por Matheus De Cesaro
Cresci ouvindo falar que o Brasil sempre foi um país de todas as raças e de todas as cores. Sempre escutei dos mais antigos que o Brasil é "como coração de mãe", sempre cabe mais um, mais dois, ou ainda uma família inteira. Partindo desta premissa, eu quero iniciar este artigo enfatizando uma pergunta que talvez todos se façam, mas tenham receio de compartilhar:
"Por que o dia da consciência negra?"
Seria uma comemoração pela mais pura e bela conscientização da luta pelos direitos igualitários, ou simplesmente o desejo inconsciente (em alguns casos consciente) da criação de um grupo privilegiado lutando unicamente e exclusivamente pelos seus interesses e anseios? Me pergunto, e lhe pergunto: Até que ponto uma comemoração como esta contribui e influencia de forma legitima na luta contra a discriminação, o preconceito e a garantia de que tenhamos direitos iguais para todos?
Não sei quanto a vocês nobres amigos confrades, mas eu percebo que os defensores mais ferrenhos de tal comemoração, na sua grande maioria estão em defesa de uma posição separatista em todos os aspectos possíveis, sejam eles sociais ou profissionais. Há um esforço muito claro na formação de guetos, e um empenho muito nítido na luta por privilégios e tratamentos diferenciados, e isso com todas as forças (até mesmo de forma desproporcional). Fica no ar a sensação de que estão exigindo uma recompensa, uma espécie de retratação pelos séculos de sofrimentos que seus antepassados sofreram, principalmente nos períodos da escravidão.
Eu tenho plena consciência de que os negros foram humilhados, explorados, marginalizados, massacrados e sofreram as maiores barbáries que se possa imaginar. Por isso penso que seja inadmissível que uma pessoa em seu perfeito juízo não repudie toda e qualquer ação que conote em discriminação e preconceito, ou qualquer forma de escravidão que venha ser adotada. O que não coaduna com meus pensamentos e afirmações em relação a este assunto de variados pontos de vista e incontáveis fatores de análise, esta ligado exatamente a defesa de que histórias de sofrimentos venham resultar em classes de pessoas favorecidas. Não há como ser a favor de que pessoas recebam vantagens em relações as outras, porque seus antepassados foram explorados, escravizados e sofreram por elas. Isto na minha forma de compreensão do mundo, e do que seriam "direitos humanos e iguais", trata-se da abertura de precedentes para que no futuro vivamos entre classes especificas e separadas, em meio a um povo dividido por privilégios e pela disputa em provar qual contexto histórico é mais triste ou digno de ser respeitado. Falamos de um mecanismo que opera como alimento, fortalecendo o preconceito, a divisão, as rixas, e principalmente a simples e natural convivência entre seres humanos, que independente de raça, etnia, credo ou qualquer outra esfera são todos iguais.
Se a data comemorativa em questão tivesse um efeito real na configuração atual em que estamos inseridos, ela sozinha não seria suficiente. Precisaríamos criar no Brasil o "dia da consciência indígena", "dia da consciência nordestina", "dia da consciência asiática", "dia da consciência austríaca", "dia da consciência italiana", e tantas outras datas que trariam a memória os sofrimentos dos filhos de uma nação construída por pessoas que se viram obrigadas a abandonarem seus países na esperança de uma nova vida, uma nação que recebeu fugitivos do pós guerra, uma nação que tem em sua história uma trajetória repleta de sofrimentos, e de pessoas que literalmente foram desculturizadas e forçadas a esquecer e renunciar suas raízes, não por escolha, mas sim porque a vida lhes submeteu a tal processo, derivado de mentes doentias e tiranas.
Eu já imagino, que neste momento você esteja pensando: "muitos foram oportunistas, e viram no Brasil apenas um bom negócio", e eu vou concordar com você. Sim, é verdade. Mas em contrapartida vou lhe convidar a refletir com a seguinte indagação: "que mal reside em buscar novos horizontes em uma outra nação, estando minimizadas as oportunidades em sua própria nação? A que nível fica nosso senso de equidade nesta questão?".
Vamos imaginar um cenário onde de uma hora para outra, todas as etnias que possuem um passado marcado por sofrimento e sangue fossem beneficiadas por privilégios como cotas em universidades, concursos públicos e nas seleções para recebimento de benefícios federais. Me pergunto: O que aconteceria com o conceito de "meritocracia"? Seria de fato, uma medida justa com aqueles que nas mesmas condições não se acomodaram, e nem se entregaram ao coitadismo, empenhando-se e dedicando-se para alcançar as melhores oportunidades? Eu fico aqui imaginado onde poderia encaixar o sentimento de "auto realização" do ser humano, caso todos que tenham um contexto histórico de sofrimentos viessem a exigir direitos exclusivos? Tem algumas coisas que não entram em minha mente turrona.
Hoje em dia é muito comum (para não enquadrar como modismo) o surgimento de grupos em defesa de ideia que visualizam preconceito em tudo (até mesmo neste artigo), ideias que limitam o ser humano e que são ultra tendenciosas a criação de possíveis "síndromes de inferioridade" que se camuflam nestas supostas lutas por "direitos iguais". Minha postura é em contrariedade a qualquer ideia que se adicione um pensamento onde se detecte "seleção racial", como "orgulho negro" ou "consciência negra", ou seja la qual for a raça ou etnia que se acrescente a conotação de serem "especiais". Pois penso que ninguém deva nutrir orgulho por ser negro ou branco, pardo ou amarelo, brasileiro ou estrangeiro, ou seja lá o que for. Nosso orgulho deve estar ligado ao fato de sermos corajosos, capazes e determinado em conquistar nosso espaço por nós mesmos, da forma como somos. Independente das diferenças, já vivemos em uma sociedade materialista, desumana, seletiva, e extremamente competitiva, onde como já diria o poeta, "filho chora e mãe não vê". Não consigo visualizar ou entender qual é o beneficio coletivo que se tem ao criar e defender ideias onde se elevam algumas raças e etnias "A, B ou C", em detrimento de outras. Direitos iguais não seriam exatamente condições iguais a todos?
É necessário compreendermos que hoje não é só o negro que sofre injustiça, que sofre com as desigualdades sociais deste país. É claro que em uma escala quantitativa, os negros são a maioria nas classes menos desenvolvidas, o que requer um cuidado maior, porém não especial e por meio de privilégios. É essencial que se perceba que os grandes problemas que enfrentamos hoje, já não são mais problemas raciais, e sim sociais e políticos. Problemas que todos nós precisamos enfrentar todos os dias. E mesmo que se utilize do fator "burguesia" para defender esta ideia de que os negros estão em desvantagem, seria um equivoco atribuir privilégios aos negros, e sim deveriam ser atribuído privilégios aos pobres, dos quais entre eles estão os negros, os brancos, os pardos, enfim, toda espécie de raça e etnia. Esta ai uma boa ideia, "dia da consciência pobre" kkkkkkk.
