 10% e Benedita da Silva com 8%. Estas duas estão quase que empatadas tecnicamente. Já a quantidade de brancos e nulos pontuou em 22% entre os cariocas entrevistados, sendo que 3% não souberam se posicionar (ou não quiseram responder), não tendo nenhum dos outros dez concorrentes chegado a 4%. Três deles tiveram menos de 1% das intenções de voto!


Ora, por que toda a esquerda da cidade do Rio não apoia Martha Rocha que é deputada estadual pelo PDT e ex-delegada de polícia?! Ou, por que o PSOL não compôs uma aliança com o PDT lançando ela e Freixo numa mesma chapa?! Pois isso, certamente, ampliaria as chances de competir com a máquina e com a prejudicial influência religiosa, viabilizando uma colocação da dita esquerda no segundo turno. Porém, além do PT ter lançado a Benedita, que não é um nome novo na política, o próprio PSOL apresentou a candidatura da deputada estadual Renata Souza (com 3% das intenções de votos) e a REDE fez o mesmo com Bandeira de Mello, cuja pontuação se equipara à da parlamentar psolista.


Na maioria dos municípios do interior do RJ, os quais pouco influenciam a corrida presidencial, também tenho visto situações semelhantes, sendo que as regras eleitorais nem ao menos permitem um segundo turno em mais de 80 desses colégios eleitorais por terem menos de 200 mil votantes. Em Nova Friburgo, onde morei de 1999 até 2011, além do atual prefeito Renato Bravo (PP), que tenta a reeleição, há outras 15 candidaturas disputando a cadeira número 1 da cidade. Dessas, pelo menos três ou quatro poderiam estar unida, apenas por identidade ideológica, em torno do ex-vereador Cláudio Damião e, talvez, umas oito ou nove teriam motivos para compor com ele levando em conta um interesse comum de governar o município. Só que a oposição preferiu se fragmentar.


Por sua vez, Itaguaí, cidade vizinha a Mangaratiba, com menos eleitores que a serrana Nova Friburgo, tem quase o mesmo número de candidatos a prefeito, sendo ao todo 15, incluindo o governante interino Rubem Vieira de Souza, o "Dr. Rubão". Este ocupa a cadeira de prefeito desde o impeachment de Charlinho e de seu vice Aberladinho.


Já aqui em Mangaratiba, foram sete os pedidos de candidatura para as eleições majoritárias, além de haver 229 cidadãos que disponibilizaram seus nomes para concorrer às 13 cadeiras na Câmara Municipal. Porém, para uma cidade com menos de 40 mil eleitores, é muita gente se lançando numa aventura política, sendo que nem todas as nominatas foram satisfatoriamente preenchidas com candidatos a vereador. Numa delas, por exemplo, há somente três homens e uma mulher, de modo que considero praticamente impossível os quatro concorrentes atingirem as chamadas "vagas de sobra" que foi uma inovação nas eleições brasileiras, graças à reforma de 2017 que alterou o § 2º do art. 109 da Lei Federal n.º 4.737/1965 (Código Eleitoral).


É certo que essa nova regra veio favorecer partidos com menor expressão ou com candidaturas alternativas no que diz respeito às eleições proporcionais para vereador, caso não alcancem o quociente eleitoral.


Vale destacar que, na eleição proporcional brasileira, é o partido que recebe as vagas, e não o candidato. Isso significa que, nesse tipo de pleito, o eleitor, ao votar no dia 15 de novembro, estará escolhendo ser representado por determinada legenda e, preferencialmente, pelo candidato por ele definido, mas que poderá entrar ou não. Ou seja, o voto para vereador indicará quantas vagas determinado partido vai ter direito, cabendo ressaltar que, mesmo se um candidato tiver votação expressiva, vindo a ser o mais votado na cidade, ele poderá não ser eleito, se o partido não conquistar a vaga.


Ressalte-se que é somente a partir daí que os candidatos mais votados poderão preencher as cadeiras recebidas pelos partidos, conforme a sua colocação. Isto é, o candidato que obtiver o maior número de votos dentro de determinado partido ficará em primeiro lugar na lista. É o que chamamos de "lista aberta".


Para não me alongar muito no texto, prefiro não explicar agora como se calculam o quociente eleitoral, o quociente partidário e as sobras, o que é feito em conjunto com a apuração da chamada "cláusula de barreira", a fim de ser definida a votação mínima para um candidato ser eleito (alcançar pelo menos 10% do quociente eleitoral). Porém, o que estou querendo dizer é que, até mesmo nas eleições para vereador, tem faltado estratégia e cooperação diante dessa matemática que é muitas das vezes cruel, sendo Niterói uma das poucas exceções no RJ onde a candidatura a prefeito do ambientalista Alex Grael do PDT, apoiado também por SOLIDARIEDADE, PT, CIDADANIA, PP, PL, PATRIOTA, AVANTE, PV, MDB, PSB, PRTB, REDE e PCdoB, muito tem me animado, levando a acreditar que o futuro governador possa vir do lado leste da Baía de Guanabara.


