Um clube voltado para os excluídos em meados do século XX

Estudar a história local de uma cidade ou uma região faz com que conheçamos detalhes interessantes do nosso passado coletivo que muitas das vezes vão passando desapercebidos ou ficam no esquecimento.

Moro num lugarejo balneário no sul do litoral fluminense e uma historiadora daqui tem feito com brilhantismo esse resgate histórico em que, recentemente, ela postou algo bem interessante sobre um velho clube que tivemos em meados do século XX, criado para aceitar pessoas excluídas da sociedade.

Vale a pena ler o seu texto a seguir reproduzido e acredito que muitas pessoas de outras regiões do estado e do país também poderão se identificar, havendo no artigo informações sobre a história de Muriqui, 4º Distrito do Município de Mangaratiba/RJ, sendo que, ao final, a autora propõe algo muito útil. Ou seja, ela defende que a antiga sede vire um centro cultural da nossa localidade.

Boa leitura!


Memória do “Muriqui Praia Clube”




Por Mirian Bondim*

Até 1941, Muriqui era apenas uma fazenda produtora de lenha, carvão e bananas. Em 1942, começou a ser loteada e durante a década de 40, foi enorme a procura por terrenos na nova localidade. Em sete anos de loteamento, se desenvolveu tanto que foi elevada à categoria de 4º Distrito de Mangaratiba, em maio de 1949.

Como um pequeno balneário voltado ao lazer e ao descanso dos moradores da Zona Sul do Rio de Janeiro, Muriqui cresceu no cenário municipal e estadual, sendo denominada nas propagandas de venda de terrenos, como a “Copacabana Fluminense”.



No propósito de atender ao lazer, os moradores e veranistas, logo fundaram dois clubes na próspera localidade: “Muriqui Esporte Clube”, mais tarde denominado como “Muriqui Country Clube”, e “Muriqui Iate Clube” (atualmente fundidos em um só clube).

Esses dois clubes promoviam muitas atividades recreativas e culturais, marcando presença nos campeonatos esportivos, nos saudosos bailes carnavalescos, nos desfiles de beleza, shows artísticos e outros eventos. Porém, essas atividades não alegravam todos os cidadãos muriquienses, pois não era permitida a entrada de negros, nem de desquitados, nesses dois estabelecimentos.


UM NOVO CLUBE SURGE COM O DESAFIO DE VENCER CONFLITOS NAS RELAÇÕES HUMANAS


Apesar de Muriqui, no final da década de 40, já possuir dois clubes sociais, um triste quadro de discriminação contra desquitados e negros, fez surgir à necessidade da construção de um terceiro clube, na localidade: “Muriqui Praia Clube”. Este novo clube surge tendo como principal sócio fundador um dos excluídos, que por ser desquitado, não era permitida a sua entrada nos dois clubes, anteriormente construídos. Outro importante sócio fundador teve a filha (negra) também barrada na porta desses dois estabelecimentos recreativos.

Assim, lutando por uma bandeira democrática, surge em 1949, (ano da criação do distrito de Muriqui), o “Muriqui Praia Clube”. O jornal informativo do clube (“O Praiano”), na sua primeira edição, em novembro de 1949, deixa claro que o principal objetivo da criação dessa instituição era o de estreitar laços de amizades em franca e democrática camaradagem.



Nesse documento, os sócios fundadores agradecem a todos que prestaram solidariedade ao grupo, (naturalmente ao grupo dos discriminados), pela feliz iniciativa de colaborar com a criação do novo clube, destacando que o sentido da empresa (clube) era de se constituir em um “espaço-escola”, fecundo de vida, alegria e amizade.


UM IMPORTANTE PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE MURIQUI


Poucas são as construções que guardam a memória da fundação de Muriqui. Infelizmente, não existe mais o prédio do antigo cineminha, da estação, da charmosa “casa-castelinho, da capelinha, das antigas escolas, das primeiras sedes dos clubes Muriqui Esporte Clube e do Muriqui Iate Clube e outros mais, que guardam a memória dessa localidade.

Por sorte, esse prédio do antigo “Muriqui Praia Clube” que representa um precioso patrimônio histórico de Muriqui, permanece internamente muito bem preservado, com seu salão de baile em prefeito estado, destacando, no centro, a famosa estrela solitária, símbolo do “Botafogo Futebol e Regatas”, clube que já foi proprietário do imóvel. Também preserva a linda armadura de madeira de seu teto e o pequeno e charmoso palco. Suas dependências internas ainda apresentam uma boa cozinha-bar e dois eficientes banheiros (masculino e feminino).

Vale ressaltar que, além de abrigar o “Muriqui Praia Clube” e o “Botafogo Futebol e Regatas”, essa construção foi também sede do “Muriqui Lions Clube”.Atualmente, encontra-se sob a administração da Prefeitura Municipal de Mangaratiba, funcionando como um Centro de Capacitação Profissional (CECAP).



No próximo ano, juntamente com o distrito de Muriqui, esse prédio histórico completará 70 primaveras. Por esses e outros motivos, defendo a idéia de transformá-lo em um “Centro Cultural de Muriqui”.

(*) Mirian Bondim é professora e historiadora.


OBS: Texto e imagens extraídos da postagem feita pela autora em seu perfil no sítio de relacionamentos da internet Facebook, conforme consta em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1737534319633032&set=pcb.1737537899632674&type=3&theater

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