Por isso, mesmo ciente da represália, mesmo sabendo que não serei compreendido por muitos, e sabendo que talvez receba alguns elogios bem equilibrados, eu deixo aqui o meu grito de protesto, não pela maioria, e nem pelas minorias, mas pela totalidade, pela igualdade das raças, pela justiça social para todos, pelo fim da exploração de qualquer ser humano, pelo negro, pelo branco, pelo pardo, pelo índio, pelo homem, pela muher, pelo brasileiro e pelo estrangeiro, enfim, pelo ser humano!
Hoje em dia é muito comum (para não enquadrar como modismo) o surgimento de grupos em defesa de ideia que visualizam preconceito em tudo (até mesmo neste artigo), ideias que limitam o ser humano e que são ultra tendenciosas a criação de possíveis "síndromes de inferioridade" que se camuflam nestas supostas lutas por "direitos iguais". Minha postura é em contrariedade a qualquer ideia que se adicione um pensamento onde se detecte "seleção racial", como "orgulho negro" ou "consciência negra", ou seja la qual for a raça ou etnia que se acrescente a conotação de serem "especiais". Pois penso que ninguém deva nutrir orgulho por ser negro ou branco, pardo ou amarelo, brasileiro ou estrangeiro, ou seja lá o que for. Nosso orgulho deve estar ligado ao fato de sermos corajosos, capazes e determinado em conquistar nosso espaço por nós mesmos, da forma como somos. Independente das diferenças, já vivemos em uma sociedade materialista, desumana, seletiva, e extremamente competitiva, onde como já diria o poeta, "filho chora e mãe não vê". Não consigo visualizar ou entender qual é o beneficio coletivo que se tem ao criar e defender ideias onde se elevam algumas raças e etnias "A, B ou C", em detrimento de outras. Direitos iguais não seriam exatamente condições iguais a todos?
É necessário compreendermos que hoje não é só o negro que sofre injustiça, que sofre com as desigualdades sociais deste país. É claro que em uma escala quantitativa, os negros são a maioria nas classes menos desenvolvidas, o que requer um cuidado maior, porém não especial e por meio de privilégios. É essencial que se perceba que os grandes problemas que enfrentamos hoje, já não são mais problemas raciais, e sim sociais e políticos. Problemas que todos nós precisamos enfrentar todos os dias. E mesmo que se utilize do fator "burguesia" para defender esta ideia de que os negros estão em desvantagem, seria um equivoco atribuir privilégios aos negros, e sim deveriam ser atribuído privilégios aos pobres, dos quais entre eles estão os negros, os brancos, os pardos, enfim, toda espécie de raça e etnia. Esta ai uma boa ideia, "dia da consciência pobre" kkkkkkk.
Por isso, mesmo ciente da represália, mesmo sabendo que não serei compreendido por muitos, e sabendo que talvez receba alguns elogios bem equilibrados, eu deixo aqui o meu grito de protesto, não pela maioria, e nem pelas minorias, mas pela totalidade, pela igualdade das raças, pela justiça social para todos, pelo fim da exploração de qualquer ser humano, pelo negro, pelo branco, pelo pardo, pelo índio, pelo homem, pela muher, pelo brasileiro e pelo estrangeiro, enfim, pelo ser humano!
Comentários
Aproveitando o feriado em questão, o qual gera polêmicas. Aproveito para vos deixar aqui um texto onde busquei refletir sobre alguns, dos muitos pontos de vista e fatores que permeiam e norteiam este assunto. Espero que analisem de forma justa, e que emitam seus pareceres sem serem tendenciosos. Há algumas perguntas que me faço, e que encontro dificuldades para encontrar as respostas. Como aqui só tem "crânio", vai que vocês consigam me auxiliar!
Um fraterno abraço a todos1
A leitura atual desse herói “anti-escravagista”, mais uma vez, mostra o paradoxo humano, representado pelas duas faces da figura mítica.
O lado avesso da história do Quilombo dos Palmares, diz que Zumbi possuía um séquito de escravos, como a comprovar que, lá no fundo, o desejo (inconsciente) de todo escravo é ser como o seu Senhor.
“O senhor só o é porque é reconhecido como tal pela consciência do escravo” (Vide dialética ― “ O Senhor e o Escravo”, de Hegel)
Acho que esse tema vai render muito, e como sempre, poderá (por que não?) descambar para o lado da religião. (kkkkkkkkkk)
Obrigado.
Ainda não li o texto (rss) mas vou logo dizendo que o Zumbi adorava dar uma de "senhor"...rss
Seu comentário poderia ser chamado de 'texto em contrapartida" rsrsrs... O que é de fato excelente para que possamos discorrer pelo que proponho. Quando falo em não ser tendencioso, faço uso de ironia, pois sei que um assunto como este, que transita pelo campo da psique humana, é quase que impossível não ser tendencioso. Eu por exemplo me esforço para não ser tendencioso, porém sem sucesso.
A primeira figura lendária que se recorre, ou que se lembra quando falamos na história dos negros do Brasil é o caríssimo Zumbi. E eu seria um louco, ou ingênuo se não considerasse tal lembrança justa e aceitável aqui no Brasil. Lembrar e honrar os feitos do “Zumbi dos Palmares” é um ato de reconhecimento muito sublime, pois trata-se de uma história de relevância grandiosa sobre a conquista da liberdade pelos escravos negros do século XVII, e também não deixa de ser uma figura de destaque na construção história deste país, talvez até mais importante que muitos que levam maior honra. Mas até ai tudo bem.
Agora lhe pergunto onde esta a consciência negra em movimentos que difundem racismo, e alimentam complexos de inferioridade pessoais reais dentro de um contexto coletivo inexistente? Onde uma pessoa cria em sua mente um "ideal", e os transfere para as demais mentes criando um pensamento coletivo negativo e completamente preconceituoso. Como por exemplo esta menina do link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=1uC_a0lskfY
Exalando preconceito, ódio, raiva, e tantos outros sentimentos negativos, e que não condizem com grande parte dos negros deste país, ela difunde preconceito, ou um ato de "consciência negra"???
Fico feliz em saber que você não faz parte desta classe de demagogos que lutam contra a discriminação e o preconceito, tendo como principal arma o racismo. Isso é um tanto quanto estranho. Levantar a bandeira da consciência negra com um discurso destes é para mim é constrangedor.
