Uma trégua natalina que poderia ser eterna

 


Há 110 anos atrás, mais precisamente em 24 de dezembro de 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, iniciava-se a "Trégua de Natal", termo usado para descrever o armistício informal ocorrido ao longo da Frente Ocidental no Natal naquele ano, pouco menos de se completar os cinco primeiros meses do irromper do conflito em 28 de julho. 

Durante a semana que antecedeu o Natal, soldados alemães e britânicos já haviam trocado saudações festivas e canções entre suas trincheiras. Na ocasião, a tensão foi reduzida a ponto dos indivíduos até entregarem presentes aos seus inimigos! 

Assim, na véspera de Natal e no Dia de Natal, cerca de cem mil soldados de ambos os lados se encontraram, trocaram também alimentos, bem como entoaram cantos natalinos. E, conforme registrado na fotografia acima, as tropas também foram amigáveis o suficiente a ponto de terem jogado até partidas de futebol.

Há relatos de que os soldados alemães e ingleses cantaram o hino natalício anglo-saxônico Adeste Fideles ("Comparecei Fiéis"), música que é originalmente atribuída aos portugueses, sendo um convite para uma adoração coletiva a Deus e uma aproximação do menino Jesus.

Infelizmente, os combates foram retomados em 1915. O general Sir Horace Smith-Dorrien (1858 - 1930), comandante do II Corpo britânico, ao saber do que estava acontecendo, indignou-se e emitiu ordens estritas proibindo a comunicação amigável com as tropas adversárias alemãs.

Como se sabe,  aquela guerra durou até o o dia 11 de novembro de 1918, felizmente com a vitória dos aliados, porém com um rastro de dezenas de milhões de militares mortos, feridos ou desaparecidos, além de milhões de civis que perderam a vida de ambos os lados.

Entretanto, esse ato simbólico marcou a História como um forte exemplo de que é possível buscar a paz e ter como inspiração o Natal, uma festa religiosa comum para os povos envolvidos nas batalhas da Frente Ocidental.

Nos tempos atuais, em que o mundo observa um perigoso conflito no leste europeu entre Rússia e Ucrânia mais um massacre genocida na Palestina, torna-se urgente pensarmos numa trégua. Penso que 2025 poderia muito bem ser um ano em que todas as armas fossem postas em silêncio e, ao menos os povos cristãos, venham figurativamente peregrinar até Belém, lembrando-se do amor encarnado sobre o feno na simples manjedoura.

Venite adoremus Dominum!

Comentários

Eduardo Medeiros disse…
Esse evento para mim demonstra todo o paradoxo da condição humana. Desejamos a paz mas a guerra muitas vezes é inevitável. Como seria o mundo se a Alemanha tivesse ganho a Primeira e a Segunda Guerras mundiais?
Caro Edu, sua pergunta certamente daria um ou muitos filmes, principalmente se a Alemanha tivesse vencido a Segunda Guerra, embora não creio que o domínio nazista seria eterno, pois, até os dias de hoje, muitas rupturas poderiam acontecer, inclusive no próprio país vencedor. Acredito que a guerra teria durado ainda mais tempo pois não seria nada fácil conquistar a União Soviética e depois Hitler ainda invadir os EUA. Em tais situações, eu projetaria a duração do conflito até a década de 50 com um rastro muito maior de mortes e o possível uso de mais bombas atômicas que, na hipótese, teriam que ser construídas também pelos alemães. Uma vez estabelecido o poder mundial do Eixo, além das possíveis revoluções, surgiriam revoltas que, por sua vez, seriam violentamente sufocadas. A América do Sul se submeteria facilmente a Hitler e, provavelmente, teria que aplicar uma política de eugenia submetendo-se também aos interesses econômicos da Alemanha. Muitos de nós nem teríamos nascido. Os descendentes imigrantes alemães e italianos governariam Brasil e Argentina sendo que importariamos produtos industrializados europeus fornecendo a eles alimentos. Se a vitória alemã ocorresse após o Brasil ter entrado na guerra, Vargas seria deposto e aí correriamos o risco de sermos divididos em várias republiquetas vassalas. Desse modo, creio que dá para imaginar com um grau mais de definição esse hipotético mundo maligno até uns 60 ou 50 anos atrás, mas, a partir daí, inúmeras situações poderiam acontecer já que Hitler um dia morreria e outros brigariam para assumir o controle da nação que seria a mais poderosa do mundo. Enfim, seja como for, iria ser bem trágico. Mas, se a Alemanha tivesse vencido a Primeira Guerra, talvez não dominaria o mundo e sim a Europa, exceto a Rússia. Hitler poderia nunca ascender ao poder embora o nacionalismo alemão continuaria forte, mantendo o imperador até uma futura ruptura interna ou guerra externa.
Em tempo! Quando fala no "paradoxo da condição humana" e que apesar do nosso anseio pela paz, "a guerra muitas vezes é inevitável", eu diria que ela é EVITÁVEL embora os conflitos e as insatisfações políticas vão sempre aflorar. Veja como exemplo o Brasil que, desde 1870, quando o Paraguai foi massacrado, nunca mais enfrentou uma guerra em seu território tendo o saudoso Barão do Rio Branco resolvido no campo da diplomacia todas as nossas questões territoriais do início da República em que apenas ficamos em desvantagem quanto ao Pirara, na Cuiabá, onde acabamos perdendo uma parcela de Essequibo para o poderoso e influente Império Britânico. Desse modo, somos sim um exemplo para o mundo de que a guerra pode mesmo ser evitada. Lógico que não dá para minimizar as coisas dizendo que tudo se resolve tomando uma "cervejinha" porque os assuntos são bem complexos e a própria solução pacífica contraria interesses imediatos de quem está lucrando. Veja no caso da Ucrânia, quantas armas não estão sendo desenvolvidas, testadas e aprimoradas? Com a volta do Trump, a Europa estará abandonada e corre um sério risco da própria NATO se dissolver Aí pergunto, será que a Ucrânia continuará lutando após janeiro de 2025 e contará com o apoio de outros países europeus?!