quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Uma trégua natalina que poderia ser eterna

 


Há 110 anos atrás, mais precisamente em 24 de dezembro de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, iniciava-se a "Trégua de Natal", termo usado para descrever o armistício informal ocorrido ao longo da Frente Ocidental no Natal naquele ano, pouco menos de se completar os cinco primeiros meses do irromper do conflito em 28 de julho. 

Durante a semana que antecedeu o Natal, soldados alemães e britânicos já haviam trocado saudações festivas e canções entre suas trincheiras. Na ocasião, a tensão foi reduzida a ponto dos indivíduos até entregarem presentes aos seus inimigos! 

Assim, na véspera de Natal e no Dia de Natal, cerca de cem mil soldados de ambos os lados se encontraram, trocaram também alimentos, bem como entoaram cantos natalinos. E, conforme registrado na fotografia acima, as tropas também foram amigáveis o suficiente a ponto de terem jogado até partidas de futebol.

Há relatos de que os soldados alemães e ingleses cantaram o hino natalício anglo-saxônico Adeste Fideles ("Comparecei Fiéis"), música que é originalmente atribuída aos portugueses, sendo um convite para uma adoração coletiva a Deus e uma aproximação do menino Jesus.

Infelizmente, os combates foram retomados em 1915. O general Sir Horace Smith-Dorrien (1858 - 1930), comandante do II Corpo britânico, ao saber do que estava acontecendo, indignou-se e emitiu ordens estritas proibindo a comunicação amigável com as tropas adversárias alemãs.

Como se sabe,  aquela guerra durou até o o dia 11 de novembro de 1918, felizmente com a vitória dos aliados, porém com um rastro de dezenas de milhões de militares mortos, feridos ou desaparecidos, além de milhões de civis que perderam a vida de ambos os lados.

Entretanto, esse ato simbólico marcou a História como um forte exemplo de que é possível buscar a paz e ter como inspiração o Natal, uma festa religiosa comum para os povos envolvidos nas batalhas da Frente Ocidental.

Nos tempos atuais, em que o mundo observa um perigoso conflito no leste europeu entre Rússia e Ucrânia mais um massacre genocida na Palestina, torna-se urgente pensarmos numa trégua. Penso que 2025 poderia muito bem ser um ano em que todas as armas fossem postas em silêncio e, ao menos os povos cristãos, venham figurativamente peregrinar até Belém, lembrando-se do amor encarnado sobre o feno na simples manjedoura.

Venite adoremus Dominum!

domingo, 22 de dezembro de 2024

O ALMOÇO GRÁTIS COBRA A CONTA

 

EDITORIAL DA FOLHA DE SÃO PAULO

DE 22/12/2024


Chegou a fatura da irresponsabilidade orçamentária de Luiz Inácio Lula da Siva (PT). Ela contém tumulto financeiro, câmbio e juros em cavalgada e inflação rumando para níveis preocupantes.

Para pagá-la, há o caminho organizado e o caótico, a depender da escolha do presidente da República.

No primeiro, minimizam-se custos para a sociedade. O segundo é a rota corrente, que produzirá desastres.

Desde que foi eleito, Lula praticou o ideário, derrotado pela história, de que o progresso decorre da expansão ilimitada do Estado, a teoria do almoço grátis.

A opção pela gastança, escancarada na emenda de transição de governo que expandiu a despesa federal em R$ 150 bilhões, sempre tem fôlego curto. Na sequência colhem-se "mais inflação, juros e endividamento", como alertou, sob severa crítica, esta Folha em dezembro de 2022. Ao final, a receita insustentável acabará por impactar negativamente o emprego.

Para a sorte de Lula, os legisladores que aprovaram a autonomia do Banco Central em 2021 não pensavam como ele. A ação firme da autoridade monetária contra-arrestou a incontinência do Planalto e evitou que a inflação saísse do controle por quase dois anos.

A elevação da Selic não justifica regozijo, mas é melhor que a hiperinflação e seus efeitos devastadores sobre a renda, sobretudo da parcela mais pobre dos brasileiros.

A degradação das perspectivas para a dívida pública chegou a tal ponto, porém, que os instrumentos da autoridade monetária mostram-se insuficientes.

O choque recente nos juros básicos, que os projetou para asfixiantes 14,25% ao ano em março, não estancou a sangria. O dólar e os juros da praça dispararam para alturas imprevistas, disseminando estragos e prejuízos ainda mal contabilizados.

A economia caminha para um cavalo de pau se não houver freio de arrumação urgente na política fiscal. A velha artimanha de Lula de acusar um complô de operadores financeiros pela situação terá pouca serventia.

A condição de devedor contumaz do Tesouro Nacional foi acentuada. Sem tomar vultosos e frequentes empréstimos, a máquina pública entra em colapso.

Para a virada de perspectivas, o pacote enfraquecido pelo Congresso não será o bastante. A poupança para impedir o descalabro da dívida requer mecanismos bem mais persistentes e valores muito mais significativos, o que é impossível sem redução de despesas.

Lula ainda pode decidir o desfecho da economia, embora a margem para erros esteja se estreitando.

Encapsular-se na teoria do almoço grátis vai conduzi-lo para um fiasco parecido com o de Dilma Rousseff, o que seria uma pena, pois em quase todos os outros setores o governo atual supera o de Jair Bolsonaro (PL).

Se tiver a coragem para mudar de rumos diante de riscos palpáveis de ruína, o presidente terá condições de concluir seu terceiro mandato sem comprometer a estabilidade macroeconômica, a conquista mais cara à sociedade brasileira nos últimos 30 anos.


editoriais@grupofolha.com.br



quinta-feira, 14 de novembro de 2024

"DIREITOPATIA" EXPLOSIVA!

 


Por Chico Alencar*


Todo fenômeno político centrado em quem desperta fanatismo gera subprodutos perversos.


A onda de extrema direita que levou Bolsonaro à presidência da República inspirou a trama golpista que culminou no 8 de janeiro. 


E produz, até hoje, figuras patéticas, psicologicamente alteradas, extremadas no seu ódio contra os outros (e contra si mesmo).


O neofascismo é incubadora de personalidades doentias e perigosas. Semeia perfis nefastos, que inclusive tentam ocupar mandatos políticos. 


É o caso deste Francisco Wanderley, o "Tiü França", dono do carro que explodiu perto da Câmara, e que morreu ao lançar bombas contra o STF. O tresloucado foi candidato derrotado a vereador pelo PL em Rio do Sul (SC), em 2020.


Seria mero acaso os atentados de ontem terem acontecido quando os cabeças das tratativas golpistas que culminaram no 8 de janeiro estão prestes a serem indiciados? A turma das trevas, que nunca teve apreço pelo Estado Democrático de Direito, anda bem nervosa...


O extremismo da ultradireita no Brasil tem forjado pessoas assim: fanatizadas, sombrias, violentas.


E essa gente raivosa e golpista ainda quer "anistia"!?!


Há uma "direitopatia" que perdeu qualquer limite também com o que considera seu "avanço eleitoral", tanto no Brasil quanto nos EUA.


Às vésperas da proclamação da  nossa nada sereníssima República, reiteramos: NÃO PASSARÃO! 