Quando olhamos para as favelas, encontramos lá muitos negros, muitos pardos, e muitos brancos. E, estes estão lá porque são brancos, negros ou pardos? É óbvio que não. Estão lá porque vivemos um país onde a má distribuição de renda é uma de suas principais características. Quando afirmo que hoje, embora ainda haja muita discriminação, a raiz de todos os problemas não é mais racial, é exatamente por este motivo, por questões sociais e politicas que atingem todas as raças. Eu cresci na periferia, no subúrbio (embora no Frases de Efeito a poucos dias fui chamado de burgues, e alguém teve até o trabalho de buscar uma foto minha em um evento social para publicar e comprovar minha pseudo´-riqueza, um paletó e uma gravata kkkkkkk) e conheci muito negros e muitos brancos pobres. Uns se esforçaram, estudaram e cresceram na vida por mérito, outros não, e hoje quando converso com muitos deles, o que mais lhes da alegria e o direito de poder dizer, "tenho porque conquistei". Ao meu ver a consciência negra deveria ser a compreensão de que "os negros também podem".
Culpam o homem branco brasileiro de os escravizar. Tudo bem, isso de fato é algo que me envergonha. Mas até onde eu sei, eles já eram escravos na Africa, e foram vendidos como escravos, o que não garante que lá eles estariam melhores, a não ser pelo fato de que morreriam em sua terra natal. As vezes eu vejo alguns negros de sucesso no Brasil reclamando uma ratratação, e eu fico me perguntando: Se seus antepassados não tivessem vindo para o Brasil, tivessem ficado na Africa. O que ele seriam? Será que seriam artistas de renome, como hoje são? Será que seriam politicos influentes como hoje são?
Observe que não estou me referindo aos negros em seu contexto geral. Me refiro aos movimentos que difundem um afro-coitadismo e dissiminam preconceitos. E que pasme a amiga, não são apoiados pela maioria. Conheço muito negro, e negra ponta firme, responsa, que não apoia e nem suporta esse coitadismo que se debruça sobra um passado histórico de garra, determinação e coragem. A poucos dias falava com um amigo negro, de familia pobre, mas que com esforço se tornou um ótimo advogado, e ele me falava da vergonha que tem destes movimentos.
Por isso reforço uma de minhas perguntas no texto:
"Seria uma comemoração pela mais pura e bela conscientização da luta pelos direitos igualitários, ou simplesmente o desejo inconsciente (em alguns casos consciente) da criação de um grupo privilegiado lutando unicamente e exclusivamente pelos seus interesses e anseios?"
Esta ai uma questão que foge um pouco do discurso tendencioso e emocional comum a questão.
Todo escravo sonha em deixar de ser escravo para então ser livre para escravizar. E isso se comprova na história da humanidade. Era muito comum na antiguidade, povos que viviam como escravos, quando se tornavam livres de seus senhores, ou pela força conseguiam tal liberdade, criarem seus súditos. Tipo a lei do mais forte, em um ciclo de ordens e obediência. Seria este desejo de comando e chefia algo natural e inerente a natureza humana?
Como eu gostaria que se chegasse o momento da tal consciência humana que ainda não existe e nesse ponto toma preto, branco, gordo, nordestino (como vc falou), Quanto ao fato de culpar o branco, penso que não é essa a questão da maioria, acho que não se trata de culpar o branco pela escravidão, ciente que esse pensamento era um pensamento legítimo para época e que não foi inaugurado por aqui, mas tb não sei se trata-se de agradecer o pensamento escravocrata pelo pelé ter tido ancestrais que vieram para cá num navio negreiro, trabalhado na lavoura para ele ser um grande star do futebol brasileiro hj em dia rsrs...
Longe de mim desmerecer a luta dos negros. Desde que seja de forma consciente e com respaldo histórico legitimo, e não manipulado. Ainda mais trazendo em sua bandeira a expressão "consciência". Nesta luta, mesmo sendo contrário a qualquer espécie de militância, eu militaria com prazer.
Você fala que alguns privilégios, se trata de uma correção histórica. Mas porque correção histórica?
Os negros que vieram como escravos ao Brasil, tinham qual posição na Africa? Eles tinham posses? Ou eles já eram escravos, e apenas foram vendidos para outros senhores? Já parou para pensar na hipótese de ter sido uma providência terem vindo ao Brasil? Afinal, foi aqui que conquistaram liberdade, e começaram a construir uma história digna. Ou seria exagero meu dizer que se permanecessem como escravos na Africa talvez não tivessem as oportunidades que hoje eles tem?
Será que teriam um Pelé, um Chico Cesar, um Joaquim Barbosa, um Gilberto Gil, um Tony Tornado, e muitas famílias bem sucedidas e bem direcionadas?
Não estou dizendo que isso justifica as atrocidades que foram cometidas no passado, e muito menos que deveriam ser gratos. Apenas quero mostrar que há diversos outros pontos a serem analisados que as vezes a cegueira da emoção não nos permite ver.
Meus antepassados sofreram muito também. Minha vó por parte de pai era descendente de austríacos, e seus antepassados chegaram ao Brasil fugindo, nos períodos do pós guerra. Comeram o pão que o capeta amassou, e mesmo assim, nossa familia sempre batalhou para conquistar seu espaço. Nossos problemas estão longe de serem raciais, são sociais e politicos, e nesta pegada, entra todas as raças.
Os escravos foram libertos dos seus senhores para voltarem a serem escravos da "imobilidade social" que existiu no Brasil durante muito tempo. Hoje temos negros (e nascidos pobres) galgando importantes cargos na sociedade, mas ainda à duras penas.
Enfim, sou contra os movimentos que querem dar "consciência negra" aos negros, colocando os brancos como se fossem o grande mal a ser vencido. Isso é perigoso e não vale a pena tomar esse caminho. Nesse processo, precisavam de um herói, e quem mais a não ser Zumbi para ocupar esse lugar. Mas como em todo movimento ideológico, o herói é sobre-humano, idealizado, impoluto. Fizeram isso de Zumbi - transformaram-no num santo messias, esquecendo o outro lado da história.
Espero que os movimentos negros exijam dos nossos governantes uma ótima escola pública, desde a creche até o ensino médio. O racismo já é crime por aqui (e inafiançável). Só uma educação boa e democrática para quem não pode pagar escola particular (os pobres, sejam brancos ou negros) poderá "colorir de negro" os espaços sociais onde só existem quem chegou lá por terem dinheiro e boa educação.
À princípio é isso.
"...movimentos que querem dar "consciência negra" aos negros, colocando os brancos como se fossem o grande mal a ser vencido.."