Concluo dizendo que, se queremos ver progresso na política das nossas cidades e do país, é fundamental haver união, consciência, foco nas questões principais e menos interesse pessoal ou corporativo. Pois, sem esse entendimento, a luta fica muito mais difícil. Mas, ainda assim, não se deve desistir de modo que tenho prosseguido com a minha candidatura a vereador em Mangaratiba, junto com Aarão e Brandão, componentes da chapa da coligaçãResgatando Mangaratiba por Amor, formada por CIDADANIA, PSDB, PRTB, PL e AVANTE.


Ótimo feriado a todos!


OBS: Artigo originalmente postado em 12/10/2020 no meu blogue, conforme consta em http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2020/10/a-necessidade-de-uniao-das-forcas.html

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

INSTINTO MATERNO?

 




O MOVIMENTO FEMINISTA DEFENDE QUE O "INSTINTO MATERNO" NÃO EXISTE, é coisa inventada pelos machos opressores para deixar as mulheres vulneráveis e dependentes. Uma bobagem sem tamanho, baseado no cool de quem criou tal tese.


SOMOS NATUREZA. Se a Natureza deu ovários, óvulos e útero às espécimes femininas não daria também o preparo químico para a gravidez? OS MAIORES INSTINTOS NA NATUREZA SÃO PRESERVAÇÃO E PROCRIAÇÃO, nós não estamos fora desse pacote.

VOU DESTACAR ALGUNS TRECHOS DE UMA MATÉRIA DO DRAÚSIO VARELLA sobre o tema.

"...Na década de 1940, foi demonstrado que estrogênios e progesterona, os hormônios sexuais femininos, modulam respostas como agressão e sexualidade em cachorros, gatos e ratos. Mais tarde, ficou claro que esses hormônios sexuais, juntamente com a prolactina, mensageiro essencial à produção de leite, são fundamentais para a adoção do comportamento materno..."

"...Nos últimos vinte anos, além desses hormônios, foram descritos mediadores químicos que também exercem influência no comportamento materno através de ação direta sobre o sistema nervoso central. É o caso das endorfinas, produzidas pela hipófise e pelo hipotálamo para combater os efeitos nocivos da dor, mediadores liberados em quantidades crescentes à medida que a gestação se aproxima do final, com o objetivo de reduzir o sofrimento causado pelas dores do parto e de contribuir para a instalação do comportamento maternal..."

"...No momento do parto, a hipófise e o hipotálamo secretam, ainda, ocitocina, hormônio que estimula as contrações uterinas e a liberação do leite. A ocitocina, também produzida na fase de amamentação em resposta à sucção do leite através do mamilo, estimula o hipocampo, área cerebral envolvida no processamento da memória e do aprendizado..."

"...O mais interessante é que uma vez disparado pelos hormônios e mediadores citados, o comportamento materno diminui sua dependência deles: a simples presença do filho se torna suficiente para mantê-lo..."

"...Uma área do hipotálamo feminino denominada mPOA guarda relação importante com o comportamento materno. Em ratos, a injeção de morfina nessa região desestrutura a ligação mãe-filho..."

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Como toda regra tem exceção, NÃO DUVIDO QUE MULHERES não tenham tal instinto materno desenvolvido mas isso não é devido Á IDEOLOGIA. Pode-se lutar o quanto quiser contra a Natureza, contra a química dos nossos corpos, mas as forças da natureza não se moldam à regras de pensamentos.

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NÃO ESTOU DIZENDO QUE NÓS, ENQUANTO ESPÉCIE INTELIGENTE E COM CONSCIÊNCIA ESPANDIDA não seja capaz de dominar os instintos naturais. PODEMOS!!! Fazemos isso: nós fazemos planejamento familiar, nós evitamos ter 20 filhos como acontecia no passado, mulheres decidem não terem filhos, mas isso não DESTRÓI A NOSSA QUÍMICA, ela apenas fica controlada e submetidas à nossa vontade consciente.


Eduardo Medeiros.

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terça-feira, 25 de agosto de 2020

A boa ideia das "candidaturas coletivas"

 



Apesar de ainda não ser algo regrado no ordenamento jurídico do país, eis que, aos poucos, as candidaturas coletivas vão se tornando uma realidade dentro da política brasileira, ainda que a maioria das pessoas nem tenha noção sobre o que vem a ser isso.