Que tudo seja apurado com eficiência, detalhamento, celeridade e rigor: outros possíveis alvos dos atentados (além do STF), a inteira motivação política do(s) autor(es) e suas eventuais conexões. 


"Lobo solitário"? De alguma matilha ele saiu...


(*) Francisco Rodrigues de Alencar Filho, mais conhecido como Chico Alencar, é historiador, professor e exerce o mandato de deputado federal pelo Partido Socialismo e Liberdade do Rio de Janeiro.


OBS: Texto e imagem extraídos da postagem do autor no sítio de relacionamentos virtuais Facebook.

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

DA UTOPIA À DISTOPIA

 


(Trechos de artigo de Frei Betto, conforme extraído da postagem do deputado federal Chico Alencar)


     As recentes eleições no Brasil e no mundo comprovam o avanço das forças políticas de direita. Acuados, os raros governos progressistas fazem concessões que contrariam os princípios que regem os programas de seus partidos.

(...) Chama a atenção o fato de muitos líderes de direita serem jovens apoiados por jovens.

(...).


      Sou da geração de 1968 que promoveu a revolução sexual, se espelhou em Che Guevara, manifestou solidariedade à luta dos vietnamitas contra a invasão dos EUA, aplaudiu os barbudos de Sierra Maestra que libertaram Cuba da órbita da Casa Branca. Geração que se nutria de Sartre e Merleau-Ponty; Reich e Fanon; Marx e Althusser. Geração que enfrentava ditaduras militares, erguia barricadas em defesa da democracia, apoiava greves operárias. Após a redemocratização do Brasil, em 1985, minha geração governou o país por 18 anos!


        “E agora, José?/ A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu, / a noite esfriou, / e agora, José?”, indagam os versos de Carlos Drummond de Andrade. Quais as causas dessa virada do mundo à direita?

(...)


         Uma das razões dessa virada ideológica se deve ao desaparecimento de paradigmas na cultura ocidental. Ninguém vive sem referências que alimentem a esperança. Minha geração se nutria do marxismo e tinha como referências reais os países socialistas que, apesar dos pesares, representavam um avanço civilizatório comparado aos países capitalistas, em especial quanto à redução das desigualdades sociais.


        Tudo isso desabou. Pressionada pelo bloqueio imposto pelos EUA, Cuba enfrenta grave crise econômica, e a China se sustenta no paradoxo de adotar uma política socialista e uma economia capitalista. 


        Sem paradigmas não se fomentam utopias. E sem utopias não há esperança. O horizonte socialista se apagou do cenário político da esquerda. Líderes de esquerda temem inclusive pronunciar a palavra ‘socialismo’, estigmatizada pela direita. Receiam queimar a boca e perder votos. (...). 


        Não se projeta mais uma alternativa pós-capitalista. Procura-se amenizar os desmandos do sistema, ampliar redes de benefícios sociais aos mais pobres sem, no entanto, combater as causas estruturais da desigualdade e do desequilíbrio ambiental. São raras as vozes de ressonância mundial, como a do papa Francisco, que ousam proclamar, ainda que em termos menos convencionais, que dentro do capitalismo a humanidade não tem salvação.

(...).


        Sem teorias que iluminem, sem países que sirvam de exemplo, a esquerda fica à deriva no turbulento curso do rio da História (...). Hoje, Hitler e Mussolini se sentiriam à vontade no cenário internacional. Seriam aplaudidos como guias e exaltados como Trump, mormente se abrissem mão do antissemitismo. 


        Como o eleitor dará apoio e votos à esquerda se não há quem lhe apresente um antídoto à avassaladora deseducação política promovida pelas poderosas ferramentas midiáticas controladas pela direita? O povo não pensa no global, pensa no local; não foca o social, foca o pessoal. Quer segurança no bairro onde mora, acesso à internet, escola, moradia e emprego; prosperar e se livrar da humilhação de uma existência empobrecida e subalterna.


        “Gente é pra brilhar”, proclama Caetano. As redes presenciais, que organizavam amplos setores populares (CEBs, sindicatos, movimentos sociais, núcleos partidários etc.) se esgarçaram (...).


        Agora, as redes virtuais imperam, destituem seus dependentes de cidadania e neles incutem o consumismo, o narcisismo e o individualismo. A ideologia do empreendedorismo leva multidões a abraçarem o “cada um por si e Deus por ninguém”.  Incutido na cabeça do povo, o sistema culpabiliza o indivíduo por não ser capaz de sair da pobreza e obter renda própria. 


        Como enfrentar tamanho eclipse da utopia que mobilizava multidões de jovens e aqueles que confiavam nas pautas da esquerda? O que temos a apresentar de melhor além de promessas?


        Hoje, é incomensurável o número de jovens asfixiados pelo niilismo. Ignoram a ética, são indiferentes à religião, desprezam a política, têm ideias desalinhadas (...) . Sonham apenas em ter um bom emprego e uma vida confortável – um lugar ao sol nesse sistema cada vez mais afunilado e excludente. 


        Essa conjuntura obriga as forças progressistas (...) a reavaliar sua atuação política, sua linguagem, seu programa e seus objetivos.


        O mundo retrocede. Da utopia para a distopia. 

 


OBS 1: Betto, Carlos Alberto Libânio Christo, frade dominicano, é escritor. Livraria virtual: freibetto.org

OBS 2: Charge de Jota Camelo

domingo, 6 de outubro de 2024

O prejuízo irreparável de José

 


Era uma vez uma cidade chamada Corrupitiba, situada num país chamado Lisarb, cuja população era de 40 mil habitantes e 48 mil eleitores. Era um lugar muito bonito com praias, cachoeiras, montanhas e ilhas, além de monumentos históricos, e que havia sido um destino turístico no passado, mas acabou se degradando com o tempo por falta de saneamento básico e de projetos de desenvolvimento.


O município era muito rico, pois recebia altos valores em royalties e repasses do governo federal. Porém, apesar da arrecadação anual ser quase bilionária, o equivalente hoje a R$ 700 milhões, seu povo vivia na pobreza e quase nenhum negócio privado prosperava mais.


Infelizmente, as falcatruas prevaleciam na política de Corrupitiba assim como em praticamente todas as cidades de Lisarb, sendo que o fato do município obter uma alta receita anual atraía ainda mais bandidos para a política local. Inclusive pessoas vindas de fora transferiam seus títulos para votar ou se candidatar na cidade.


Certa vez, todos os municípios de Lisarb tiveram eleições para a escolha de cada prefeito e dos seus vereadores. Tratou-se do pleito mais concorrido e polarizado de Corrupitiba em que um voto para prefeito chegou a custar o equivalente a R$ 500,00 e para uma das treze vagas de vereador os aliciadores pagavam até R$ 300,00.


Ora, num bairro periférico da cidade, morava um homem chamado José, um ex-pescador de condição humilde. Tinha ele uma companheira, dois filhos, um gato e um cachorro. Estava terminando de construir a sua casa com dificuldades e vivia fazendo "bicos" para sobreviver. Em alguns meses, a sua renda ultrapassava o salário mínimo, quando aproveitava o movimento turístico do verão para vender alguma coisa na praia, mas, na maior parte do ano, penava para sobreviver.