Esta frase conota exatamente o grande erro dos movimentos atuais. Colocam o negro como o chapeuzinho vermelho e o "homem branco" como o lobo mau da história. O vídeo da menina, o qual pincei o link em um dos comentários, foi comemorado, enaltecido e divulgado como fruto de uma atitude corajosa e empenhada na luta por esta tal reparação histórica. Quando assisti pela primeira vez, não sabia se chorava ou ria de tamanha estupidez.
Quando falo em "cegueira emocional", me refiro a um contexto coletivo, não tome para si tal afirmação. Isso diz respeito a ligação sentimental, emocional e até espiritual que o negro tem com a história. O que faz com que mesmo as afirmações mais lógicas e contextualizadas com a nossa realidade não tenham valor algum em relação a dor sentida pelos antepassados e que por herança permanece viva no inconsciente coletivo dos afrodescendentes.
O ponto que quero chegar e enfatizar retornando as origens, lá na Africa, não é saber o que seriam dos que construíram uma vida bem sucedida aqui, como os que citei, e ainda milhões de outras pessoas negras que fazem parte desta nação e possuem uma vida da qual sintam orgulho, não por serem negros, mas por terem conquistado lutando. Isto foi apenas pano de fundo para enfatizar que os negros que aqui chegaram como escravos, já eram escravos na Africa. Não foram trazidos a força e pela vontade dos senhores feudais brasileiros, mas sim, foram comprados, estavam a venda, tinham um preço. E chegando aqui, encontraram um cenário em nada diferente do que já estavam acostumados a presenciar. O ouro, o marfim e os tesouros da Africa não passavam pelas suas mãos, e sim ficavam com os europeus. Estes sim, os grandes devedores.Penso que lançar a cobrança de uma correção histórica sobre o povo brasileiro, como se todo o contexto histórico de sofrimento e desalento fosse responsabilidade nossa é um pouco apelativo.
Agora quanto aos casos de expulsões de shoping's, bares, escolas, locais públicos e afins, isto é uma vergonha. E geralmente estão relacionados a casos específicos, e não poderia ser atribuído a um resultado da cultura brasileira. Penso eu que esta mais do que na hora de acabar com esta lendária história do chapeuzinho vermelho (negros) e do lobo mau (brancos). Só alcançaremos uma evolução verdadeira quando conseguirmos discursar e viver pela totalidade, e não pelas partes.
Já nem precisa mais concordar que há uma necessidade de resgate de uma das culturas formadoras dessa nação não. Esqueça esse negócio de consciência negra, só não esqueça de pesquisar, perguntar a alguém a partir de quando os africanos começaram a ser escravizados e tentar retirar esse estigma de que se não fossem os europeus os africanos estavam perdidos, não esqueça de perguntar como acabei de fazer agora um amigo para descobrir se na africa existia matemáticos, sacerdotes, artesãos, comerciantes de ouro, marfim, e uns FDP rsrs... até que foram colonizados e escravizados.
A vergonha de expulsão de bares, shoppings tem a sua origem, que não conseguimos reconhecer quando temos fala que não só nomeia chapeuzinho e lobo mal, mas que faz até parecer que a chapeuzinho era apetitosa, deu sopa, tinha mais é que ser comida mesmo. Mas estou tentando, estou certa de que eu fiz uma leitura equivocada do seu texto. Vou ler de novo, não hj pois eu acho que vou continuar entendendo errado. Para terminar, o valor do europeu, de suas conquistas, que são verdadeiras, sua linda e magnífica cultura não podia antes e não pode agora causar essa desigualdade Matheus. Somos humanos e a consciência humana passa até por isso, de reconhecer sim que MESMO NÂO CONCORDANDO COM O MODO E A FORMA, as ações têm reações. Séculos de escravidão não poderiam redundar em nada.
Abraço, fica com Deus! Amanhã retorno.
"...se não fossem os europeus os africanos estavam perdidos..."
Não entendi o que quis dizer com isso. Ainda mais tendo eu dito que os grandes devedores são os europeus, exatamente pela exploração que iniciaram.
"...O Paulo só estuprou a Maria porque o joão e o André tinham estuprado primeiro. Então o Paulo que estuprou por último não fez nada de mais pois o estupro já vinha sendo realizado..."
Aqui você faz uma comparação estapafurdia, pois a Maria não estava a venda, não era um produto, o estupro conota violência forçada. Eu sei que é dolorido, é triste, e é desumano, mas a realidade é esta, o negro naquela época tinha se tornado um produto. Se tinha quem os vendesse, era lógico que haveria quem os comprasse, mesmo sendo uma prática desumana,
Quando mencionei que o ouro e o marfim não passava nas mãos dos negros, me referia exatamente ao estupro (aqui a palavra cai bem) ao qual os europeus submeteram a Africa,
Não sei se ha necessidade de você ler o texto novamente, penso que você deva reler o que você escreveu neste último comentário. Que ao meu ver, esta mais emocional do que racional. A um passo de me xingar pelo fato de eu não concordar com uma reparação histórica e apresentar argumentos lógicos para isso.
Eis ai uma alternativa bem interessante. kkkkkk
Poderia levar seus risos como uma afronta... Mas não, até mesmo porque pelo tempo que lhe conheço, sempre demonstrou ser uma pessoa bem equilibrada, sensata e justa. Mas é óbvio que neste tema não chegaremos a um denominador comum, infelizmente a concordância nem sempre é possível.
Para resumir meu ponto de vista, e para que este artigo não fique sendo um diálogo restrito a nós mesmos sobre a validade ou não de uma reparação histórica, vou definir aqui o que considero uma atitude de consciência na prática, e o que busco fazer valer:
"Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas..."
Acima eu citei alguns do artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Penso que fazer exercicio disto anula a necessidade de adotar discursos sectaristas em prol de raças "a" ou "b" Mariani.
Agora penso que podemos explorar um pouco mais das questões abordadas.
Como por exemplo:
O sentimento de auto realização dos negros. Como sente-se o negro ao perceber que mesmo tendo mil motivos para se entregar a lamúria, decide lutar e se torna alguém bem sucedido pelas suas forças, habilidades e atitudes? E como seria o sentimento de auto realização se caso conquistassem uma vida realizada,como resultado de uma reparação? Qual cenário seria de maior alegria?
Ou ainda, qual o impacto que causa no inconsciente coletivo da população negra os discursos como o da menina do vídeo? Até que ponto esta sendo saudável a manutenção deste orgulho negro?
Bom dia!
Pode-se dizer que as políticas afirmativas, mais precisamente as cotas nas universidades e no serviço público (recente proposta da Dilma através do PL n.º 6738/2013), são medidas de caráter temporário que têm por objetivo tirar do papel a Lei nº 12.288, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial. Esta norma determina, em seus diversos artigos, ações capazes de proporcionar um tratamento mais isonômico entre as raças.
