sábado, 23 de janeiro de 2021

Qual será o avanço ético da humanidade neste século XXI?

 



Em meus quase 45 anos de idade, ainda não tive o mesmo tempo de vida nestas duas décadas do século atual do que as 23 últimas translações solares do milênio anterior. Porém, todos os que passamos de 2000, ainda com uma idade suficiente para saber ler e escrever, já podemos nos considerar testemunhas oculares de uma história pouco produtiva.


A meu ver, a humanidade teve consideráveis avanços éticos durante a segunda metade do século XX, após o fim da 2ª Guerra Mundial de modo que os anos 90 foram o resultado das inúmeras iniciativas que tentaram incansavelmente promover a paz entre as nações, os direitos humanos, a proteção do meio ambiente e uma adequação das políticas de bem estar social às necessidades do mercado pela liberalização da economia. 


Apesar de termos iniciado aquela década com o Kwait invadido pelas tropas do ditador iraquiano Saddam Hussein (1937-2006), tal fato pode ser considerado atípico assim como foi o conflito em Kosovo. Pois não seria exagero afirmar que vivemos uma promissora era de paz com a extinção URSS e o fim da "cortina de ferro" nos países da Europa do Leste, abrangendo-se aí a emblemática queda do muro de Berlim, de modo que a humanidade conseguiu por fim à chamada "guerra fria". Sem falar que, nos anos 90, deixamos de ouvir notícias como a guerra entre Irã e Iraque ou os problemas que envolveram o Líbano de 1975 até 1990, a respeito dos quais muito escutei durante o tempo de minha infância quando ouvia a voz do Cid Moreira iniciando o Jornal Nacional da TV GLOBO. Inclusive, recordo da tentativa pacificadora de Bill Clinton quando, em 1993, na Casa Banca, conseguiu o histórico aperto de mãos entre o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin (1922 - 1995), e o representante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat (1929 - 2004).



Todavia, o primeiro ano deste século foi marcado por um terrível atentado terrorista em Nova York que destruiu as duas torres gêmeas, servindo, em 2003, para justificar uma estúpida invasão militar no Iraque, sem que houvesse provas das alegadas ligações entre Saddam Hussein e os perigosos fundamentalistas da Al-Qaeda. Sem contar que os conflitos entre israelitas e palestinos continuaram, sendo que a chamada "primavera árabe", marcada pelas manifestações pró-democracia em vários países muçulmanos, acabou virando um verdadeiro "inverno" sem fim, ressaltando-se que os problemas na Síria poderão completar dez anos agora em meados de março


Também na questão ambiental o mundo não conseguiu se entender até agora, tendo muitos dos governantes praticamente rasgado o Protocolo de Kyoto que fora assinado em 1997 e que já se encontra expirado. Pois, lamentavelmente, os níveis de emissão de CO² na atmosfera continuam elevados colocando o planeta em risco, devendo ser lembrado aqui que políticos como Trump e Bolsonaro só contribuíram para que o retrocesso aumentasse.


Por certo que presenciamos avanços tecnológicos em nosso cotidiano e a internet veio definitivamente fazer parte da vida da gente. Algo que, até o final dos anos 90, ainda poderia ser um consumo dispensável para as pessoas físicas, hoje virou um serviço essencial para a maioria das pessoas, tornando-se um novo meio de escravidão do trabalhador e de distanciamento nas relações sociais.


No entanto, o final da segunda década do século XXI foi marcado pela pandemia por COVID-19 e iniciamos 2021 com um enorme desafio que é combater essa doença. 


Quantos parentes, amigos e conhecidos não perdemos precocemente com o coronavírus nem nem ao menos poder lhes dar o último abraço? Assim, o distanciamento social, antes espontaneamente procurado, quando passávamos horas lives de lazer "navegando" na internet, tornou-se então imposto por razões sanitárias. E, mesmo com a chegada da vacina, a princípio não iremos retornar ao que consideramos como "normalidade". Aliás, o mundo nunca mais será o mesmo.



Acredito que a pandemia poderá nos oferecer algum auxílio para que recuperemos a nossa capacidade de "abraçar". Porém, tudo vai depender da postura que teremos através das ações que serão tomadas. Pois tanto poderemos nos tornar pessoas mais frias e indiferentes à dor do próximo como também recuperarmos a humanidade há tempos pedida, inaugurando um mundo de solidariedade com mais cooperação.


Ótima semana a todos! 


