Sinto-me indignado toda vez quando assisto a um comercial do MEC na televisão informando que o governo federal teria "democratizado" a educação no país. Através de uma peça publicitária acompanhada por uma chata musiquinha "Tô bem, tô zen, entrei pra faculdade com Enem", a qual não quer sair de jeito nenhum da minha cabeça, o vídeo tenta convencer a população de que, com os programas oficiais (Sisu, Prouni, Fies, Cotas e Ciência Sem fronteira) as portas ao ensino superior foram finalmente abertas aos estudantes brasileiros.
Ainda que tais projetos tenham facilitado o acesso de muitos às universidades, jamais podemos falar que houve uma verdadeira democratização social enquanto a educação de base, principalmente a escola pública, permanecer deficiente. Pois a verdade é que somente uma minoria consegue concluir os seus estudos com a qualidade necessária para ingressar e se manter numa faculdade, tendo um aproveitamento que possamos considerar suficiente.
É certo que a desvantagem educacional dos estudantes pobres deve-se à vergonhosa situação de desamparo dos ensinos fundamental e médio que é praticamente geral em todas as regiões brasileiras. Sem a elevação da qualidade da escola pública, que tenha como padrão as melhores instituições particulares, estaremos mais uma vez tapando o sol com a peneira. Por isso, não é uma inverdade afirmar que a reserva de vagas para jovens negros, por exemplo, continua sendo uma paliativo incapaz de solucionar a raiz do problema das desigualdades raciais. Estas se explicam por causa da força gravitacional da pobreza que, por razões históricas relacionadas a um passado de escravidão e de marginalidade, atinge quase a totalidade dos afro-descendentes. Logo, nenhuma política afirmativa, por si só, conseguirá dar jeito nisso.
Em se tratando de mais um ano eleitoral, não é admirável que as propagandas oficiais estejam voltadas para a captação de votos. Contudo, essa publicidade falsa e hipócrita do MEC cada vez engana menos. Percebo hoje na sociedade brasileira um certo desgaste em relação às baboseiras dos governantes, quer sejam eles do PT, do PSDB e de qualquer outro partido. Grande é a falta de credibilidade de todos esses programas e projetos os quais, no fim das contas, acabam sendo vistos como um desperdício do dinheiro público no imaginário da população. E quem não consegue passar no Enem, deve ficar com mais raiva ainda...
Para concluir, quero lembrar aqui da composição O Pequeno Burguês do compositor negro Martinho da Vila, sendo esta sim uma música de qualidade. A canção retrata muito bem a vida de um estudante de baixa renda, o qual, para realizar o sonho de algum dia se graduar (sem direito a ter festa de formatura), precisou pagar faculdade particular andando de trem lotado indo do trabalho para a aula. Diz a letra que "quem quiser ser como eu, vai ter é que penar um bocado" pois, afinal, só o sujeito que foi realmente pobre e veio das camadas mais humildes da população sabe o quanto é difícil melhorar de vida num país que, por enquanto, ainda é de poucos e não "de todos".
OBS: Imagem acima relacionada ao comercial do MEC que tem sido exibido na TV brasileira.
Comentários
A qualidade de nossas Faculdades está abaixo da crítica. Parecem mais fábricas de diplomas.
O resultado estarrecedor está aí:
O nosso país não conta com nenhuma Instituição de Ensino Superior no ranking das 200 melhores Universidades do mundo. A USP que em 2012 estava em 158° lugar, agora em 2013, desceu para 250°. [Vide link:
http://oglobo.globo.com/educacao/brasil-fica-fora-de-ranking-das-200-melhores-universidades-do-mundo-10228973 ]
Educar as massas vai de encontro aos interesses escusos de um partido que quer permanecer eternamente no poder, visando apenas enriquecimentos ilícitos. Para esses maquiavélicos, melhor enganar com o “Bolsa Escola”: assim, o governo faz de conta que ensina, e o aluno faz de conta que aprende. (rsrs)
Embora eu não seja contra o Bolsa Escola e nem aos programa oficiais que constam no comercial do MEC, tudo acaba sendo um paliativo quando o principal deixa de ser feito. No caso, a educação de base é negligenciada tanto pelos municípios e estados quanto pelo MEC, o qual pode adotar medidas de fiscalização e buscar uma mudança no sistema educacional, inclusive da LDB por iniciativa da presidenta. Porém, eis que há uns vinte aos que o Brasil tem se tornado a república do faz de conta e que tenta mascarar a sua realidade manipulando números e dando aprovação automática para alunos.
você tocou no ponto central: de que adianta tantas facilidades para se entrar na universidade se a nossa educação básica, onde tudo começa, é decadente? Não é à toa que hoje em dia vê-se tanto universitário que não é capaz nem mesmo de redigir uma redação regular. Ou seja, essa é mais uma peça que o PT lança pra plateia em ano eleitoral, esperando receber os louros do seu pretenso investimento em "educação"
Dizer que nada fizeram seria hipocrisia de minha parte, mas também não alcançaram as expectativas que criaram na sociedade. Pois trata-se de um governo que se comprometeu demais com questões políticas e econômicas mais imediatas, dentre as quais a de se manterem no poder, que acabaram deixando a educação em segundo, terceiro ou quarto plano.
Em geral, os defensores do governo alegam que a educação básica é de competência dos municípios, mas se esquecem do poer/dever do MEC em fiscalizar e das condições de uma presidenta em propor mudanças nas normas jurídicas, inclusive promovendo um debate sobre a LDB.
Eu gostaria de ver ensino integral! Aulas sobre cidadania e ética nas escolas. Mais oportunidades de se praticar esportes e encontros comunitários em cada localidade de periferia. Tudo isso a escola poderia ser funcionando como o centro de uma povoação humana conforme a idealização do Darcy Ribeiro quanto aos CIEPS na era Brizola.
Para o pedetista Cristovão Buarque, a federalização do ensino seria uma adequada solução. Algo que pode realmente contribuir (não assegurar) para que haja uma elevação no padrão de qualidade e salários dos professores hoje muito mal remunerados pela maioria das prefeituras.
Abraços e obrigado pelos comentários e divulgação feita nas redes sociais.