sábado, 31 de agosto de 2013
O Ralo
Elídia Rosa
ao mergulhar na dor, ela não imerge só um pouco.
ela afunda.
ao sentir alegria, seu corpo não apenas vibra,
ele adentra num lago profundo,
sem fundo
de felicidade intensa.
dia desses, ela sorriu depois do beijo
e na hora de se entregar, sentia como
se numa vertigem, estivesse
lavada, numa enxurrada incrivel de sensações
molhadas.
logo depois, ao chegar em casa,
no banho, chorou, chorou,
e escorria com a água, toda dor,
misturada,
e com os olhos molhados nessa mistura
olhou o ralo.
pensou na sua vida, em tudo que
sentia
viu naquele pedaço escuro
sem fundo
um pouco de si, de seu mundo
a água que ali corria, ela via
o que não sabia, desconhecia,
era para onde tudo isso
ia.
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http://repensandodiferente.blogspot.com.br/2013/03/o-ralo.html
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
Um pouco de poesia, um pouco de Mariani
Pé de magoa
Arranquei de vez o pé de mágoa
Que há muito arvorecia
Cuja sombra quente comprimia nossos ais
Planta antiga
De flor ancestral da minha vida e da tua
Precipitado para a rua
A saudar o cais.
Hoje arranquei seu tronco retorcido
Dei-lhe um novo rumo
Um novo muro
Onde outro não há mais
Plantei pomar garboso
Frondoso
Harmonioso
Bonito demais!
Pra enfeitar a nova remessa.
Pra saudar uma gente sem pressa.
Que passa olhando de quina
Que pára na nossa esquina
Em busca do que não há mais
* * *
Girando na Imensidão
Deus escondeu as coisas grandes nas pequenas
Escondeu a árvore no grão
Infinito, veio caber no meu coração
Deu a cada homem a semente da vida.
Fez brotar uma árvore florida!
Girando na imensidão
Deus pôs no mundo a beleza
Sem dar aos homens a certeza
De onde vêm
Para onde vão.
* * *
Sua Mão
Escorrega pelo dorso sombreado
Na penumbra quente do quarto
Dança completamente nua
Sinuosamente a sua...
Mão.
Afoga os dedos
Pousa nos lábios em segredo
Some na escuridão.
Banhada pela luz da rua
Parte estrela e parte lua
Repousa exausta no colchão
E dança...
e sobe...
Desce pela nuca..
A habilidosa sua...
Mão.
* * *
Mariani Lima escreve seus poemas no blog Fragmentos Poéticos
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Maior que o homem
Maior que o homem é a vida, o conhecimento e a morte.
Que presunção essa minha, como um dia eu pude pensar, ser o homem o maior ser já existente? Por qual razão pensei assim?
Antes de tudo antes do cosmos, antes do caos, já existia o poder da escuridão, na qual entende-se, ser a falta de vida e do conhecimento, e nem toda a minha vida e todo o conhecimento me fará andar em completa clareza, quando menos se esperar, estas luzes aqui irão se apagar, então me engolirá a duvida, sobre algo obscuro, desconhecido, e que só me será trazido as claras, se eu puder enfrentá-los, será? Única coisa que posso dizer então, é que vi as trevas, e nas trevas não há o que se contar, porque não pude entender aquilo que não podia enxergar.
Qualquer teoria a respeito, é apenas especulação, fonte de imaginação, que não corresponde com a realidade.
A vida me abre os olhos, a vida me enche os olhos de contemplação, me faz entender que maior do que eu, é a vida, a maior energia que se deu. Ainda que eu ande tateando, nas ruas escuras da existência, o conhecimento me dará a clareza de que necessito para me manter vivo, eu este pequeno ser desprovido do saber.
Então o que posso dizer da morte? Dela não sei nada, a única coisa que sei, é que irei morrer. Mas a vida após a morte, existe? Não sei responder, imagino que será escuro, tenho medo do escuro, mas é a clareza da vida que me encoraja a viver agora, este momento, enquanto as luzes estão acesas, enquanto o sol brilha, enquanto posso enxergar, amanhã vai acabar.
Não temo a morte, temo não ter vivido, o que me foi oferecido, temo não ter aproveitado a rica oportunidade de viver o já, em detrimento do será.