No dia das eleições, um vizinho de José chamado Ronaldo, pensando em ajudá-lo, sugeriu que vendesse o voto para ganhar R$ 800,00 assim como sua esposa Maria e o filho mais velho Pedro que fizera 16 anos pouco antes de encerrar o alistamento eleitoral. 


- Meu amigo, tem um homem de camisa amarela, cem metros antes da escola da sua filha, que está pagando R$ 500,00 caso se comprometa em votar no prefeito João do Matadouro e mais R$ 300,00 para o candidato a vereador Robertinho da Padaria. Se a sua esposa e seu filho se comprometerem, serão R$ 2.400,00 pra família de vocês.


Ao ouvir a proposta, José ficou pensativo. Afinal, ele estava precisando tocar sua obra e pagar umas contas, de modo que deu a seguinte resposta:


- Seu Ronaldo, acho que vou aceitar e pedirei para a minha esposa e o meu filho votarem nesse candidato, mas não quero que saibam que irei pegar o dinheiro. Pedirei para eles votarem nesses dois nomes.


Sem saber do acordo do marido, Maria aceitou mudar sua intensão de voto. Já o filho Pedro questionou o pai, porém depois aceitou:


- Pai, eu pretendia votar na professora da minha escola que é candidata. O senhor tinha falado que iria dar um apoio a ela.


- Falei sim, filho, mas vai ser melhor para a família da gente votar no Robertinho. Já o candidato a prefeito que estávamos apoiando, soube que ele não vai ganhar. Confia em mim.


Maria, supondo que o marido poderia se beneficiar através de um cargo na Prefeitura, ou pegar uma assessoria na Câmara, persuadiu mais ainda o filho do casal a mudar o voto para os novos candidatos do pai:


- Filho, você sabe que seu pai não trabalha de carteira assinada e você já está em idade de procurar emprego. Se o seu pai mudou o voto é porque sabe o que está fazendo e não podemos ignorar o quanto um vereador amigo é importante para ajudar a conseguir um cargo na administração municipal através da nomeação do prefeito.


Com isso, toda a família votou nos candidatos indicados pelo vizinho, seu José recebeu o dinheiro por cada sufrágio vendido e, com a grana nas mãos, pôde pagar suas dívidas bem como adiantar bem a obra.


O João do Matadouro se reelegeu prefeito e o Robertinho da Padaria também veio a conquistar a cobiçada cadeira no Legislativo. A convite do vizinho, a família ainda foi ao churrasco da vitória festejar juntamente com os apoiadores dos candidatos onde viram não só os assessores do político como também empresários e milicianos que possuem contratos diversos com a Prefeitura, além de muitas autoridades corruptas. Já a professora de Pedro, infelizmente, não conseguiu ser eleita, apesar de haver conquistado 200 votos e ficado como segunda suplente num partido de oposição que só elegeu um vereador.


Passaram dois meses e três semanas e, finalmente veio a posse dos eleitos no primeiro dia do ano seguinte. A família compareceu ao evento, porém foram todos ignorados e nem conseguiram chegar perto do prefeito ou do vereador. Ainda assim, Maria voltou para casa acreditando que o marido iria conseguir um emprego para ele, para ela, ou para o filho.


Durante vários dias seguidos, Maria perturbou a paciência de José para que ele procurasse o vereador e fosse até o seu gabinete cobrar o emprego, mas o marido se recusou. Aí ela foi até à Câmara, mas o assessor disse que o chefe estava numa reunião, tendo anotado o sue número de telefone para retornar o contato, o que não ocorreu.


Insistente, a mulher também se dirigiu à Prefeitura, porém nem conseguiu passar da recepção porque a agenda do prefeito estava com o atendimento ao público suspenso. Nem mesmo os assessores do prefeito lhe deram atenção e ela foi orientada a procurar a Ouvidoria, caso tivesse alguma demanda sobre os maus serviços municipais.


Em casa, sendo questionado pela esposa, José respondeu que não negociou nenhum cargo com o vereador no dia da eleição e também omitiu da esposa que havia vendido o seu voto, o dela e do filho pois, no fundo, sentia muita vergonha do que havia feito. Tão pouco desejava ver Pedro se tornando um eleitor corrupto numa idade ainda tão jovem.


Um ano se passou e Maria acabou engravidando sem que houvesse planejamento e, a princípio, nem se deu conta que havia concebido. Em razão da idade superior a 45 anos e do tratamento de saúde que fazia com medicamentos, não era recomendada a gestação de mais um bebê pois lhe traria riscos.


Contudo, semanas após à concepção, Maria descobriu incidentalmente a gravidez e resolveu ter o terceiro filho. José, a princípio, não gostou da ideia, porém acabou aceitando.


Infelizmente, Maria teve muitas dificuldades de conseguir fazer um acompanhamento decente na rede pública de saúde porque não encontrava vaga para o único ginecologista que atendia todo o Município somente no posto do bairro situado no outro lado de Corrupitiba. Os exames de ultrassom ela não pôde fazer porque precisava ser em outro município e o serviço de transporte de pacientes estava suspenso porque a viatura da Prefeitura se achava em manutenção há meses.


Por aqueles dias, os colégios tiveram as aulas paralisadas devido a uma greve de professores porque o piso do magistério não era pago e nem a revisão geral anual de todos os servidores públicos concursados. Além disso, faltavam aparelhos de ar condicionado, material escolar e equipamentos para as salas de aula, o que prejudicava o trabalho dos docentes.


No mês seguinte, por falta de dragagem num córrego próximo à residência da família, houve uma enchente que inundou a casa com danos à construção, aos móveis e aos eletrodomésticos, o que resultou num prejuízo de mais de R$ 5.000,00. Porém, nem José e nenhum outro vizinho conseguiram acesso ao auxílio assistencial oferecido pelo governo estadual porque a Prefeitura não estava cadastrada no programa e nem a Defesa Civil foi ao local fornecer laudos aos moradores.


Naqueles dias, José precisou tirar a segunda via de quase todos os seus documentos porque a enchente destruiu seus originais. Por conta disso, seu filho também não conseguiu passar na entrevista de emprego que tentava para trabalhar numa loja na cidade vizinha já que em Corrupitiba eram poucos os comerciantes que contratavam mão-de-obra.


Em alguns meses depois, quando a barriga de Maria estava maior, a família viveu mais um drama. Tendo problemas com pressão alta chegando a ter convulsões, a mulher precisou ser hospitalizada e foi diagnosticada com suspeita de eclâmpsia. 


No entanto, a situação do hospital municipal estava bem crítica. Além de pacientes nos corredores, pois algumas enfermarias estavam insalubres, não tinha remédio, nem insumos e até mesmo anestesia faltava. Por sua vez, os agentes de saúde e os funcionários da enfermagem estavam com os salários e as férias atrasados, sendo poucos os médicos laborando na unidade.


Infelizmente, o bebê de Maria acabou falecendo em sua barriga e ela ficou em estado grave sem que fosse possível fazer qualquer procedimento de curetagem ou uma cesariana para extrair o feto já morto. Por dias, José ficou aguardando que a regulação encaminhasse sua esposa para o hospital de outra cidade e nada acontecia. Sem saber o que fazer, ele entrou em desespero.