Na verdade, quando o eleitor vai às urnas escolher o seu representante para o Legislativo, ele vota em apenas um candidato "oficial" que seja do seu agrado e cuja foto aparecerá na maquininha antes de ele/ela apertar a tecla de confirmação. Porém, não há nada que impeça uma determinada candidatura ser apresentada ao público como um futuro "mandato coletivo" onde outros integrantes, por um comum acordo entre si, estarão de alguma forma compondo o gabinete do futuro parlamentar eleito.


Lembro bem o quanto nas eleições gerais de 2018 essa estratégia deu certo para alguns novos movimentos propositivos que surgiram na política brasileira mas que ainda não se tornaram partidos políticos (e nem sei se seria uma boa termos uma multiplicidade de agremiações partidárias). Logo, como a legislação exige que o candidato esteja filiado há seis meses antes do pleito numa legenda, tais grupos souberam encaixar os seus representantes em nominatas com viabilidade eleitoral onde seriam competitivos e teriam chances de conquistar a cadeira.


Todavia, o fato de não haver ainda um regramento a respeito, acabam surgindo uns problemas jurídicos posteriores como ocorreu com a jovem deputada federal Tabata Amaral, eleita pelo PDT de São Paulo com 264.450 sufrágios, tendo sido a sexta mais votada em seu estado. Pois sendo ela antes pertencente ao chamado Movimento Acredito, o qual tem como objetivo combater a polarização política no país, eis que os posicionamentos da parlamentar acabaram entrando em choque com as disposições estatutárias do tradicional partido trabalhista fundado pelo saudoso Brizola, quando houve a votação da reforma da Previdência. Isto porque o PDT fechou posição contrária às emendas constitucionais propostas pelo presidente Jair Bolsonaro enquanto a deputada preferiu concordar com o texto principal da reforma.


Não nego que uma "candidatura coletiva" possa, em tese, desestabilizar a unidade que os partidos brasileiros não têm e nunca tiveram. A meu ver, se um vereador, deputado ou senador não votar de acordo com a orientação partidária, deve de fato sofrer punições conforme estiver previsto no estatuto, sujeitando-se, se for o caso, até mesmo à perda do mandato. Logo, qualquer coletivo que lance a sua candidatura por um partido deve submeter-se às regras estatutárias internas do mesmo, o que, por sua vez, pode vir a ser atenuado por meio de transparentes negociações prévias, dentro das possibilidades do próprio regramento da agremiação, a exemplo do velho aforismo "o combinado não sai caro".


Assim sendo, acompanhando a evolução da política e da sociedade, defendo que possamos prosseguir com as candidaturas coletivas nas eleições deste ano, quer sejam elas ligadas a algum movimento ou não. E, diga-se de passagem, vejo aí uma incrível oportunidade para que partidos sem uma representação sólida num município ou estado, até seis meses antes das eleições, possam lançar candidatos por meio de outra legenda, tendo em vista que, a partir do pleito de 2020, já não teremos mais as coligações proporcionais.


Embora o fim das coligações entre partidos para a escolha dos vereadores e deputados poderá enfraquecer e até representar o fim dos partidos pequenos, induzindo à fusão e à incorporação de legendas (vejo isso como um fortalecimento da política), suponho que os mandatos coletivos dariam uma sobrevida aos movimentos progressistas que ainda não conseguem formar uma nominata competitiva. Então, se o partido X, numa determinada cidade, possui apenas um nome com chances reais de ser eleito vereador, por que não encaixar previamente aquele candidato numa outra legenda que já possua mais candidatos com um potencial maior de votos?


Dando um exemplo concreto, falarei brevemente daqui de Mangaratiba onde, até o momento, a esquerda local ainda não foi capaz de se estruturar para ocupar um espaço na Câmara, apesar do PT ter eleito dois vereadores em 2016 que, neste ano, disputarão a reeleição por outras agremiações. E, neste sentido, questiono por que as forças progressistas da cidade não poderiam lançar os seus candidatos a vereador por uma única legenda com a qual tenham certo nível de identidade ideológica?!


Se voltarmos aos tempos do bipartidarismo, como foi na maior parte do regime militar (quando também era proibido registrar um partido de ideologia comunista), eis que alguns movimentos de esquerda apoiaram candidatos pelo antigo MDB. E, inclusive, houve várias correntes ideológicas que participaram dessa sigla histórica do nosso país até à volta do pluripartidarismo, significando para nós que já existia um outro tipo de "mandato coletivo" por organizações condenadas à clandestinidade como eram o PCdoB, o PCB, a CST (atual PSTU) e o extinto MR-8.


Enfim, ainda que se diga não haver nada novo debaixo do sol, podemos considerar os mandatos coletivos como momentâneas inovações capazes de revitalizar a nossa débil política e que, por isso, não podem ser ignorados pelos partidos. Principalmente se a candidatura visar reunir diversas pessoas com conhecimento e experiência em áreas específicas, pertencentes a diferentes setores sociais, sem trazerem conflitos entre um movimento externo e a legenda.