Como sabemos, a desigualdade entre brancos e negros também se replica na composição racial dos estudantes das universidades e dos servidores da administração pública em todas as esferas. Os dados demonstram que, embora a população negra represente 50,74% da população total, eis que, no Poder Executivo federal, a representação cai para 30%, considerando-se que 82% dos 519.369 dos servidores possuem a informação de raça/cor registrada no Sistema. Tem-se assim, evidência de que, ainda que os concursos públicos constituam método de seleção isonômico, meritocrático e transparente, sua mera utilização não tem sido suficiente para garantir um tratamento isonômico entre as raças, falhando em fomentar o resgate de dívida histórica que o Brasil mantem com a população negra.
Para solucionar a problemática apontada, entende-se ser necessária a adoção de política afirmativa que, aplicada durante um período, torne possível aproximar a composição dos servidores da administração pública dos percentuais observados no conjunto da população brasileira. Pressupõe-se que diversas outras ações fomentadas pelo Estatuto da Igualdade Racial (algumas das quais já implantadas, como é o caso da reserva de vagas em universidades) impactarão também no ingresso de negros pela ampla concorrência, constituindo a reserva de vagas proposta um avanço significativo na efetivação da igualdade de oportunidades entre as raças, garantindo que os quadros do Poder Executivo federal reflitam de forma mais realista a diversidade existente na população brasileira.
A adoção de tal medida vem ao encontro do entendimento acerca da necessidade de diversidade na administração pública, considerando seu papel na formulação e implantação de políticas públicas voltadas para todos os segmentos da sociedade, e conjuga, ainda, elevado potencial de incentivar a adoção de ações semelhantes tanto no setor público quanto no setor privado, fazendo cumprir determinação da Lei n.º 12.288, de 2010, que, em seu artigo 39, dispõe que “o poder público promoverá ações que assegurem a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a população negra, inclusive mediante a implementação de medidas visando à promoção da igualdade nas contratações do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares nas empresas e organizações privadas”.
No mencionado PL do Poder Executivo, justifica-se o prazo de dez anos para a ação em face de sua natureza afirmativa, cuja efetividade deve garantir seu caráter temporário, e pela dificuldade de se quantificar o impacto sistêmico de outras ações afirmativas sobre os ingressos de negros no serviço público pela ampla concorrência. Considera-se, portanto, de grande importância a avaliação do alcance da medida proposta no médio prazo, bem como o exame periódico pelo órgão responsável pela política de promoção da igualdade étnica de que trata o § 1o do art. 49 da Lei n.º 12.288, de 20 de julho de 2010.
Conforme declarou recentemente a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), em defesa das cotas no serviço público, “não estamos defendendo um segmento. Essa não é uma causa do negro, é uma causa brasileira, e queremos contar com o apoio de todos”. E para a deputada Iara Bernardi (PT-SP), as cotas no serviço público vão corrigir a dívida que o País tem com os negros. Segundo ela, com a Lei Áurea, “houve libertação, mas não houve o acompanhamento de práticas para dar cidadania a esses cidadãos”.
Obrigado,pela sua participação e contribuição.
Meldon Hollis, diretor da Iniciativa da Casa Branca para Universidades e Faculdades Historicamente Negras, ao analisar a situação e o desenrolar desta questão sobre as cotas no Brasil, afirmou que se tratava de uma medida paliativa e que não produziria grandes resultados.
Em entrevista a Folha de São Paulo ele disse:
"...Não saberemos se as cotas vão funcionar até que passe um tempo mínimo para que seja feita uma avaliação. Sabemos que esse modelo trará algum progresso. Mas não sabemos se trará a solução para o problema de divisão racial. O Brasil não é os EUA. Nos Estados Unidos, apenas 10% da população é negra, enquanto no Brasil 50% são afrodescendentes. Não é possível que metade da população fique fora da economia do país. Precisamos ter um progresso imediato no sentido de reduzir a desigualdade racial por aqui. Uma coisa diferente nos EUA é que as pessoas negras têm suas próprias instituições desenvolvidas por eles próprios porque a educação era totalmente segregada. Essas instituições existem há cerca de 150 anos. Muitos líderes negros saíram dessas escolas, como Martin Luther King. No Brasil, é diferente..."
Fico me perguntando: Se nos EUA, onde não representam um quarto sequer da população, os negros com esforço, empenho, debaixo de humilhações, e chacotas foram capazes de construir uma história de conquistas. O que esta faltando para os negros brasileiros que compõe metade da nação?
Gente, nunca tivemos uma nação segregada. É preciso entender que são as bases politicas que precisam ser remexidas e abaladas, e isso não vai acontecer com afro-coitadismo, é preciso coragem, vontade e garra para conquistar. Nos EUA eles não esperaram uma gratificação, eles fizeram por si, e construíram uma história de sucesso. Porque apenas a Faculdade Zumbi dos Palmares? Não poderíamos ter diversas outras faculdades no país, sendo a metade da população negra? Me parece mais comodo sentar e cruzar os braços cobrando do governo uma atitude, e choramingando pelo passado, do que fazer a diferença.
Há sim injustiças, com certeza. Mas há também nesta loucura toda, muita malandragem.
É o fato de saber que uma argumentação contrária aos objetivos dos movimentos afro é considerada afronta, desrespeito e se torna motivo para ser rotulado de preconceituoso e até em casos mais extremos de racista. Ou se concorda com tudo, ou se é inimigo. Há desta forma como desenvolver meios em que uma esperança de totalidade de direitos seja uma realidade?
Orgulho Negro é lindo, Orgulho Branco é monstruosidade. Essa polarização embora seja real é faça parte de todo um contexto histórico, bem que poderia deixar de ser o ponto mais forte da questão.
Agora um questionamento sobre o seu questionamento: o que faz do que eu disse a ação do negro menos merecedora de alegria que isso que vc falou? Eu falei sobre o resgate, e valorização cultural e até mesmo a questão das cotas (que não citei mas parece ser a questão) . Deixe eu lembrar que as cotas existem há muito tempo só que eram para brancos( que não são culpados, só herdeiros de um estereótipo de domínio) e não era institucionalizada. Quando em vagas de emprego lia-se: Precisa-se de vendedoras (necessário boa aparência) - era melhor uma negra nem aparecer por lá. A cota já estava declarada, mas isso não era ofensivo até que se colocou a voz no trombone. rsrs...Ligue a sua televisão e observe o marketing e veja em um pais de maioria parda e negra , a cota, conte-a nos dedos.O negro tb não é culpado disso (apenas herdeiro de um estereótipo do dominado)
Agora seguindo seu questionamento sobre a alegria que o negro deve ter em trilhar seu próprio caminho .eu fico pensando como teriam sido mais felizes e ricas as classes dominantes do passado lavando suas próprias privadas, suas próprias ceroulas e quem sabe como teriam sido mais felizes os senhores de e se tivesem massacrado, vendido e feito fortuna com a venda de seus próprios corpos. Pensar que cada centavo do deu dinheiro saiu do seu próprio corpo. Teria sido lindo e nem precisaríamos de consciência negra e nada disso. (Já q é pra pensar eu estou pensando).