Jair Santos;
Filósofo de quintal.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Eu Não Consigo Ser Ateu
por Matheus De Cesaro
“Diz o Insensato em seu
coração: Não há Deus”
Salmos 14:1
O “Não Consigo Ser Ateu",
surge de uma busca frustrada em se tornar um descrente. Uma busca norteada
pelos mais variados conceitos filosóficos e teológicos que em um período de 15
anos fizeram parte de minha existência. Eu nasci e cresci em meio a uma família
um pouco distante do conceito mais apropriado de “família”. Logo no inicio da
minha pré-adolescência, perdi de maneira súbita meu pai, um homem que fora
castigado pelas suas más escolhas, e nos deixará por herança as consequências
do que havia feito de sua vida. Meu pai, nunca fora um homem mau, desprovido de
decência, honestidade ou consciência, mas infelizmente, sua razão, havia se
perdido em seus desejos e sentimentos confusos e complexos. Pouco tempo após sua morte,
tomado de um sentimento de derrota, fracasso e desespero, fui me tornando um
adolescente revoltado, sem expectativas e esperanças na vida. Tinha todos os
motivos naquele momento para não crer em um Deus bondoso e rico em amor, como
mencionavam algumas pessoas, tentando acender em mim uma chama de esperança,
até então inexistente. Já aos 13 anos, as drogas começaram a fazer parte do meu
cotidiano de maneira muito acelerada, o que resultou na dependência química.
Aos 14 anos, sem ter outra saída, fui levado a cidade de Três Coroas no Rio
Grande do Sul, na finalidade de realizar um tratamento, foi a primeira de
muitas internações, na busca de vencer a dependência. Mas o que importa neste
momento, não é a trajetória de minha luta contra a adicção, e sim o meu
primeiro contato com uma experiência espiritual, religiosa, mística e porque
não dizer com Deus. Foi ali, em um Centro de Reabilitação para Dependentes
Químicos que pela primeira vez ouvi um conceito acerca do que era Deus, do que
era o cosmos e do que representávamos no universo. É óbvio, que se tratava de
uma fundamentação cristã, e sendo assim, tudo me direcionava a bíblia e ao cristianismo, e o que
ela dizia.
Durante os três meses que fiquei neste CT acabei por tomar gosto
pela leitura, e me tornei um leitor compulsivo, curioso e questionador. Comecei
a perceber, que o mundo, estava rodeado de fatores que estavam acima de minha
visão limitada e egoísta de bem estar. Comecei a perceber situações, momentos,
atitudes e acontecimentos de forma menos tendenciosa e singular. E acabei me
apaixonando pelos mistérios que envolvem nossa existência. O “Não Consigo Ser
Ateu”, não é uma defesa de fé, e muito menos um desprezo ao ateísmo (até mesmo porque seria um ignorante se assim me portasse), muito pelo
contrário, trata-se de uma argumentação reflexiva, uma argumentação teórica,
onde busquei aliar “razão e fé” na compreensão deste milenar conflito que
ultrapassa gerações.
Em meio a tudo que
presenciamos em nosso cotidiano, não há possibilidade de negarmos que vivemos
em um mundo em constantes conflitos no que diz respeito, a questões politicas,
filosóficas, religiosas e cientificas. Não podemos fugir destas supostas
certezas, e das reais incertezas. E entre estas questões há uma discussão que
ultrapassa milênios, que percorre eras e mesmo em meio as mais diversas
conceituações e as mais malucas definições não perde o seu mistério devido as incontáveis incertezas que surgem, e muito
menos sua força e a intensidade com que se discute. Falamos acerca de "Deus",
falamos daquele que alguns dizem ser o criador, como os criacionistas, falamos
daquele que alguns dizem ser tudo, como os panteístas, falamos daquele que é
tido como uma energia, falamos daquele que alguns como Friederich Nietzsche e Ludwig
Feuerbach, dizem ser uma invenção, falamos de um ser que segundo Carl Jung é
uma necessidade para amenizar os desprazeres da vida, falamos daquele que Sigmund Freud diz ser um delírio, uma
ilusão, fruto da imaginação ou ainda uma carência, ou daquele que Mikhail
Bakunin afirma ser uma prisão. Enfim, a discussão continua aberta, e realmente,
talvez em vida, não consiga definir de forma concisa, clara e sem que haja
duvidas uma definição absoluta sobre Deus.