Por orientação da professora de Pedro que viera candidata a vereadora nas eleições e não ganhou, o filho orientou o pai que pegasse um atestado médico sobre a necessidade de remoção da mãe para outro nosocômio melhor estruturado. E, com documento probatório em mãos, procurasse a Defensoria Pública a fim de conseguir uma vaga através de liminar judicial.


Durante a tarde, José foi visitar a esposa, porém o médico plantonista se recusou a fornecer o documento e respondeu que ele abrisse um protocolo na ouvidoria do hospital ou falasse direto com a assistente social que, naquela hora do dia, já não estava mais na unidade. Um agente de saúde sugeriu que a família procurasse a médica do plantão noturno que não se negaria a dar um laudo.


Pela manhã, José foi à Defensoria Pública e o funcionário cedido pela Prefeitura que trabalhava lá negou-se a atender com o argumento de que a defensora só teria vaga para três meses depois. Entretanto, uma estagiária, ao perceber que se tratava de um caso urgente, interviu na conversa e sugeriu que a família buscasse o plantão judiciário noturno na capital estadual.


Após pegar um dinheiro com um agiota do bairro, José viajou 200 quilômetros para ser atendido pelo defensor de plantão no Fórum da capital e precisou passar a madrugada em claro para voltar no outro dia fazendo baldeações entre várias cidades no percurso porque lhe custaria muito mais caro embarcar novamente num ônibus direto. Enquanto retornava, saiu a decisão judicial obrigando o município e o estado a transferirem Maria para um outro hospital, em 24 horas, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00.


Apesar de intimados, os secretários de saúde do estado e do município nada fizeram para cumprir a ordem e o diretor do hospital alegava que nenhuma ambulância da prefeitura estava funcionando. O processo foi remetido para o Fórum da cidade e lá ficou parado sem que a liminar fosse cumprida.


O quadro de Maria foi só piorando e, sendo já o sétimo dia de internação, estando a paciente num quadro gravíssimo, finalmente foi feita a sua remoção numa viatura estadual. Só que, durante o trajeto, ela veio a falecer e José foi comunicado para que fosse ao hospital da outra cidade com os documentos da esposa, a princípio sem saber do que se tratava.


Essa foi só mais uma das tristes histórias que aconteciam em Corrupitiba e em várias outras cidades de Lisarb, principalmente nos anos ímpares quando não havia eleições ordinárias. Poucos eleitores tinham a consciência do valor do voto pois os R$ 800,00 que os políticos pagavam para cada eleitor correspondia a menos de um mês de renda per capta, considerando a divisão de R$ 700 milhões pelo número de 40 mil habitantes e, depois, por 12, chegando a R$ 1.458,33 mensais.


Lamentavelmente, o dinheiro da cidade era gasto em obras superfaturadas e com materiais de má qualidade, assim como acontecia com os contratos de compras subfaturados, em que a maior quantidade dos produtos licitados não era entregue, razão pela qual faltavam merenda, medicamentos, material escolar, insumos, etc. Além do mais, a maior parte do recurso vivia comprometida com a extensa folha de pagamento de pessoal (mais de 50% da receita corrente líquida) onde até o ano da eleição mais de um terço dos 2.500 comissionados eram "fantasmas" residentes em outros municípios.


Ainda assim, todo ano eleitoral era uma farra em Corrupitiba, com pessoas sendo contratadas em excesso pela Prefeitura, muitas festas, obras de maquiagem nas praças e nas vias públicas, políticos doando cestas básicas e fazendo todo tipo assistencialismo, mais o dinheiro rolando solto no dia da votação, com o ilegal transporte de eleitores. E o mesmo acontecia na maioria das outras cidades de Lisarb, principalmente as de pequeno e médio portes.


Lendo essa história, se achou alguma semelhança com o seu município, saiba que não é mera coincidência...

domingo, 29 de setembro de 2024

A racionalidade como ferramenta necessária para a libertação social e política de um povo

 



Embora a experiência humana jamais se limitará à racionalidade, uma vez que existem outras maneiras de interagirmos com a infinita realidade, as quais jamais devem ser ignoradas, eis que nenhuma decisão deveria ser tomada sem passar pelo crivo da razão.


Numa sociedade desigual, em que prevalece a exploração do homem pelo homem, nas quais as escolhas são induzidas e manipuladas pelo engano, o uso não limitado da razão pode significar uma ameaça ao estado das coisas. Tal fato se verifica em muitos aspectos da vida, inclusive sobre questões eleitorais, quando temos a oportunidade de escolher representantes comprometidos com as causas da coletividade.


Escolhas não racionais e desajustadas com o real desejo que temos são capazes de produzir resultados frustrantes nas nossas vidas, o que nos afeta quanto à profissão exercida, ao curso de graduação universitária, aos relacionamentos afetivos, à compra de bens, à contratação de empréstimos, às crenças religiosas, à opção política, à assistência que decidimos prestar à alguém, à propositura de demandas judiciais, às práticas delituosas, dentre tantas outras situações da vida. Porém, inegável é que existem pessoas (ou grupos/classes sociais) que precisam da tomada de decisões erradas pela grande maioria para continuarem lucrando.


Infelizmente, a religião acaba sendo umas das principais maneiras de obstruir o uso exercício da razão. Ainda mais quando seus líderes estão alinhados com os interesses de dominação cultural e política de um grupo da sociedade, tal como ocorre aqui no Brasil com inúmeras instituições evangélicas elegendo seus representantes nas casas legislativas e até em governos.


Embora a espiritualidade levada a sério propicie o aprimoramento ético do ser humano, tal objetivo torna-se até prejudicado quando nos congregamos em ambientes onde o pensamento se torna dogmatizado, com afirmações tidas como certas e indiscutíveis. Em tais condições, ao invés das pessoas experimentarem um crescimento existencial, elas ficam paralisadas em suas caminhadas evolutivas e se sujeitam facilmente à terceirização das importantes escolhas da vida que precisam tomar.


Quantas mulheres se submetem cotidianamente à violência doméstica, mesmo sem sofrer agressão física, apenas porque o pastor incutiu em suas mentes que elas devem manter o casamento e a família, bem como serem submissas ao marido?! Em igrejas fundamentalistas onde é considerado adultério alguém, mesmo divorciado(a), contrair novas núpcias, estando o ex-cônjuge ainda vivo, faz com que inúmeros casais passem anos de suas vidas infelizes tendo em vista que, até à viuvez, será proibido obter o prazer afetivo-sexual com outra pessoa.


Fico imaginando como que homossexuais devem viver mal em comunidades religiosas fundamentalistas nas quais foram criados desde a infância, geralmente por se tratar da religião dos pais, ou pelo simples fato de terem encontrado um acolhimento anterior com um forte envolvimento emocional numa situação de crise. Até porque não podemos negar o alcance da assistência de muitas igrejas quando alguém está vivendo situações de abandono psicológico, dependência química, enfermidade e diversos tipos de problemas, ainda que tenhamos os nossos questionamentos quanto ao apoio ministrado ao novo adepto do grupo eclesiástico.


Ora, se as pessoas tomam decisões importantes para si que, por orientação religiosa ou moral, contrariam os seus anseios reais e a identidade, elas passarão a engessar diariamente o uso da razão, além da colheita nem sempre consciente de resultados infelizes. O encontro com uma comunidade eclesiástica que, num primeiro momento foi proveitoso, torna-se, com o passar do tempo, nocivo para a mente e para o corpo, de modo que os elas acabam criando novas enfermidades, vícios de comportamento, tornam-se intolerantes e até más.