Bem sabemos que, nos EUA, existem sistemas de quotas embora haja críticas por parte dos conservadores de lá.
No caso brasileiro, há quem diga que o problema seja mais de natureza sócio-econômica, o que acaba coincidindo com a condição da maioria negra que suponho ser mais de 50% visto que nem todos os afro-descendentes assim se declaram por terem uma pele mais clara (minha esposa Núbia seria uma delas em que você só poderá confirmar as suas origens quando passa a conhecer minha sogra que tem uma pele mais escura).
A verdade é que, como disse a deputada, “houve libertação, mas não houve o acompanhamento de práticas para dar cidadania a esses cidadãos”. E não podemos nos esquecer que, mesmo com a Lei Áurea da princesa Isabel, o Brasil continuou tendo leis racistas durante as várias fases republicanas. Das senzalas os negros vieram para os cortiços e para as favelas. Foram empurrados para a marginalização.
De fato, o sistema de cotas, por si só, torna-se paliativo. Não basta assegurar vagas numa universidade se a educação na escola pública continua ruim porque muitos alunos ainda serão eliminados no vestibular ou nem concluíram o ensino médio. Porém, mesmo entre os pobres, há que se considerar as diferenças existentes entre brancos e negros, analisando-se estatisticamente.
Em relação à valorização social do negro, acho muito importante dentro da sociedade porque, como bem sabemos, houve uma padronização arquetípica do branco durante séculos. Ainda hoje existem inúmeras expressões do "orgulho branco" que, necessariamente, não se identificam desta forma. Quando se promove uma festa reconhecendo o valor dos imigrantes italianos, alemães, espanhóis e portugueses não estamos valorizando a raça branca? Mas, quanto aos negros, muitas são as origens dos que vieram para cá trazidos como animais em navios negreiros de modo que havia até muçulmanos que sabiam ler e escrever mas que receberam o mesmo tratamento de quem vivia nas tribos por causa da cor da pele.
O sistema de cotas pode ser um progresso. Mas abre precedentes para maluquices sem tamanho. Por exemplo, o abobado do deputado estadual capixaba Rogério Medina (PMDB) que a pouco sugeriu um projeto de lei onde 10% das vagas em concursos públicos deveriam ser de evangélicos.
É claro que uma coisa não anula a outra, Mas você pode ter certeza que ele irá fazer uso da argumentação de que assim como os negros, os protestantes também foram perseguidos, massacrados e possuem um histórico de sofrimento similar.
Você concordando ou não trás a tona o grande "X" da questão. Voce fala em raízes de natureza sócio-econômica, e eu concordo em parte. Pois não considero que esta seja a raiz, e sim o produto. A raiz é a escravidão e os velhos engenhos. Só que isso já não existe, mas infelizmente refletiu fortemente no decorrer da história.
A dialética entre Matheus e Mariani ocorreu em bom nível. Mas ficou no ar um pouco do que o Edu profetizou ― o “tendencioso” que habita em nós. (rsrs)
No meu comentário lá em cima, eu frisei a dialética de Hegel, sobre o “Senhor e o Escravo”, ― porque entendo que essa relação, sendo levada para o lado de nossos afetos internos, ajuda a percepção de que internamente ou em nossa psique é permeada por dois anseios, aparentemente paradoxais: o de submissão e o de independência (reconhecimento).
A psicanalista, Maria Rita Kehl, falando sobre o “Ressentimento na Sociedade Brasileira”, diz algo que achei pertinente trazer a esta sala de debate:
“ Distantes da condições sociais dos países chamados de Primeiro Mundo idealizado e invejado, contentamo-nos em ser reconhecidos internacionalmente, a partir da imagem de povo alegre, despreocupado e sensual que o colonizador fez de nós[...] . [...] Hoje, a sociedade, orquestrada pela televisão repete o estereótipo formado a partir da herança indígena e negra que se traduz na fantasia do país do carnaval, da batucada, das mulatas e da ‘macumba-para-turistas’ que nos identifica aos olhos do estrangeiro. Tal compromisso nos impede de levar a reparação das injustiças às últimas conseqüências. Temos pressa de perdoar os ‘inimigos’, com medo de parecer ressentidos ― mas o afeto que não ousa dizer seu nome, esconde-se justamente nas formações reativas do esquecimento apressado, tão característico na sociedade brasileira.
A batalha parece se travar entre “culpados” e “ressentidos”:
O ressentimento, diz ela, ”seria algo como uma cobrança indireta de um bem cedido ao outro por submissão (ou covardia). Instalado no lugar de queixoso, o ressentido acusa. Sua reivindicação não é clara: ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez ― uma espécie de vingança imaginária”. (esse trecho em itálico, cai exatamente naquilo que o Matheus, convencionou como coitadismo ) - rsrs
Quando se comemora o “Dia da Consciência Negra” com o propósito de realçar o duelo entre “Culpados” X Ressentidos, perde-se uma oportunidade de cada um se confrontar consigo mesmo ― como disse Matheus, respondendo ao meu comentário em que focalizei o “o dilema hegeliano do “Senhor e do Escravo” ― que muito bem se encaixa nesta discussão:
“Esta ai uma questão que foge um pouco do discurso tendencioso e emocional comum a questão” (Matheus)
Lembra lá no principio de meu artigo a pergunta que fiz:
"Seria uma comemoração pela mais pura e bela conscientização da luta pelos direitos igualitários, ou simplesmente o desejo inconsciente (em alguns casos consciente) da criação de um grupo privilegiado lutando unicamente e exclusivamente pelos seus interesses e anseios?"
Aponto aqui duas hipóteses que ao meu ver são pertinentes. A primeira de uma parcela dos afrodescendentes que de fato estão a desenvolver uma conscientização acerca da busca pelos direitos igualitários. Direitos que em em 1948 foram expostos na famosa Declaração dos Direitos Humanos. E, estes não me preocupam, e possuem meu apoio integralmente, sem reservas.