OBS: Créditos autorais da primeira foto, sobre o aperto de mãos entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, atribuídos a Ron Edmunds, 10/09/1993/AP. Já a última imagem da vacinação contra o coronavírus na estátua do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro de 2021, os créditos autorais são de Ricardo Moraes/Reutets.

domingo, 10 de janeiro de 2021

Sorria, sua privacidade acabou!

 



MUITO se discute hoje o papel das empresas de tecnologia que acabaram com nossa privacidade. Livros estão sendo escritos, como "Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais" , de Jaron Lanier, considerado o pai da realidade virtual. Lanier não possui redes sociais e explica porquê: "Evito as redes sociais pela mesma razão que evito as drogas". Somos hoje regidos pelos "algorítimos"; eles nos controlam e modificam nossos comportamentos sem nem mesmo percebermos. 

No  recente lançamento, "Privacidade é Poder",  Carissa Véliz discute  ética do mundo digital. Abaixo, reproduzo partes da matéria do jornal A Folha de São Paulo que entrevistou a autora. 

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“Se os carteiros lessem nossas cartas da maneira que o Gmail faz, iriam para a cadeia”, escreve.


O poder econômico das big techs é facilmente conversível em poder político, e a ascensão e queda de Donald Trump está aí de exemplo.

Essa simbiose deve muito ao 11 de Setembro. Sem os atentados, talvez a história tivesse seguido curso diferente.

“A extensão da vigilância governamental depois do 11/9 é espantosa. A NSA [agência do governo americano] coletou dados de Microsoft, Yahoo!, Google, Facebook, YouTube, Skype, Apple, entre outras, num programa chamado Prism. Isso incluía emails, fotos, vídeos, conversas em áudio e histórico de navegação.” 

A reação a isso depende das pessoas, defende Carissa, que é professora no Instituto para Ética em Inteligência Artificial na Universidade de Oxford.

Após publicar “Privacy is Power” (Privacidade é Poder, sem previsão de lançamento no Brasil), onde também dá dicas sobre o que fazer, ela agora edita “Manual de Oxford para Ética Digital”

A sra. argumenta que privacidade é uma forma de poder. Poderia explicar? 

Podemos pensar no poder como algo análogo à energia. Pode se transformar de uma forma em outra. Por exemplo, se você tem poder econômico, isso pode ajudá-lo a conseguir poder político.

Os dados são outra forma de poder. Podem levá-lo a ganhar poder econômico (como no caso do Google) e poder político (como no caso das campanhas políticas orientadas pelos dados).

Na era digital, quem tiver dados terá poder. Se damos nossos dados a empresas de tecnologia, os ricos comandarão nossa sociedade. Se damos aos governos, corremos o risco de tendências autoritárias.

Apenas se o grosso do poder (e dos dados) estiver nas mãos dos cidadãos a democracia será forte. Sempre que você entrega dados para outros, você dá poder a eles.

A sra. escreve: “Se damos nossos dados para os governos, acabaremos com alguma forma de autoritarismo. Apenas se as pessoas guardarem seu dados a sociedade será livre”. Já perdemos nossa liberdade?

Parte dela sim. Algumas pessoas perderam mais liberdade do que as outras. Mas todos nós podemos perder muito mais. A arquitetura da vigilância que estamos construindo poderia ser o andaime de um regime autoritário quase invencível.

Quão conectados estão o governo americano e as empresas de tecnologia? Como elas auxiliam no trabalho de vigilância dos órgãos públicos? 

Muito. Algumas empresas têm laços mais próximos dos que outras. Um laço particularmente preocupante é o entre a Palantir e o governo americano. A Palantir é uma empresa que ajudou a NSA a implementar seu programa de vigilância em massa e agora está envolvida com outras agências do governo, como o Centro para Controle de Doenças, por causa da pandemia. Desde o comecinho, a vigilância na era digital tem sido um empreendimento público-privado.

Quão rapidamente a consciência sobre a privacidade está ganhando corpo pelo mundo? Há algum país à frente?

Numa pesquisa recente que fiz com uma colega, Sian Brooke, descobrimos que 92% das pessoas haviam tido alguma má experiência relacionada à privacidade online. Como resultado do acúmulo de más experiências, estamos ficamos mais conscientes sobre a importância da privacidade.

A Alemanha talvez seja um dos mais países mais conscientes sobre isso no mundo, possivelmente por causa de sua história com a Stasi (polícia secreta da antiga Alemanha Oriental).

O Facebook tem a privacidade de seus usuários como a mais baixa prioridade em sua lista, segundo a sra. argumenta. O poder público está fazendo o que é necessário em relação ao Facebook? 