Voltando para a política, eis que, independentemente da religião, o não exercício da razão faz surgir a figura do "pobre de direita" que é o cidadão defensor de ideias contrárias ao seu próprio interesse de classe/grupo social. Porém, sem generalizar, podemos dizer que o meio pentecostal está cheio de eleitores capazes de votar no candidato do pastor sem qualquer questionamento, mesmo se for o representante do patrão que tanto o explora.


Aqui em Mangaratiba, cidade do litoral fluminense onde moro, tramita perante a 54ª Zona Eleitoral uma representação do Ministério Público por propaganda antecipada ocorrida num culto religioso, em 28/04, quando um pastor da Igreja Assembleia de Deus Ministério Madureira teria feito menção do número de seu pré-candidato a vereador, com as seguintes palavras, conforme consta na petição inicial da ação:


"Pré-candidato a vereador que essa igreja apoia, o que passar disso é procedência maligna. É o único, é o único. (...) você vota em quem você quiser. Mas Pastor qual é a sua orientação? Minha orientação é Pastor [NOME DO POLÍTICO] e deixo uma meditação do Senhor Salmo 10. Que o senhor possa ler lá na sua casa e que até em outubro o Espírito Santo possa lhe visitar pelo menos 604 vezes; salmo 10 visita 604 esse é o número da benção levante toda a igreja neste momento" (reprodução escrita das palavras do áudio gravado que fora enviado à Promotoria Eleitoral pelo adversário do denunciado constante na exordial do processo n.º 0600392-46.2024.6.19.0054)


Sem entrar no caso concreto, o qual ainda será analisado pelo juiz depois que o ministro eclesiástico, também réu na ação, for citado para apresentar defesa, eis que nos deparamos a todo instante com inúmeros casos semelhante de manipulação eleitoral através da religião, hipóteses em que um determinado candidato é indicado como alguém "escolhido por Deus". Com isso, o eleitor crente se sente constrangido psicologicamente a votar em quem o seu pastor indica, abstendo-se de refletir racionalmente sobre quais nomes no pleito eleitoral poderão defender de verdade os seus interesses coletivos no Legislativo Municipal.


Inegável é que, se a razão não pode ser exercida sem limitações nessas "igrejas", as escolhas tomadas serão catastróficas. Por isso, sem nenhum proselitismo religioso ou ateu, penso que os membros de tais denominações deveriam pensar seriamente em substituir os ambientes que frequentam por outros onde poderão ser mais livres. 


Creio que nada pode nos embaraçar o uso pleno da razão, seja para fins de conhecimento ou quanto à tomada de decisões em qualquer aspecto da vida. Se desejamos seguir ou renunciar a uma determinada crença, casar ou manter-nos casados com alguém, escolher uma profissão, celebrar um contrato, apoiar um candidato nas eleições, dentre outras coisas mais, o correto é submeter tudo isso a um processo de reflexão racional, através de um planejamento que leve em conta fatores lógicos.


Assim sendo, quando definimos o problema, identificamos os critérios para avaliar as soluções, definimos também a importância de cada critério, listamos as possíveis alternativas e as avaliamos, estamos mais próximos de escolher a melhor solução para nós e para a coletividade. 


No caso de se optar por um candidato, o primeiro passo pode ser a consideração de todos os nomes envolvidos na disputa, ao invés de nos limitarmos a este "sim" ou "não", sem qualquer critério lógico. Aí precisamos identificar quais as reais necessidades coletivas que temos em relação à política quanto a cada um dos dois Poderes para que, a partir daí, seja possível analisar cada uma das opções para vereador e prefeito.


Todavia, além da conciliação entre as expectativas e o que cada candidatura possa representar em termos de proposta de trabalho, há que se estabelecer critérios para peneirar os nomes que se ajustarão ao desejo de escolha, sendo a memória histórica fundamental já que todos nós temos um passado. Logo, sabermos como agiu ou se posicionou um determinado político fará muita diferença para não votarmos errado.


Um outro ponto importante é verificar quais as forças que apoiam uma candidatura bem como o grupo político do qual ele faz parte. Em outras palavras, trata-se de investigar sobre quem são os aliados apoiadores do indivíduo que propõe nos representar num Parlamento.


Por certo o assunto sobre o uso da racionalidade não se esgota com esses parágrafos aqui escritos, sendo a informação (e mais ainda a formação de cada um) indispensável para uma melhor análise dos fatos. Daí a importância de desenvolvermos bem o nosso senso crítico através do exercício da dúvida, inclusive nos autoquestionando.


Ótimo domingo a tod@s!

sábado, 10 de agosto de 2024

UM SALTO NO ESCURO

 

foto: deslizamento de terra em Nova Friburgo, 2011

TRAGÉDIAS SÃO COMPANHIAS da humanidade desde sempre. Das guerras de conquistas da antiguidade às atrocidades da Segunda Guerra, tragédias se sucedem democraticamente - todos os povos passam por elas. Atualmente temos várias tragédias acontecendo no mundo. Desde a destruição pela queimada em nosso Pantanal até a guerra entre Rússia e Ucrânia, passando pela destruição quase total que o exército de Israel está impondo à região de Gaza, insuflando a ira do mundo muçulmano colocando o Oriente Médio à beira de uma guerra total que afetaria todo o planeta. É a criança que nasce anencéfala e o idoso que morre de desgosto pela solidão em algum asilo esquecido pela família. 

O avião que caiu ontem em Vinhedo, Estado de São Paulo e que vitimou 62 pessoas foi uma tragédia. E a tragédia se torna mais trágica quando se coloca Deus na conversa. O avião caiu ao lado de uma casa sem trazer nenhum prejuízo aos moradores. Ouvi a dona da casa dizer que se assustou com o barulho e quando viu o que tinha acontecido, ficou aflita com o cenário de destruição. Deu graças a Deus pelo avião não ter caído em sua casa e que isso fora um "livramento divino". E foi? Deus livrou a casa dessa senhora e ao mesmo tempo não livrou da morte os passageiros do avião? Trazer Deus para o cotidiano do mundo dá muita munição aos ateus, afinal de contas, se Deus existe, se ele é capaz de salvar uns e deixar outros morrerem, sofrerem, passar por aflições alucinantes e dores destrutivas, que espécie de caráter tem esse Deus?

Não quero me aprofundar em discussões filosóficas ou teológicas e nem quero ofender a fé de ninguém, nem alimentar o ateísmo de outras. Eu fui um cristão protestante durante anos e a questão do mal no mundo sempre foi uma pedra no meu sapato. As respostas dadas por teólogos não me bastavam. Todas pareciam livrar Deus de qualquer culpa e deixar nas costas humanas a responsabilidade pelas próprias tragédias, sem falar na atuação do Diabo na história. Mas se assim for, porque ainda acreditar que Deus interfere em nossa realidade para curar a doença do João e não para curar a doença de Maria? É uma escolha que ele faz? Porque então ele não interfere de modo a livrar o mundo de toda tragédia já que teoricamente ele pode fazer isso?