OBS: Texto de minha autoria postado originalmente no meu bligue pessoal conforme consta em http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2020/08/a-boa-ideia-das-candidaturas-coletivas.html

sábado, 11 de julho de 2020

O coronavírus: uma ataque da Terra contra nós



Por Leonardo Boff*
(em 03/07/2020)

Até a presente data toda a preocupação face ao Covid-19 está centrada na medicina, na técnica e em todos os insumos que impedem a contaminação dos operadores da saúde. Principalmente se busca de forma urgente uma vacina eficaz. Na sociedade, o isolamento social e evitar a conglomeração de pessoas.Tudo isso é fundamental. No entanto, não podemos considerar o coronavírus como um dado isolado. Ele deve ser visto dentro do contexto que permitiu sua irrupção.

Ele veio da natureza. Ora, como bem disse o Papa Francisco em sua encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum:” Nunca maltratamos e ferimos nossa Casa Comum como nos dois últimos séculos” (n.53). Quem a feriu foi o processo industrialista: o socialismo real (enquanto existia) e principalmente o sistema capitalista hoje globalizado. Este é o Satã da Terra que a devasta e à leva a todo tipo de desequilíbrios.

Ele é o principal (não o único) responsável pelas várias ameaças que pairam sobre o sistema-vida e o sistema-Terra: desde o possível holocausto nuclear, o aquecimento global, a escassez de água potável até a erosão da biodiversidade. Faço minhas as palavras do conhecido geógrafo norte-americano David Harley: “O COVID-19 é a vingança da natureza por mais de quarenta anos de maus-tratos e abuso nas mãos de um extrativismo neoliberal violento e não regulamentado”.

Isabelle Stengers, química e filósofa da ciência que muito trabalhou em parceria com o Nobel Ilya Prigogine, sustenta a mesma tese que eu também sustento: ”o coronavírus seria uma intrusão da Terra-Gaia nas nossas sociedades, uma resposta ao antropoceno”.

Conhecíamos outras intrusões: a peste negra (peste bubônica) que vinda da Eurásia dizimou, ao todo, segundo estimativas, entre 75-200 milhões de pessoas. Na Europa entre 1346-1353 desfalcou a metade de sua população de 475 para 350 milhões. Ela precisou de 200 anos para se recompor. Foi a mais devastadora já conhecida na história. Notória também foi a gripe espanhola. Oriunda possivelmente dos USA entre 1918-1920, infectou 500 milhões de pessoas e levando 50 milhões à morte, inclusive o presidente eleito Rodrigues Alves em 1919.

Agora, pela primeira vez um vírus atacou o planeta inteiro, levando milhares à morte sem podermos detê-la por sua rápida propagação já que vivemos numa cultura globalizada com alto deslocamento de pessoas que viajam por todos os continentes e podem ser portadores da epidemia.

A Terra já perdeu o seu equilíbrio e está buscando um novo. E esse novo poderá significar a devastação de importantes porções da biosfera e de parte significativa da espécie humana.

Isso vai ocorrer, apenas não sabemos quando nem como, afirmam notáveis biólogos. Se vier a temida NBO (The Next Big One), o próximo grande e devastador vírus, poderá, segundo o pesquisador da USP Prof. Eduardo Massad, levar à morte cerca de 2 bilhões de pessoas, diminuindo a expectativa geral de vida de 72 para 58 anos. Outros temem até o fim da espécie humana.

O fato é que já estamos dentro da sexta extinção em massa. Inauguramos segundo alguns cientistas, uma nova era geológica, a do antropoceno e sua expressão mais danosa, a do necroceno. A atividade humana (antropoceno) se revela a responsável pela produção em massa da morte (necroceno) de seres vivos.

Os diferentes centros científicos que sistematicamente acompanham o estado da Terra atestam que, de ano para ano, os principais itens que perpetuam a vida (água, solos, ar puro, sementes,fertilidade, climas e outros) estão se deteriorando dia a dia. Quando isso vai parar?

O dia da Sobrecarga da Terra (the Earth Overshoot Day) foi atingido no dia 29 de julho de 2019. Isto significa: até esta data foram consumidos todos os recursos naturais disponíveis e renováveis. Agora a Terra entrou no vermelho e no cheque especial.

Como frear esta exaustão? Se teimarmos em manter o consumo atual, especialmente o suntuoso, temos que aplicar mais violência contra a Terra forçando-a a nos dar o que já não tem ou não pode mais repor. Sua reação se expressa pelos eventos extremos, como o vendaval-bomba em Santa Catarina em fins de junho e pelos ataques dos vários tipos de vírus conhecidos: zika, chicungunya, ebola, Sars, o atual coronavírus e outros. Devemos incluir o crescimento da violência social já que Terra e Humanidade constituem uma única entidade relacional.

