TRAGÉDIAS SÃO COMPANHIAS da humanidade desde sempre. Das guerras de conquistas da antiguidade às atrocidades da Segunda Guerra, tragédias se sucedem democraticamente - todos os povos passam por elas. Atualmente temos várias tragédias acontecendo no mundo. Desde a destruição pela queimada em nosso Pantanal até a guerra entre Rússia e Ucrânia, passando pela destruição quase total que o exército de Israel está impondo à região de Gaza, insuflando a ira do mundo muçulmano colocando o Oriente Médio à beira de uma guerra total que afetaria todo o planeta. É a criança que nasce anencéfala e o idoso que morre de desgosto pela solidão em algum asilo esquecido pela família.
O avião que caiu ontem em Vinhedo, Estado de São Paulo e que vitimou 62 pessoas foi uma tragédia. E a tragédia se torna mais trágica quando se coloca Deus na conversa. O avião caiu ao lado de uma casa sem trazer nenhum prejuízo aos moradores. Ouvi a dona da casa dizer que se assustou com o barulho e quando viu o que tinha acontecido, ficou aflita com o cenário de destruição. Deu graças a Deus pelo avião não ter caído em sua casa e que isso fora um "livramento divino". E foi? Deus livrou a casa dessa senhora e ao mesmo tempo não livrou da morte os passageiros do avião? Trazer Deus para o cotidiano do mundo dá muita munição aos ateus, afinal de contas, se Deus existe, se ele é capaz de salvar uns e deixar outros morrerem, sofrerem, passar por aflições alucinantes e dores destrutivas, que espécie de caráter tem esse Deus?
Não quero me aprofundar em discussões filosóficas ou teológicas e nem quero ofender a fé de ninguém, nem alimentar o ateísmo de outras. Eu fui um cristão protestante durante anos e a questão do mal no mundo sempre foi uma pedra no meu sapato. As respostas dadas por teólogos não me bastavam. Todas pareciam livrar Deus de qualquer culpa e deixar nas costas humanas a responsabilidade pelas próprias tragédias, sem falar na atuação do Diabo na história. Mas se assim for, porque ainda acreditar que Deus interfere em nossa realidade para curar a doença do João e não para curar a doença de Maria? É uma escolha que ele faz? Porque então ele não interfere de modo a livrar o mundo de toda tragédia já que teoricamente ele pode fazer isso?
Dizem que para os filósofos, a grande questão da filosofia é a morte, em todos os sentidos que a palavra "morte" possa ter. Certamente, a grande questão teológica é porque Deus não faz o bem para todos já que se crê ser ele amor? Por que uma pessoa justa sofre e uma pessoa ruim se dá bem na vida? Talvez o único livro da Bíblia que trate especificamente dessa questão seja o livro de Jó. Se nunca o leu, leia, você vai se surpreender com a construção filosófica-existencial desse livro, profundamente humano. É o livro de quem ergue os olhos para os céus e pergunta a Deus: "Por quê? A resposta não satisfará a todos e continuar crendo na bondade divina será sempre um exercício de fé que não busca razão nem coerência e será sempre como dizia um velho teólogo, "um salto no escuro".
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