Dizem que para os filósofos, a grande questão da filosofia é a morte, em todos os sentidos que a palavra "morte" possa ter. Certamente, a grande questão teológica é porque Deus não faz o bem para todos já que se crê ser ele  amor? Por que uma pessoa justa sofre e uma pessoa ruim se dá bem na vida?  Talvez o único livro da Bíblia que trate especificamente dessa questão seja o livro de Jó. Se nunca o leu, leia, você vai se surpreender com a construção filosófica-existencial desse livro, profundamente humano. É o livro de quem ergue os olhos para os céus e pergunta a Deus: "Por quê? A resposta não satisfará a todos e continuar crendo na bondade divina será sempre um exercício de fé que não busca razão nem coerência e será sempre como dizia um velho teólogo, "um salto no escuro".

segunda-feira, 29 de julho de 2024

A polêmica cena das drags na abertura das Olimpíadas

 

 

Até hoje as pessoas ainda não pararam de comentar sobre a representação do célebre quadro A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, ocorrida na sexta-feira passada (26/07). Durante o evento, a cena que recorda o último momento de comunhão entre Jesus e seus discípulos foi protagonizada por drag queens, num interessante desfile de moda.


Para muitos, inclusive os franceses mais conservadores e o episcopado católico, tal encenação teria sido uma ofensa à religião e aos valores cristãos, tendo outras apresentações também despertado críticas da extrema direita. Segundo reagiu a eurodeputada francesa Marion Marechal nas redes sociais, sobrinha de Marine Le Pen, que é a atual presidente do Reagrupamento Nacional:


"Difícil apreciar as estranhas cenas entre Maria Antonietas decapitadas, um trouple [trio amoroso] que se beija, drag queens, a humilhação da Guarda Republicana obrigada a dançar com Aya Nakamura, a feiura dos trajes e das coreografias"


A meu ver, considerando o basilar direito à liberdade de expressão, do qual decorre o dever de respeitar o livre exercício da criação, produção e divulgação de obras de arte, sem submeter-se a censura, jamais veria qualquer ilegalidade na referida encenação ainda que fosse executada aqui no Brasil. Aliás, já tivemos eventos de Carnaval polêmicos envolvendo a figura de Jesus, como foi nos desfiles da Mangueira e da Gaviões da Fiel, os quais despertaram a ira de muitos fundamentalistas cristãos.


No caso da abertura dos jogos olímpicos deste ano, confesso que não me senti nem um pouco ofendido com a encenação das drag queens. Muito pelo contrário, vi ali uma importante mensagem de inclusão.


Ora, a Santa Ceia, antes de se tornar uma tradição religiosa, foi um ato de comunhão entre Jesus e os seus discípulos na noite anterior à sua crucificação. Ao distribuir o pão e depois o vinho, respectivamente simbolizando o seu corpo e o seu sangue, o Mestre referenciou-se ao sacrifício que faria em favor da humanidade:


"Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim". Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês." (Evangelho de Lucas 22:19-20; NVI)


Pois bem. A Ceia representou uma inclusão daqueles homens simples e humildes no Reino de Deus. Pessoas que não ocupavam altas posições no meio político, religioso ou econômico da sociedade da época, dentre as quais havia rudes pescadores e até um ex-cobrador de impostos, foram as primeiras a se tornar participantes de uma sagrada comunhão.


Assim, foi por toda uma humanidade perdida que Jesus morreu e nos propôs uma nova aliança, conforme bem ensina o Novo Testamento da Bíblia. Tal sacrifício incluiu não só os discípulos presentes no cenáculo como também todos os demais seres humanos do planeta, independentemente de gênero, raça, origem, nacionalidade, condição social, profissão e opção sexual.


Caros leitores, por acaso seria ofensivo se alguém indagasse que Jesus também verteu o seu sangue na cruz também pelas drag queens?!


Entretanto, apesar de ter essa visão e, como já dito, não me sentir em nada ofendido pelas cenas da abertura dos jogos olímpicos de Paris, faço aqui o meu juízo de ponderação acerca do que seria mais adequado praticar num evento do tipo.


Vale recordar que, desde a Antiguidade na Grécia, os jogos pan-helênicos estiveram associados com o antigo conceito grego de "trégua olímpica" (ἐκεχειρία, ekecheiria). Desse modo, para que as competições pudessem ocorrer, as guerras eram suspensas, permitindo que os atletas viajassem até à cidade de Olímpia, disputassem os jogos, e retornassem para suas terras de origem em segurança.


No final do século XIX, quando os jogos olímpicos renasceram, tal proposta não foi esquecida. Pierre de Coubertin, o segundo presidente do COI (1896-1925), acreditava na possibilidade de promover paz por meio do esporte: 


"Exportemos remadores, corredores e esgrimistas: eis o livre comércio do futuro, e no dia em que for introduzido nos costumes da velha Europa, a causa da paz terá recebido um novo e poderoso apoio"


Dentro desse contexto, não ignoraria que o tema da inclusão social se torne pertinente a uma ideia ampla de paz, considerando que esta não se restringiria apenas a um mero armistício entre as nações. Contudo, precisamos refletir acerca da maneira como um assunto vem a ser pautado para que não gere conflitos num momento em que se propicia um entendimento comum.


Tratando-se as Olimpíadas de algo muito mais amplo do que os desfiles do Carnaval brasileiro, em que uma cidade se torna temporariamente a anfitriã de várias competições esportivas internacionais, penso que o evento deveria ser uma espécie de "território neutro", muito embora não exista uma total neutralidade nas ações humanas. Logo, diferentemente das ruas, onde as pessoas se manifestam politicamente, creio que o bom senso deve conduzir a recepção do público numa competição esportiva, criando uma atmosfera em que possamos pausar até mesmo as nossas questões ideológicas.


Em todo caso, não podemos deixar de reconhecer o quanto foi bonita a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024. Apesar da chuva, vimos um inesquecível passeio pela capital francesa, tendo se tornado uma inovação com barcos navegando pelo rio Sena, levando delegações, autoridades e celebridades a céu aberto, fora do confinamento dos estádios.


Viva as Olimpíadas! Que a paixão pelo esporte consiga transcender fronteiras, culturas e ideologias políticas, unindo o mundo em um só coração!

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Será que seremos assim tão ricos?!



Estava lendo ontem uma matéria sobre as ousadas previsões do cientista da computação e futurista Ray Kurzweil, especialista do Google, acerca de como será o mundo já a partir da próxima década de 2030, com base em seu novo livro The Singularity is Nearer que, traduzido, significa A Singularidade está mais Próxima. Segundo o texto, "a inteligência artificial superará a inteligência humana, transformando radicalmente a existência do homem", o que deverá ser alcançado até 2045:


"A fusão entre humanos e IA: (...) a nanotecnologia permitirá a criação de "camadas neurais virtuais" na nuvem, fundindo nossos cérebros com a IA e aumentando exponencialmente nossa inteligência.

Ressurreição digital: a tecnologia de IA (...) permitirá "devolver a vida" aos falecidos, primeiro através de simulações e depois através da reconstituição física de seus corpos.

Imortalidade para 2030: (...) até 2030, os nanorrobôs médicos e a biologia da IA ​​revolucionarão a medicina, permitindo uma longevidade sem precedentes e até mesmo a imortalidade.