Ou mudamos nossa relação para com a Terra viva e a para com a natureza ou poderemos contar com novos e mais potentes vírus que poderão dizimar milhões de vidas humanas. Nunca o nosso amor à vida, a sabedoria humana dos povos e a necessidade do cuidado foram tão urgentes.

(*) Leonardo Boff é ecoteólogo e escritor.Acaba de escrever um livro:”O Covid-19: A Mãe Terra contra-ataca a Humanidade” a sair pela Editora Vozes ainda este ano.

OBS: Texto e imagem extraídos do blogue do autor em https://leonardoboff.org/2020/07/03/o-coronavirus-uma-ataque-da-terra-contra-nos/

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Vaquinha virtual para ajudar o nosso confrade Eduardo Medeiros a reconstruir sua casa



Prezados, amigos!

Ontem fiquei perplexo com a notícia sobre o que aconteceu com o nosso confrade Eduardo Medeiros. Isto é, com a sua residência, a qual foi incendiada devido à explosão de um celular que estava carregando na tomada enquanto todos dormiam.

Felizmente ele e todos escaparam com vida do que poderia ter sido uma tragédia. Porém, a família perdeu tudo o que tinha. Inclusive os documentos.

Ainda bem que uma das integrantes da CPFG teve a pronta iniciativa de iniciar uma vaquinha virtual para ajudar essa família carioca que vive no bairro Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro:

"Decidi iniciar essa vaquinha porque na manha do dia 05 de maio de 2020, em meio a tantos acontecimentos ruins, recebi a notícia que essa família de amigos queridos havia se salvo de um incendio em sua propria casa. O fogo iniciou em um carregador de celular. Ninguém está livre disso.
A familia Medeiros (Eduardo o pai, Adeildes a mae, e o Eduardinho o filho, menino alegre e cheio de vida) sao gente de bem e que teve o seu porto seguro, destruido pelas chamas. Nao restou nada. Ainda bem que estao vivos e prontos para continuar, mas sem a nossa ajuda e solidariedade será bem mais difícil. Toda ajuda será bem vinda! Desde já agradeço!" (
Aline Cleo Vieira)

Quem puder colaborar, segue o link, sendo que qualquer ajuda será muito bem vinda. Ainda mais nesses dias de enfrentamento da pandemia que atinge a todos: https://www.kickante.com.br/campanhas/reconstrucao-familia-medeiros

Sejamos solidários!

terça-feira, 21 de abril de 2020

O amor secreto de Tiradentes no Rio



Não quero hoje, 21/04/2020, lembrar do Tiradentes enforcado. Chega de assistir cotidianamente tantas cenas de pessoas morrendo por causa da COVID-19, como a TV tem mostrado o tempo todo. 

Sendo assim, nesta data que homenageia o herói nacional da Inconfidência Mineira, preferi compartilhar algo sobre um breve romance que o alferes teve na cidade do Rio de Janeiro com uma comerciante da rua do Ouvidor. Segundo um texto da Wikipédia, baseado nas crônicas Memórias da Rua do Ouvidor, do romancista Joaquim Manuel de Macedo, eis que Tiradentes e Perpétua Mineira teriam tido um caso: 

"Na crônica Memórias da Rua do Ouvidor, capítulo 7, o escritor e médico fluminense Joaquim Manuel de Macedo relata que, neste mesmo ano de 1787, Tiradentes conhece uma certa "Perpétua Mineira", dona de uma casa de pasto na rua do Ouvidor, na cidade do Rio de Janeiro e apaixonam-se, mantendo um romance por pouco mais de dois anos. Em 1790, o Conde de Resende é nomeado Vice-Rei do Brasil, com a missão de acabar com a conspiração mineira. Perpétua também passou a ser espionada, sua casa de pasto foi por vezes invadida e já não se encontrava mais com Tiradentes, que já havia sido preso. Segundo a crônica, Perpétua foi vista pela última vez em 21 de abril de 1792 nas proximidades da forca onde havia sido executado seu amante" - citação extraída de https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Tiradentes

Para quem não sabe, o itaboraiense Joaquim Manuel de Macedo (1820 — 1882) foi um médico, jornalista, político, professor, romancista, poeta, teatrólogo e memorialista. Além de Memórias da Rua do Ouvidor, escreveu pelo menos duas outras crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro: Um Passeio pela Cidade do Rio de Janeiro (1862) e Labirinto. Tinha uma forte ligação com Dom Pedro II e com a Família Imperial Brasileira, chegando a ser preceptor e professor dos filhos da Princesa Isabel. Porém, apesar de todas essas amizades na Corte e de relativa parcialidade do seu relato acerca de Tiradentes, pareceu-me confiável o que escreveu acerca de Perpétua assim como se encontraria próximo da realidade o texto que romanceou.