Minha preocupação paira exatamente sobre a outra parcela que cito. Os que inconscientemente buscam essa reparação, não por sentirem-se rejeitados, ou algo parecido. Mas por trazerem consigo inconscientemente esta ideia de "divida a ser paga", por alimentarem um ressentimento que canalizado pode reproduzir ódio, violência e resultar em uma sequência de comportamentos arcaicos.
Quando se dá vazão ao inconsciente magoado, o que menos se tem é consciência. Pois as emoções tornam-se vulneráveis, e tudo que for lógico e contextualizado perde todo o sentido. A vingança que diz ser imaginária, torna-se real, e tudo isso, pode mais cedo ou mais tarde desencadear em consequências nem um pouco positivas.
Quando a Maria Rita diz,
"...ele não luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça o mal que lhe fez..."
Ela afirma exatamente o que a grande maioria não aceita.
Eu li sim seus comentários. Mas seria muito estranho se eu considerasse um comentário onde você cita fatos históricos de atrocidades, como se eu os tivesse defendendo. Quando li seu primeiro comentário lá em cima, eu disse ter sido um texto em contrapartida, e de fato foi. Foi o seu comentário que abriu as portas para este diálogo, que ao meu ver, embora truncado esta muito produtivo.
Agora convenhamos, foi exagerado comparar um ciclo de escravidão inevitável da época, com um caso de estupro em sequência. Tirando esta afirmação, e o fato de em alguns momentos estar dissertando como se eu fosse o alvo, todas as suas argumentações contribuíram e muito para as informações que juntamos nesta postagem.
Lhe peço sinceras desculpas se me portei com deselegância com você, em nenhum momento foi minha intenção.
E não valeu não. Sem essa de dramatizar dizendo que não acerta a mão nos comentários. Sua contribuição neste artigo esta bem acima da média.
Essa tal consciência negra não seria exatamente a libertação de uma "gaiola" afro de ressentimentos?
Os comentários da MARI fizeram um contraponto excelente ao texto, mas me pareceu (me corrija se eu estiver errado, Mari) que eles podem dar a entender que o MATHEUS é contra a luta social dos negros por melhores condições na sociedade brasileira. Ele não é.
O que ele é contra e eu concordo, é que tal luta seja feita com a polarização negros/ofendidos/coitados versus brancos/opressores/racistas. Essa polarização não é boa para o Brasil.
Mas como negar que o Brasil, tendo metade da população negra, tenha tão poucos negros nas universidades em cursos de medicina, engenharia? É por que os brancos impedem que eles tenha acesso a educação? Não.
No dia que o Brasil tiver de fato, educação para todos, seremos um país mais justo, sem tantas desigualdades raciais.
Mas e enquanto essa educação para todos não chega? Aí se abre um grande campo do que se poderia fazer de forma emergencial, e as cotas entram nessa discussão. Eu sou a favor das cotas em universidades. É uma política ruim, mas parece que pode fazer algum efeito a longo prazo.
Mas me pergunto: quem é o negro que consegue entrar na universidade pública se ele sempre estudou em colégios públicos ruins? Aqueles que que se esforçaram e a despeito de tudo, buscaram o conhecimento. Por isso acho que a cota para estudantes que sempre estudaram em escola pública seja mais justo, pois ela contempla aquele aluno, branco, negro ou pardo, que tiveram que estudar em colégios ruins a vida toda, mas que não se deixaram vencer pela irresponsabilidade dos nossos governos em não ter a educação como prioridade máxima.
Se fôssemos parte da nobreza naqueles tempos, todos teriam nossos escravos. (que nem sempre era negro)
- Morgan Freeman
Cadê o Miranda???
E não dá muita bola para o Matheus não, ele é grosso mesmo, esse negócio dele escrever "nobres confrades" é tudo máscara, pois o que ele gosta mesmo é de entrar rachando as canelas adversárias...parece que aqui ele faz um grande esforço para ser polido e gentil ...hehhhhh
De fato essa "polarização negros/ofendidos/coitados versus brancos/opressores/racistas" pode afastar o cidadão da consciência de que a origem de tudo ainda se encontra na exploração do trabalho humano. Concordo com você. Afinal, por que os negros teriam sido escravizados? Logo, um movimento que instiga o ódio ou a revolta contra os brancos acaba fazendo o jogo dos poderosos, sendo que o racismo foi uma ideologia construída pela classe dominante e colonialista. Na atualidade, serviria para dividir a sociedade e dificultar a organização dos trabalhadores. Por outro lado, a valorização da cultura negra, o resgate da consciência histórica e cultural bem como a auto-aceitação da própria raça seriam questões libertadoras do sentimento de inferioridade que foi incutido durante séculos de injustiças.
Eu por exemplo, prefiro as morenas!
Já parou para pensar na hipótese deste negro estar na verdade vencendo um complexo enraizado no seu inconsciente do tipo, "...agora quem ta dominando sou eu...". Já parou para pensar que este interesse pelas branquelas possa estar ligado a rejeição que sofreu em relação aos brancos? Não ousaria dizer que é só gosto não, penso que deva ter alguma ligação com seu inconsciente ressentido. Talvez o Levi poderia dar uma luz, conjecturar acerca disso com mais ênfase.
Não faz assim que o crentes pira kkkkkk
Eu sou contrário a desculturação em todos os sentidos. Mesmo não crendo e nem considerando os costumes, práticas e os dogmas do candomblé, não vejo problema algum na manutenção dos mesmos como sendo uma lembrança viva e cotidiana das raízes de um povo. Também penso que deva se dar importância sim, pois querendo os brancos ou não, querendo a crentaiada ou não (na qual me incluo), não é simplesmente uma crença, mas é parte de uma história milenar, e penso eu que ninguém tem o direito de privar alguém de sua história, seja respaldado no deus e na crença que for.
É um bom tema sim, e polêmico também.
Eis ai uma questão interessante. Pode parecer sarcástico, mas atente ao que vou escrever.
Nos séculos passados e principalmente nos períodos da escravidão, os jovens negros e os jovens brancos eram manipulados a se perceberem como o grande mal da humanidade. Os senhores de engenho, mesmo abusando sexualmente das escravas, aconselhavam os filhos e filhas a fugirem dos negros, pois se tratava de uma raça como disse o "InFeliciano", amaldiçoada. O negro por sua vez, debaixo da opressão branca era ensinado que o branco não prestava, era a personificação de tudo o que é mal na humanidade, e por isso os negros deveriam ficar longe deles.
Com base neste contexto que é real, e que talvez seja o que fomente essa polarização do chepéuzinho vermelho e o do lobo mau, acabei por me lembrar de uma frase bem pertinente e atual:
"... tudo o que é proibido é melhor e desperta a curiosidade ..."