Abundância e energia barata: a IA impulsionará avanços na energia fotovoltaica e na mineração robótica, tornando a energia solar acessível e reduzindo os custos das matérias-primas. "Viver nos níveis atuais de luxo será barato na década de 2030 ", prevê Kurzweil.

Cérebros melhorados pela nanotecnologia: Kurzweil imagina um futuro onde a nanotecnologia se integra aos nossos cérebros, aumentando as nossas capacidades cognitivas e abrindo novas fronteiras no entretenimento. "Poderemos acessar qualquer pensamento humano " (...)"

https://www.purepeople.com.br/noticia/o-especialista-do-google-que-previu-a-chegada-do-iphone-viu-o-futuro-novamente-em-2030-todos-viverao-na-riqueza_a393993/1


Embora eu acredite que haverá mais uma etapa do extraordinário progresso tecnológico da humanidade nos próximos anos, jamais poderia deixar de fazer críticas e ressalvas, apresentando divergências quanto a algumas previsões, ainda que distantes de um posicionamento de fato conclusivo.


Não discordo que a nanotecnologia poderá mesmo nos proporcionar mais qualidade de vida, curar e prevenir doenças, bem como desenvolver melhor o nosso potencial físico-intelectual. Porém, indago qual será o acesso da população mundial aos futuros produtos ou serviços nanotecnológicos, ainda que os mesmos se tornem de certo modo baratos quando forem fabricados em larga escala.


Quando é que veremos a aplicação em larga escala de uma terapia com nanotecnologia feita pelo SUS aqui no Brasil?!


Se considerarmos os interesses das empresas que, consequentemente, perderiam mercado com o uso da nanotecnologia mais a corrupção dos governos aliados a elas, o que os torna coniventes com o atraso da humanidade, será que dificuldades não poderão ser impostas a determinados negócios em países como o nosso?!


Apesar de não acreditar que haveria a sonhada imortalidade do ser humano e sim um aumento da nossa longevidade, questiono se os governos de imediato teriam interesse num rápido aumento da expectativa de vida já que os institutos de previdência social seriam financeiramente impactados. E aí bastará que a população passe a viver em média em torno de uns 95 anos para que logo resolvam modificar as regras da aposentadoria e de outros benefícios, o que, sob certo aspecto, será até justificável. 


Todavia, alcançarmos a imortalidade seria ecologicamente desastroso porque, a princípio, impediríamos a renovação da vida no planeta, como bem dizia o zen-budista Steve Jobs, fundador da Apple, falecido aos 56 anos, em 05/10/2011, o qual era considerado o "pai" de produtos como o Macintosh, o iPod, o iPhone e o iPad. Lembro que, uns seis anos antes de sua partida, ele havia discursado em junho de 2005 para formandos em Stanford sobre o fato de ninguém querer morrer:


"Mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. E, por outro lado, a morte é um destino do qual todos nós compartilhamos. Ninguém escapa. É a forma como deve ser, porque a morte é provavelmente a melhor invenção da vida. É o agente da vida. Limpa o velho para dar espaço ao novo"


Quanto ao papo de "ressurreição digital", tenho minhas reservas no plano ético pois não creio que temos o direito de criar réplicas de quem já morreu, seja por simulações ou por meio de um novo ser feito à sua imagem e semelhança. Tais pessoas nunca nos autorizaram a reconstituí-las, possibilitando que, através de uma imagem, um corpo produzido em laboratório tenha o poder de interagir no mundo com características de personalidade idênticas ou semelhantes.


Entretanto, vamos ao que mais me gerou questionamentos que seria vivermos nos níveis atuais de luxo já na próxima década tendo em vista que, mesmo fazendo uso da energia fotovoltaica, o nosso consumo continuará saindo caro para o meio ambiente. Pois, infelizmente, devido ao aquecimento global e às mudanças climáticas, não estou vendo nenhum enriquecimento da humanidade. 


Ora, se continuarmos destruindo o planeta, tudo que é essencial deverá ficar mais caro, a começar pelos alimentos que dependem de uma boa previsibilidade quanto ao clima para que a agropecuária não sofra tantas perdas. Logo, o que esperar de um cenário com a ocorrência cada vez mais frequente de ondas de calor severas, de frio intenso, das secas prolongadas e de chuvas excessivas em curto tempo?! 


Triste constatar, mas o aquecimento global tende a profundar as desigualdades socioeconômicas do mundo, com riscos de causar o agravamento nos problemas de saúde, mais poluição atmosférica, probabilidades maiores de novas pandemias, perda da biodiversidade e o aumento de refugiados do clima, com famílias sendo desabrigadas, como ocorreu em maio deste ano no Rio Grande do Sul. 


Lamentavelmente, as consequências do aquecimento global estão hoje visíveis na vida da população em maior ou menor grau, sendo mais intenso no cotidiano dos pobres que acabam tendo que morar nas parcelas menos adequadas para a habitação do espaço geográfico. E aí, se houver benefícios proporcionados pela tecnologia, apenas posso ver algum resultado entre os mais ricos porque esses bilhões de seres humanos excluídos continuarão na mesma situação de precariedade. 


Não me desfaço da capacidade do Dr. Kurzweil em antecipar avanços tecnológicos como a ascensão da Internet, do iPhone e até mesmo a vitória de um computador sobre um campeão mundial de xadrez. Porém, acho difícil que o mundo se torne esse ambiente tão maravilhoso até 2045 enquanto os interesses de empresas e de grupos políticos estiverem acima dos anseios da sociedade, bem prevalecerem sobre o nosso dever de cuidado com o planeta. 


Em todo caso, será justamente o uso correto da tecnologia que nos permitirá viver melhor e com maior sustentabilidade ecológica de modo que as ideias do futurista poderão ser realmente aplicadas em países onde o objetivo dos governantes seja promover o bem estar social e não privilegiar os ganhos do capital privado. Afinal, não temos que fazer reserva de mercado para nenhuma empresa de tecnologia ultrapassada e nem temermos a IA diante do risco de perda de empregos pois, caso haja de fato mais geração de riqueza (com sustentabilidade) e a sua justa distribuição, nunca o ser humano se tornará descartável, caso o trabalho hoje desenvolvido por um trabalhador passe a ser desempenhado por um robô. 


Enfim, há muito o que se debater sobre essa temática e acredito que as análises (ou especulações) futuristas sempre serão bem vindas pois nos levam a indagar sobre que tipo de sociedade queremos viver e como a tecnologia poderá proporcionar um real benefício para as pessoas. 


Ótima quarta-feira a tod@s!

sábado, 1 de junho de 2024

O primeiro jornal brasileiro...

 


Há exatos 216 anos, mais precisamente em 1º de junho de 1808, começava a circular o primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense ou Armazem Literário, porém publicado em Londres, Inglaterra. 