Quanto à vida pessoal do Tiradentes, supõe-se que ele nunca se casou, mas teve vários casos amorosos. E, por conta disso, muitos moradores de Minas Gerais reivindicam ser descendentes dos possíveis filhos do alferes, tendo quatro deles (três trinetos e uma tetraneta) obtido uma módica pensão especial do governo, através das leis números 7.705/1988 e  da 9.255/1996.

Acerca de Perpétua, dela nunca mais se teve notícias depois da noite de 21/04/1792, data em que Tiradentes foi enforcado. O referido cronista do século XIX informa que ela simplesmente sumiu do Rio de Janeiro, sem deixar registros.

OBS: Artigo de minha autoria publicado originalmente em http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2020/04/o-amor-secreto-de-tiradentes-no-rio.html 

terça-feira, 14 de abril de 2020

"podemos sair do desastre humanitário da pandemia da Covid-19 mais ricos como cidadãos"




Por Luís Roberto Barroso*

Uma recessão mundial parece inevitável. E ela nos colherá após anos de recessão doméstica. Não virão tempos fáceis. Parece inevitável que todos ficaremos, ao menos temporariamente, mais pobres do ponto de vista material. Porém, na vida, tudo pode servir de aprendizado.

Sou convencido de que podemos sair do desastre humanitário da pandemia da Covid-19 mais ricos como cidadãos e, talvez, também espiritualmente. Para isso, procuro alinhavar uma agenda pós-crise, mas que já pode ser colocada em prática desde logo. Toda escolha dessa natureza tem alguma dose de subjetividade, mas eis a minha lista de propostas: integridade, solidariedade, igualdade, competência, educação e ciência e tecnologia.

A integridade é a premissa de tudo o mais. Ela precede a ideologia e as escolhas políticas. Ser correto não é virtude ou opção: é regra civilizatória básica. Não há como o Brasil se tornar verdadeiramente desenvolvido com os padrões de ética pública e de ética privada que temos praticado. Um pacto de integridade só precisa de duas regras simples: no espaço público, não desviar dinheiro; no espaço privado, não passar os outros para trás. Será uma revolução.

Solidariedade significa não ser indiferente à dor alheia e ter disposição para ajudar a superá-la. Ela envolve, para quem foi menos impactado pela crise, a atitude de auxiliar aqueles que sofreram mais. Como, por exemplo, continuar pagando por alguns serviços, mesmo que não estejam sendo prestados. Da faxineira à manicure. E, evidentemente, caridade e filantropia por parte de quem pode fazer.

A superação da pobreza extrema e da desigualdade injusta continua a ser a causa inacabada da humanidade. Vivemos num mundo em que 1% dos mais ricos possui metade de toda a riqueza. E num país no qual, segundo a organização Oxfam, 6 pessoas somadas possuem mais do que 100 milhões de brasileiros. A pandemia escancarou o déficit habitacional, a inadequação dos domicílios e a falta de saneamento, em meio a tudo o mais. Já sabemos onde estão as nossas prioridades.

Quanto à competência, precisamos deixar de ser o país do nepotismo, do compadrio, das ações entre amigos com dinheiro público. Aliás, uma das coisas que mais dão alento no Brasil é o fato de que, quando se colocam as pessoas certas nos lugares certos, tudo funciona bem. Há exemplos recentes, no Banco Central, na Petrobras, na Infraestrutura e na Saúde. Precisamos derrotar as opções preferenciais pelos medíocres, pelos espertos e pelos aduladores. É hora de dar espaço aos bons.

O déficit na educação básica - que é a que vai do ensino infantil ao ensino médio - é a causa principal do nosso atraso. No Brasil, ela só se universalizou 100 anos depois dos Estados Unidos. Elites extrativistas e incultas escolheram esse destino. A falta de educação básica está associada a três problemas graves: vidas menos iluminadas, trabalhadores de menor produtividade e reduzido número de pessoas capazes de pensar soluções para o país. Ao contrário de outras áreas, os problemas da educação têm diagnósticos precisos e soluções consensuais. Há tanta gente de qualidade nessa área que é difícil entender o descaso.

E, por fim, há a urgente necessidade de mais investimento em ciência e tecnologia. O mundo vive uma revolução tecnológica e está ingressando na quarta revolução industrial. A riqueza das nações depende cada vez menos de bens materiais e, crescentemente, de conhecimento, informação de ponta e inovação. Precisamos prestigiar e ampliar nossas instituições de pesquisa de excelência, assim como valorizar os pesquisadores. A democracia tem espaço para liberais, progressistas e conservadores. Mas não para o atraso.