Talvez, essa procura seja resultado de algo inconsciente. E que com o passar dos séculos foi se tornando como que cultura. Pois é inevitável de se perceber que os negros em sua grande maioria, quando conquistam uma branquela, parecem conduzir um troféu. E no caso dos brancos, eu percebo que estes parecem procurar na negra o que não encontram nas brancas. Uma sensualidade fora do comum. Ou vocês não concordam que as negras, as mulatas são muitos mais sensuais que as brancas?
O que dizer deste trecho de Macunaíma?
"...Grito imperioso da brancura em mim,
Me sinto BRANCO, fatalizadamente um ser de mundos que nunca vi
Não acho nada, quase nada, e meus ouvidos vão escutar amorosos
Outras vozes de outras falas de outras raças, mas formação, mas forçura.
Me sinto BRANCO na curiosidade imperiosa de ser.
Mas eu não posso me sentir negro nem vermelho!
Decerto que essas cores também tecem minha roupa arlequinal
Mas eu não me sinto negro, mas eu não me sinto vermelho,
Me sinto só BRANCO, relumeando caridade e acollhimento,
Purificado na revolta contra os brancos, as pátrias,
as guerras, as posses, as preguiças e as ignorâncias
Me sinto só BRANCO agora, sem ar neste arlivre da América!
Me sinto só BRANCO em minha alma crivada de raças..."
e aê ... lê-como no escuro?
Eu na verdade não gosto é de loiras kkkkkkkkkkkkkkkkk
Diante de questões como essas, podemos perceber que o dia da consciência humana do Morgan Freeman ainda vai demorar. A pergunta deveria ser simples ou uma simples constatação: homens gostam de mulheres e mulheres de homens e gays gostam de pessoas do mesmo sexo e ...as inúmeras preferências e tal...mas viu como ainda as relações passam por essa questão? Não há igualdade, então se pensamos que ainda há inferioridade, sentimento de inferioridade, expressar o desejo inconsciente (e isso é com o Levi) de dominar, então dia da consciência humana, lamento perceber que não estarei aqui para ver. rsrsrs..
Cuidado para não ser enquadrado pelo artigo 1° da lei Nº 7.716.
Esta aí mais um ponto a ser analisado.
Até que ponto uma brincadeira pode chegar para não ser interpretada como racismo?
Uma vez perguntei a um amigo se ele se importava com piadas sobre negros. E ele me responde assim:
"Não. Desde que não seja humor negro."
Aí eu fiquei pensando. Se eu em determinadas brincadeiras posso ser enquadrado com racista, como deveria ser ele enquadrado quando se refere a piadas que se pressupõe sejam pejorativas e maliciosas de humor "negro"?
Tem cada coisa viu!!!
É tão engraçado ouvir a galera da IURD pregarem contra as crenças afros, quanto é engraçado encontrar nos cultos da IURD gigantescas semelhanças.
Talvez sem as crenças afro, a IURD não sobreviveria kkkkk
Matheus
A frase acima, de Mário de Andrade, que você replicou em seu comentário, lá em cima, ressalta a sua mestiçagem. Essa expressão contém em si, um desejo inamovível de ressoar o lado ancestral português desse grande poeta.
Mas você exaltou a “mulata”. A mulata, o que é senão a síntese entre o branco e o negro, entre o estrangeiro e o nativo que há em nós?
Então, bendita mulatice. (rsrs)
Agora... Se a o afro descendente cooperou para superlotar presídios, aumentar a corrupção, inflar o analfabetismo, engrossar os bolsões de pobreza e envergonhar o País com a pecha de desonestidade. Então eu não sei que orgulho pode ter um cidadão que herdou esta heterose.
Espermeamo-nos, mas não podemos fugir dos eflúvios dessa herança: temos o DNA do negro (escravo), do índio (explorado); e também temos o DNA do nosso Senhor, nosso colonizador, nosso Pai endeusado. (rsrs)
O desejo de subordinaçãoe o desejo de dominação formam os dois lados da moeda humana.
Na verdade, todos nós, independentemente de raça e cor, temos uma certa queda pelo poder embriagador de dar ordens
“Nos últimos 5 mil anos, a grande maioria dos seres humanos foi submissa, encolhendo-se perante a autoridade, sacrificando-se para que uma pequena minoria possa viver no luxo” (Theodore Zeldin)
Confesso não estar tão preparado para postar já um texto sobre este assunto, mas pretendo escrever sobre outra coisa.
Abraços.
Posso não concordar com as práticas de culto do candomblé, mas me sinto obrigado a respeitar as tradições afros por diversos motivos, bem como a rever a abordagem evangelística feita pela Igreja de Cristo, comunidade da qual faço parte.
Boa semana pro irmão.
É aí que refiro vivente rsrsrsrsrs
Um país onde ninguém é puro, isto é, de uma só raça, proclamar um dia de consciência para uma raça única é completamente incoerente com a realidade atual e histórica que temos.
Enfim, viva a mistura das raças kkkkkkk
Pesadas são suas observações, mas pertinentes e de serem analisadas. Afinal, é muito mais comodo lançar sobre o outro a responsabilidade do que nos tornamos.
Abraço.
Este desejo é intrínseco a nossa natureza. Quem seria o hipócrita e demagogo a declarar aqui que nunca teve o desejo de dominar, comandar ou estar no controle? Quem nunca se alegrou com o sentimento produzido pela autoridade sobre questão "a" ou questão "x"?
Só um demagogo diria que nunca!!!
Algum demagogo por aí?
Confesso que tenho por louvável o resultado deste artigo. Agradeço de coração a cada confrade que emitiu seus pareceres e que contribui para que pudéssemos refletir sobre este polêmico tema. De coração súplico o perdão a confrade Mariani, pois sei que em alguns momentos sou rude e deselegante. Mas isso esta ligado ao calor do momento, logo me arrependo.
Quero finalizar endossando e deixando muito claro minha conclusão final (por hora, pois não sei o dia de amanhã):
"Nao sou contra a luta dos negros, sou contra a polarização que coloca o negro como o eterno ressentido e o branco como o eterno vilão. Tipo chapeuzinho vermelho e lobo mau."
Um grande abraço a todos e que o próximo confrade nos brinde com seu artigo!
Tendo em vista que o assunto sobre a cotas é bem extenso e polêmico, indico aí um artigo escrito por um magistrado cristão que antes era contra esta política afirmativa mas que veio a mudar de ideias:
Por que me tornei a favor das cotas para negros
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/por-que-tornei-favor-das-cotas-para-negros.html
Forte abraço.
Abraços.