Foram ao todo impressos 175 números até 1º de dezembro de de 1822, agrupados em 29 volumes, editados durante 14 anos e 7 meses, ininterruptamente, com marcante pontualidade. O periódico era dividido em quatro segmentos: (i) Política: com a transcrição de documentos oficiais acerca dos negócios nacionais e estrangeiros; essa era, sem dúvida, a seção mais destacada do jornal; (ii) Comércio e Artes: contendo as publicações referentes ao comércio nacional e internacional. Hipólito sempre teve interesse com assuntos de Economia Política; (iii) Literatura e Ciências: com as informações de novas publicações na Inglaterra e Portugal, transcrições de obras científicas ou literárias, com respectivos comentários; (iv) Ciências e Miscelânea:, como o nome indica, assuntos diversos, novidades do Brasil e Portugal e temas polêmicos. 


Através desse veículo, remetido clandestinamente para o Brasil, o  jornalista, maçom e diplomata brasileiro Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (1774 - 1823) defendia ideias liberais como a de uma monarquia constitucional e o fim da escravidão, dando ampla cobertura à Revolução Pernambucana de 1817 e aos acontecimentos de 1821 e de 1822 que conduziriam à Independência do Brasil. 


O desconforto causado à Coroa Portuguesa pela publicação do periódico levou a que a mesma patrocinasse, à época, também em Londres, a publicação de O Investigador Portuguez em Inglaterra, visando diminuir sua influência. 


Hipólito da Costa, para quem não sabe, é considerado o patrono da imprensa brasileira.


Um feliz Dia da Imprensa a tod@s!



OBS: A imagem do quadro acima refere-se a uma obra de autoria anônima e pertencente ao Acervo Artístico do Ministério das Relações Exteriores - Palácio Itamaraty.

quinta-feira, 16 de maio de 2024

DE QUEM É A CULPA?

 




QUANDO UMA CATÁSTROFE ambiental acontece como agora no Rio Grande do Sul e em outras partes do Brasil, como já ocorreu aqui na região serrana do Rio, sempre queremos saber quem "são os culpados". Tirando as mudanças climáticas óbvias, nossa tendência é crucificar o governante de plantão.


EVIDENTE QUE HÁ CULPADOS mas eles não estão somente aqui no poder há 3, 4, anos, os culpados formam uma grande lista que cobre mais de 100 anos!

Foi uma sucessão de equívocos, negligências e desprezo pelo povo mais vulnerável que criou o cenário perfeito para essas catástrofes.

São governos que desde lá atrás permitiram que pessoas construíssem em beiras de rios, em morros e encostas e não fizeram políticas públicas de habitação segura, que não planejaram bem as cidades e não as prepararam para grandes chuvas que não acontecem somente agora.

Os governos atuais precisam levar à sério a questão climática e a questão da segurança em nossas cidades. Não será trabalho para um, dois ou dez governantes; será trabalho para todos que vieram no futuro. Política climática e melhoria na segurança das cidades contra intempéries climáticas precisa fazer parte de um projeto de Estado e não de governo somente.

O Japão convive com terremotos desde sempre e durante anos os governantes adaptaram os prédios com amortecedores que suportam um grande tremor além de mudar o hábito das pessoas para se protegerem durante um evento.

O Brasil precisará disso: planejamento, execução e educação da população. Sem isso, cada dia mais veremos eventos extremos ceifando vidas e destruindo cidades.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Um debate ainda necessário



Estava lendo no Facebook a postagem "USUÁRIO É CRIMINOSO/", do deputado estadual Carlos Minc (PSB), anunciando um debate previsto para ocorrer na sexta-feira desta semana, na ALERJ. Segundo o texto:


"Na próxima sexta-feira (17/04), teremos nosso encontro anual de debate e luta por uma política democrática de drogas.   

Reuniremos representantes da sociedade civil, especialistas e autoridades públicas para responder à pergunta: usuário é criminoso? E para discutir o tratamento que as políticas públicas devem dar aos usuários de drogas.

Este ano, o debate ganha ainda maior relevância por causa da proposta, em tramitação no Congresso, de proibir o porte de qualquer quantidade de droga; igualando usuário e traficante.

Essa medida tem sido duramente criticada pelos principais especialistas no tema porque, além de inconstitucional, contribui com a estigmatização dos usuários, com o aumento da população carcerária e com a manutenção da falida guerra às drogas e aos pobres.   

E depois desse debate, no domingo (19/05), estarei na Marcha da Maconha, que sairá às 14h20 do Jardim de Alah em direção à Ipanema.

Estamos juntos na luta pela descriminação dos usuários, pela democratização do acesso à maconha medicinal por pacientes e pelo fim da truculência policial nas favelas e periferias!" 


Estamos em pleno século XXI e, confesso que, quando estava me tornando um jovem, lá pela metade da década de 90, acreditava num cenário bem diferente para o Brasil em relação à maconha. Alguns países já estavam legalizando a erva e imaginava que, em torno de uns dez anos, tudo seria tão normal a ponto de um pai fumar junto com seu filho.


No entanto, o tempo passou e, atualmente, já quase completando um quarto de século, ouço vozes reacionárias no Congresso Nacional repetindo posições despidas de racionalidade contra a legalização do uso da maconha sendo que poucos avanços o país teve quanto ao seu uso para fins medicinais. E, sobre as finalidades recreativas das plantas, hoje já não vejo mais um horizonte definido tendo em vista a maioria dos seres grotescos que habitam as duas casas legislativas federais em Brasília.


Mas falando em porte de drogas, seria um retrocesso tornar o usuário um bandido como querem certos deputados. E aí a questão abrange todas as drogas, inclusive as pesadas.


Se, por um lado, a maconha pode ter suas funções terapêuticas e poderíamos tolerar o seu uso social por pessoas maiores de idade em ambientes discretos, o mesmo não ocorre quanto à cocaína que provoca uma dependência destruidora no indivíduo. Logo, não é algo que possa ter a mesma acessibilidade e nem aceitação.


Em todo caso, o usuário não pode ser tratado como um bandido! Tratando-se de drogas pesadas, querendo ou não, ele é um viciado já que o pó não é tão fácil de largar como a cervejinha ou o cigarrinho.


Assim sendo, o viciado de drogas pesadas precisa ser tratado como um doente e nunca como um bandido, a não ser se ele tiver envolvimento com a organização do tráfico a ponto de praticar outros atos que não se destinem ao consumo próprio. 


Em minha análise, a sociedade brasileira como um coletivo está doente e a sua enfermidade psíquica cega os olhos do entendimento induzindo à hipocrisia. Não nos colocamos mais no lugar do outro e poucos querem de fato refletir antes de emitir uma opinião, supondo serem os maiores especialistas em todos os assuntos.


Desse modo, acredito que os debates sobre drogas nas casas legislativas do nosso país, como esse que haverá sexta-feira, são necessários para promover o esclarecimento no meio social, permitindo que o público ouça os especialistas com a oportunidade de interagir com eles.


Além disso, por se tratar de audiência pública, na qual não só os deputados como a população presente poderão falar, eis que as nossas opiniões ali ajudarão a promover legitimidade quanto aos futuros atos legislativos e administrativos, orientando na tomada de decisões. Principalmente se forem emitidas dentro da racionalidade.


Portanto, independentemente do que pensamos, vamos participar. E, desde já, fica o convite feito pelo nobre parlamentar também quanto à Marcha da Maconha no domingo para quem puder/quiser ir.

Viva São Cosme e São Damião!

Aí um texto publicado no Facebook pelo historiador e deputado Chico Alencar que confere um bom sentido às crenças religiosas e aos costume...