Tem se falado que, depois da crise, haverá um novo normal. E se não voltássemos ao normal? E se fizéssemos diferente?

(*) Luís Roberto Barroso é ministro do Supremo Tribunal Federal, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), mestre pela Universidade de Yale, doutor e livre-docente pela Uerj e colaborador acadêmico (Senior Fellow) da Harvard Kennedy School

OBS: Créditos nda imagem a José Cruz/Agência Brasil. Artigo originalmente publicado no jornal O Globo, com o título E se fizéssemos diferente?

segunda-feira, 23 de março de 2020

O coronavírus: a auto-defesa da própria Terra



Por Leonardo Boff*

A pandemia do coronavírus nos revela que o modo como habitamos a Casa Comum é nocivo à sua natureza. A lição que nos transmite soa: é imperioso reformatar nossa forma de viver sobre ela, enquanto planeta vivo. Ela nos está alertando que assim como estamos nos comportando não podemos continuar. Caso contrário a própria Terra irá se livrar de nós, seres excessivamente agressivos e  maléficos ao sistema-vida.

Nesse momento, face ao fato de estarmos no meio da primeira guerra global, é importante conscientizar nossa relação para com ela e a responsabilidade que temos pelo destino comum Terra viva-Humanidade.

Acompanhem-me neste raciocínio: o universo existe já há 13,7 bilhões de anos. A Terra há 4,4 bilhões. A vida há 3,8 bilhões. O ser humano há 7-8 milhões. Nós, o homo sapiens/demens atual há 100 mil anos. Todos somos formados com os mesmos elementos físico-químicos (cerca de 100) que se formaram, como numa fornalha, no interior das grandes estrelas vermelhas, por 2-3 bilhões de anos (portanto há 10-12 bilhões de anos): o universo, a Terra e nós mesmos.

A vida, provavelmente, irrompeu a partir de uma bactéria originária, mãe de todos os viventes. Acompanhou-a um número inimaginável de micro-organismos. Diz-nos Edward O.Wilson, talvez o maior biólogo vivo: só num grama de terra vivem cerca de 10 bilhões de bactérias de até 6 mil espécies diferentes (A criação: como salvar a vida na Terra, 2008, p. 26). Imaginemos a quantidade incontável desses micro-organismos, em toda a Terra, sendo que somente 5% da é visível e 95%, invisível: o reino das bactérias, fungos e vírus.

Acompanhem-me ainda: hoje é tido como um dado científico, depois de 2002, quando James Lovelock e sua equipe demonstraram perante uma comunidade científica de milhares de cientistas na Holanda, que a Terra não só possui vida sobre ela. Ela mesma é viva. Emerge como um Ente vivo, não no sentido de um organismo ou um animal, senão de um sistema que regula os elementos físico-químicos e ecológicos, como fazem os demais organismos vivos, de tal forma que se mantém vivo e continua a produzir uma miríade de formas de vida. Chamaram-na de Gaia.

Outro dado que muda nossa percepção da realidade. Na perspectiva dos astronautas seja da Lua seja das naves espaciais, assim testemunharam muitos deles, não vigora uma distinção entre Terra e Humanidade. Ambos formam uma única e complexa entidade. Conseguiu-se fazer uma foto da Terra, antes de ela penetrar no espaço sideral, fora do sistema solar: aí ela aparece, no dizer do cosmólogo Carl Sagan, apenas como ”um pálido ponto azul”. Pois, nós estamos dentro deste pálido ponto azul, como aquela porção dela, que num momento de alta complexidade, começou a sentir, a pensar, a amar e a perceber-se parte de um Todo maior. Portanto, nós, homens e mulheres, somos Terra, somos húmus (terra fértil), o Adam bíblico (terra arável) inteligente e amante.

Ocorre que nós, esquecendo que somos uma porção da própria Terra, começamos a saquear suas riquezas no solo, no subsolo, no ar, no mar e em todas as partes. Buscava-se realizar um projeto ousado de acumular o mais possível bens materiais para o desfrute humano, na verdade, para a sub-porção poderosa e já rica da humanidade. Em função desse propósito se criou a ciência e a técnica. Atacando a Terra, atacamos a nós mesmos que somos Terra. Levou-se tão longe a cobiça deste grupo pequeno de gente, que ela atualmente se sente exaurida a ponto de terem sido tocados seus limites intransponíveis. É o que chamamos tecnicamente de a Sobrecarga da Terra (the Earth overshoot). Tiramos dela mais do que pode dar. Ela não consegue repor o que lhe subtraímos. Então dá sinais de que adoeceu, perdeu seu equilíbrio dinâmico, aquecendo-se de forma crescente, formando tufões e tsunamis, nevascas nunca dantes vistas, estiagens prolongadas e inundações aterradoras. Mais ainda: liberou micro-organismos como o sars, o ebola, o dengue, a chikungunya e agora o coronavírus. São formas das mais primitivas de vida, quase no nível de nanopartículas, só detectáveis sob potentes microscópios eletrônicos. E podem dizimar o ser mais complexo que ela produziu e que é parte de si mesma, o ser humano, homem e mulher, pouco importa seu nível social.