Não, os reguladores ainda não estão fazendo o necessário em relação ao Facebook. Mas a empresa é alvo atualmente de várias investigações e processos mundo afora. O resultado deles pode ser importante no caminho para regular as big techs.

A sra. discute “a crença equivocada de que a privacidade era um valor ultrapassado”. Como foi construída essa crença?

Resultado de vários elementos, dois deles proeminentes. Primeiro, era uma narrativa conveniente para as companhias de tecnologia venderem de modo a justificar seu modelo de negócios. É famosa a afirmação de [Mark] Zuckerberg de que nós havíamos “evoluído” em nossas condutas de privacidade.

Segundo, o link entre perda de privacidade e dano é muito mais direto e tangível no mundo offline do que no mundo online. Então é fácil esquecer por que privacidade é tão importante, dado que grande parte das nossas vidas ocorre online.

Quando alguém furta seu diário, você percebe sua ausência e pode imediatamente pensar em como podem utilizá-lo indevidamente. Quando dados sobre você são coletados online, não há nenhum rastro. Os danos podem ser similares ou piores do que os danos da perda de privacidade no passado, mas você não vai perceber. Você pode perder um emprego por causa de discriminação injusta baseada nos seus dados, mas você jamais saberá o que aconteceu.

Muitas pessoas usam as redes sociais para se comunicar com parentes e amigos que vivem longe. Podem ver as crianças crescendo e compartilhar experiências, reforçando relações que, em outros tempos, seriam muito distantes. Não é uma recompensa pela perda de privacidade? 

Comunicar-nos online com as pessoas que amamos é muito importante para os que vivemos longe. Mas não precisamos, ou não deveríamos, ter de desistir da nossa privacidade para conseguir isso.

Podemos usar serviços criptografados como o Signal. Algo importante para ter em mente é que a compra e venda de dados pessoais faz parte de um modelo de negócios. A tecnologia em si não precisa disso para funcionar.


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Matéria original: https://www1.folha.uol.com.br/tec/2021/01/e-preciso-acabar-com-o-modelo-digital-baseado-nos-dados-pessoais-diz-professora.shtml?origin=folha

sábado, 2 de janeiro de 2021

Memórias de um escritor quase esquecido num Rio que passou...



Houve uma época em que havia mais cultura no Rio de Janeiro, antes que as subculturas do funk e do evangelicalismo dominassem a cidade, como foi ocorrendo visivelmente nas últimas três décadas.


Pesquisando sobre personalidades que fariam aniversário neste segundo dia do mês de janeiro, caso estivessem ainda entre nós, descobri que, há exatos 166 anos, nascia em Lençóis o militar, jornalista, cronista, humorista e dramaturgo Urbano Duarte de Oliveira (1855 — 10 de fevereiro de 1902), um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras (Cadeira número 12). 


Urbano fez parte do grupo boêmio de Olavo Bilac e, durante mais de 20 anos, colaborou em órgãos da imprensa da época, como a Gazeta Literária, O Paiz, Correio do Povo (com Alcindo Guanabara, Artur Azevedo e Alfredo Madureira), Gazetinha e Jornal do Commercio, tendo se destacado como um dos maiores cronistas humorísticos na imprensa do Rio de Janeiro e também no teatro, deixando-nos, entre outras, as seguintes obras:


- O anjo da vingança, drama, com Artur Azevedo (1882);

- A princesa Trebizon, ópera burlesca em 3 atos, tradução de parceria com Azevedo Coutinho e música de Offenbach (1883);

- O escravocrata, drama em 3 atos, com Artur Azevedo (1884);

- Os gatunos, comédia em 1 ato (1884);

- Humorismo, reunião de crônicas, com o pseudônimo J. Guerra (1895).


Infelizmente, a maior parte de seus artigos publicados em revistas e jornais não foram reunidos em livros, o que acaba sendo uma grande perda para a cultura literária, a qual os poucos hoje ainda apreciam.


Apesar de tudo, ainda acredito que a digitalização dos antigos jornais e revistas que circulavam nos séculos passados poderão servir de fonte para pesquisas quando a humanidade renascer dessa terrível Idade das Trevas Tecnológica que atravessamos desde a criação da TV. Só espero que não demoremos muito.


Feliz 2021 a todos!


OBS: Informações obtidas na Wikipédia e imagem extraída do portal da Academia Brasileira de Letras, em https://www.academia.org.br/academicos/urbano-duarte

Viva São Cosme e São Damião!

Aí um texto publicado no Facebook pelo historiador e deputado Chico Alencar que confere um bom sentido às crenças religiosas e aos costume...