Já estudei e li definições que se
sustentam somente por fé, outras que aliam a razão a fé, como Anselmo em seu
conceito antológico, já pesquisei o suficiente para perceber que não há
como crer na existência de Deus sem
recorrer a expressão das caricaturas. Pois se este Ser que aqui estamos
denominando como Deus devido a cultura que recebemos, existe, Ele possui
características, e estas por sua vez são idealizadas por caricaturas, algumas
exageradas, algumas sem sentidos e noção, outras equivocadas, enfim, tudo o que
o homem supõe saber, sendo Deus pessoa ou não, se da pelas caricaturas que
desenvolvemos. O contrario destas ideias ao meu ver caracterizam a sua inexistência,
e mesmo que venhamos recorrer a filosofia, a teologia natural ou até mesmo
nossa consciência interna e particular, acabaríamos nos submetendo a uma
espécie de caricatura para então pela caricatura chegar ao Ser. Logo, entendo
que se Deus realmente for um Ser que não se pode ser estudado e caracterizado,
logo, ele não existe. Mas a lógica Anselmiana descarta essa hipótese, pois
equilibrando fé e razão ele desenvolve seu argumento, tendo a imagem do Ser no
intelecto, o que nos permite estuda-lo e pesquisa-lo. Mas, mesmo que
utilizássemos somente a fé para defendermos sua existência e pessoalidade,
teríamos que criar uma caricatura, pois a fé é um elemento que necessita de
outro elemento para se caracterizar, e se Deus no caso é esse elemento, logo
ele deve ter atributos e características que lhe definam. Enfim, parece que em
qualquer crença ou idéia que defendamos, somos como que reféns das caricaturas
e imagens que criamos do Ser, a não ser que venhamos defender a sua
inexistência.
Durante um período da minha
vida, tentei com todas as forças aderir ao ateísmo. Pesquisei, analisei,
comparei e me debrucei sobre as mais variadas teorias existentes, como o
darwinismo, o niilismo, o agnosticismo, o existencialismo ateísta, e também
acabei por perder um pouco do meu tempo analisando o neo-ateísmo que surge em
nosso tempo de forma tão crescente, e avassaladora.
Talvez meu nível de
preguiça não me permita ser ateísta, e simplesmente creditar ao nada, e ao
acaso, o cosmos, o homem e tudo que possa existir. Não sei se esta comodidade,
sustentada por este pensamento se encaixa com o que penso. É claro, que posso
estar completamente errado, mas enquanto não encontrar nada que me convença,
continuo de forma convicta, crendo em um Ser Inteligente, Criador, e que nada
maior minha mente pode conceber como supôs Anselmo, ou ainda a Força Inicial
Motora como nos definiu Tomas de Aquino.
Meditando em alguns textos
sobre "argumentação ontológica", e algo me chamou a atenção em
relação ao que o Felipe Pondé afirma no Guia Politicamente Incorreto da
Filosofia sobre o ateísmo e o neo-ateísmo. E, fui obrigado a concordar com ele,
quando diz ser o ateísmo, entre todas as hipóteses sobre o universo, a mais
fácil e simples, sendo até cômodo demais ser ateísta. Ironicamente, ele diz que
até um "golfinho" pode ser ateísta. E de fato, é muito mais cômodo
pensar que tudo surge do acaso, do que crer em uma Força Inteligente e buscar
compreende-la.
Observe o que dizia Santo
Anselmo ainda no século XII:
"Ainda não apenas tudo
o que é bom e grande é assim em virtude de uma única e mesma coisa, mas parece
também que tudo o que existe, exista devido a uma e mesma coisa. Com efeito,
tudo o que existe ou provém de algo ou deriva do nada. Mas o nada não pode
gerar nada e sequer é possível pensar que algo não seja gerado senão por algo.
Portanto, tudo o que existe só pode existir (gerado) por algo. Assim sendo,
tudo o que existe é gerado ou por uma causa só ou por muitas. Se por muitas,
elas, ou convergem num principio único pelo qual todas as coisas existem, ou
existem por si, ou criaram-se mutuamente. Mas se muitas coisas procedem do
mesmo principio já não tem origem múltipla e sim, única, e se existe cada uma
por si mesma, deve-se supor, então, a existência de uma força, ou natureza, que
possui propriedade de existir por si, da qual as coisas tiraram a propriedade
de existir por si. Neste caso, porém, não resta dúvida de que são aquilo que
são devido aquela causa pela qual possuem a propriedade de existir por si
mesmas. Portanto, é mais acertado dizer que existem todas por um principio do
que por vários, pois sem ele, não poderiam subsistir."
É complicado, analisar a
complexidade do universo partindo da ideia do acaso. É muito simples,
contemplar toda esta engrenagem, milimetricamente calculada, e negar que haja
uma força no controle e na sustentação do cosmos. Crer que tudo isso se da
simplesmente por meio de um “bum”, não combina em nada com o que esta diante
dos nossos olhos...
Fragmentos da Introdução de "Eu Não Consigo ser Ateu" , de própria autoria
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