Até agora o coronavírus não pôde ser destruído, apenas impedido de se propagar. Mas está ai produzindo uma desestabilização geral na sociedade, na economia, na política, na saúde, nos costumes, na escala de valores estabelecidos.

De repente, acordamos, assustados e perplexos: esta porção da Terra que somos nós pode desaparecer. Em outras palavras, a própria Terra se defende contra a parte rebelada e doentia dela mesma. Pode sentir-se obrigada a fazer uma ablação, como fazemos de uma perna necrosada. Só que desta vez, é toda esta porção tida por inteligente e amante, que a Terra não quer mais que lhe pertença e acabe eliminando-a.

E assim será o fim desta espécie de vida que, com sua singularidade, é uma entre milhões de outras existentes, também partes da Terra. Esta continuará girando ao redor do sol, empobrecida, até que ela faça surgir um outro ser que também é expressão dela, capaz de sensibilidade, de inteligência e de amor. Novamente se irá percorrer um longo caminho de moldagem da Casa Comum, com outras formas de convivência, esperamos, melhores que aquela que nós moldamos.

Seremos capazes de captar o sinal que o coronavírus nos está passando ou continuaremos com o mesmo propósito letal, ferindo a Terra e nos auto-ferindo para acumular irracionalmente bens materiais?

(*)Leonardo Boff é escritor e teólogo. Escreveu Cuidar da Terra – proteger a vida: como escapar do fim do mundo, Record 2010.

OBS: Texto e imagem extraídos do blog do autor em https://leonardoboff.wordpress.com/2020/03/23/o-coronavirus-a-auto-defesa-da-propria-terra/ 

domingo, 8 de março de 2020

O SER HUMANO É UMA CONSTRUÇÃO




Essa afirmativa está correta. O ser humano é o animal-que-tem-consciência-de-si-e-que-transforma-o-mundo-e-a-si-mesmo. Ele é essencialmente mudança.
Você não é a mesma pessoa que era há dez anos. Há cinco anos. Quiçá, há uma semana! Seu corpo muda todo dia. Suas células nascem e morrem. Todos os dias. Você se (re)reconstroi todos os dias sem nem mesmo perceber. Isso estabelecido, fica a quesão: e a sexualidade humana, é também uma construção? e como não seria? Nenhuma área do âmbito humano foge ao "determinismo da mudança".

Existe uma padronização determinística biológica - esta é o sexo em que você nasce(desconsiderando as exceções que podem acontecer mas que são acidentais) - porque todo mundo nasce com um sexo, dentro do padrão do binômio macho e fêmea, XX/XY. Não dá pra nascer macho e depois querer trocar o saco escrotal e o pênis por útero, ovários, vagina, mamas desenvolvidas e cromossomos XX por XY - biologicamente falando. Porém, a Sexualidade, que é a exteriorização de sentimentos, desejos e afetos humanos, que não são padronizados, não fogem da força da mudança.

Como temos visto durante toda a história, machos que deveriam ter atração por fêmeas (e vice-versa) biologicamente falando, podem se vê (se construir) fora desse padrão biológico. Um macho sentir atração sexual por outro macho (ou uma fêmea por outra fêmea) ou ainda, uma bissexualidade, transsexualidade, etc, é algo totalmente "natural" - pois acontece em nossa natureza - e pode ser considerado uma "construção".

Apesar de antes o entendimento ter sido que homossexualidade, bissexualidade, etc, são fatores determinísticos - se nasce assim- o entendimento atual de construção não pode aceitar essa ideia. Ninguém nasce determinado a nada, vamos nos construindo e nos percebendo em mudanças durante toda a vida. Logo, não existe uma forma "certa" de ser macho ou fêmea, os padrões vão sendo construindos também pelas sociedades. Homem não chora, mulher é todo sentimento - isso é um padrão social baseado em características biológicas não determinísticas. Por isso a famosa frase de Beauvoir, "ninguém nasce mulher" - se nasce fêmea, mulher, não. Se nasce macho, homem, não.

A natureza é determinismo e transformação. Ambos valores coexistem em eterno entrelaçamento.

Viva São Cosme e São Damião!

Aí um texto publicado no Facebook pelo historiador e deputado Chico Alencar que confere um bom sentido às crenças religiosas e aos costume...